segunda-feira, agosto 30, 2010

Listas Definitivas de Ordenação, Exclusão, Colocação, de Desistências e de Retirados 2010/2011

As tão ansiadas listas já estão on-line no site da DGRHE.

As listas de colocação dos professores contratados

Os professores contratados desesperam pela publicação das listas de colocação que não há meio de sairem. Entre hoje e amanhã haverá muito boa gente com o coração nas mãos, sem saber se será ou não colocado. Vida difícil têm estes colegas contratados. Um abraço de solidariedade para todos eles.

sexta-feira, agosto 27, 2010

Estes nunca pagam a crise

"Nos primeiros seis meses deste ano, os cinco maiores bancos portugueses meteram ao bolso 7,7 milhões de euros por dia só em "comissões". Comissões são aquelas quantias que os bancos nos cobram a pretexto de tudo e de nada: para abrir ou fechar um processo, para "manter" uma conta, para obtenção de informações, para a "gestão" de contratos, para o "processamento" das prestações dos empréstimos, pelo seu reembolso antecipado, pela "finalização" dos contratos, pela emissão da declaração a dizer que o contrato acabou, e por aí fora, ilimitadamente, sobre cheques, cartões, transferências, cobranças, empréstimos, depósitos, tudo o que mexa. Quem se admirará que, apesar da "crise", os lucros da banca no mesmo período tenham aumentado escandalosamente em relação a 2009? De admirar (para quem acreditou que os sacrifícios iriam ser "para todos") será verificar que, enquanto os "todos" pagam mais IVA, IRS e IRC e os desempregados e pobres vêm reduzidas as prestações sociais, a banca pagou em 2009, segundo números da própria Associação Portuguesa de Bancos, menos 40% de impostos do que no ano anterior".

Manuel António Pina
JN

quinta-feira, agosto 26, 2010

Cavaco Silva promulga novo Estatuto do Aluno

"A nova versão do Estatuto do Aluno foi aprovada no Parlamento em votação final global a 22 de Julho, com os votos favoráveis de PS e CDS-PP. PSD, PCP, Bloco de Esquerda e Os Verdes votaram contra.

Apesar de entre a aprovação do Parlamento e a promulgação do diploma ter apenas decorrido um mês, segundo as associações de directores contactadas pela Lusa anteriormente, serão ainda necessários “um a dois meses” para adaptar os regulamentos internos ao novo Estatuto do Aluno. Ou seja, o ano lectivo, que começa entre 8 e 13 de Setembro no ensino pré-escolar, básico e secundário, irá arrancar ainda sem os regulamentos internos adaptados ao novo Estatuto do Aluno.

O novo diploma acaba com as provas de recuperação, realizadas pelos alunos com excesso de faltas, independentemente da sua natureza, um mecanismo introduzido pelo anterior Governo com o apoio da então maioria socialista. É recuperada, por outro lado, a distinção entre faltas justificadas e injustificadas e são reduzidos os prazos dos procedimentos disciplinares, alterações propostas por todos os partidos, incluindo os que vão votar contra, e pelo próprio Governo, que também tinha apresentado propostas nesse sentido.

O Estatuto do Aluno determina ainda que o "incumprimento reiterado" do dever de assiduidade determina "a retenção" do aluno.

No 1º ciclo do ensino básico, o aluno não poderá dar mais de dez faltas injustificadas e nos restantes ciclos as ausências não podem exceder o dobro do número de tempos lectivos semanais, por disciplina.

Quando atingido metade destes limites, os pais são convocados à escola para serem alertados para as consequências da violação do limite de faltas e para se procurar uma solução. Caso tal não seja possível, a escola informa a comissão de protecção de crianças e jovens. Com a ultrapassagem dos limites de faltas, é determinado ao aluno um plano individual de trabalho a realizar em período suplementar ao horário lectivo. Este plano "apenas poderá ocorrer uma única vez no decurso de cada ano lectivo".

Entre as medidas correctivas constam a advertência, a determinação de tarefas de integração escolar, o condicionamento de acesso a determinados espaços, sendo as três últimas da competência do director. Poderá ocorrer ainda a expulsão da sala de aula, tendo o docente a possibilidade de marcar falta.

Das medidas disciplinares sancionatórias constam a repreensão registada, a suspensão por um dia, a suspensão até dez dias e a transferência de escola, sendo esta última determinada pelo director regional de educação. O director da escola pode ainda decidir "sobre a reparação dos danos provocados pelo aluno no património escolar".

Pais e estudantes devem ainda, no momento da matrícula, conhecer o regulamento interno da escola e subscrever uma declaração anual de aceitação, bem como de "compromisso activo" quando ao seu cumprimento. "Os pais e encarregados de educação são responsáveis pelos deveres de assiduidade e disciplina dos seus filhos e educandos", lê-se na nova redacção do artigo 6, número 3.

Os regulamentos internos das escolas podem prever prémios de mérito destinados a distinguir os alunos".

Público

sexta-feira, agosto 20, 2010

Alunos são cada vez mais fracos, avisam os docentes

"De um lado da trincheira está a professora universitária que reprovou quase 70% dos seus alunos; do outro, a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa que lhe retirou a regência das cadeiras por considerar que a docente aplicou uma "avaliação exorbitante". São os dois flancos de uma batalha travada entre a professora de Técnicas de Laboratório e Segurança, Elvira Gaspar, e o director da faculdade, Fernando Santana. Resta agora saber qual dos dois pratos desta balança é mais pesado. Serão os professores demasiado exigentes? Ou, pelo contrário, estarão os estudantes menos bem preparados para o ensino superior?

Cada caso é um caso, alertam os professores, mas uma boa parte deles reconhece que, regra geral, o nível de preparação dos seus alunos "tem vindo a baixar", defende Isabel Ferreira que dá aulas de Física aos caloiros do Instituto Superior de Agronomia de Lisboa (ISA). É como se fosse um choque de gerações. Entre o que os professores esperam dos alunos e o que encontram nas suas turmas há uma distância de uma ou mais décadas: "O grau de conhecimento dos estudantes não é o mesmo de há dez ou 15 anos, mas ainda há uma tendência para olhar para o passado como um modelo de referência."

É o resultado da massificação do ensino superior, mas não é só isso, adverte Isabel Ferreira: "Estamos perante uma consequência de ao longo destes anos os professores do secundário terem sido pressionados a passaram os seus alunos, criando taxas de sucesso artificiais." E no momento de entrarem na universidade, os estudantes trazem consigo todas as suas fraquezas que são "mais visíveis" no primeiro ano, embora os professores de anos mais avançados "já comecem também a fazer as mesmas queixas". Tal qual uma "doença contagiosa" que se alastra, conta a professora do ISA.

Baixar os níveis de exigência perante os alunos mais fracos "é o pior" que se pode fazer, alerta João Gouveia Monteiro, professor de Universidade de Coimbra. Mudar as estratégias pedagógicas tem sido a sua resposta para motivar os alunos: "Novas tecnologias, filmes ou visitas de estudo são alguns dos trunfos que uso, mas isso não me impede de ser rigoroso com os critérios de avaliação", diz o professor de História da Idade Média, que no último ano em que deu aulas aos alunos de 1.o ano (2008/09) atingiu uma taxa de reprovação de 75%: "Não me arrependo disso, apesar de sentir que a tendência geral dos professores é para se acomodarem e baixarem a fasquia", desabafa o director do Departamento de Imprensa da Universidade de Coimbra".

Jornal i

quarta-feira, agosto 18, 2010

Fechar escolas

"O Governo vai fechar mais de mil escolas do 1º ciclo com menos de 20 alunos. Está em curso aquilo a que o Ministério da Educação chama uma ‘racionalização do mapa escolar’ e, em tempo de recursos escassos, compreende-se este tipo de reestruturação.
O dinheiro, porém, não é tudo quando falamos de Educação. Aliás, o que mal se compreende, na Educação, é que tanto dinheiro nela se tenha gasto nos últimos vinte anos com resultados tão escassos. Compreende-se mal que tenhamos andado duas décadas a gastar dinheiro em equipamento com um curto prazo de validade e num aparelho burocrático gigantesco, desvalorizando o investimento na qualidade da formação e nas carreiras dos professores.
Compreende-se mal que tenhamos esmagado, em menos de duas décadas, o melhor que o ensino público tem, de que é um infinito exemplo de falta de bom senso a chamada lei de autonomia universitária. Espera-se, pois, que o fecho de escolas não seja um acto de mera gestão contabilística que, ainda por cima, penalize mais o Interior. Se é para fechar escolas, que seja em nome de uma reestruturação séria, criteriosa e coerente que cumpra o direito constitucionalmente consagrado de acesso à Educação. Desde logo, que não deixe um único aluno que queira estudar sem essa possibilidade meramente por falta de escola".

Eduardo Dâmaso
CM
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sexta-feira, agosto 13, 2010

Suecos & doutores

"Era inevitável. Num país cujo ME anunciou a descoberta do caminho marítimo para nos tornarmos todos suecos e diplomados do Secundário acabando com as reprovações, e o mesmo país onde, em 2006, pelo suave milagre de um decreto-lei e dos bons ofícios uniformizadores da UE, tudo o que era bacharel passou instantaneamente, como os pudins, a licenciado, havia de chegar a altura (pois ou há justiça ou comem todos) em que os licenciados exigiriam passar a mestres.

A petição "Equivalência de Mestre (com maiúscula) aos titulares das anteriores licenciaturas com formação de 5/6 anos" já está na Net e, até ontem, tinha sido subscrita por 13 941 futuros Mestres (com maiúscula).

Pela ordem natural das coisas, seguir-se-á a exigência dos mestres de passarem a doutores "in extenso" (e a dos doutores meramente "distintos" passarem a "distintos cum laude", e estes a "magna cum laude", e estes a "summa cum laude", e por aí fora até ao infinito). É o conceito "Novas Oportunidades" levado ao limite, antes de os títulos de "Dr." e "Doutor" começarem a ser atribuídos a todos os portugueses no momento do baptizado".

Manuel António Pina
JN

quinta-feira, agosto 12, 2010

O percurso alternativo

"A ministra da Educação defendeu recentemente a discussão sobre a hipótese de não haver reprovações no ensino secundário, propondo-se aos alunos um “percurso alternativo”.

Quando ouvi a notícia desabafei com a Isabel, a minha mulher, que se eu fosse primeiro-ministro e tivesse ouvido uma tirada destas, mandaria de imediato o ministro passar pela tesouraria em direcção à porta da rua...

A Isabel, mais sensata do que eu, respondeu-me de imediato que nenhum ministro da educação teria a coragem de uma atoarda destas se não tivesse as "costas bem quentes" e que o senhor primeiro-ministro deve estar completamente ao corrente e até estimular ideias destas para serem palco de debate público.

A Isabel sabe que não há melhor para animar a ‘silly season' do que ‘silly ideas'. Além do mais desfoca a atenção para o descalabro da execução orçamental e para o imparável aumento do saldo da dívida pública (que cresce este ano à razão de 2,2 milhões de euros à hora!). Acresce que a proposta provoca sempre o apoio massivo dos estudantes numa altura em que se lhes vai exigir levantar mais cedo para andar mais a pé até à sua escola (porque a da aldeia mais perto vai fechar), ou pedir para se enlatarem mais em turmas mais apinhadas porque não há dinheiro para pagar a mais professores e manter assim os actuais rácios de alunos por turma.

Isto é, como se prevêem dificuldades orçamentais com impacto na qualidade do serviço prestado usa-se o caminho mais fácil, isto é, promete-se o céu dos cábulas (o que não impede que os bons alunos aproveitem).

Confesso que a ideia de reprovar é má. Os meninos podem até ficar traumatizados e nunca mais fazerem nada na vida... Eu chumbei no exame do Código da Estrada. Xi!... Fiquei tão traumatizado!... Paguei nova inscrição em exame à custa de mais explicações que tive de dar e de uma cervejas a menos com os amigos, fiquei umas dezenas de horas a mais em casa, sozinho, a decorar as regras de trânsito e os sinais, e voltei, teimosamente a exame. Resultado: passei! Mas que ideia esta tão bizarra de "chumbar" alguém e de o fazer rever as matérias que não percebeu ou que não teve paciência para estudar...

Se hoje, apesar de haver reprovações, os meninos que chegam às universidades têm enormes dificuldades em escrever duas ideias seguidas, argumentando sem erros gramaticais, não sabendo a tabuada, não conseguindo em muitos casos ter a noção de conceitos abstractos como os de dízima infinita e respondendo nos exames como se estivessem a escrever um SMS, como será quando não tivermos reprovações?

E não sei se a ideia de um percurso alternativo com a legião dos "ex-reprovados" é melhor do que ir integrando alunos repetentes nas turmas de andamento normal. Mas afinal os meninos são retardados, ou carentes de métodos de trabalho?

A menos que o "percurso alternativo" seja uma questão de semântica, apenas para iludir o pagode não passando de um "chumbo alternativo"".

João Duque

Diário Económico

domingo, agosto 08, 2010

O fim dos chumbos

"A razão pela qual não é admissível o fim dos chumbos (agora chama-se "exclusão", a palavra politicamente correcta), é uma razaõ de justiça social. O Estado, que os cidadãos legitimam e financiam, existe para cumprir funções de soberania, defesa e ordem pública, administração da justiça e correcção das desigualdades sociais aberrantes. Nesta, inclui-se a obrigação de não deixar que ninguém more na rua porque não pode pagar uma habitação, que ninguém deixe de ser tratado porque não tem dinheiro e que ninguém deixe de estudar e ter uma oportunidade na vida porque não tem meios para tal. Mas o Estado não tem obrigação de dar casas a quem as não estima nem cuida; de acudir às falsas baixas e aos falsos doentes que exigem uma TAC ou uma ressonância magnética porque estão com uma dor de barriga; ou de pagar os estudos a quem está na escola para não estudar e tudo fazer para perturbar os que querem estudar. Primeiro do que tudo, portanto, os chumbos existem por uma razão de justiça social: uma vez corrigida a desigualdade de nascença e fornecida a oportunidade, o Estado (isto é, a comunidade, todos nós), não tem de insistir e proteger quem o não quer ou o não merece. É bem mais útil gastar o dinheiro dos impostos dos que trabalham a financiar um doutoramento no estrangeiro a um aluno excepcional e que, de outro modo, o não poderia fazer, do que gastá-lo em aulas de recuperação aos calões de serviço - que sempre os haverá. E, sobre uma razão de justiça social, existe ainda uma razão de mérito: em todos os domínios, e começando logicamente pela escola, que é onde tudo começa, o dever de uma comunidade não é proteger os medíocres e compadecer-se dos inúteis, mas sim estimular os bons e premiar os que fazem. Podemos sempre discutir os métodos de ensino, os currículos, os manuais. Mas não podemos nunca transigir no essencial: quem os Estado deve apoiar são os bons alunos, não os maus. A falta de uma cultura de mérito, de uma cultura de responsabilização e de uma cultura de risco é hoje o principal problema do país. A proposta da ministra da Educação para acabar de vez com os chumbos representa a rendiçaõ de toda uma política(...)".

Miguel Sousa Tavares
Expresso

sábado, agosto 07, 2010

A ministra vendedora de ilusões

"A ministra da Educação, antes de voltar atrás e se desmentir, como aliás é frequente entre os ministros socialistas, anunciou que quer alterar as regras de avaliação e acabar com os chumbos, a que hoje pomposamente se chama "retenções". A ideia nada tem de inovadora ou de surpreendente. Não é, desde logo, inovadora, porque se inscreve na política demagógica do Governo de agradar a toda a gente sem olhar a meios ou a consequências. A mera hipótese de um decreto a acabar com os chumbos já foi aplaudida pelas associações de pais, através da sua confederação que representa todos os que apenas querem que os seus rebentos adquiram um canudo grátis e fácil, e cujo visionário presidente já declarou que a medida "seria a maior reforma educativa depois do 25 de Abril", e não deixará decerto de agradar aqueles alunos que pretendem estudar e trabalhar o menos possível. Não consegue ser, de igual forma, surpreendente, porque coincide com os princípios ideológicos do socratismo, que tem a fobia do mérito e a tolerância para com a impunidade como dois dos seus principais alicerces, e que utiliza a manipulação das estatísticas e o facilitismo como forma de se perpetuar no poder.

Isabel Alçada é mais simpática e sedutora que a sua antecessora. E, como se sabe, teve a sorte de chegar ao Ministério com o apoio pessoal do primeiro-ministro, que lhe permitiu selar um acordo perdulário com os professores que reduziu a conflitualidade no sector à custa de muitos milhões que estão já a ser pagos pelo erário público, o que aliás explica porque razão a despesa primária do Estado continua a crescer de forma incontrolada. Mas, no restante, Alçada nada trouxe de novo.

O facilitismo constitui já, no presente estado de coisas, um dos maiores problemas da escola. Afecta os processos de avaliação dos professores que são prejudicados por atribuírem notas justas e beneficiados por inflacionarem as classificações dos seus alunos, impede que os bons professores desempenhem a sua missão de ensinar, desincentiva e prejudica os melhores alunos, impregna todo o sistema de uma áurea de desresponsabilização. É lamentável que haja quem consiga aceder a cursos universitários com negativas, e é inacreditável que não se chumbe por faltas de presença, de material ou de ordem disciplinar.

A tentativa ministerial de invocar o exemplo nórdico para sustentar esta medida roça mesmo a desonestidade intelectual porque Portugal não tem um sistema de ensino igual ao desses países, onde a realidade sociocultural é muito diferente na disciplina, no civismo, nos meios, e na forma como o trabalho intelectual é avaliado.

Mas, como me assinalou uma pessoa amiga e bem informada mal a ideia da Ministra foi conhecida, o momento escolhido não foi inocente, porque coincidiu com o dia em que se conheceram os resultados desastrosos dos exames nacionais.

Como a ministra não tinha vontade de ver o assunto discutido, nem lhe interessava que fossem avaliadas as razões do fracasso ou ponderadas as formas de evitar a repetição ou o agravamento da situação no próximo ano, lançou esta ideia descabida de acordo com a seguinte lógica, ou conselho: "dentro de duas semanas, se tanto, a senhora virá dizer que não era bem isso, era acompanhar os alunos em dificuldades, e do desaire dos exames nacionais já toda a gente se esqueceu". Pois bem, essa pessoa minha amiga tinha razão, porque ainda não passaram duas semanas e a ministra já deu o dito por não dito, sem que alguém falasse dos exames nacionais… E é assim o paraíso cor-de-rosa em que vivemos".

Rui Moreira
JN

sexta-feira, agosto 06, 2010

Soldadinhos do chumbo

"Os portugueses não são um povo de almocreves, desligados do mundo, limitados ao horizonte do seu casebre, horta e burro. Viajam, estudam, realizam-se, influenciam decisões externas. Não precisam de, em matérias educativas, ter um ministério iluminado, a indicar-lhes o caminho, invocando exemplos alheios, Sobretudo quando esse caminho é, por muita maquilhaegm que se aplique, o velho rumo para o abismo.
Nos vários colóquios internacionais sobre insucesso escolar, costumo ver listadas "10 razões" para o mesmo. Vão desde falta de competências na aprendizagem básica da língua e da aritmética a problemas familiares e sociais (incluindo, nalguns países, a fome real dos alunos), ausência de motivação, fobia do ensino ou consumo de substâncias perigosas.
Das experiências americanas às asiáticas, das alemãs às australianas, nunca vi propor, como solução, a diminuição do rigor, ou a eliminação das fronteiras entre o bom e o mau, o suficiente e o inaceitável.
Por outras palavras, nunca vi que o "chumbo" fosse diagnosticado como a causa dos males. Ele é, obviamente, uma consequência: a tradução da inadequação do aluno ao processo de aprendizagem, e a sua falta de aptidão numa matéria determinada.
Todos sentimos, ao longo da vida, que estávamos mais próximos, ou mais distantes, do controlo dos saberes. É precisamente essa noção de carência, ou suficiência, que nos obriga ou nos persuade a mudar, a melhorar, a ultrapassar as limitações.
Um Estado decente deve ter a educação de qualidade, de todos os seus membros, como prioridade. Um país iletrado produz políticos iletrados, e repetirá a iliteracia à náusea, chegando a chamar-lhe cultura.
Um Estado decente precisa de encontrar meios - humanos e materiais- para auxiliar alunos com problemas de saúde, de sociedade, de família, por forma a colocá-los no mesmo patamar de partida de todos os outros.
Um Estado decente não recua perante a necessidade de revisões, estudo acompanhado, avaliações informais, treino adaptado e ensino especial.
Um Estado decente - falo como pai, como filho, como antigo aluno, como antigo docente, como pessoa interessada na aprendizagem contínua - não tem medo das estatísticas. E não pode tombar no mecanismo infantil (ou "totalitário") de pensar que, mudando as palavras e eliminando os obstáculos burocráticos, adquire o "progresso".
O "chumbo" é um facto da vida, com que conviveram gerações de pessoas de sucesso. A distinção, a classificação, o prémio da excelênca, as notas, as avaliações deviam também continuar a ser fractos da vida.
O que não impede que se melhorem os métodos, se revejam os conteúdos, se modernizem as escolas, se qualifiquem os processos. Não queremos um ensino mais fácil. Devemos desejar um ensino onde o difícil pareça fácil, devido à preparaçaõ do que se abalança à grande aventura descoberta, que é também a odisseia do crescimento.
A alternativa é a desumanidade. Sem objectivos nem refrências, não se dirá então "fez-se um homem".
Antes: "Desfez-se o que poderia ser uma pessoa"."

Nuno Rogeiro
Sábado

quinta-feira, agosto 05, 2010

quarta-feira, agosto 04, 2010

Chumbo é uma palavra pesada. É um sentimento tóxico.

"É heavy-metal para os ouvidos elegantes do Ministério da Educação, cujas mãos doces se têm entretido, nas últimas décadas, a destruir qualquer vestígio de exigência no nosso ensino. O facilitismo nacional nasce do ovo chocado pelo Ministério da Educação. O epílogo foi agora anunciado pela ministra, como um milagre esperado: nasceu uma nova era em que não é preciso estudar e apreender para se passar e, para, no futuro se ser licenciado. Na realidade, chumbo é uma palavra que já foi proscrita há muito em nome das estatísticas. Em seu lugar surgiu, abençoada, a palavra retenção. Chumbo significa exigência na educação e é contra isto que este Ministério luta há anos. A educação é hoje, por aqui, uma actividade bacana. Afinal, para os seus dirigentes, a educação é um acampamento hippie, sem hierarquias, sem regras e sem objectivos. O problema é que esta mentalidade bacana tem fiéis seguidores neste País, a começar por quem grita "revolução!" quando Isabel Alçada acendeu o fogo de artifício da possibilidade do fim dos chumbos no ensino obrigatório. Para ver se pega. O fim dos chumbos é o último prego no caixão daquilo a que chamávamos educação em Portugal. É mostrar aos jovens que não vale a pena o esforço, porque o facilitismo é uma forma de vida. A ministra Isabel Alçada decretou a retenção da educação. Anunciou o chumbo do bom-senso. É uma acção de graças: a ministra quer tornar Portugal uma comunidade de orgulhosos iletrados que vive em festa permanente".

Fernando Sobral
Jornal de Negócios

terça-feira, agosto 03, 2010

A nossa escola é uma escolinha

"Professor do Ensino Secundário há duas décadas, um amigo contou-me esta história: a paranóia com a estatística fez com que, em pleno Verão e depois de três reuniões inconclusivas sobre a necessidade de não reprovar um aluno, uma equipa de inspectores de uma direcção regional de Educação se deslocasse à escola para dirimir o diferendo. Conclusão: os inspectores incentivaram a passagem administrativa do aluno, apesar dos péssimos resultados alcançados no ano lectivo. Isto é: a direcção regional de Educação institucionalizou a vergonha.

Nem de propósito, dois dias depois desta conversa, a ministra da Educação fez saber que vê com bons olhos a possibilidade de acabar de vez com os chumbos nas escolas. A ideia não é propriamente nova: todos nos lembramos de que, por motivos mais ou menos prosaicos, antecessores de Isabel Alçada avançaram com idênticas propostas.

Mais do que isso: olhando para o que se tem feito ao longo dos úlitmos anos, percebe-se com facilidade que já foram dados muitos passos rumo a este objectivo. Exemplos? Há-os aos pontapés: os programas são cada vez mais curtos e fáceis; uma colecção de negativas não chega para ficar retido, como agora se diz; os exames não obrigam os meninos a grandes esforços; foram criadas coisas com nomes bonitos, como Área de Projecto ou Formação Cívica, que não contam e cumulativamente não servem para nada.

Aqui reside o problema político desta recorrente trapalhada educativa: os sinais de facilitismo são tão grandes e tão contínuos, tão díspares e inconsistentes, que, em boa verdade, é difícil vislumbrar uma estratégia cujo objectivo final seja, efectivamente, recuperar os alunos com mais dificuldades, de modo a mais tarde os integrar no mercado de trabalho com um mínimo de preparação.

Quero dizer: sem avaliar aqui a bondade da medida (sobre a qual tenho imensas dúvidas), mete-me muita impressão que se queira começar a casa pelo telhado. Os finlandeses, que a ministra tanto gosta de citar como bom exemplo, não andam a dar tiros no escuro, como nós andamos há muitos e penosos anos. Lá, por exemplo, as turmas são muito mais pequenas, os alunos muito mais acompanhados, os professores muito mais valorizados. E, no meio deste ecossistema limpo e claro, o rigor e a exigência são a pedra-de-toque da política educativa. É possível conciliar tudo isto sem loucuras e cedências à estatística. A ministra sabe-o. Mas nada disto será exequível enquanto inspectores se deslocarem a escolas para impor passagens administrativas".

Paulo Ferreira
JN

segunda-feira, agosto 02, 2010

Nós, os suecos

"A ideia de acabar com os chumbos não é da ministra Isabel Alçada, é de algum eduquês desconhecido que anda pelo Ministério pelo menos desde o tempo de Roberto Carneiro.

E que há-de ser um grande vendedor de ideias pois a generalidade dos ministros aparece com a original ideia de acabar com os chumbos menos de um ano depois de ter tomado posse.

Só os argumentos vão variando. Desta vez é fazer como "na Finlândia, Suécia, Noruega e Dinamarca" onde, "em vez de chumbar, os alunos com mais dificuldade têm apoio extra".

É certo que, na Noruega (12 alunos por professor no Básico e 8,2 no Secundário, contra 28 a 30 em Portugal), 40% das escolas básicas "são tão pequenas que crianças de diferentes idades têm aulas juntas" e que, na Suécia, cerca de 60% das escolas do 1.º Ciclo funcionam com menos de 50 alunos.

Por cá, a ministra que quer apoio personalizado para os"alunos com dificuldades" é a mesma que fecha as pequenas escolas de proximidade e manda as crianças de camioneta para mega-escolas anónimas e indiferenciadas nos grandes centros. Mas por algum sítio temos de começar para sermos suecos, não é?"

Manuel António Pina
JN

domingo, agosto 01, 2010

Os perigos do facilitismo

"A ministra da Educação afirmou em entrevista ao Expresso que "as repetências quase nunca são benéficas", abrindo a porta a uma revisão das regras de avaliação que acabe com os chumbos. Isabel Alçada tem razão no diagnóstico do problema, mas, salvo melhor opinião, erra no caminho que aponta. A falta de resultados na escola não se combate, obviamente, baixando os níveis de exigência.

A intenção anunciada comportaria vários riscos. Desde logo, a redução da autoridade dos professores, da escola mas também dos pais. Se, no plano das consequências, à falta de aproveitamento escolar corresponder a progressão do aluno, de cada vez que alguém lhe dissesse que tem de estudar, arrisca-se a ter como resposta um encolher de ombros, já que, estude ou não, um facto estaria garantido: não chumbaria.

Sendo verdade que a escola deve ser sempre um espaço de inclusão e de igualdade de oportunidades, o mérito não pode deixar de ser reconhecido e diferenciado. Ou seja, a igualdade de oportunidades deve ser assegurada no acesso ao ensino. Porém, a comunidade escolar não pode, no final de cada ano lectivo, tratar do mesmo modo um bom aluno, um estudante razoável e um cábula. Isto é, não é justo que quem não obtém aproveitamento tenha, em termos práticos, o mesmo resultado que quem se esforça.

A ser assim, arriscamo-nos no limite, e citando a ministra da Educação, a que apenas uma minoria dos alunos portugueses saiba "onde fica o mar Mediterrâneo".

Editorial
DN

CONFAP devia ter vergonha

"Que o Ministério da Educação queira acabar com os ‘chumbos’, não admira. Toda a filosofia do ensino português, nos últimos longos anos, apontava para essa utopia igualitária: o fim da exigência pedagógica e o enterro de qualquer noção de excelência intelectual.

O que admira é a reacção da Confederação Nacional das Associações de Pais, que aplaude a medida e considera a pretensão da dra. Isabel Alçada "a maior revolução na educação desde o 25 de Abril".

Engraçado. Se alguém estivesse a preparar um crime destes sobre a formação académica de um filho meu, a única atitude sensata seria a náusea, a revolta, eventualmente a emigração.

As nossas associações de pais, pelo contrário, sentem orgulho e até gratidão. Porque imaginam que esta simpática fraude irá depositar nas mãos dos filhos o diploma de fantasia com que eles enfrentarão o mundo real.

Não é difícil imaginar a carnificina do arranjo. Difícil é contemplar o sorriso dos pais de hoje pelos filhos analfabetos e imprestáveis que terão amanhã".

João Pereira Coutinho
CM

Ministra da Educação quer acabar com chumbos

"A ministra da Educação, Isabel Alçada, afirmou que "os chumbos quase nunca são benéficos" e, em entrevista ao ‘Expresso’, adiantou que está a ponderar alterar as regras de avaliação durante o seu mandato. O chumbo, disse, "não tem contribuído para a qualidade do sistema" e, por isso, "a alternativa é ter outras formas de apoio, que devem ser potenciadas para ajudar os que têm um ritmo diferenciado". Segundo as contas da tutela, os chumbos custam todos os anos ao País 600 milhões de euros.

A ideia da ministra não agradou aos partidos da Oposição, sendo a reacção do CDS-PP a mais incisiva: a medida de Isabel Alçada é "um disparate" e "uma injustiça". "Portugal, dizem os populares, "necessita de valorizar a cultura do mérito".

De acordo com as estatísticas do ano lectivo 2008/09, a taxa de retenção e desistência foi de 7,6 por cento no ensino básico, sendo o 3º ciclo aquele em que há mais registo de chumbos: 13,8 por cento. No ensino secundário, a taxa de retenção/desistência cifrou-se nos 18,7 por cento".

CM