quinta-feira, junho 28, 2007

Nivelar por baixo, uma escolha fracassada...

"Na semana passada decorreu em Lisboa uma Conferência em que foi orador o Professor Luís Cabral – economista, professor da Universidade de Nova Iorque, reputado especialista em concorrência – que dedicou a sua intervenção ao estado da Educação em Portugal. A intervenção que realizou foi muitíssimo interessante porque, embora a educação não esteja de boa saúde, o que todos já sabemos e que muitos não se cansam de relembrar, o Professor foi cirúrgico no desenvolvimento que apresentou e, fugindo à crítica fácil, preocupou-se em defender princípios e caminhos e em demonstrar as suas virtudes.
Dou comigo muitas vezes a pensar porque é que estamos sempre a criticar, a não acreditar, a apontar o dedo às coisas negativas, a desconfiar dos objectivos das políticas de educação ou a desqualificar as correspondentes decisões políticas?
A explicação parece em estar em não nos conformarmos com o estado a que as coisas chegaram e não vislumbrarmos como é que será possível inverter um trajecto acumulado de sucessivas reformas falhadas se não formos capazes de corrigir as fundações em que assentam os princípios considerados fundamentais para que haja mudança. Princípios muito simples, mas talvez por isso mesmo complexos de aceitar!
Destaco algumas reflexões do Professor Luís Cabral que considero certeiras, para melhor entendermos que não é nivelando por baixo o nível do ensino (desculpem a redundância) que resolvemos o défice de exigência de que sofremos. Enquanto não apostarmos numa cultura de mérito continuaremos a enfrentar dificuldades em progredir.

Aqui vão alguns apontamentos:
- O pior problema com a educação em Portugal não é tanto a qualidade ou a quantidade de recursos disponíveis, mas sim a sua má gestão. E isto acontece porque não existe uma cultura de mérito.
- São dois os factores para o défice de meritocracia: por um lado, falta uma cultura de exigência e, por outro lado, há uma falaciosa noção de solidariedade. A condicionar a necessária transformação cultural está uma ideia errada de solidariedade baseada no nivelamento de escolas e alunos.
- Não faz sentido nivelar tudo. O nivelamento é sempre feito por baixo e a verdade é que há pessoas diferentes, com capacidade e perfis diferentes que devem ser reconhecidos.
- Um sistema muito exigente provocará evidentes distinções entre escolas e alunos, comportando um risco de exclusão social. Devem existir mecanismos que combatam a exclusão dos que dela são excluídos pela meritocracia. Aí o papel fundamental vai para o apoio familiar aos alunos e para o apoio dado às famílias mais necessitadas.
- Para melhorar o ensimo é preciso: mais concorrência entre escolas públicas. Concorrência com um critério primordial de avaliação: a meritocracia.

Enfim, o que foi mencionado relativamente à Educação é aplicável a muitos outros sectores em Portugal. O País precisa de se qualificar e a Educação desempenha um papel insubstituível. Sabemos muito bem, e hoje sofremos por causa disso, que na Educação não se podem reparar os erros do passado, nem os erros de hoje.
"Não se indemniza uma criança que não teve educação adequada, pois perdeu-a para sempre. Essa é a tragédia dos maus resultados", citando Fernando Adão da Fonseca".

Margarida Corrêa de Aguiar

quarta-feira, junho 27, 2007

Nunca compreenderiam!...

"Uns milhares de alunos do 4º ano (antiga 4ª classe) apresentaram-se recentemente nas salas de aula para responderem a umas perguntas sobre as matérias leccionadas, a que pomposamente chamaram “exames”.
O facto fez-me recordar memórias longínquas da minha infância, na década de cinquenta, já do século passado, em que os exames da terceira e da quarta classe se revestiam de solenidade, em que os pais vestiam os rebentos a preceito, já que as provas constituíam um marco na vida dos seus filhos. As pessoas orgulhavam-se de ter a quarta classe!...
A minha mãe dava aulas numa aldeia encavalitada numa das muitas serras beirãs, longe da terra onde morávamos. A estrada ficava-se pelo meio do caminho, pelo que o percurso, às segundas-feiras de madrugada, na ida, e às sextas-feiras à tarde, na volta, era feito a pé, quatro horas por carreiros e atalhos difíceis, para encurtar distância, por vezes a cavalo, que a minha mãe evitava, por ter medo. Chegou a leccionar simultaneamente a 80 alunos, da primeira à quarta classe.
Na altura, se os exames eram importantes para os alunos, eram também muito importantes para os professores, cujo prestígio não sofria ver alunos seus reprovados.
Por isso, findas as aulas e uma semana antes dos exames, que se faziam na sede do concelho, a minha mãe deixava a escola e trazia para a nossa casa, a seu cargo e encargo, os alunos da quarta, que não eram muitos, dadas as dificuldades da vida de então, para lhes dar a preparação final. Eram submetidos a ditados e redacções incessantes, estudo da Geografia e da História de Portugal de Tomás de Barros, faziam dezenas de problemas de aritmética. O certo é que a minha mãe se orgulhava de nenhum aluno seu ter reprovado na 4ª classe e de alguns terem passado com distinção.
Lembro-me ainda que um ou outro que tinha possibilidade de prosseguir os estudos continuava lá por casa a preparar-se para o exame de admissão. Passados anos, alguns, melhor ou pior na vida, iam aparecendo e era uma alegria para todos.
Os tempos, os métodos e as condições de hoje são tão diferentes que a situação descrita parecerá estranha e inverosímil para muitos, longe de um tempo e de um ambiente felizmente já desaparecidos.
Mas, diferentes as condições, não deveria ser menor o grau de exigência. Antes pelo contrário.
A minha homenagem à minha mãe e a todos os professores que, antes e agora, lutaram e lutam pela dignificação do ensino e que nunca compreenderiam, como eu agora não compreendo, o facilitismo dos Ministérios para quem não contam, nem os erros nas provas de português, nem as contas mal feitas nas provas de aritmética, como vem acontecendo nos actuais "exames"!... "

Pinho Cardão

Nelo e Idália - SIDA faz 20 anos

Delicioso. A não perder.

Não dá para entender

Vir para a praça pública dizer-se que se vai apresentar uma queixa à Provedoria da Justiça pelo facto de a ministra não ter cumprido a Lei da Negociação Colectiva para a definição do calendário escolar do próximo ano lectivo, só ridiculariza a FENPROF e, em última análise, os próprios professores. Não é com atitudes destas que se conquista o apoio da opinião pública. Bem pelo contrário. Tanta coisa importante com que os sindicatos se devem preocupar e vem a FENPROF fazer alarido por minudências. E depois queixem-se que o prestígio da nossa classe ande pelas ruas da amargura.

segunda-feira, junho 25, 2007

Os cursos profissionalizantes

José Sócrates disse há poucos dias que o país tem de apostar cada vez mais nos cursos profissionalizantes. Segundo o 1º ministro, nestes cursos a taxa de insucesso e abandono escolar é muito menor porque os alunos sabem que saem da escola com uma certificação profissional que os habilita para o mercado de trabalho.
Eu acrescentaria outro aspecto determinante no “sucesso” deste cursos: o facto dos alunos saberem de antemão que esta certificação é obtida a qualquer preço, independentemente da falta de empenhamento nas actividades escolares, da continuada indisciplina na sala de aula e do completo desrespeito por tudo e por todos. Aquilo que a esmagadora deste alunos obtém no final destes cursos é em termos da sua qualificação profissional pouco mais que nada. Os professores que por lá têm andado sabem que tudo isto é verdade. O ME também deve saber mas faz de conta que não sabe. A bem das estatísticas.

sexta-feira, junho 22, 2007

Maria de Lurdes afronta justiça

Hoje de manhã, em entrevista à Antena 1, a ministra da Educação, teve a ousadia de admitir não estar arrependida por ter permitido a repetição dos exames de Química e Física no final do ano lectivo passado, mesmo sabendo que essa medida estava ferida de ilegalidade conforme os tribunais vieram dizer recentemente. Numa clara atitude de quero, posso e mando, esta senhora vai fazendo o que quer com a maior das impunidades. Afronta tudo e todos, até a própria justiça, e o país em resposta, assobia para o ar ou tece-lhe os mais rasgados elogios. Definitivamente, começo a ter dúvidas se realmente vivemos num estado de direito.

quinta-feira, junho 21, 2007

Exame de Matemática do 9º ano

Segundo ouvi dizer aos colegas de Matemática da minha escola o exame do 9º ano não foi nenhuma pêra doce. A confirmar-se esta constatação isto significa que, muito provavelmente, a taxa de insucesso vai ser ainda maior do que a verificada na prova de aferição. Aquando da análise dos resultados, Maria de Lurdes fará o discurso habitual: desresponsabilizando-se, anunciará um novo pacote de medidas e pedirá um maior empenho por parte das escolas e dos professores para o próximo ano lectivo; pais e alunos não serão mencionados. Em 2008, o ciclo repete-se.

quarta-feira, junho 20, 2007

Resultados das provas de aferição

Foram hoje conhecidos os resultados das provas de aferição do 4º e 6º ano. Se em Língua Portuguesa as classificações são razoáveis já no que toca à Matemática o descalabro é o habitual. As razões para tamanho insucesso estão desde há muito catalogadas. Dessas, eu destaco principalmente uma: falta de empenhamento dos alunos. Enquanto pais e alunos não se consciencializarem de que a Matemática é uma disciplina com um grau de dificuldade acima da média e que por tal motivo se torna necessário um maior esforço e dedicação, bem pode vir a ministra com mais um pacote de medidas que os resultados serão invariavelmente os mesmos. Qualquer professor no activo percebe esta realidade. O ME, ao invés, prefere manter a sua política educativa alicerçada em teorias facilitadoras que degradam cada vez mais o ensino e o colocam à beira do abismo. Receio que a continuar-se neste ritmo falte pouco para o passo em frente.

terça-feira, junho 19, 2007

O Professor Titular

"As nossas escolas lançam-se, definitivamente, na arrojada experiência do mundo da bola. Com uma Ministra apostada em ser um género de Scolari da educação, o Ministério investe na divisão sectarista entre (professores) titulares e suplentes.Os titulares serão, então, convocados à luz de uma escolha surpreendente. Mais importante do que saber dar aulas e ter sucesso na relação educativa com os alunos, interessará saber como pisar a alcatifa dos gabinetes, ter prática de carreira burocrática fora da sala de aulas e, acima de tudo, não ter tido lesões que obriguem a paragens mais ou menos longas no Campeonato, mesmo que por culpa de qualquer sarrafada alheia.A táctica é, pois, não ter vida para além do dever. O destino é entregar a titularidade professoral aos mais dignos ratos de sacristia. Por isso, não bastará saber marcar golos. E, tal como em alguns clubes de futebol manhosos, é preciso não esquecer de elogiar o presidente e ser de uma fidelidade canina ao treinador".
Vitor Serpa
Jornal A Bola

Ler às escondidas


domingo, junho 17, 2007

A bem da imparcialidade

"A directora Regional de Educação do Norte, Margarida Moreira, escolheu para instrutor do processo disciplinar a Fernando Charrua, um jurista que, profissionalmente, está numa situação de dependência relativamente à Direcção-Geral.Paulo Pereira foi autorizado pelo anterior director regional a trabalhar em Bragança onde está radicado. Organicamente, o lugar de jurista da DREN não existe naquela cidade, pelo que pode, a qualquer momento, regressar ao Porto, se Margarida Moreira assim o entender.Segundo o Expresso apurou, os restantes juristas da DREN iriam pedir escusa do processo, invocando relações de amizade com o arguido. Podendo recorrer à Inspecção-Geral de Educação, Margarida Moreira não o fez e nomeou Paulo Pereira"

Expresso

O estalar do verniz e o pensamento único

"Não sou leitor assíduo de Daniel Sampaio e, sem que isso lhe retire o mérito que tem, não o vejo como guru que sabe tudo sobre educação de adolescentes e jovens, nem como mestre incontestável das melhores teorias para os compreender e orientar. Também o li e comprei alguns dos seus livros. Opinião formada, agora sou observador.Em educação não se pode nem deve esperar tudo de uma pessoa só, ainda que seja professor universitário. Os problemas da educação são complexos e não são todos do foro médico e psiquiátrico. Situação familiar, contexto social, instabilidade da escola, uso livre das novas técnicas de comunicação, permissividade alargada, crise de modelos e referências, cedência dos mais velhos, diálogo geracional raro, perda de sentido na vida, janelas fechadas ao transcendente e à esperança, tudo foi tornando o mundo da gente a educar um mundo com mais problemas que diagnósticos lúcidos e soluções à vista. Quem quiser ter êxito neste campo, tem de ser humilde para acolher e escutar, pondo de parte a suficiência intelectual e o afã das palmas e dos êxitos.Não estranhei que a ministra da Educação, ao constituir uma comissão nacional encarregada de propor caminhos para a educação sexual nas escolas, tenha escolhido Daniel Sampaio como seu coordenador. Estas escolhas têm sempre a sua lógica. Porém, não é de aceitar, sem mais, que a proposta apresentada deva ser obrigatoriamente considerada como a única opinião válida e o caminho indiscutível para um problema urgente e grave e de solução difícil. Ao falar-se de educação sexual nas escolas, fala-se de pessoas, ambiente, conteúdos, agentes, meios e instrumentos. Neste, como noutros campos melindrosos, não se podem esquecer, nem menosprezar, elementos importantes para a sua compreensão e resposta, como são os educandos concretos e os intervenientes naturais e óbvios, aos quais esta função primariamente compete, os pais e a família. O Estado não se pode considerar, como está a acontecer, dono das crianças, dos adolescentes e jovens que frequentam as escolas estatais. Por vezes, forçado por “lobbys”, que no ensino escolar abundam, determina e exige. Para a execução, não lhe faltam mandatários que esgotam o seu saber e acção, controlando o que se faz e se deve fazer. Muitas vezes sem respeito por quem está em campo. Um critério os domina e orienta: o que manda a senhora ministra e os senhores secretários de Estado. Muita gente viu há dias um programa na televisão pública, sobre a educação sexual nas escolas. Teve algum mérito como estratégia, mas pareceu querer dizer ao país que, neste campo, as coisas só são aceitáveis como diz e quer a sábia comissão e o seu presidente. Foi este que, aos olhos atentos dos telespectadores, abafou opiniões contrárias, não se coibindo de puxar, a despropósito, pelos galões de professor, chegando a ser deselegante para quem opinava de modo diferente, nomeadamente uma colega de mesa com reconhecido valor nacional. Tão nervoso ficou por se ver confrontado, que lhe estalou todo o verniz. Eu não esperava isto. E tinha direito a não o esperar.Interroguei-me sobre o que se pode esperar de sábios de opinião única, que não se controlam, nem aceitam opiniões e considerações alheias. Sou por uma educação sexual séria, que não se reduza a mera informação, ajude a crescer harmoniosamente, amadurecer, discernir e optar, conte com os pais, formando-os para isso, se for caso. O ME tem de dizer se os pais contam ou não para o governo. Não pode pensar que crianças, adolescentes e jovens, em formação, não passam de terra de ninguém e massa informe, a moldar segundo modelos e valores preestabelecidos. A educação escolar, objectivos pretendidos, conteúdos veiculados, modelos propostos, estratégias escolhidas, está a ser problema grave. Há gente nas escolas, com valor e competência, a dizer que vamos por caminho errado. O ME não a ouve, nem a quer ouvir. Mas as crianças não pertencem ao Estado, nem podem ser suas cobaias.Educar é arte, arte difícil. Nem as pessoas são coisas, nem os artistas se geram por decreto".

D. António Marcelino
(in Correio do Vouga)

sexta-feira, junho 15, 2007

quinta-feira, junho 14, 2007

Quando a directora passa por ser a DREN

"O comunicado da DREN e todas as peripécias que se vão conhecendo sobre a actuação da sua directora mostram que ali existe uma situação anómala, provavelmente a face mais visível da situação de politização das direcções regionais dos diferentes serviços do Estado, que como todos sabem, insisto, como todos sabem, são "lugares" na administração pública que "pertencem" às estruturas regionais dos partidos políticos (antes do PSD, agora do PS). Só que basta deste espectáculo deprimente de a DREN publicar comunicados falsamente em defesa da DREN-instituição mas na realidade da DREN-directora. De facto, quem assina o comunicado da DREN-instituição que afirma que está a ser "alvo de uma campanha de ataques sem precedentes", senão a DREN-directora que se toma por encarnação do Estado? Uma coisa é o caso do processo disciplinar sobre o professor Charrua, que não se percebe porque demora tanto tempo, outra o modo como a DREN-directora, envolve a DREN-instituição nas suas pulsões socialistas e laicas e no seu zelo partidário. É que, com a sua completa falta do mínimo de qualidades para falar em nome da administração pública, ou seja, do Estado, responsabiliza directamente a ministra da Educação e o primeiro-ministro, que a podem e devem demitir de imediato. Basta para isso o comunicado da DREN queixando-se de a imprensa "denegrir" o trabalho desenvolvido por aquela entidade, "em particular pela sua directora regional, e condicionar acções em curso", para terem razão para o fazer".

Pacheco Pereira
Sábado

quarta-feira, junho 13, 2007

Quem quer implementar mudanças tem de ter os professores consigo

"Tom Schuller é o director do Center for Educational Research and Innovation, um organismo da OCDE para as questões da Educação. Veio ao Porto para apresentar uma conferência, na Fundação Serralves, na qual defendeu os benefícios sociais de aprender. Nos últimos anos, tem estado relacionado com diversos cargos de aconselhamento político. Neste momento, faz parte da "Comissão para o debate nacional sobre o futuro da escola", instituída pelo primeiro- -ministro francês.

Veio ao Porto defender a ideia de que, "quanto mais qualificados formos, mais tempo vivemos". Ao JN, aceitou falar um pouco mais sobre as mudanças que se impõem aos sistemas educativos.
Jornal de Notícias Os estudos feitos pela OCDE revelam que, apesar dos investimentos e mudanças feitos no sistema educativo português, os resultados continuam muito aquém do desejado. Consegue compreender a razão disso?
É verdade que Portugal está um bocado atrás de muitos países da OCDE e outros países europeus. Uma razão possível é o facto de as mudanças em Educação serem lentas, os resultados virem mais tarde. Sabemos que Portugal tem uma proporção reduzida da sua população no Ensino Superior, apenas 10%, quando a média da OCDE é de 20%. Portanto, há ainda um longo caminho a percorrer.
Há países, como a Irlanda, que apostaram na Educação como trampolim para implementar o desenvolvimento económico. Acredita que uma aposta na Educação pode ser o ponto de partida para uma mudança bem sucedida?
Penso que a Irlanda é um exemplo, de facto, muito interessante. O sucesso não terá sido devido apenas a uma aposta na Educação, porque tiveram uma política geral económica muito bem sucedida. As alterações no sistema educativo tiveram o seu papel. Mas preocupa-me que se dê grande relevo à Educação, porque quer ao nível económico, quer ao nível social, a Educação por si só não produz os resultados necessários. A Finlândia é o exemplo mais conhecido devido aos excelentes resultados obtidos nos estudos do PISA. Contudo, a Finlândia não teria sido tão bem sucedida se a Nokia não tivesse ajudado a sua economia...
Portugal tem um nível de desemprego muito elevado. De que forma ele poderá comprometer a obtenção de melhores desempenhos no sistema educativo?
Pode, na realidade, ser algo complexo. Por um lado, se o desemprego é grande, as pessoas ficam mais tempo no sistema de ensino, porque não arranjam emprego. Mas se a economia é forte, as pessoas abandonam os estudos porque arranjam trabalho com facilidade. E o desemprego não é bom para a economia, prejudica o Estado e afecta os investimentos em Educação.
E são muitos os licenciados no desemprego. Não lhe parece um desperdício de formação?
De facto, é uma situação estranha. É verdade que leva algum tempo para um licenciado arranjar emprego, às vezes há licenciados que não aceitam qualquer tipo de trabalho e a economia não produz os postos de trabalho que os licenciados gostariam de ver criados. Mas de facto é estranho como em países com um número reduzido de licenciados haja um tão elevado número de desempregados.
Custa ver licenciados nas caixas dos supermercados, não é?
É verdade. Mas é uma situação bem pior de aceitar quando esse licenciado ainda ali se encontra um ou dois anos depois de ali ter entrado. Aí as coisas já são mais complicadas..
Muitas vezes, são os próprios industriais que recusam admitir técnicos com formação superior, porque isso implica pagar melhores salários...
Isso é uma verdade. Os empregadores portugueses terão de ter em conta que o sucesso de uma economia depende de mão-de- -obra com boa formação. E trabalhadores bem habilitados não se coadunam com postos de trabalho mal remunerados. Para além do mais, um trabalhador com formação superior tem um leque maior de conhecimentos e, assim, uma capacidade maior de adaptação.
Voltando às mudanças na educação, considera a formação de professores como essencial às melhorias no sistema educativo. Conquistar a classe docente é um passo importante para o sucesso?
É crucial. Devo realçar que conheço pouco sobre a carreira dos professores em Portugal, portanto isto não é um comentário ao que se passa aqui. De um modo geral, quem pretende implementar mudanças num sistema educativo necessita ter os professores consigo. Isto não significa que se tenha de fazer o que os professores acham que deva ser feito. Os países que implementaram mudanças nos últimos 5 a 10 anos são países que pensaram mesmo a sério na formação de professores.
Ao desenhar uma carreira docente, é importante oferecer aos professores algo que considerem compensador?
Muito importante. Houve países que mudaram para uma carreira diversificada, em que os professores são compensados, alguns podendo progredir mais rapidamente na carreira. No Reino Unido, passou-se por um período difícil, com dificuldades na recrutação de professores. Agora há muitas pessoas com boas graduações que seguem a carreira docente porque sabem que serão recompensados se trabalharem bem.
Portanto, a avaliação do desempenho é indispensável?
A avaliação, o apoio aos professores na formação em serviço, mas também um julgamento sobre como estão a desenvolver o seu trabalho, provando que existe uma diferença nas compensações dadas aos bons e maus professores.
As escolas devem poder escolher o seu corpo docente?
Sim, devem ter a capacidade de escolher os professores que querem ter, sem ter de ficar à espera que o governo central decida em seu lugar. Defendo um certo grau de autonomia quer no recrutamentos dos professores, quer na aplicação dos currículos.
Na era das novas tecnologias, cada vez mais sofisticadas, as escolas sentem dificuldade em competir com elas em termos de seduzir os jovens. Partilha da ideia?
Não sei se elas deviam tentar competir. Temos um projecto - o "New Millenium Learners" - que procura saber como um sistema educativo responde quando um jovem usa as diferentes tecnologias para aprender, jogar e comunicar. Uma escola não pode competir. O que procuramos é ver como essa relação entre o "fora da escola" e o "dentro da escola" pode ser construtiva, mais do que encontrar uma barreira entre as duas.
Para um jovem, uma máquina pode ser mais estimulante do que um professor, não?
Sim, é possível, mas isso depende da qualidade do professor. Isto faz-nos pensar o que estamos a dar aos alunos. Podemos dar uma boa aprendizagem, ensiná-los a fazer um bom uso das tecnologias, mas isto não significa converter a escola num salão de jogos. Agora, é claro que manter alunos sentados simplesmente a ouvir um professor dificilmente trará bons resultados.
Depois, a escola tem ainda de dar resposta à infinidade de problemas sociais que ali entram...
É um desafio enorme para as escolas. E elas não podem resolver tudo. Às vezes, quem trabalha em educação tende a exigir demais da escola. E não se pode deixar tudo aos professores para resolver. A escola não é um local apenas para professores. Outros profissionais - como assistentes sociais - são ali necessários. As escolas precisam de fazer um trabalho de proximidade com outros tipos de unidades de apoio social".

Jornal de Notícias

domingo, junho 10, 2007

Os lucros da banca

Os lucros da banca continuam a engordar de uma forma verdadeiramente obscena, numa altura em que uma larga franja dos portugueses passa por grandes dificuldades e em que o Estado não dá mostras de dar folga ao cinto em que nos tem amarrados há uma série de anos. Revolta saber que os cinco principais bancos portugueses enchem diariamente os seus cofres com 9 milhões de euros, muito em especial à custa dos mais desfavorecidos, através duma publicidade enganosa que incentiva os consumidores menos formados a recorrerem ao crédito e com isso a desgraçarem as suas vidas. O escândalo assume maior dimensão quando os números divulgados pelo Banco de Portugal confirmam o facto da banca garantir lucros cada vez mais elevados e afastar-se cada vez mais, no valor que paga ao Estado, dos impostos sobre os lucros, daquela que é a taxa definida por Lei. Até quando os portugueses vão permitir este escândalo nacional?!

sábado, junho 09, 2007

Professores até à morte

"O episódio arrepiante da professora do Ensino Básico de Cacia obrigada a trabalhar apesar de sofrer de leucemia, que fazia o título maior da capa do CM de ontem, pode ser vista como parte de uma história mais vasta daquilo que o Estado é hoje e do que quer dos seus professores.
O estado de necessidade em que vive o nosso Estado faz com que este tenha orientações cegas. Mesmo sofrendo de leucemia há um ano, a professora Manuela Estanqueiro não teve direito a uma aposentação – e há outros casos por este País fora. O Estado tem muito mais em que pensar até porque acha que hoje mesmo as faltas por doença grave ou doença dos filhos devem ser contadas como uma falta normal.
Independentemente do mérito que algumas das reformas da ministra Maria de Lourdes Rodrigues até têm, não há hoje um único professor que não se sinta pressionado, mesmo intimidado, porque a sensação de ser um peso obviamente indesejado alargou-se a todos. A instabilidade na profissão é hoje muito séria porque em quase todas as medidas do Ministério há um alvo chamado professor. E grande parte do que tem sido feito, se não ficarmos pela espuma das coisas, é destinada precisamente a substituir professores mais velhos e também mais qualificados por outros mais novos e mais baratos. Esse é o objectivo e não creio que melhore o sistema".

Manuel Queiroz, Subdirector
Correio da Manhã

sexta-feira, junho 08, 2007

Pobrezinhos mas online

"(...) Não há dúvida de que fornecer computadores a milhares de portugueses é uma medida positiva, resta saber se serão criadas condições para que eles sirvam para alguma coisa. A tecnologia necessita de condições sociais para ser um instrumento de transformação e não um gadget sem consequências.
É preciso a que empresas esses muitos milhares de computadores vão ser comprados e que tipo de software correrão. Depois daquela cerimónia em que meia dúzia de ministros assinaram uma série de protocolos com Bill Gates, é preciso determinar se isto será um excelente investimento para Portugal ou um genial negócio para a Microsoft. Em matéria de compra de programas para o Estado, os sucessivos governos portugueses não têm sido muito sábios. Em vez de apostarem em software livre, com custos baixos e transparentes para os utilizadores, insistem em fazer negócios comprando software proprietário que ninguém sabe como é construído e que deixam nas mãos de multinacionais informações para a soberania nacional.
Provavelmente, tudo isso se deve a que o software livre dá-se melhor em sociedades que apostam na autonomia crítica dos cidadãos. Em Portugal, essa cultura de desenvolvimento é uma excepção. Cá predomina a reverência dos subalternos. Basta ver a forma como se comportam os jornalistas ao relatarem as declarações dos protagonistas do dia da greve geral: o silêncio reverencial com que escutaram as suas excelências os secretários de Estado opôs-se à balbúrdia e às interrupções constantes à declaração de Carvalho da Silva, na conferência de imprensa da CGTP.
Mas nem tudo é negativo nos dias que correm, mais de 30 anos depois da conquista da democracia, graças aos esforços de José Sócrates e Cavaco Silva, passamos dos pobrezinhos mas honrados do slazarismo, para os pobrezinhos mas online. Sempre da para ver o YouTube".

Nuno Ramos de Almeida
Focus

quarta-feira, junho 06, 2007

terça-feira, junho 05, 2007

O estado do ensino em Portugal

"Muitas almas caridosas interrogam-se por que razão o ensino no nosso país anda pelas "ruas da amargura”. Não se andará muito longe da verdade se se afirmar que o ensino “está como está” pelo facto de:
a) existirem extensos e maus programas;
b) existirem manuais deficientes;
c) existirem disciplinas a mais ou com carga horária desajustada;
d) existirem professores mal preparados;
e) existir um número exagerado de Escolas Superiores e “Universidades”, algumas de duvidosa credibilidade e deficiente qualidade no ensino que ministram e que vão lançando fornadas de licenciados (e até mestrados) no mundo do trabalho. Que está saturado ou não existe ;
f) existir um ensino primário (1º ciclo) demasiado lúdico e super-divertido que não prepara os miúdos, permitindo-lhes transitar para o 2º ciclo (depois transitam, sem problemas, para o 3º ciclo), eximidos de saberem ler e escrever, de saberem a tabuada (já não se usa essa reaccionarice) de saberem efectuar contas de dividir e multiplicar;
g) existirem alunos desordeiros, indisciplinados, malcriados, violentos que perturbam supin amente o desenrolar das aulas (quiçá este o problema mais grave que desestabiliza as escolas);
h) existirem práticas e correntes pedagógicas inadequadas e românticas onde pontifica o “eduquês”;
i) Persistir, de forma subliminar, da parte dos mentores do “eduquês” aboletados no ministério, a tentativa de impôr o “ sucesso educativo” (aparente), à outrance. Nem que para isso se forje ou invente;
j) Finalmente, e qual cereja em cima do bolo amargo da educação, existirem comissões ineptas do ministério que confundem, atrapalham, em vez de elucidarem e definirem estratégias claras e consequentes, assentes no rigor, na exigência e na assumpção do verdadeiro conhecimento e saberes devidamente estruturados nos diversos níveis de ensino.
Mesclarem-se esses (des)conhecimentos e (des)saberes é caminhar para a ilusão, para a desestruturação cognitiva, para a incompetência, para a ignorância . No tempo do “velho botas” fascista—como muitos imbecis, irresponsáveis e oportunistas o mimoseiam—e, até, no tempo do Prof. Marcello Caetano, qualquer jovem que concluisse o 5º e o 7º anos (actuais 9º e 11º), evidenciava competências e saberes e, no mínimo, saberia ler e escrever correctamente. Isto para não ter de referir os professores, os médicos, os engenheiros, os advogados, etc, classes profissionais que estavam devidamente habilitadas, qualificadas e preparadas para exercerem as respectivas profissões, sem duvidarmos, ou sem se duvidar do seu percurso e preparação cientifica, técnica e intelectual. Ou seja: o ensino e a qualificação dos jovens era a valer. Quem não sabia, não estudava ou não revelava capacidades suficientes arreava, ou, pelo menos era obrigado a tratar de “vidinha”. Não permanecia nas escolas, como agora acontece, perturbando, infernizando e influenciando, negativamente, os colegas com razoável aproveitamento, prejudicando-os no estudo e nesse mesmo aproveitamento. De caminho, nos dias de hoje, estes jovens virtuosos e trabalhadores ainda dispõem de tempo para maltratar e insultar os seus professores no papel enternecedor de estudantecos. Assim vai o doce ensino no nosso país. Um futuro radiante nos espera".

António Miguéis
Vila Real

segunda-feira, junho 04, 2007

Omenagem à hortografia

"Asenhora menistra da Educação açegurou ao presidente da República que, em futuras provas de aferissão do 4.º e do 6.º anos de iscolaridade, os critérios vão ser difrentes dos que estão em vigor atualmente. Ou seja os erros hortográficos já vão contar para a avaliassão que esses testes pretendem efetuar. Vale a pena eisplicar o suçedido, depois de o responçável pelo gabinete de avaliassões do Menistério da Educação ter cido tão mal comprendido e, em alguns cazos, injustissado. Quando se trata de dar opiniões sobre educassão, todos estamos com vontade de meter o bedelho. Pelo menos.
Como se sabe, as chamadas provas de aferissão não são izames propriamente ditos limitão-se a aferir, a avaliar - sem o rigôr de uma prova onde a nota conta para paçar ou para xumbar ao final desses ciclos de aprendizagem. Servem para que o menistério da Educação recolha dados sobre a qualidade do encino e das iscólas, sobre o trabalho dos profeçores e sobre as competênssias e deficiênçias dos alunos.
Quando se soube que, na primeira parte da prova de Português, não eram levados em conta os erros hortográficos dados pelos alunos, logo houve algumas vozes excandalisadas que julgaram estar em curso mais uma das expriências de mudernização do encino, em que o Menistério tem cido tão prodigo. Não era o caso porque tudo isto vem desde 2001. Como foi eisplicado, havia patamares no primeiro deles, intereçava ver se os alunos comprendiam e interpetavam corretamente um teisto que lhes era fornessido. Portantos, na correção dessa parte da prova, não eram tidos em conta os erros hortográficos, os sinais gráficos e quaisqueres outros erros de português excrito. Valorisando a competenssia interpetativa na primeira parte, entendiasse que uma ipotetica competenssia hortográfica seria depois avaliada, quando fosse pedido ao aluno que escrevê-se uma compozição. Aí sim, os erros hortográficos seriam, digamos, contabilisados - embora, como se sabe, os alunos não sejam penalisados: á horas pra tudo, quer o Menistério dizer; nos primeiros cinco minutos, trata-se de interpetar; nos quinze minutos finais, trata-se da hortografia.
Á, naturalmente, um prublema, que é o de comprender um teisto através de uma leitura com erros hortográficos. Nós julgáva-mos, na nossa inoçência, que escrever mal era pensar mal, interpetar mal, eisplicar mal. Abreviando e simplificando, a avaliassão entende que um aluno pode dar erros hortográficos desde que tenha perssebido o essencial do teisto que comenta (mesmo que o teisto fornessido não com tenha erros hortográficos). Numa fase posterior, pedesse-lhe "Então, criançinha, agora escreve aí um teisto sem erros hortográficos." E, emendando a mão, como já pedesse-lhe para não dar erros, a criancinha não dá erros.
A questão é saber se as pessoas (os cidadões, os eleitores, os profeçores, "a comonidade educativa") querem que os alunos saião da iscóla a produzir abundãnssia de erros hortográficos, ou seja, se os erros hortográficos não téêm importânssia nenhuma - ou se tem. Não entendo como os alunos podem amostrar "que comprenderam" um teisto, eisplicando-o sem interesar a cantidade de erros hortográficos. Em primeiro lugar porque um erro hortográfico é um erro hortográfico, e não deve de haver desculpas. Em segundo lugar, porque obrigar um profeçor a deixar passar em branco os erros hortográficos é uma injustiça e um pressedente grave, além de uma desautorizassão do trabalho que fizeram nas aulas. Depois, porque se o gabinete de avaliassão do Menistério quer saber como vão os alunos em matéria de competenssias, que trate de as avaliar com os instromentos que tem há mão sem desautorisar ou humilhar os profeçores.
Peçoalmente, comprendo a intensão. Sei que as provas de aferissão não contam para nota e hádem, mais tarde, ser modificadas. Paço a paço, a hortografia háde melhorar".

Francisco José Viegas
Jornal de Notícias

domingo, junho 03, 2007

A politização da função pública

"Há uma razão iniludível pela qual a DREN tem que ser admitida e o governo fica muito mal se o não fizer - o acto da senhora DREN é apenas o momento mais visível de um problema de fundo da nossa administração pública: a politização das suas chefias. A biografia da senhora professora que é actualmente a DREN revela essa sobreposição entre carreiras no estado e compromissos partidários. Sendo profissionalemente educadora de infância, foi dirigente da Juventude Socialista, sindicalista muito activa contra o governo de Cavaco Silva com o mesmo zelo com que hoje toma medidas anti-sindicais, e o seu currículo revela a estrita correspondência dos cargos de nomeação governamental com as datas em que o PS chega ao poder, com Guterres em 1995 e Sócrates em 2005, para além do seu papel no gabinete do ministro Santos Silva. Esta biografia é reveladora e é típica dos militantes socialistas (e do PSD quando este está no poder) que são nomeados por fidelidade e clientelismo partidário a assumir funções de controlo político de áreas sensíveis da administração pública.
Se se permite que este tipo de prepotências claramente politizadas passe impune, contribui-se para um clima de medo e retaliação na função pública no momento muito delicado em que se estabelecem quotas de classificações e se preparam quadros de excedentes. O ambiente na função pública já é demasiado carregado, por boas e más razões, com muito medo instalado, medo mesmo, para se dar mais essa machadada na legitimidade das chefias quando são chamadas a escolher, a decidir sobre a vida das pessoas. Já chega a notória incapacidade de muitas chefias na função pública para reconhecerem um mérito que elas próprias raramente têm, para agora permitir em público uma exibição grosseira de controlo político-partidário.
Este é um dos calcanhares de Aquiles de qualquer reforma da administração pública: a confiança de que as classificações atribuídas aos funcionários têm a ver com o mérito e não com o partido ou as simpatias políticas. Se a DREN ficar nas suas funções, e não se demitir ou for demitida, o medo crescerá, mas o potencial das reformas, que já é escasso, será ainda mais minado por dentro. Esta é que é a questão de fundo".

Pacheco Pereira
Revista Sábado