segunda-feira, março 31, 2008

Purgatório

João Pereira Coutinho
Expresso

domingo, março 30, 2008

O vídeo e o estatuto



Fernando Madrinha, Expresso


Quem protege os professores?

José António Saraiva
Sol

sábado, março 29, 2008

Palavras, leva-as o vento...

Já estou como o Jerónimo de Sousa. Não basta o Presidente da República preocupar-se com os actos de violência e indisciplina que assolam as nossas escolas. Cavaco Silva tem, por diversas vezes, criticado alguns princípios da actual política da Educação, mas a verdade é que ainda não mexeu uma palha para tentar resolver os problemas do sector. É preciso que tome consciência que chegou a hora de intervir.

Mobilidade especial ameaça 2000 professores

"O governo aprovou na quinta-feira o diploma que permite atribuir novas funções noutros sectores da administração pública aos professores incapacitados para o exercício da profissão. Mário Nogueira, da Fenprof, fala de "insensibilidade do Governo para com aqueles que já muito deram à escola pública, tratando os professores como material que se usa, estraga e deita fora".

Ao entrarem no regime de mobilidade especial, os professores mantêm numa primeira fase o salário anterior, durante dois meses, podendo frequentar acções de formação para serem integrados noutros serviços. Caso não consigam colocação, o salário sofre um corte de 16,7% nos dez meses seguintes, em que são obrigados a frequentar acções de requalificação. Ao fim de um ano sem encontrar novo posto de trabalho na Função Pública, o salário é novamente cortado em 33,4%.

O governo diz que se trata de uma medida de "fim de linha", depois de esgotadas outras soluções como a aposentação, reclassificação, reconversão ou se o professor pedir licença sem vencimento. Mas para a Fenprof, entre os 2000 professores que esta medida envolve, "há professores com falta de visão, audição, ou com dificuldade de permanecer muitas horas em pé numa sala de aula mas que, apesar disso, podem desempenhar outras funções dentro da escola".
Mas a ministra da educação foi colocada numa posição difícil com esta decisão. "Este decreto-lei vem provar que a ministra da Educação não falou verdade quando disse que nem um só professor passaria para a mobilidade especial", disse Mário Nogueira à agência Lusa.
A Fenprof entende que o governo deveria ter assegurado que estes docentes incapacitados, mas que tenham condições de se manter na escola - por exemplo, na biblioteca ou apoios vários - não entrassem no grupo destinado à mobilidade especial".

www.esquerda.net

Uma bandeira para as escolas

"Pinto Monteiro fez muito bem em dizer o que disse sobre os "ilícitos criminais" cometidos em ambiente escolar. Não agradou aos teóricos da sociedade virtual, mas falou para as pessoas reais do país real. Essas compreendem a razão das palavras do procurador- -geral, e a sua importância.
As escolas públicas portuguesas - é evidente - precisam, em termos gerais (porque existem realidades diferenciadas), de um ambiente de maior respeito e autoridade.
A agressividade dos tempos que vivemos formatou uma juventude mais irreverente e as escolas, sucumbindo a complexos vários e à pressão dos arautos dos temas fracturantes, nem sempre têm sabido preservar, nas últimas décadas, o espaço necessário para o professor. Para o exercício da indispensável autoridade do professor. Para o respeito pelo professor.
Não devemos ter medo das palavras. Uma escola, para funcionar bem, precisa de conselhos directivos coesos e empenhados, que tracem linhas de orientação justas mas que também não tenham medo de enfrentar os problemas - e muito menos que os escondam; de professores a quem se dê condições para exercerem uma acção pedagógica serena mas onde esteja presente a indispensável autoridade; e de pais que, como a mãe da aluna do Carolina Michaëlis, tenham lucidez e coragem para admitirem os erros dos filhos.
Nas escolas públicas sempre houve e continuará a haver problemas, mas é tempo de terminar com a hipocrisia.
Os colégios particulares, cada vez mais procurados pelas famílias com posses, funcionam bem porque há disciplina. Desde logo, os pais não desculpam os filhos a quem vestem a farda - e as escolas, se desrespeitadas nos seus códigos, metem a criancinha à porta. Ora a escola pública tem de seguir este paradigma. Só assim recuperará o antigo estatuto de local privilegiado para transmitir saberes e cultivar o respeito.
E aqui temos uma bandeira que bem poderia unir os professores e o ministério".

João Marcelino
DN

sexta-feira, março 28, 2008

terça-feira, março 25, 2008

Sempre que abrem a boca sai asneira

A partir de agora, as escolas com problemas graves de indisciplina podem apresentar ao Ministério da Educação uma proposta para a contratação de técnicos como psicólogos e mediadores de conflitos, anunciou hoje o secretário de Estado da Educação. Lembrou ainda este senhor, que a figura do coordenador de segurança escolar, criada no início deste ano lectivo, tem também um papel decisivo a desempenhar na resolução deste tipo de problemas.
Mais psicólogos? Eles já por lá andam e que se saiba os desvios comportamentais dos alunos, em vez de diminuirem, têm aumentado. Coordenador de segurança escolar? Deixem-me rir. Na minha escola, ao dito coordenador, nunca lhe vi serem atribuídas funções dessa índole.
Estas afirmações vindas de quem vêem já não surpreendem ninguém e não acontecem por acaso. Valter Lemos não sai do gabinete, está longe de saber o que se passa nas escolas e depois vai debitando atoardas umas atrás das outras sem que alguém lhe ponha um travão na língua. Verdade seja dita que, neste particular, não é só ele, é toda a equipa ministerial. Decididamente, o ME anda a precisar dum especialista em comunicação. É que a continuarem assim, serão eles próprios a cavarem as suas sepulturas.

A ler com atenção

Read this doc on Scribd: 24 3 mario crespo

David Fonseca - Kiss Me

S.O.S. Professor

"O que fazer perante as imagens que graças ao gozo de mais um jovem imbecil e mal-educado, chegaram até nós? Ficar surpreendidos? Impossível!
A linha SOS Professor, em funcionamento desde Setembro, recebeu em 5 meses 128 contactos dos quais 39% relatam situações de agressão física, isoladas ou em simultâneo, sendo que 37,2% das agressões partiram dos alunos e 21% dos encarregados de educação. Ainda mais inacreditável é o facto de a maior parte dos casos ocorrer no 1.º ciclo (antiga primária), 31%, seguindo-se o 2.º e 3.º ciclos (25,6%) e o ensino secundário com 15,5% das denúncias.
Quanto às zonas do País, Lisboa lidera com 36%, Porto 26% e Setúbal (13%). Segundo dados do Observatório da Segurança Escolar divulgados no Parlamento, no passado ano lectivo foram contabilizadas 390 agressões a professores na escola e arredores, o que dá uma média diária superior a dois casos tendo em conta que há 180 dias de aulas por ano.
Agora notem: no passado ano lectivo, os professores ingleses foram vítimas de 221 agressões, de acordo com dados da Comissão de Saúde e Segurança do Reino Unido, menos 169 do que em Portugal.
Há apenas um pequeníssimo pormenor a ter em conta: em Portugal, há cerca de 150 mil docentes enquanto nas escolas inglesas trabalham mais de 420 mil!
Volto à minha pergunta, o que fazer? Leio na Net que a Federação Nacional dos Sindicatos de Educação (FNE) propõe que estas agressões fossem consideradas "crimes públicos", mas tal significa uma alteração legislativa. Afinal há boas notícias! O Governo e a Assembleia podem tornar efectiva a punição a este tipo de comportamentos.
A má notícia é que, contrariamente ao que já acontece na vizinha Espanha, os tribunais ainda não obrigam os encarregados de educação ao pagamento de multas.
É pena. Doutra forma não vamos lá!"

Luisa Castel-Branco
Destak

segunda-feira, março 24, 2008

Frases

"Esta coisa de se passar alunos reprovados não leva a nada. Tem de se reprovar o aluno nas bases, não se fazem casas pelo telhado"

Luísa Dacosta
Escritora, ensaísta e pedagoga
Notícias Magazine

Terra Naomi - Not Sorry

domingo, março 23, 2008

O declínio

"Uma aluna agride verbal e fisicamente uma professora, numa escola «normal», ou, se quiserem, não «problemática». As filmagens dessa agressão chegaram ao YouTube. Aparentemente, um coleguinha filmou tudo.
Do que é que estamos a falar?
Da amoralidade vigente entre os «jovens», onde o «respeito» é uma bizarria própria dos fracos e o «certo» e o «errado» noções à la carte, apreendidas entre a apatia generalizada dos progenitores e os episódios dos Morangos com Açúcar?
Da criminosa ausência do exercício da autoridade por parte de pais, educadores de infância, professores e auxiliares, para quem a criança passou a ser um misto de papão - a quem é preciso tratar com cuidado sob pena de «revolta» - e vítima - permeável a traumas indizíveis?
De uma cultura pop estupidificante e acéfala, onde, em matéria de educação e maneiras, se cultiva a bestialização de tudo o que seja clássico e antigo – numa palavra «quadrado» - e se glorifica toda e qualquer next big thing?
Do facto de ter passado a ser anedota a velha máxima de que “a idade é um posto”?
Da falta de prestigio e de respeitabilidade dos professores nas escolas, consequência de políticas educativas que burocratizaram e baralharam a sua função, e conferiram aos professores um estatuto de fragilidade e vulnerabilidade que faz com que seja vox populi a ideia de que «o professor não só não manda como já nada pode fazer contra os alunos mal comportados»?
Não. Dizem-nos que não. O mundo, aparentemente, mudou. Os paradigmas são agora outros. A moral deve adaptar-se a «contextos», a «especificidades» acessórias e transitórias. Perante o vídeo da agressão da aluna à professora e da atitude abjectamente contemplativa dos colegas, há que enveredar por congeminações relativistas sobre a cronenberguiana «extensão natural do corpo» que constituí um telemóvel, ou por criticas em relação ao comportamento do agente que detém o poder – neste caso a professora – apelidando-o, depois de aturado estudo, de «desadequado», «desajeitado», «impróprio» ou até mesmo «agressivo» (facto que potenciou o desvio comportamental da jovem e inocente aluna). Ou, ainda, desvalorizando aquilo que apelidam de «epifenómenos» (isolados e extraordinários). Elucubrações, aliás, vindas, provavelmente, de psis, pedagogos e intelectuais que, nos seus papeis de pais, também falham em «domar» a «besta» que habita lá em casa (por ausência ou benevolência exacerbadas) e fogem do óbvio para disfarçar a sua própria indigência moral.
Os «valores» de «antigamente» são isso mesmo: despojos de um mundo extinto, sobre o qual já não interessa falar e que apenas certos líricos ainda crêem ser possível sustentar. É este o caldo cultural e social em que vivemos. E agora, reparem: para cúmulo, é este o caldo que potencia a vertigem legalista de governos centralistas, maximalistas e paternalistas (como é o caso do presente), que crêem que a função do Estado é também a de cunhar uma nova linhagem de homens ou a de moldar a actual por decreto. Até à perfeição".

sábado, março 22, 2008

Psicólogos da treta

"É uma das imagens de marca do país: afirma-se muito, questiona-se pouco. Ontem, João Amado, psicólogo, professor da Faculdade de Psicologia e Ciências de Educação de Lisboa, que tem trabalhado sobre a indisciplina nas escolas, confirmou que isso estava de novo a acontecer a propósito do incidente na escola Carolina Michaelis, no Porto.
Ele voltou a estranhar. Algumas questões que lhe surgiram quando foi confrontado com as imagens nos telejornais de quinta-feira: "Em que medida é que aquela professora tem preparação para dar aulas? Haverá um trabalho conjunto naquela escola? Quantos pais aproveitaram esta circunstância para dialogar com os filhos?
(...)Há alunos e alunos e pais que são maus exemplos. Mas isso não desresponsabiliza a escola, que tem de estar preparada para esta situação de diversidade", alerta João Amado.
O psicólogo recusa, contudo, que a agilização dos procedimentos disciplinares, alegadamente contemplada no novo Estatuto do Aluno, venha resolver alguma coisa: "A autoridade que os alunos têm de reconhecer no professor não passa pelo que está escrito nos regulamentos, mas sim pelo modo como se exerce a docência."
Nas escolas, a violência não se exerce só para um lado: "O respeito pelos professores é fundamental, mas os alunos também têm que ser respeitados", adverte o psicólogo, sublinhando que não poucas vezes "os procedimentos disciplinares são motivo para grandes injustiças".
Público

Nota - São análises como esta que muito têm contribuído para o crescente clima de indisciplina que se vive hoje em dia nas escolas. Cada vez que os petizes descarrilam, é certo e sabido que vários psicólogos são chamados a dissertarem sobre o assunto e, como é habitual, o discurso é sempre o mesmo, assente nas "velhas" teorias da treta que, basicamente, apontam no sentido da desculpabilização do comportamento dos jovens. Confesso que já não tenho pachorra para aturar este e outros quejandos que pululam pelos media e que só dizem alarvidades. Transformados em eminências pardas pela comunicação social (confesso que ainda não percebi porquê!), que os solicitam frequentemente, este senhores deviam ser obrigados a, durante uns meses, dar aulas numa escola problemática de Lisboa ou Porto, para tomar contacto com a dura realidade, que pelos vistos desconhecem, e que nós professores vivemos todos os dias. Estou convicto que as suas fortes convicções sofreriam um duro revés e, por certo, deixariam de dizer barbaridades como aquelas que reproduzimos.

A teimosia como princípio

sexta-feira, março 21, 2008

E para quando uma avaliação dos pais?

"O Carolina Michaëlis, que já teve o belo nome de liceu, não serve os miúdos do bairro do Aleixo, no Porto. Não, aquele vídeo (ver págs. 4 e 5) não mostra gente com desculpas fáceis, vindas do piorio. Pela localização daquela escola, quem para lá vai vive às voltas da Boavista e os pais têm jantes de liga leve sem precisar de as gamar. Os pais da miúda histérica que agride a professora de francês estarão nessa média. Os pais do miúdo besta que filma a cena, também. Tudo isso nos remete para a questão tão badalada das avaliações. Claro que não me permito avaliar a citada professora. A essa senhora só posso agradecer a coragem. E pedir-lhe perdão por a mandar para os cornos desses pequenos cobardolas sem lhe dar as condições de preencher a sua nobre profissão. Já avaliar os referidos pais, posso: pelo visto, e apesar das jantes de liga leve, valem pouco. O vídeo mostrou-o. É que se ele foi filmado numa sala de aula, o que mostrou foi a sala de jantar daqueles miúdos".

Ferreira Fernandes
DN

quarta-feira, março 19, 2008

100 Mil

"Podem dois terços dos professores, tantos quantos desceram às ruas de Lisboa, estar enganados? Podem 100 mil profissionais estar ao serviço de um partido, como o nosso primeiro-ministro gosta de dizer de quem protesta contra o seu governo? Pode tanta gente ser, afinal, incompetente, "pseudo-+rofessores que trabalham pouco, ensinam menos e não aceitam avaliações", como disse Emídio Rangel num daqueles momentos em que mais valia estar calado? Claro que não.
Não está em causa a mais do que necessária na educação, nem sequer a justa avaliação a que os professores devem submeter-se. O que está em causa é esta reforma, esta avaliação, em que o governo teimosamente insiste sem admitir que possa ter erros. Há , obviamente, bons e maus professores em Portugal, professores inesquecíveis e professores que deviam mudar de profissão. Mas o governo não pode esperar que acreditemos que aqueles 100 mil que protestaram nas ruas estejam simplesmente de má fé".

Paulo Narigão Reis
Focus

terça-feira, março 18, 2008

Os Professores, a Avaliação e os Mirones da Educação

"Sendo professora com 32 anos de carreira, tenho seguido e sofrido dia a dia não só com as imposições, e divagações do Ministério, mas também com a perseguição de que os docentes têm sido alvo.
Talvez o facto de leccionar Língua e Cultura Portuguesa no Estrangeiro me tenha dado uma visão de sistemas de educação que me permite fazer comparações que não estariam tão ao meu alcance se leccionasse só em Portugal.
Neste ponto só tenho a dizer que o modo como o Ministério da Educação e muitos Encarregados de Educação actualmente tratam os professores seria inconcebível e inaceitável em qualquer país civilizado.
Mas o que mais me espanta, e quase me daria vontade de rir, se o assunto não fosse tão sério, é o elevado número de indivíduos, oriundos de várias camadas sociais e profissionais, que até hoje nenhum interesse mostraram pela Escola, mas que de um dia para o outro se tornaram peritos em Educação e sabem tudo, mesmo tudo!
São absolutamente espantosos as comentários feitos, publicamente, à Manifestação de Professores no passado dia 8 de Março.
O Jornalista Emídio Rangel dá-lhes o nome de “hooligans”, uma “senhora” (aspas intencionais) que pôs um artigo na Internet (Portugal Notícias, 13.03) apelida a marcha de professores de “marcha de chulos”. Outro jornalista do Correio da Manhã diz que os professores “andaram aos saltinhos pelas ruas”. Um senhor reformado ( PWB Netcabo 12.03) queixa-se que começou a trabalhar aos 14 anos, mudou 10 vezes de emprego, tem uma pequena reforma e que os malandros dos professores ficam com boas reformas sem fazer nada, ou quase nada!
E todos concordam em, pelo menos, quatro pontos : os professores são uns madraços, preguiçavam à conta do Estado, pelam-se de medo da avaliação e viva a Sra. Ministra que vai meter isto tudo na ordem! Os professores são o bode expiatório da nação. Delapidaram os cofres do Estado e não ensinaram nada aos coitados dos alunos.
Avaliem-nos! Avaliem-nos ! - grita a multidão - os professores andaram anos e anos armados em espertos, a passar e a chumbar alunos à sua livre vontade, agora somos nós que os passamos ou chumbamos, nós, os pais e os alunos, e só passamos quem quisermos!
Ora, meus caros - e menos caros - amigos, há aqui vários equívocos graves.
Para começar, todos os professores são profissionais com uma formação estruturada, aplicada e aprovada pelo Ministério da Educação. Os professores e os médicos são as duas categorias profissionais em que são perfeitamente visíveis os resultados do seu trabalho e em que a avaliação é feita dia a dia, no local de trabalho, através dos resultados que atingem. Se o médico não consegue descobrir o tratamento adequado ou comete um erro, o doente morre.
Se o professor não ensina, logicamente, o aluno não aprende.
Mas agora surge o ponto crucial da questão:
Se o doente não tomar os medicamentos e não seguir os conselhos médicos, no caso de morrer, a culpa é do médico? Ou se o médico não tiver os medicamentos para ministrar e os instrumentos para a operação, se o doente morrer, a culpa é dele? É lógico que não é. Mas nesse caso, porque andam a culpar os professores dos maus resultados dos alunos, se lhes retiraram todos - ou quase todos os”medicamentos ” e “instrumentos” de que dispunham para exercer a sua profissão?
Refiro-me aqui ao respeito, à autoridade dentro da sala de aula, à possibilidade de fazer com que os alunos estivessem quietos, calados , prestassem atenção à aula, não faltassem e tentassem, pelo menos, atingir a nota mínima para passar de ano.
Actualmente, nada disto é possível. Se o professor tenta tirar o telemóvel ao aluno, porque está a enviar mensagens em vez de seguir a aula, recebe ameaças - e não só - de agressão física da parte do aluno e dos pais do mesmo.
Quando um Director de Turma telefona para os pais de um aluno, porque já há vários dias este não aparece nas aulas, é insultado e os pais dizem-lhe que não tem nada a ver com isso.
Mas não há nenhum problema, porque actualmente e devido às sábias medidas da Sra. Ministra, quase não é preciso os alunos irem às aulas para fazerem o 9° ano! Podem faltar quanto quiserem e não precisam de ter nota suficiente, mas, se mesmo assim não conseguirem, têm as “Novas Oportunidades”, em que conseguem terminar a escolaridade mesmo sendo semianalfabetos.
Mas ai do docente que cometa um erro! A “senhora” que mencionei acima falava, indignadíssima de uma professora que Tinha Cometido Um Erro No Enunciado DE UM TESTE! Do modo como apresentava a questão, parecia que daí poderia resultar o fim do mundo, ou, pelo menos, a terceira Guerra Mundial.
Mas continuando, de quem é a culpa? De um Ministério que abandalha (peço perdão da palavra, mas é a mais correcta) ao máximo as condições do ensino, que retira aos professores todas as possibilidades de ministrar um ensino em condições, que permite presentear com certificados do 9° ano todo o arruaceiro, faltista e preguiçoso que nunca quis fazer nada na escola, só para camuflar os erros ministeriais que cometeu?
A quem admira que, nestas condições, o “doente ensino” morra, ou fique pelo menos incapacitado?
Avaliação! Avaliação! Avaliação! - grita a multidão. Vamos avaliar os incompetentes dos professores!
E a Sra. Ministra rejubila. Sim, porque enquanto estiverem ocupados com um processo de avaliação tão incorrecto, tão moroso, complicado desnecessariamente ao mais alto grau, os professores não vão sequer ter tempo para comer ou dormir, quanto mais para ensinar, criticar o sistema de ensino ou organizar manifestações.
Mas todos estes peritos do ensino de chocadeira podem estar descansados!
Daqui a alguns (poucos) anos, quando tiverem medo de sair de casa porque correm o risco de ser assaltados na próxima esquina - quem não ganha dinheiro e não sabe onde o ir buscar, vai roubar - quando forem pessimamente atendidos nos Correios, no Banco ou numa loja, quando estiverem três meses à espera de telefone porque o seu nome vem sempre soletrado errado, quando se sentirempreocupados com graves problemas de desemprego, criminalidade, tráfico de droga ou prostituição, lembrem-se de que ajudaram, um pouco, a criar uma geração sem valores estabelecidos, sem conhecimentos básicos, sem regras de comportamento, sem hábitos de trabalho, porque que lhes foi permitido andar na escola sem fazer nada e pensar que não é preciso fazer nada para ter tudo, sem reflectirem no choque que esses jovens vão sofrer quando chegarem à vida real e ao mercadode trabalho e ver que as coisas não são nada como lhes fizeram crer. Os que batem nos professores hoje vão ser ou os criminosos ou os explorados pelas empresas amanhã.
Pensem nisto, meus caros – e menos caros – amigos. Pense nisto também, Sra. Ministra!
Pensem que a escola deveria ser uma preparação para a vida. Já o foi, e sei isso, porque trabalhei nesses moldes.
Agora não é uma preparação para nada, a não ser um futuro muito incerto.
Os erros que se cometem com uma geração reflectem-se nas gerações seguintes.
Pensem nisso".

Maria Teresa Duarte Soares - Professora
Nuremberga, Alemanha

segunda-feira, março 17, 2008

Sobre a situação dos professores

"O problema do ensino e dos professores é bastante grave e não se compadece com análises superficiais e propaganda fácil. Parecia impossível mas aconteceu. Num universo de cerca de 150.000 professores 100.000 de todo o país estiveram em Lisboa. Numa altura em que os professores estão assoberbados de trabalho normal, isto é, todas as tarefas relacionadas com a avaliação do 2º período, acrescidas das inúmeras reuniões relacionadas com a catadupa de legislação e ordens contraditórias. Vieram quase todos de longe num sábado e continuam o seu trabalho.
Nunca em Portugal se conseguiu juntar quase toda a gente da mesma classe nestas condições. É um fenómeno digno de atenção a sério em qualquer país da Europa e do Mundo. Não há notícia de haver uma situação semelhante no ensino noutro país. É um fenómeno social que merece estudos e explicações profundas.
O Ministério da Educação e o Primeiro-Ministro conseguiram levar à ruptura total. Não é mais possível continuar a demagogia de que os professores não perceberam. Os professores são licenciados, muitos têm mestrados e doutoramentos, muitos têm participado em inúmeras experiências cívicas, lêem, produzem conhecimento e não podem continuar a ser tratados como homúnculos ignorantes e obedientes à força.
A partir daqui, se não antes, demonstrou-se que o Ministério governa contra todos os professores, não tem qualquer autoridade moral, manda apenas porque manda, em ditadura no Ensino. Os professores obedecem por coacção do Estado e nada mais. Cumprem apenas porque são obrigados.
Os professores são cerca de 150 mil, têm famílias, têm milhões de alunos com famílias. Ao obrigar os professores a obedecer sem qualquer explicação, com as liberdades coarctadas, o governo está a enviar uma mensagem repetida a todos: obedeçam que nós é que sabemos, sejam cidadãos limitados pelos nosso decretos.
O problema já ultrapassou o Ministério da Educação e o Governo. Agora, permitam-me que exprima a minha opinião, cabe aos órgãos legitimamente eleitos pelos cidadãos tomar atitudes: a Assembleia da República e o Presidente da República. Com este ministério perderam-se anos de reformas possíveis que, a não ser tomada alguma atitude urgente, podem levar a situações de difícil controlo não apenas entre os professores mas entre outros estratos da população do país.
O Ministério da Educação esforçou-se por tentar demonstrar que os professores não prestam, sobretudo ao decretar a divisão em duas categorias artificiais em que quase ninguém, apesar de todo o esforço desenvolvido, percebeu porque ficou numa ou noutra, ou com carreira bloqueada durante largos anos. Todos ficaram prejudicados com este novo estatuto.
Criou-se um concurso iníquo em que dividiu os professores em duas classes, sem ouvir quase ninguém, ou antes, ouvindo apenas aqueles que concordavam. Iníquo porque não houve qualquer avaliação de desempenho credível, mas apenas uma soma de pontos dos cargos (de alguns) exercidos nos últimos sete anos, fazendo tábua rasa de toda uma vida profissional e de lutas pela educação e ensino público.
Aumentou-se o horário dos professores deixando-lhes apenas sete horas semanais para preparar aulas, fazer a avaliação, formação etc. E como se não bastasse, o Ministério inunda as escolas com decretos, circulares, informações contraditórias a meio do ano lectivo, com um estatuto do aluno que ora entra em vigor ora é adiado, com um decreto sobre avaliação que ora tem um prazo ora tem outro, ora é para avaliar durante este ano lectivo todos os professores ora é para avaliar apenas os contratados ou os que podem mudar de escalão...
Aprovou-se em Conselho de Ministro a nova gestão que apenas vai levar a um reforço da autoridade e do autoritarismo, com conselhos pedagógicos nomeados por uma única pessoa, com uma participação teórica dos pais e autarquias que até aqui não têm funcionado.
No discurso oficial fala-se em autonomia mas também se fez tábua rasa de toda a organização das escolas que tinham departamentos e agora se vêem obrigadas, nem sequer por decreto, a limitar-se a quatro departamentos para a avaliação dos professores e continuando a ser inundadas por despachos, circulares e informações que não permitem qualquer margem de manobra, a não ser nos aspectos que podem permitir ainda mais a sujeição dos professores à autoridade.
Criou-se uma avaliação burocrática sem que antes as escolas estivessem avaliadas, com parâmetros indefinidos, com uma margem enorme para a arbitrariedade e que levará certamente a pôr em causa a liberdade de escolha de métodos de ensino, com uma avaliação, dita "por pares" mas que poderá levar a exclusões, promoções e ultrapassagens, pela sua falta de independência e condicionamento. Uma avaliação que longe de visar a qualidade do ensino apenas vai permitir a classificação com vista à descriminação entre os que sobem e os que ficam com a carreira bloqueada, e inquinar o ambiente das escolas. E tudo à pressa, sem qualquer testagem, sem qualquer validação.
Recuou-se na aferição dos resultados. Ninguém sabe como comparar resultados no Ensino Básico, excepto em Português e Matemática e, no Ensino Secundário, apenas em algumas disciplinas mas cujos programas têm competências exigidas que não podem ser avaliadas apenas por exames. Mesmo assim, pretende-se que os professores sejam avaliados por esses resultados, uns que não são totalmente comparáveis entre si, outros que nunca podem ser comparados.
Quer o ministério fazer uma avaliação para culpabilizar só os professores?
Não se quis, pelo contrário, mexer em aspectos significativos dos curricula. Continuam várias disciplinas a ter apenas uma aula por semana, em que os alunos não podem aprender simplesmente porque não têm aulas, em turmas diversificadas com 28 alunos. Continuam programas que parecem no papel mini licenciaturas mas onde não há tempo para desenvolver competências, dada a extensão dos conteúdos. Pelo contrário, a rede escolar não contempla a possibilidade de os alunos que quiserem terem disciplinas como Política, Antropologia Cultural etc. ou até Latim.
Agora está tudo em causa. Há que discutir não apenas a legislação recentemente promulgada ou em processo de, mas tudo quanto foi feito nos últimos anos, sob pena de nos afundarmos ainda mais, depois destes anos perdidos, num país que ainda tem analfabetos e um défice enorme de formação dos seus cidadãos"

José Soeiro
Esquerda

domingo, março 16, 2008

Ensino português

"Aterrei em Lisboa no último sábado e fiquei pasmado com a manifestação dos professores. Não apenas pelos números (80 mil? 100 mil?) mas pela ironia do momento: durante anos, os professores assistiram, mudos e quedos, à destruição do seu próprio estatuto. Mas foi preciso tocar na avaliação dos docentes, e no fim da progressão automática da carreira, para que os senhores professores se lembrassem de protestar. Como dizia o outro, agora é tarde, Inês e marta. E estava tudo escrito desde o princípio com um Ministério da Educação dominado por selvagens nostálgicos, queleram Rousseau e resolveram aplicá-lo à descendência dos outros, o ensino português aposyou na ideia de que o educação nunca é um exercício que implica respeito pelo professor; trabalho solitário e às vezes difícil do aluno; e chumbo certo em casos de ignorância ou indolência. O Ministério da Educação subverteu este tripé ao desautorizar os professores, ao substituir o estudo por "competências" de natureza ridícula ("saber Fazer", "saber estar") e ao garantir o aproveitamento de alunos que, em condições normais, seriam chumbados ou expulsos do sistema. O resultado não acabou apenas por destruir o ensino português, no sentido pedagógico do termo. Acabou por corromper cada um dos seus parceiros, que cresceram à sombra deste circo. Corrompeu pais e alunos, que esperam da escola um prolongamento do jardim infantil - mas não de um jardim infantil capaz de punir quem não trabalha. Corrompeu fornadas sucessivas de ministros, que foram aterrando na 5 de Outubro e reproduzindo a doutrina criminosa do antecessor. E até corrompeu os professores, que foram assitindo ao assalto sem mexer uma palha - por comodismo, cansaço ou, como diria Henry James, falta de imaginação para o desastre. Acreditar que Maria Lurdes Rodrigues é a responsável pelo dilúvio é não entender a moral deste filme. este é um filme sem inocentes para salvar".

João Pereira Coutinho
Expresso

sexta-feira, março 14, 2008

Um olhar sobre a manifestação de professores

"(...) Fechei-me em casa, tentando reflectir sobre o que vira. Aqui vão, a quente, as minhas conclusões. A Educação é o maior falhanço do actual regime. Os responsáveis pelo desastre são os ministros, que se sucederam na 5 de Outubro, os quais, sob uma retórica progressista, adoptaram políticas românticas, cobardes e ineficazes. Foram eles, e não os professores, que se recusaram a enfrentar o problema da massificação da escola; foram eles, e não os professores, que elaboraram os programas; foram eles, e não os professores, que levaram as classes médias a retirar os filhos do ensino público. Tenho autoridade para falar porque, desde o primeiro momento, defendi que as reforamas educativas deveriam começar pelo topo, introduzindo-se o numerus clausus nas universidades. Não o declarei por ser "reaccionária", como alguns proclamaram, mas por estar consciente que, diante da pressão das classes médias, o Estado corria o risco de abrir demasiado as portas do ensino superior.
Foi o que aconteceu. As faculdades passaram a receber mais alunos do que os professores doutorados (os únicos competentes para ensinar) tinham capacidade para leccionar. Os resultados viram-se: todos os anos foram lançados no mercado licenciados analfabetos. Entre a multidão reunida no Terreiro do Paço havia provavelmente quem (como a ministra) tivesse sido meu aluno. Apesar do meu esforço em preparam bem as aulas, tenho consciência de que muitos acabaram sem competência para ensinar.
Por ter vindo no fim de uma série de erros cuja autoria lhe não pertence, Maria de Lurdes Rodrigues é, de todos, a menos culpada. De início, procurou corrigir desvios, mas, a certa altura, optou por atacar os professores, julgando que assim ganhava o aopoio da população. Enganava-se: independentemente de comportamentos pontuais, os portugueses sentem que aqueles são vítimas dos "especialistas" que se sentam na Av. 5 de Outubro. Como em todas as profissões, haverá ovelhas ranhosas, mas o problema só pode ser resolvido por uma direcção empenhada, ou seja, por alguém que dê a cara pela sua escola. perdido entre medidas avulsas, Maria de Lurdes Rodrigues nem isto conseguiu pôr em prática.
É preciso notar que as escolas não são ilhas. Há 30 anos, quando os meus filhos entraram para o Ciclo Preparatório (actuais 5º e 6º anos), numa escola pública (a Manuel da Maia), curiosamente situada ao lado do Casal Ventoso, os alunos pertenciam, quase todos, à burguesia. O ambiente que ali se respirava reflectia a cultura que as crianças traziam de casa: mesmo quando não livresco, o ethos era hierárquico. Tudo isto mudou. Agora, os docentes têm de ensinar crianças cujos pais e avós não sabem ler nem escrever: os 10% de alunos que reprovam na primeira classe são um sintoma do ancestral analfabetismo português.
Chegou o momento de abordar o pomo central da discórdia, a avaliação. A ideia parece tão simples que até os sindicatos têm medo de a recusar, mas, na prática, nada há de mais complexo. A competência pedagógica é uma qualidade que nenhuma grelha pode captar. Basta ler a peça The History Boys, do premiado Alan Bennett, para se ver quão arbitrária é a avaliação dos professores. A agravar o problema, o organigrama proposto pelo Ministério, inspirado nos disparates que Valter Lemos apresentou no seu livro O Critério de Sucesso, é uma aberração.
O que nasce torto tarde ou nunca se endireita. Era pouco provável que um país que teve a sua génese no assassinato da mãe pelo filho viesse gerar uma autoridade legitimada. Enquanto o povo acreditou que o poder tinha origem divina, o edifício ainda se aguentou, mas, a partir do momento em que Deus morreu, tornou-se cada vez mais difícil aceitar o veredicto dos dirigentes. A 8 de Março de 2008, 100 mil docentes (dois em cada três) saíram de casa para declarar que não reconhecem à ministra da Educação legitimidade para os julgar. para mal dos nossos pecados, têm razao".

Maria Filomena Mónica
Sábado

quinta-feira, março 13, 2008

Mais um texto escabroso sobre os professores

"Uma das principais queixas dos professores é a falta de autoridade. É verdade. É uma falha grave, que afecta o ensino e a qualidade da aprendizagem. O problema é que a autoridade não se atribui por decreto. A autoridade conquista-se no dia-a-dia com coerência, determinação e competência. No fundo conquista-se com o exemplo dado. A última manifestação foi mais um passo dado nesse caminho há tantos anos trilhado pelos professores em direcção ao abismo.
No sábado, desfilaram com frases brejeiras para a ministra, piqueniques anárquicos no Marquês de Pombal, metáforas vulgares com o Governo, gritos histéricos de protesto e uma certeza: o que combatem é a avaliação em geral, não o método de avaliação em particular.
Na segunda-feira, sentaram-se à frente de uma turma, para ensinar os alunos a falarem educadamente, a portarem-se com maneiras e a respeitarem-nos a eles como modelo de rigor a formação a seguir.
Esta manifestação teve uma vantagem: relembrar como é a maioria dos professores e qual o resultado do seu trabalho - 120 mil chumbos no ensino básico, 16,9% de repetentes no secundário, 38,3% de reprovações no 12º ano e um país de analfabetos".

Gonçalo Bordalo Pinheiro
Sábado

A avaliação simplificada

A ministra da educação veio dizer que o processo de avaliação de professores é para avançar mas que as escolas têm autonomia para simplificar o processo. Esqueceu-se, no entanto, de esclarecer, em que moldes se irá traduzir essa simplificação. Convinha que o fizesse para todos nós percebermos.

quarta-feira, março 12, 2008

Entrevista a Maria Filomena Mónica

A actual contestação resulta de uma governação “áspera”, como diz Sócrates, ou da desistência face ao Governo?
Nem uma coisa nem outra: a governação não é nem particularmente áspera nem particularmente doce. Estes adjectivos não se aplicam à política, a não ser por gente que, como o primeiro-ministro, pensa que a forma equivale à substância. Os portugueses não desistiram: simplesmente não encontraram, no mercado político, quem possa substituir com vantagem este Executivo.
O descontentamento é localizado ou está generalizado?
É um desencanto submisso e fatalista.
Como acompanha a contestação dos professores?
Com atenção, não só por ser docente – do Ensino Superior – como por a minha primeira especialidade ter sido nesta área.
O que falhou na reforma?
Devo dizer que a ministra fez coisas boas: destaco a abertura das escolas das 9 da manhã às 5 da tarde, o encerramento das escolas pequenas e a tentativa de, em vez de um conselho directivo, as escolas passarem a ter um director. O que estragou tudo foi o esquema de avaliação que propôs. Avaliar professores é diferente de emitir juízos sobre empregados de empresa, funcionários públicos ou gestores de topo. Nestes casos, há objectivos definidos – vender sapatos, endereçar sobrescritos ou aumentar os lucros – o que não se passa no caso das escolas. É fácil conferir se os docentes faltam, se chegam atrasados ou se corrigem os testes. O mesmo se não pode dizer da capacidade para ensinar, que as faculdades de Ciência da Educação – uma das pragas dos tempos modernos – são supostas transmitir. Aqui, a cabecinha tecnocrática da ministra levou-a ao abismo.
O ensino tal como o conhecemos é inviável?
Nada é inviável: se fosse esse o caso, Portugal há muito que teria deixado de existir. Claro que tenho pena do caos que se vive na Educação, até porque, sendo de esquerda, me preocupam o destino dos filhos dos pobres e a forma como a escola impede os melhores de subir na vida.
O que falha na relação do Estado com os professores?
Muita coisa: da forma como se abriram, em 1974, as portas do ensino superior, sem o número de professores para ensinar os alunos que foram entrando, à maneira como os docentes são colocados nas escolas forçando-os a uma itinerância que destrói a sua vida pessoal, os desmotiva e impede a sua ligação aos alunos.
Quais as soluções para contornar a situação?
Não posso responder numa linha, nem sequer numa página.A ministra tem condições para se manter no cargo?O assunto interessa-me pouco: se ela sair, virá um ministro igual ou pior.
Que consequências podem advir do mau momento na rua que o Governo atravessa?
Sem oposição no parlamento, poucas ou nenhumas. Sócrates limitar-se-á a remendos, a fim de tentar apaziguar alguns professores, mas nada disto resolverá o problema de base, até porque ele próprio não faz a mínima ideia do que seja aprender ou ensinar: basta olhar a universidade que frequentou.
Faz sentido o ‘contra-comício’ que o Governo marcou para o próximo sábado?
É tão surrealista que pensei ser uma mentira divulgada pela oposição.
Porque é que a contestação não se nota nas sondagens?
Por não haver alternativa.
Menezes é alternativa a Sócrates?
Não. Aliás, quanto mais tempo se passar, mais claro isso se tornará.
Os portugueses têm opção de escolha?
Têm – emigrar – e é isso que estão a fazer em número crescente.
Há alguma possibilidade do PS não governar após 2009?
Só se o PSD mudar de cabo a raso. Como não votarei neste partido, o assunto só me interessa porque desejaria ter um PS melhor. Por nenhum dos maiores partidos terem feito o que haviam prometido – mudar o sistema eleitoral para as legislativas.

Escola e Justiça pelas próprias mãos

"Ontem visitei uma escola no concelho de Sintra. Era a “semana da leitura” numa escola cuja biblioteca está permanentemente aberta das 08h00 às 22h00 por devoção dos seus professores. Os de várias disciplinas, de Português a Educação Física e Geometria – cada um faz uma escala para garantir um dos objectivos internos da própria escola: mantê-la aberta nesse período. Havia alunos a ajudar no bar e no refeitório, porque não há pessoal suficiente. Alunos, funcionários administrativos e professores promoveram uma maratona de leitura. A ministra da educação pede a estes professores para “trabalharem mais um pouco”, coisa que eles já fazem há bastante tempo; ouvi alunos portugueses, africanos, indianos, do Leste europeu, a falar com orgulho da sua escola. Falando com eles, um a um, percebe-se entusiasmo em várias coisas. Acho natural, são professores. Percebo pela blogosfera uma grande vontade de fazer “justiça pelas próprias mãos” aos professores, mas vejo poucas pessoas com disponibilidade para ouvi-los nas escolas – não nas ruas, onde as parvoíces são sempre amplificadas, mas nas escolas, nos corredores da escolas, quando fazem turnos de limpeza, quando atendem alunos em dificuldade ou fazem escalas para Português como língua estrangeira para rapazes ucranianos ou indianos que não entendem sequer o alfabeto ocidental, ou quando tratam dos problemas pessoais de alguns deles (ou porque não tomam o pequeno-almoço em casa, ou têm dificuldade em aceitar um namoro desfeito, ou andam na droga). Os professores, estes professores, são um dos últimos elos (percebe-se isso tão bem) entre os miúdos e miúdas desorientados e um mundo que é geralmente ingrato. São avaliados todos os dias pelo ambiente escolar, pelo ruído da rua, pelas horas de atendimento, pelas reuniões que o ME não suspeita. Muitas vezes, as famílias não sabem o ano que os miúdos frequentam; não sabem quantas faltas eles deram; não sabem se os filhos estão de ressaca. Os professores sabem.

Essa vontade de disciplinar os professores, eu percebo-a. Durante trinta anos, uma série de funcionários que abundou “pelos corredores do ME” (gosto da expressão, eu sei), decretou e planeou coisas inenarráveis para as escolas – sem as visitar, sem as conhecer, ignorando que essa geringonça de “planeamento”, “objectivos”, princípios pedagógicos modernos, funcionava muito bem nas suas cabecinhas mas que era necessário testar tudo nas escolas, que não podem ser laboratórios para experiências engenhosas. Muitos professores foram desmotivados ao longo destes anos. Ou porque os processos disciplinares eram longos depois de uma agressão (o ME ignora que esses processos devem ser rápidos e decisivos), ou porque ninguém sabe como a TLEBS é aplicada. Ninguém, que eu tivesse ouvido nas escolas onde vou, discordou da necessidade avaliação. Mas eu agradecia que se avaliasse também o trabalho do ME durante estes últimos anos; que se avaliasse o quanto o ME trabalhou para dificultar a vida nas escolas, com medidas insensatas, inadequadas e incompreensíveis; que se avalie a qualidade dos programas de ensino e a sua linguagem imprópria e incompreensível. Sou e sempre fui dos primeiros a pedir avaliação aos professores, porque é uma exigência democrática e que pode ajudar a melhorar a qualidade do ensino. Mas é fácil escolher os professores como bodes expiatórios de toda a desgraça “do sistema”, como se tivessem sido eles a deixar apodrecer as escolas ou a introduzir reformas sobre reformas, a maior parte delas abandonadas uns anos depois. Por isso, quando pedirem “justiça”, e “disciplina” e “rigor” (coisas elementares), não se esqueçam de visitar as escolas, de ver como é a vida dos professores, porque creio que se confunde em demasia aquilo que é “o mundo dos professores” com a imagem pública de um sistema desorganizado, oportunista e feito para produzir estatísticas boas para a propaganda".

Francisco José Viegas

terça-feira, março 11, 2008

Encalhados

"Vinte e seis ministros em três décadas e meio para um ministério onde os funcionários são mais de duzentos mil. Na sua maioria são as mulheres, têm uma formação superior à da população portuguesa e são conhecidas como stôras.
Não houve alteração política em Portugal que não sublinhasse o potencial e os perigos resultantes da dispersão regional e da extraordinária proximidade que os professores mantêm com a população. os professores sempre foram vistos como um extraordinário veículo de propaganda ou como perigosos agitadores: a república pô-los a oficiar cerimónias maçónicas, o Estado Novo controlou-os e perseguiu-os mais do que a quaisquer outros funcionários e a democracia almejou que eles construíssem, em cada escola, aquele que era o seu modelo de sociedade ideal - um universo onde a disciplina surgia naturalmente, se trabalhava sem esforço e onde todos eram iguais. Não por acaso é um dos homens que associamos ao espírito da Primavera marcelista e que na democracia voltou a ser ministro, veiga Simão, que encontramos a pôr em marcha a escola enquanto alter-ego duma sociedade que vê na igualdade uma espécie de estado bondade irremediavelmente perdido para os adultos mas passível de ser recriado para as crianças e jovens.
Ao extinguir o chamado ensino técnico entendeu a geração de Veiga Simão que se estava a dar um forte contributo para acabar com a diferença entre pobres e ricos, pois todos passariam a frequentar a escola unificada. Simultaneamente, a escala de avaliação de 1 a 20 foi condensada em 1 a 5. O resultado foi o 3 tornar-se nota universal para alunos que iam do medícre ao bom. Se algo a 5 de Outubro conseguiu criar rapidamente nas escolas foi esse assustador centrão da mediocridade. Mas nada disto foi ou é suficiente para que o Ministério da Educação se dê por derrotado nos seus desígnios de política social: em nome da igualdade, a actual equipa ministerial terminou com o ensino artístico, uma decisão que à semelhança do que sucedeu com o ensino técnico pode vir a ter implicações futuras calamitosas.
Sob a batuta da 5 de Outubro o universo-escola criou uma linguagem própria que tornou apresentável este reino do absurdo, em que se tornaram indistintos não apenas os resultados mas também o que fazia cada um na escola. Os professores e alunos passaram a ensinantes e aprendentes mútuos, a transmissão de conhecimentos deu lugar a uma situação relacional onde por vezes se ficava retido e a violência escolar passou a ser encarada como uma forma não enquadrada da expressão de problemas. Para cúmulo, o próprio saber dos professores entrou numa espiral de relativismo: o que importava era acumular créditos em acções de formação e não com o conteúdo dessas acções. Assim, era rigorosamente igual para um docente de Alemão frequebtar uma acção de formação em língua alemã, ecologia ou azulejaria. Isto numa versão relativamente bondosa do sucedido, porque em alguns casos chegaram a fazer-se seminários para docentes ministrados por "terapeutas de energias" e astrólogos. Tudo isto devidamente avalizado e estimulado pelo ministério.
Os professores não inventaram nada do monstro que anda por aí. Simplesmente se adaptaram a todas as reformas prontas a usar que lhes foram entregues pela 5 de Outubro. Os professores temem agora - e têm fortes motivos para isso - que a avaliação os torne nos bodes expiatórios do falhanço duma política, a da educação, que leva 11% do investimento público e não apresenta resultados minimamente satisfatóriuos. Diz a ministra que os professores não querem ser avaliados. Provavelmente tem razaõ a sebhora ministra. Mas os professores apenas se limitam a fazer seus os princípios básicos do ministério. Durante quanto anos o ministério tentou que não fossem conhecidos os dados que permitem elaborar os rankings? E, por acaso, deixa Maria de Lurdes Rodrigues que os pais avaliem as escolas? Quando digo avaliar não falo de preencher fichas ou dar notas a professores. Falo do única forma que conheço de avaliação de um serviço: termos a liberdade de o trocar por outro.
O critério de escolha das famílias - instituindo o cheque ensino e dando liberdade às escolas públicas para se organizarem consoante as necessidades daqueles que as procuram - é o único processo de se poder avaliar o trabalho de uma escola e dos seus professores. Os professores serão avaliados no dia em que numa qualquer escola pública, em Portugal, um encarregado de educação possa dizer que quer transferir o seu filho para a escola A, seja ela pública ou privada, simplesmente porque ela é melhor e que, na sequência dessa transferência, os cinco mil euros que o estado português gasta anualmente com a educação do seu filho mpassarão a ser entregues na escola Y e não naquela que frequentou até então.
As fichas que tanta indignação têm suscitado não pretendem avaliar professores. São simplesmente um mecanismo de controlo por parte do ministério para com os seus funcionários. Mecanismo autoritário e legitimador de subjectividade várias como sempre aconteceu na relação entre o ministério e os professores. Mas aos pais e aos alunos essas fichas interessam tanto quanto os requerimentos que os professores têm de preencher. Ou seja, quase nada. Os pais e os alunos estão encalhados à espera que algo consiga quebrar esta concepção da educação que leva a que a mesma esteja reduzida a uma guerrra entre a rua, onde os professores desfilam sábado, e o ministério donde a ministra faz prova de vida nos noticiários da noite do fim-de-semana. Quer os professores quer a ministra sabem que não têm margem para muito mais.
Entretanto, de segunda à sexta, os alunos portugueses fazem o seu ensino obrigatório numa escola que não podem escolher. Será que a ministra e os professores querem mesmo falar de avaliação?"

Helena Matos, jornalista
Público

segunda-feira, março 10, 2008

"Séquesso"

"A pátria adora conversar sobre professores. A pátria, porém, nunca fala sobre educação. Portugal ainda não arranjou coragem para lidar com este facto: os alunos acabam o secundário sem saber escrever. parece que os professores vão fazer uma "marcha da indignação". Pois muito bem. Eu também vou fazer uma marcha indignada. Vou descer a avenida com a seguinte tarja: "os alunos portugueses conseguem tirar cursos superiores sem saber escrever".
A coisa mais básica - saber escrever - deixou de ser relevante na escola portuguesa. De quem é a culpa? Dos professores? Certo. Do Ministério? Certo. Mas os principais culpados são os próprios pais. Mais e pais vivem obcecados com o culto decadente da psicologia infantil. Não se pode repreender o "menino" porque isso é excesso de autoridade, diz o psicólogo. Portanto, o petiz pode ser mal-educado para o professor. Não se pode dizer que o "menino" escreve mal porque isso pode afectar a sua auto-estima. Ou seja, o rapaz pode ser burro, desde que seja feliz. O professor não pode marcar trabalhos para casa porque o "menino" deve ter tempo para brincar. genial: o "menino" não passa de um mostrengo mimado que não respeita professores e colegas. Mais: este mostrengo nunca reconhece os seus próprios erros; na sua cabeça, "sexo" será sempre "séquesso". Neste mundo Peter Pan os erros não existem e as coisas até mudam de nome. O "menino" não escreve mal; o "menino" faz, isso sim, escrita criativa. O "menino" não sabe escrever a palavra "recensão", mas é um Eça em potência.
Caro leitor, se quer culpar alguém pelo estado lastimável da educação, então só tem uma coisa a fazer: olhe-se ao espelho. E já agora, desmarque a próxima consulta do "menino" no psicólogo".

Henrique Mendes
Expresso

domingo, março 09, 2008

Avaliação

"Não é possível apoiar a ministra por inteiro, nem criticá-la por atacado. O seu legado de medidas, ideias e objectivos tem de tudo, do muito bom (a consolidação do cargo de director de escola, os contratos de três anos a favor de um princípio de estabilidade dos professores), ao muito mau (o sistema de avaliação, o regime de faltas dos alunos).Boas ideias, simples e necessárias, como fechar as escolas mais tarde e criar aulas de substituição, coexistem com propostas absurdas, como a de fazer intervir os pais na avaliação dos docentes ou de contar as notas dos alunos para a folha de serviços do professor. Como há também omissões dignas de recordação, em particular a aparente recusa de proceder, dentro da legislatura, à entrega das escolas às comunidades locais, às autarquias e às comunidades educativas (professores, pais e autarcas).A persistência de um modelo de educação integrada, unificada e centralizada é não só a génese de inúmeras deficiências actuais, como também a razão de ser da dificuldade ou da impossibilidade de levar a cabo as reformas úteis e necessárias. É também a causa da transformação dos problemas de educação em guerra social nacional.
O elemento essencial das reformas de Maria de Lurdes Rodrigues consistiu, até hoje, na alteração da relação de forças dentro da educação. Em termos simples, retirou aos sindicatos uma parcela importante do poder que, sob várias formas, detinham até agora. Esta é a sua força. Nada seria possível fazer sem a remoção prévia da tenaz sindical que, sob múltiplas formas, mantinha a educação e o ministério como reféns.
Mas essa reforma, mais propriamente política, seria ineficaz e apenas adjectiva se não fosse completada por alterações importantes e razoáveis nas questões substantivas: a gestão do sistema, o modelo de organização, a definição de novos conteúdos curriculares e dos manuais, entre outras. Esta a sua fraqueza.O que se passa nas ruas do país tem, evidentemente, conotações políticas. Não podia deixar de ser. A educação é um tema político de primeira importância. Aqueles que, no Governo e alhures, denunciam a ingerência de "políticos" e "partidos" avançam um argumento gasto e míope. Mas também é verdade que a contestação ultrapassou largamente as fronteiras da política pura e do sindicalismo, para se tornar também profissional e social. O Governo já percebeu isso, mas persiste em negar a evidência, na esperança de comover os pais, em particular, e a "maioria silenciosa", em geral. Daí o ter transformado os professores, todos os professores, em vilões. A atitude não é inédita e não merece que com ela se perca tempo.
O movimento dos professores tem muitos objectivos: o director da escola, o conceito de autonomia, o estatuto da carreira docente e outros. Além da parcela de poder sindical. Acontece que os professores têm algumas razões. E a ministra também. O facto de se ter declarado guerra entre aqueles e esta é infeliz, pois impede detectar as razões que assistem uns e outra. Infelizmente, é assim a luta das classes e das instituições. É frequente perder-se a semente no meio do joio.
A este propósito, sublinhe-se um erro decisivo na estratégia do Governo, não se sabe se da autoria da ministra, mulher tranquila, se da responsabilidade do primeiro-ministro, homem crispado. A ausência de vontade experimental, ou de estratégia empírica, esteve evidente desde o início. O Governo queria organizar uma cruzada, fazer tudo ou nada, agir por enxurrada e realizar tudo ao mesmo tempo, em todo o sítio e para toda a gente. Com este método, os erros tomam uma dimensão colossal e torna-se impossível corrigir o que quer que seja.
O sistema de avaliação que a ministra pretende impor e que os sindicatos recusam é apenas um dos temas de contestação. Mas é o que tem surgido com mais evidência. A coberto de uma virtude indiscutível, a ideia de avaliação não é recusada por ninguém. É de bom-tom dizer que se é "a favor da avaliação, mas contra esta avaliação". Para todos, ou quase, é uma espécie de santo-e-senha de honorabilidade. Acontece que não é. A palavra, o conceito, o mito e o tique nasceram há vinte ou trinta anos. Em Portugal e na Europa. Criado por burocratas e tecnocratas, os defensores da avaliação acreditam que um sistema destes promove a boa educação, melhora o ensino, castiga os maus profissionais, detecta os talentos, permite corrigir erros e combate o desperdício.
Na verdade, o sistema e a sua ideologia, que infestaram o Ministério da Educação, são próprios de uma educação centralizada, integrada e uniforme. Na impossibilidade humana de "gerir" milhares de escolas e centenas de milhares de professores, os esclarecidos especialistas construíram uma teoria "científica" e um método "objectivo" com a finalidade de medir desempenhos e apurar a qualidade dos profissionais. Daí os patéticos esquemas, gráficos e grelhas com os quais se pretende humilhar, controlar, medir, poupar recursos, ocupar os professores e tornar a vida de toda a gente num inferno. O que na verdade se passa é que este sistema implica a abdicação de princípios fundamentais, como sejam os da autoridade da direcção, a responsabilidade do director e dos dirigentes e a autonomia da escola. O sistema de avaliação é a dissolução da autoridade e da hierarquia, assim como um obstáculo ao trabalho em equipa e ao diálogo entre profissionais. É um programa de desumanização da escola e da profissão docente. Este sistema burocrático é incapaz de avaliar a qualidade das pessoas e de perceber o que os professores realmente fazem. É uma cortina de fumo atrás da qual se escondem burocratas e covardes, incapazes de criticar e elogiar cara a cara um profissional. Este sistema, copiado de outros países e recriado nas alfurjas do ministério, é mais um sinal de crise da educação. Mais do que dos sindicatos ou dos professores, a ministra Maria de Lurdes Rodrigues é vítima da 5 de Outubro".

António Barreto
Público

E agora o que fazer?

Depois do assinalável êxito da manifestação de ontem em que cerca 100.000 professores exteriorizaram a sua revolta face às políticas educativas do Governo há que começar a pensar no que fazer a seguir. Não podemos ser ingénuos ao ponto de acreditar que a partir de agora tudo vai ser diferente, até porque a ministra já anunciou que não se vai demitir e que as políticas são para manter. Do lado de José Sócrates não se espere que ele repita o que fez com o ministro da Saúde porque isso seria entendido como mais um sinal de fraqueza que lhe podia hipotecar as possibilidades de reeleição em 2009. Assim sendo, de que forma poderão os professores fazer valer os seus pontos de vista?

sábado, março 08, 2008

Excelente reflexão

"Hoje para os professores será o dia do Zénite. Hoje olhando-se uns aos outros, vendo as filas e filas de gente vindas de Vila Real de Santo António a Monção e Bragança, os professores sentirão aquela sensação de alegria que percorre os participantes duma manifestação bem sucedida. Sentirão força, alegria, trocarão entre si sinais de reconhecimento e identidade, beijos, abraços, palmadas nas costas, polegares no ar, colocarão uns aos outros autocolantes. As pessoas ficam "físicas" nas manifestações, de braço dado. Os mais treinados nestas coisas, que conhecem bem as "manifs", estarão mais calmos do que os novatos. Os novatos vão falar muito, gritar mais alto, sentir a "psicologia das multidões", uma novidade para eles. Será um dia em cheio para os professores, reconfortante e, quando nas suas camionetas regressarem a casa, cansados e com pena de não haver mais, pensarão na lição que deram à ministra e ao governo. Mas, com eles, viajará o Nadir.
Segunda feira voltarão às escolas, às aulas. Se a ministra não for demitida, ou se demitir, começa a ressaca do sucesso, vai parecer pouco o que com tanto esforço foi conseguido. Se os professores estivessem dispostos a entrar em greve, a "rua" poderia ter tido um papel de uma etapa de luta para outra. Mas duvido que os professores tenham a unidade, a força, a disposição, a resistência psicológica e financeira que são necessárias para uma greve que só seria eficaz se fosse prolongada, sem fim à vista, dura e intransigente. Mas todos sabem que uma coisa é ir a uma manifestação neste momento, outra fazer greve. E por isso a sensação de vitória vai-se azedar pouco a pouco, dar origem a mais do mesmo que hoje assalta muitos portugueses: uma sensação de impotência, de que não vale a pena fazer nada, de derrotismo e ou apatia ou agressividade.
Escrevo hoje no Público sobre a "rua" e termino dizendo que quando se vai para a "rua" tem que se saber como se sai dela. Em democracia, quando se vai para a "rua", local nobre e legítimo do protesto, tem que se saber que não se pode continuar nela sob pena de então as coisas estarem muito mal para a democracia. Duvido que nesta luta dos professores exista um plano B. O plano A resultou, está à vista hoje. Podia haver um plano B para 2009, no voto, mas duvido que quando lá se chegar exista uma alternativa no domínio político para o materializar. Por isso temo que disto tudo resulte pouco mais do que desespero apático, ou asneira agressiva. Vamos ver".

Pacheco Pereira
Abrupto

sexta-feira, março 07, 2008

Educação e exemplos

"Os professores perdem autoridade e, para mascarar as estatísticas, são obrigados a passar quase todos os alunos. Se não o fazem hoje têm de apresentar justificações intermináveis e sujeitar-se a sanções. Se não o fizerem no futuro serão penalizados nas avaliações que se aproximam podendo vir a ser despedidos.
Não sei se o leitor entrou numa escola e viu as instalações dos professores: geralmente estão amontoados numa sala comum, com umas mesas e cadeiras, aí têm de ver testes, preparar aulas, estudar e estar de plantão esperando por uma aula de substituição.
As instalações são, na esmagadora maioria dos casos, deprimentes, frias, sem aquecimento no Inverno e sem ar condicionado no Verão, os professores não dispõem de computadores ou de postos de trtabalho. Uma miserável secretária onde coloquem os livros ou pastas é um luxo inacessível e um gabinete de trabalho para os docentes é um mito impossível.
Os professores são sujeitos a pressões constantes do ministério e das múltiplas direcções regionais, não para ensinar melhor, mas para passar os meninos e melhorar as estatísticas. Os professores não são motivados para realizar actividades com os alunos, isso custa dinheiro e dinheiro é tudo o que não se pode gastar.
Diz assim o governo que o insucesso escolar diminuiu drasticamente, eu, como professor universitário, fora do meio do liceu, eu que tenho gabinete, biblioteca, aquecimento e arrefecimento, computador, secretária e estantes para colocar os livros, afirmo que a diminuição do insucesso é mentira, uma descarada e redonda mentira.Para mim o sucesso é o conhecimento, é a cultura, é a esperança numa educação que, mais do que passar no fim do ano, é preparação para o mundo e uma ética de vida. Os números têm descido mas os alunos que me chegam todos os anos à Universidade são, cada ano que passa, pior preparados. Não falo de meia dúzia de alunos: falo de centenas ou mesmo milhares que passam pela minha cadeira no Instituto Superior Técnico onde tenho, mesmo assim, a sorte de ter os melhores alunos do país. E acuso: acuso estes governantes de mentirem. Mentem ao país, aos pais, aos estudantes e à Europa, ao mascararem os números do insucesso forçando aprovações em massa de alunos que nada sabem. O pior nem é serem tacanhos, mesquinhos, punitivos, persecutórios, o pior é que se andam a enganar a eles próprios e a destruir uma geração com um facilitismo irreal.
Educação não é burocratização e punição. Educação é, sobretudo, motivação e ética. Educar é uma tarefa elevadíssima em que o menor dos bens é o conhecimento puro. Educar é formar cidadãos e essa é a menor das preocupações dos governantes de hoje. E é tão simples: bastaria começar por dar bons exemplos..."

Valerá a pena mudar?

"Só não vê quem não quer ver.
Há coerência na actuação do Governo. Mudar de ministro sem mudar de política, não adianta nada.
Há uma vaga de fundo imparável, messiânica de contra tudo e contra todos resolver o problema do défice e das contas públicas. Até aqui muito louvável.
Mas à custa de quê?

A ideia não é nova, já Salazar a teve e pôs em prática.

Os ministérios da educação e o da saúde são os que dão maior despesa. Portanto, um raciocínio linear e directo leva a que se corte nos gastos nestes sectores, sejam quais forem as consequências. É triste, mas é o que se está a passar: acabar lenta e despudoradamente com a escola pública e com o serviço nacional de saúde. Não serve de nada mudar os ministros se a política continua a mesma. É por isso que o PSD anda às aranhas. Já não tem espaço político. Este PS ocupa todo o espaço à sua direita. Por outras palavras: com um PS destes, quem precisa dum PSD ou CDS?


Vejam o emaranhado, a complexidade do processo burocrático que envolve esta avaliação. (E depois falam em simplex e em desburocratização...)




Que tempo resta para ensinar? A cabeça dos agentes educativos fica atafulhada de tarefas estupidificantes, inúmeros papeis para preencher e não sobra um cantinho para o que devia ser a sua mais nobre missão: ensinar. Além disso, são obrigados a permanecer num local sem o mínimo de condições para pensar e trabalhar. Eu sei o que é ter de passar os intervalos numa sala de professores, onde há cerca de 20 pessoas a conversar sobre tudo e sobre nada, a falar ao telefone e a fazer barulho. Sem secretárias, muito menos computadores. Como pode um professor aproveitar esses tempos, fora das aulas, para trabalhar, para aprofundar a sua formação científica, ou para pensar? Completamente impossível! Em casa ou no jardim sempre se consegue mais privacidade, ambiente de estudo e capacidade de se concentrar. Fala-se tanto em comparar uma escola a uma empresa. Nas empresas os funcionários têm um local de trabalho. Mesmo no ensino dito superior, muitos docentes não têm um local de trabalho, quanto mais os docentes do básico e secundário. Isto passa-se numa escola superior pública em Lisboa, não é nos confins da província. Tenho colegas que compraram a secretária e a cadeira onde se sentam e instalaram num cubículo que conseguiram surripiar mediante secretas manobras de bastidores. Outros nem isso. Lâmpadas, papel e material de escrita, temos de levar de casa. Isto para não falar de computadores ou de ar condicionado.

Qualquer pai que se preze e tenha possibilidades para isso, não sujeita os seus filhos a esta fantochada, simulacro de escola. Se quiser que eles tenham uma formação a sério, que eles aprendam alguma coisa, que eles consigam entrar num curso de medicina, têm de os colocar numa escola privada, ou contratar bons e caríssimos explicadores.

Custa muito mais que nos tentem enganar, do que dizer as verdades, por mais duras que sejam. Por favor, digam-nos claramente, a todos os cidadãos, ao País, que o Estado não suporta as actuais despesas com a educação pública nem com o serviço nacional de saúde e que se está a fazer tudo para reduzir os seus raios de acção e em consequência os seus gastos. O resto é folclore.O que se quer é pura e simplesmente privatizar a saúde e a educação.Não nos enganem dizendo que estão a cuidar dos alunos e das futuras gerações, quando estão apenas a economizar, mas economizar sem racionalizar, sem iliminar os gastos supérfluos, mas sim e erradamente, cortando no que é básico e essencial".

http://homoclinica.blogspot.com/

Chumbos diminuíram desde a aplicação do despacho 1/2005

Não é a ministra que diz que não há facilitismo?!

quinta-feira, março 06, 2008

Carta de agradecimento

"Logo depois de ter lido aqueles documentos sobre a avaliação dos professores, pensei como lhe deveria agradecer, Srª Ministra. Afinal, aquelas horas passadas diariamente junto do meu filho a verificar se os cadernos e as fichas estavam bem organizados, a preparar a mochila e as matérias a estudar para o dia seguinte, a folhear a caderneta escolar, a analisar e a assinar os trabalhos e os testes realizados nas muitas disciplinas, a curar a inflamação de uma garganta dorida pela voz de comando “Vai estudar!” ou pela frase insistentemente repetida, de 2ª a 6ª feira:”DESPACHA-TE! AINDA CHEGAS ATRASADO!” ou o incómodo e o tempo perdido para o levar diariamente à Escola, percorrendo, mais cedo do que seria necessário, um caminho contrário àquele que me conduziria ao meu emprego, tinham finalmente, os seus dias contados. Doravante, essa responsabilidade passaria para a Escola e, individualmente, para cada um dos seus professores. Finalmente, poderei ir ao cinema, dar dois dedos de conversa no Café do Sr. Artur, trocar umas receitinhas com a minha vizinha (está entrevadinha, coitadinha!) ou acomodar-me deliciosamente no sofá da sala a ver a minha telenovela brasileira preferida.
O rapaz ainda me alertou para os efeitos das faltas o conduzirem à realização de uma prova de recuperação. Fiz contas e encolhi os ombros - poupo gasóleo e muitos minutos de caminho, de tráfego e de ajuntamentos. Afinal, ele até é esperto e, se calhar, na internet, encontra alguns trabalhos ou testes já feitos… Sempre pode fazer “copy – paste”… Efectivamente, as provas de recuperação parecem-me a melhor solução para acabar com a minha asfixia matinal e vespertina. Ontem, a minha vizinha da frente, que tem dois ganapos na escola do meu, disse-me que, se ele continuar a faltar, o vêm buscar a casa, e que, no próximo ano lectivo, os professores vão tomar conta deles depois das aulas.
Oiro sobre azul. Obrigada, Srª Ministra. A Senhora é que percebe desta coisa de ser mãe! A Senhora desculpe a minha ousadia, mas será que também não seria possível fazer uma lei para os miúdos poderem ficar a dormir na escola? Bastava mandar retirar as mesas e cadeiras das salas de aula e substituí-las por beliches, à noite. De manhã, era só desmontar e voltar a arrumar. Têm bar, cantina e até duche. Com jeito, eles ainda aprendiam alguma coisinha sobre tarefas domésticas, porque, em casa, não os podemos obrigar a fazer nada ou somos acusados de exploradores do trabalho infantil com a ameaça dos putos ainda poderem apresentar queixa junto das autoridades policiais.
Ao Sábado, Srª Ministra, podiam ocupá-los com actividades desportivas ou de grupo, teatro, catequese, escuteiros, defesa pessoal…
O ideal mesmo era que os pudéssemos ir buscar ao Domingo, só para não se esquecerem dos rostos familiares.
O meu medo, Srª Ministra é aquela ideia que a minha vizinha Sandrinha, aquela dos três ganapos, comentava hoje comigo. Dizia-me que a Senhora Ministra quer criar o ensino doméstico. Eu acho que ela deve ter ouvido mal ou então confundiu o jornal da SIC com aquele programa da troca de casais do canal 24. Eu acho que isso não vinga em Portugal, porque não temos a extensão de uma América do Norte ou de uma Austrália e, por outro lado, tinha que comprar e equipar os VEI (veículos de educação itinerante), o que iria agravar mais o deficit das contas públicas e o insucesso dos nossos miúdos. Foi isso eu disse à Sandrinha. Acho que ela deve estar enganada. Logo agora, que podemos respirar de alívio porque não temos que nos preocupar com a escola dos garotos, essa ideia vinha destruir tudo, porque os obrigava a ficar em casa para receberem os VEI e aos pais ainda iria ser exigido algum acompanhamento.
A Senhora faça é aquilo que decidiu e não oiça o que os inimigos dos pais e das mães lhe tentam dizer (já agora, lembre-se da minha sugestãozita!). Assim, os professores, com medo da sua própria avaliação, passam a dar boas notas e a passar todos os miúdos e, desta forma, o nosso país varre o lixo para debaixo do tapete, porque é muito feio e incomodativo mostrarmos, lá fora, que somos menos capacitados que os nossos “hermanos” europeus".

Uma mãe e encarregada de educação agradecida

quarta-feira, março 05, 2008

Ex-Director Regional fala sobre momento que se vive na Educação

O jornalista Carlos Almeida, do semanário Região de Leiria, solicitou-me, na passada terça-feira, que lhe respondesse por escrito às questões seguintes.

A revolta dos professores é justificada?
Mais do que justificada. Os professores têm sido enxovalhados e desacreditados no que têm de mais sagrado, a sua honorabilidade profissional.

Há medo nas escolas?
Quem o confessa é quem lá trabalha e têm-me chegado ecos desse sentimento através de professores e de gestores escolares.

O que está errado em toda esta equação: a reforma, a ministra da Educação ou os professores?
O que está errado é pretender-se fazer reformas, necessárias diga-se, sem contar com a colaboração dos professores e mesmo contra os professores. É uma ilusão pensar que isto é possível. O que esta equipa do ME, com o apoio expresso do Primeiro-Ministro, anda a fazer é a desestabilizar as escolas convencida de que vai conseguir mudar o rumo da educação. Quando a situação se deteriorar completamente vão-se embora e o sistema fica pior do que estava.

Maria de Lurdes Rodrigues tem condições para continuar no cargo?
Objectivamente tem enquanto o Primeiro-Ministro assim o entender. Mas depois das declarações feitas hoje (terça-feira) pela nova Ministra da Saúde acerca da necessidade de conseguir a colaboração dos profissionais da saúde para as reformas que quer fazer, pois contra eles não se pode fazer nada, não sei como podem coexistir no seio do mesmo governo duas Ministra com pontos de vista antagónicos sobre a forma de gerir os recursos humanos de que dispõem.

Identifique a principal virtude e o principal defeito da actual política de educação?
Virtude - a capacidade demonstrada no início do mandato para definir os principais problemas estruturais que afectavam/afectam o sistema educativo. Defeito - a incapacidade de mobilizar os profissionais da educação para as reformas pretendidas e com isto desestabilizar as escolas e criar um clima completamente oposto ao que é desejável em instituições educativas.

Na reunião promovida pelo Movimento em Defesa da Escola Pública, em Leiria, alguns docentes denunciaram a existência de grelhas de avaliação que levavam em conta a posição dos professores em relação à política educativa do governo. Como comenta?
Trata-se de uma situação absurda e ilustra como se pode ser "mais papista do que o Papa". Infelizmente, Portugal tem uma larga tradição de espias e bufos, denunciantes e similares e, pelos vistos, há quem não queira deixar morrer a tradição. Acredito que essas situações serão corrigidas de imediato.

José Manuel Silva,

ex-Director Regional de Educação do Centro
http://www.campolavrado.blogspot.com

Mais um iludido pelas estatísticas

"O que querem os professores, que se autodenominam de "indignados"? Despedir a ministra, revogar o novo regime de avaliação, receber com paga de horas extraordinárias as aulas de substituição realizadas. O que querem os sindicatos de professores, liderados pela Fenprof? Tudo o atrás exposto, mais - quanto antes - bloquear a nova gestão dos estabelecimentos escolares e reverter o estatuto da carreira docente, que passou a impedir a maioria de professores de progredir até ao topo.
Contrariados, já aceitam hoje as aulas de enriquecimento escolar, o Inglês desde tenra idade, o fim dos furos, as escolas abertas até às 17.30, desde que tudo isto, que representa mais trabalho e mais esforço, seja mais bem remunerado. Isto é, o movimento arranca de um conjunto diversificado de reivindicações profissionais para um objectivo político: dar uma volta de 180 graus ao naipe de reformas do Governo, que começam a enfrentar o teste da prática.
Perante os primeiros dados de aumento da escolarização, de queda sensível do abandono escolar e de ligeiro recuo nas reprovações, o que nos diz a Fenprof? Como a raposa da fábula, diz que estes resultados são verdes, não prestam! São só "quantitativos", não traduzem mudanças de qualidade no ensino. Em educação, eles só 'amadurecem' passados dez ou quinze anos... Mas, seguindo nomenclatura muito cara aos contestatários, eles assinalam conquistas irreversíveis para a escola pública, que quer preparar melhor os jovens deste país, em saberes teóricos e prático-profissionais, para enfrentar o exigente mundo profissional que terão pela frente".

João Marcelino
DN

terça-feira, março 04, 2008

Mais um "Prós e Contras" dedicado à Educação

O “Prós e Contras” de ontem à noite, não terá cumprido os objectivos previstos por Fátima Campos Ferreira ou por quem lhe “encomendou” o programa. Pensaria a moderadora que os intervenientes iriam tecer rasgados elogios à política educativa da ministra da Educação. Enganou-se. Efectivamente não foi isso que aconteceu embora ela tudo tenha feito para que isso sucedesse. É verdade que todos eles se manifestaram a favor da avaliação dos professores (mas quem disse que os professores não querem ser avaliados?!), mas todos eles foram unânimes em declarar que a forma como se quer implementá-la está errada, que devia ter o contributo dos professores e não ser imposta pela tutela e que o modelo previsto devia ser sujeito a um processo de experimentação. E mais importante que tudo: reconheceram a justeza da nossa indignação, o que é mais um motivo para não esmorecermos a nossa luta.

segunda-feira, março 03, 2008

Que me lembre, este é o texto mais infame que alguma vez se escreveu sobre a classe dos professores!

"O sítio vai ter uma semana agitada com os professores a preparar uma manifestação contra a política de Educação do Governo e naturalmente contra a ministra da pasta. Importa conhecer as razões que levam os professores para a rua. Os professores vão para a rua porque uma senhora com um saudável mau feitio, de seu nome Maria de Lurdes Rodrigues, acabou com o Ministério dos Professores e tenta, há três anos, criar o Ministério da Educação.
Os professores vão para a rua porque a ministra acabou com a pouca vergonha dos furos nos horários dos alunos, horários esses feitos à medida dos gostos e interesses dos professores, e criou as aulas de substituição, situação que obriga as senhoras e os senhores a passar mais tempo nas escolas. Os professores vão para a rua porque Maria de Lurdes Rodrigues fez aprovar um novo Estatuto da Carreira Docente que acabou com os privilégios e regalias, muitas delas obscenas, do anterior estatuto tão do agrado dos sindicatos.
Os professores vão para a rua porque o novo Ministério da Educação, ainda em formação neste sítio cada vez mais mal frequentado, decidiu avançar para a avaliação dos senhores e senhoras que são pagos para ensinar a ler e a escrever as crianças do sítio. Os professores vão para a rua porque a ministra decidiu enviar para as escolas centenas de sindicalistas que não punham lá os pés há muitos anos.
Os professores não vão para a rua protestar contra o insucesso escolar. Os professores não vão para a rua indignar-se com o abandono escolar. Os professores não vão para a rua gritar contra as notas miseráveis em Português e Matemática. Os professores não vão para a rua exigir um ensino de qualidade que acabe com as os vergonhosos conhecimentos dos alunos nas disciplinas da área de ciência. Os professores não vão para a rua, vestidos de negro, lamentar o analfabetismo e a iliteracia das crianças e adolescentes. Os professores não vão para a rua protestar contra estes miseráveis trinta anos de ensino que colocaram Portugal numa situação inqualificável na União Europeia. Não.
Os professores vão para a rua defender a incompetência e o laxismo. Os professores vão para a rua porque a política do Governo colocou os interesses de pais e alunos acima dos seus privilégios. Os professores vão para a rua porque o seu Ministério da 5 de Outubro está a ser substituído por um Ministério da Educação. Os professores vão para a rua, apoiados pelo PCP, PSD e parte do PS, porque têm medo de ser avaliados. Os professores vão para a rua porque a vergonha há muito deu lugar à pouca vergonha neste sítio chamado Portugal".

António Ribeiro Ferreira
Jornalista
Correio da Manhã

Impertinências

"Das duas uma ou a ministra se cansou muito depressa do breve intervalo de paz que as circunstâncias lhe concederam ou não percebeu como escapou ao cutelo da remodelação a que se atreveu o primeiro-ministro. Seja como for, aí está ela de volta às hostilidades com os professores.

Medindo a tarefa ciclópica (e onde é que eu já ouvi isto?) de educar e ensinar os jovens portugueses, muitos dos quais não querem ser ensinados (e ainda menos educados), qualquer alma caridosa não deveria desejar à ministra um tão sinistro destino. Mas lá que ela o merece - ai isso merece!

Na história moderna, e nem por isso honrosa, do Ministério, cujos resultados os portugueses pagam mas não vêem, não pode ser ignorada a comissão de "sábios" que por lá se foi instalando. Não agora, mas desde há anos. Faltava juntar à obra, se é que faltava, a desautorização dos professores, expondo-os ao desrespeito atrevido e ignorante de toda a gente, incluindo pais (eles próprios tantas vezes carecidos de educação e instrução). Foi o que a ministra fez - ou consentiu que se fizesse - alienando os que melhor apoio lhe poderiam dar, os mais antigos, ultrapassados por motivos pouco claros.

Não consigo apartar-me de três ideias: primeiro, quem anda por lá a teorizar já esqueceu (se é que alguma vez soube) o que é uma escola; depois, não conhecem limites o autismo e a arrogância dos que nada perguntam, a ninguém ouvem e tudo sabem; finalmente, importantes são as estatísticas para Bruxelas, em nome das quais todas as enormidades se admitem. Esta ministra, cujo feitio nem sequer nos seduz a reconhecer-lhe a razão mesmo quando ela acaso a tem, deveria aprender com o que aconteceu ao colega que foi queimado em lume brando até que a rua o mandou para a rua. Sem piedade.

António Freitas Cruz, jornalista

JN

domingo, março 02, 2008

E a mentir se faz a cabeça da opinião pública

"Os envelhecidos sindicatos e os quadros partidários mais activistas descobriram agora as potencialidades dos SMS e as virtudes das manifestações espontâneas convocadas por mensagens de telemóvel. Há pouco, tinham descoberto a contestação ao fecho das urgências e a demissão do ministro Correia de Campos, que o corajoso Governo do determinado primeiro-ministro José Sócrates entrara na fase das cedências e do recuo face à pressão das urnas.
Como resultante destas duas descobertas, aí tivemos, esta semana, concentrações em série de professores espontaneamente organizados um pouco por todo o país: Leiria, Porto, Caldas da Rainha, Aveiro. E mais aparecerão, de geração igualmente espontânea. Se esta forma de protesto resultou na Saúde por que não poderá dar os mesmos frutos na Educação? Ou, como dizia por estes dias o veterano líder da ortodoxa Fenprof: "Se conseguirmos a demissão, a curto prazo, da equipa do Ministério da Educação, criam-se condições para começar a discutir". Pois.
É indiscutível, para o país, a importância das actuais reformas na Educação. De introduzir, finalmente, um sistema de avaliação dos professores semelhantes ao que já existe em quase todos os sectores de actividade e empresas portuguesas. De premiar o mérito e acabar com as progressões automáticas que promovem a mediocridade. De dotar as escolas de uma gestão com efectiva capacidade de liderança e de decisão. Percebem-se as resistências e apreensões dos professores face às consequências práticas das mudanças. Mas percebe-se, também, a quem interessa fazer passar a ideia de que a ministra está politicamente isolada e sem base de apoio, nas escolas e no país.
Sócrates já tem a irremediável Ana Benavente a tentar fazer um remake na Educação do papel que Manuel Alegre fez na Saúde. Esperemos não o ouvir a repetir, um dia destes, que "as condições políticas para que a ministra Maria de Lurdes Rodrigues fizesse passar a sua acção estavam a deteriorar-se". Como fez com Correia de Campos. Porque o primeiro-ministro joga aqui a credibilidade das suas políticas reformistas, o respeito do seu Governo e, provavelmente, a maioria nas eleições de 2009".

José António Lima
Sol

Nota: o sublinhado é meu.