"Sendo professora com 32 anos de carreira, tenho seguido e sofrido dia a dia não só com as imposições, e divagações do Ministério, mas também com a perseguição de que os docentes têm sido alvo.
Talvez o facto de leccionar Língua e Cultura Portuguesa no Estrangeiro me tenha dado uma visão de sistemas de educação que me permite fazer comparações que não estariam tão ao meu alcance se leccionasse só em Portugal.
Neste ponto só tenho a dizer que o modo como o Ministério da Educação e muitos Encarregados de Educação actualmente tratam os professores seria inconcebível e inaceitável em qualquer país civilizado.
Mas o que mais me espanta, e quase me daria vontade de rir, se o assunto não fosse tão sério, é o elevado número de indivíduos, oriundos de várias camadas sociais e profissionais, que até hoje nenhum interesse mostraram pela Escola, mas que de um dia para o outro se tornaram peritos em Educação e sabem tudo, mesmo tudo!
São absolutamente espantosos as comentários feitos, publicamente, à Manifestação de Professores no passado dia 8 de Março.
O Jornalista Emídio Rangel dá-lhes o nome de “hooligans”, uma “senhora” (aspas intencionais) que pôs um artigo na Internet (Portugal Notícias, 13.03) apelida a marcha de professores de “marcha de chulos”. Outro jornalista do Correio da Manhã diz que os professores “andaram aos saltinhos pelas ruas”. Um senhor reformado ( PWB Netcabo 12.03) queixa-se que começou a trabalhar aos 14 anos, mudou 10 vezes de emprego, tem uma pequena reforma e que os malandros dos professores ficam com boas reformas sem fazer nada, ou quase nada!
E todos concordam em, pelo menos, quatro pontos : os professores são uns madraços, preguiçavam à conta do Estado, pelam-se de medo da avaliação e viva a Sra. Ministra que vai meter isto tudo na ordem! Os professores são o bode expiatório da nação. Delapidaram os cofres do Estado e não ensinaram nada aos coitados dos alunos.
Avaliem-nos! Avaliem-nos ! - grita a multidão - os professores andaram anos e anos armados em espertos, a passar e a chumbar alunos à sua livre vontade, agora somos nós que os passamos ou chumbamos, nós, os pais e os alunos, e só passamos quem quisermos!
Ora, meus caros - e menos caros - amigos, há aqui vários equívocos graves.
Para começar, todos os professores são profissionais com uma formação estruturada, aplicada e aprovada pelo Ministério da Educação. Os professores e os médicos são as duas categorias profissionais em que são perfeitamente visíveis os resultados do seu trabalho e em que a avaliação é feita dia a dia, no local de trabalho, através dos resultados que atingem. Se o médico não consegue descobrir o tratamento adequado ou comete um erro, o doente morre.
São absolutamente espantosos as comentários feitos, publicamente, à Manifestação de Professores no passado dia 8 de Março.
O Jornalista Emídio Rangel dá-lhes o nome de “hooligans”, uma “senhora” (aspas intencionais) que pôs um artigo na Internet (Portugal Notícias, 13.03) apelida a marcha de professores de “marcha de chulos”. Outro jornalista do Correio da Manhã diz que os professores “andaram aos saltinhos pelas ruas”. Um senhor reformado ( PWB Netcabo 12.03) queixa-se que começou a trabalhar aos 14 anos, mudou 10 vezes de emprego, tem uma pequena reforma e que os malandros dos professores ficam com boas reformas sem fazer nada, ou quase nada!
E todos concordam em, pelo menos, quatro pontos : os professores são uns madraços, preguiçavam à conta do Estado, pelam-se de medo da avaliação e viva a Sra. Ministra que vai meter isto tudo na ordem! Os professores são o bode expiatório da nação. Delapidaram os cofres do Estado e não ensinaram nada aos coitados dos alunos.
Avaliem-nos! Avaliem-nos ! - grita a multidão - os professores andaram anos e anos armados em espertos, a passar e a chumbar alunos à sua livre vontade, agora somos nós que os passamos ou chumbamos, nós, os pais e os alunos, e só passamos quem quisermos!
Ora, meus caros - e menos caros - amigos, há aqui vários equívocos graves.
Para começar, todos os professores são profissionais com uma formação estruturada, aplicada e aprovada pelo Ministério da Educação. Os professores e os médicos são as duas categorias profissionais em que são perfeitamente visíveis os resultados do seu trabalho e em que a avaliação é feita dia a dia, no local de trabalho, através dos resultados que atingem. Se o médico não consegue descobrir o tratamento adequado ou comete um erro, o doente morre.
Se o professor não ensina, logicamente, o aluno não aprende.
Mas agora surge o ponto crucial da questão:
Se o doente não tomar os medicamentos e não seguir os conselhos médicos, no caso de morrer, a culpa é do médico? Ou se o médico não tiver os medicamentos para ministrar e os instrumentos para a operação, se o doente morrer, a culpa é dele? É lógico que não é. Mas nesse caso, porque andam a culpar os professores dos maus resultados dos alunos, se lhes retiraram todos - ou quase todos os”medicamentos ” e “instrumentos” de que dispunham para exercer a sua profissão?
Refiro-me aqui ao respeito, à autoridade dentro da sala de aula, à possibilidade de fazer com que os alunos estivessem quietos, calados , prestassem atenção à aula, não faltassem e tentassem, pelo menos, atingir a nota mínima para passar de ano.
Mas agora surge o ponto crucial da questão:
Se o doente não tomar os medicamentos e não seguir os conselhos médicos, no caso de morrer, a culpa é do médico? Ou se o médico não tiver os medicamentos para ministrar e os instrumentos para a operação, se o doente morrer, a culpa é dele? É lógico que não é. Mas nesse caso, porque andam a culpar os professores dos maus resultados dos alunos, se lhes retiraram todos - ou quase todos os”medicamentos ” e “instrumentos” de que dispunham para exercer a sua profissão?
Refiro-me aqui ao respeito, à autoridade dentro da sala de aula, à possibilidade de fazer com que os alunos estivessem quietos, calados , prestassem atenção à aula, não faltassem e tentassem, pelo menos, atingir a nota mínima para passar de ano.
Actualmente, nada disto é possível. Se o professor tenta tirar o telemóvel ao aluno, porque está a enviar mensagens em vez de seguir a aula, recebe ameaças - e não só - de agressão física da parte do aluno e dos pais do mesmo.
Quando um Director de Turma telefona para os pais de um aluno, porque já há vários dias este não aparece nas aulas, é insultado e os pais dizem-lhe que não tem nada a ver com isso.
Mas não há nenhum problema, porque actualmente e devido às sábias medidas da Sra. Ministra, quase não é preciso os alunos irem às aulas para fazerem o 9° ano! Podem faltar quanto quiserem e não precisam de ter nota suficiente, mas, se mesmo assim não conseguirem, têm as “Novas Oportunidades”, em que conseguem terminar a escolaridade mesmo sendo semianalfabetos.
Mas ai do docente que cometa um erro! A “senhora” que mencionei acima falava, indignadíssima de uma professora que Tinha Cometido Um Erro No Enunciado DE UM TESTE! Do modo como apresentava a questão, parecia que daí poderia resultar o fim do mundo, ou, pelo menos, a terceira Guerra Mundial.
Mas ai do docente que cometa um erro! A “senhora” que mencionei acima falava, indignadíssima de uma professora que Tinha Cometido Um Erro No Enunciado DE UM TESTE! Do modo como apresentava a questão, parecia que daí poderia resultar o fim do mundo, ou, pelo menos, a terceira Guerra Mundial.
Mas continuando, de quem é a culpa? De um Ministério que abandalha (peço perdão da palavra, mas é a mais correcta) ao máximo as condições do ensino, que retira aos professores todas as possibilidades de ministrar um ensino em condições, que permite presentear com certificados do 9° ano todo o arruaceiro, faltista e preguiçoso que nunca quis fazer nada na escola, só para camuflar os erros ministeriais que cometeu?
A quem admira que, nestas condições, o “doente ensino” morra, ou fique pelo menos incapacitado?
Avaliação! Avaliação! Avaliação! - grita a multidão. Vamos avaliar os incompetentes dos professores!
E a Sra. Ministra rejubila. Sim, porque enquanto estiverem ocupados com um processo de avaliação tão incorrecto, tão moroso, complicado desnecessariamente ao mais alto grau, os professores não vão sequer ter tempo para comer ou dormir, quanto mais para ensinar, criticar o sistema de ensino ou organizar manifestações.
Avaliação! Avaliação! Avaliação! - grita a multidão. Vamos avaliar os incompetentes dos professores!
E a Sra. Ministra rejubila. Sim, porque enquanto estiverem ocupados com um processo de avaliação tão incorrecto, tão moroso, complicado desnecessariamente ao mais alto grau, os professores não vão sequer ter tempo para comer ou dormir, quanto mais para ensinar, criticar o sistema de ensino ou organizar manifestações.
Mas todos estes peritos do ensino de chocadeira podem estar descansados!
Daqui a alguns (poucos) anos, quando tiverem medo de sair de casa porque correm o risco de ser assaltados na próxima esquina - quem não ganha dinheiro e não sabe onde o ir buscar, vai roubar - quando forem pessimamente atendidos nos Correios, no Banco ou numa loja, quando estiverem três meses à espera de telefone porque o seu nome vem sempre soletrado errado, quando se sentirempreocupados com graves problemas de desemprego, criminalidade, tráfico de droga ou prostituição, lembrem-se de que ajudaram, um pouco, a criar uma geração sem valores estabelecidos, sem conhecimentos básicos, sem regras de comportamento, sem hábitos de trabalho, porque que lhes foi permitido andar na escola sem fazer nada e pensar que não é preciso fazer nada para ter tudo, sem reflectirem no choque que esses jovens vão sofrer quando chegarem à vida real e ao mercadode trabalho e ver que as coisas não são nada como lhes fizeram crer. Os que batem nos professores hoje vão ser ou os criminosos ou os explorados pelas empresas amanhã.
Pensem nisto, meus caros – e menos caros – amigos. Pense nisto também, Sra. Ministra!
Pensem nisto, meus caros – e menos caros – amigos. Pense nisto também, Sra. Ministra!
Pensem que a escola deveria ser uma preparação para a vida. Já o foi, e sei isso, porque trabalhei nesses moldes.
Agora não é uma preparação para nada, a não ser um futuro muito incerto.
Os erros que se cometem com uma geração reflectem-se nas gerações seguintes.
Pensem nisso".
Maria Teresa Duarte Soares - Professora
Nuremberga, Alemanha
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