terça-feira, abril 29, 2008

Washed by the Water - Needtobreathe

E se te calasses!

A propósito da manifestação de ontem à noite em Lisboa, Mário Nogueira brinda-nos com esta pérola: "Salvámos o terceiro período, e evitaram-se outros protestos mais graves, como as greves, mas não há razão para se alterar o que ficou definido na marcha".
Apetece-me chamar nomes feios a este senhor, mas como sou uma pessoa educada fico-me pela intenção!

Outra coisa não se esperaria

Meia dúzia de "gatos pingados" manifestaram-se ontem em Lisboa em frente ao Ministério da Educação. Face à desastrosa estratégia seguida pelos sindicatos outro cenário não era esperado. Os professores estão desiludidos e por isso desmobilizaram. Os dirigentes sindicais já se devem ter apercebido do logro em que caíram, mas teimam em não reconhecer o erro. Quem se ri de tudo isto é a ministra que à beira do K.O. conseguiu novo fôlego graças à incompetência dos sindicatos.

domingo, abril 27, 2008

Tudo em favor das estatísticas

Tal como já sucede nos outros graus de ensino, o sucesso no ensino universitário vai disparar. Segundo Luís Reis Torgal, coordenador do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra, "o facilitismo de Bolonhavai contribuir para elevar ainda mais o grau de sucesso nos próximos anos". Segundo este professor, "há um mal estar na universidade. Basta falar com qualquer professor universitário. Bolonha podia ter sido uma oportunidade para fazer uma excelente reforma do ensino na Europa, mas acabou por ser um processo montado por razões económicas e os governos fazem um esforço por mostrarem as estatísticas do sucesso"

Nota - Pelos vistos andam todos ao mesmo. O que é importante é ficar bem na fotografia.

quinta-feira, abril 24, 2008

Os casos "isolados" de violência escolar

Cada vez que é confrontada com uma situação de violência escolar a ministra da educação responde sempre da mesma forma, i.e., "estamos perante um caso dramático, mas isolado". A questão é que estes casos sucedem-se diariamente e, apesar disso, a senhora mantém o discurso: isolado+isolado+isolado...sempre igual a "isolado". Suponhamos que um dia destes numa visita a uma escola a senhora ministra é vítima de agressão. Nessa altura, nós também poderemos argumentar que se trata de um caso "isolado", logo com pouca relevância.
Gostaria de poder afirmar que estamos perante um caso isolado de estupidez e pura ignorância. Mas infelizmente não estamos. Comentários desta natureza, repetem-se amiúde com esta ministra. Começaram por ser isolados, tornaram-se frequentes e depois generalizaram-se. Ora, isto sim, é motivo para grande dramatismo.

terça-feira, abril 22, 2008

As asneiras pagam-se caro

Os professores estão desmoralizados e começam a desmobilizar na sua luta, fruto do precipitado entendimento da Plataforma Sindical com o Ministério da Educação. As concentrações de ontem em Viseu e Coimbra são disso um claro exemplo. Mário Nogueira e seus pares, deviam meter a mão na consciência e reconhecer que a estratégia escolhida foi uma machadada fatal nas aspirações dos professores. Sermos enganados por quem nos deve defender é algo que custa muito a engolir.

segunda-feira, abril 21, 2008

Seja coerente, Srª ministra

Depois da deplorável entrevista ao Correio da Manhã, a ministra da Educação voltou hoje a defender que os alunos não devem "chumbar", pois entende que a reprovação só os desmotiva e não lhes traz quaisquer benefícios e, além disso, compromete a posição de Portugal nas estatísticas europeias. Todos já percebemos que esta é a principal preocupação da ministra. Ora, se o que está em causa são as estatísticas porque não decretar o fim das reprovações, ficando assim o problema resolvido em definitivo?

domingo, abril 20, 2008

O Memorando e a Moção dos sindicatos de professores

"Amanhã é outro dia: tempo de combate e esperança. Tempo moral.

Um comentário sobre a consulta aos professores relativamente ao acordo entre os sindicatos de professores e o Governo de 11-4-2008. Mais tarde, farei aqui uma análise e síntese do contexto político do acordo.

O acordo entre sindicatos de professores e Governo de 11-4-2008 - "Memorando de Entendimento entre a Plataforma Sindical de Professores e o Ministério da Educação" (não-datado) - envolveu ainda, em anexo, uma Declaração da Plataforma Sindical e uma Declaração da Ministra da Educação que têm o objectivo de limpar a face de cada um, tentando cada um demonstrar que não cedeu e que ganhou.

Como tenho repetido, os 100 mil professores não participaram na manifestação por causa do absurdo do método e da substância da avaliação dos docentes, mas por causa da regressão do ensino, no meio do delírio pedagógico e didáctico do Ministério da Educação, e da degradação da função do professor. Ora, o acordo não resolve, nem estabelece um método para resolver, as queixas maiores e, portanto, despreza-as, reduzindo o capital de descontentamento à fatídica avaliação.

Mais ainda, o Memorando de Entendimento contém, no seu ponto 9, um saco-de-trinta-dinheiros de um novo escalão remuneratório no topo da carreira, o que não vi ninguém na Marcha pedir e envergonha o sentido missionário da indignação. A reivindicação de mais dinheiro acaba por ser sempre a prova-do-algodão das lutas dos sindicatos politicamente alinhados. Mesmo quando a questão não é dinheiro - e na luta dos professores não é! -, a tentação do capital (o vil metal) bate mais forte, principalmente nos sindicatos comunistas. Enlameia-se a indignação funda dos professores quando na luta os sindicatos misturam o dinheiro - qualquer que seja o eufemismo usado para o designar (carreiras, escalões e outros palavras do jargão esotérico) - e o quadro (que não o da aula).

Por isso, considerei que o acordo significa a venda dos professores ao Governo pelos sindicatos politicamente controlados pelo PC e PS. Os 100 mil professores que se manifestaram não são todos comunistas: na manifestação existiria uma representação mais ou menor proporcional da preferência partidária dos eleitores, corrigida, admita-se, pela não participação de professores que tenham considerado que participar na manifestação constituiria uma forma de ataque ao Governo que apoiam politicamente. Foi com desconforto que os professores assistiram no Terreiro do Paço em 8 de Março de 2008, no final da Marcha, o discurso de... Manuel Carvalho da Silva, que pareceu uma tentativa de instrumentalizar professores para objectivos que a larga maioria não partilhava; enquanto não foi consentida a intervenção de nenhum líder independente de uma luta que começou inorgânica até ser montada pelos sindicatos.

A motivação dos sindicatos politicamente controlados parece ter sido conseguir um acordo a qualquer preço, adoçado pela oferta do bombom amargo do novo escalão, para partir os dentes ao sindicalismo independente que se divisava, mantendo a função de intermediário exclusivo da classe e... do Governo.

Como temiam os sindicatos políticos, que, numa admissão da sua perda de representatividade, afirmaram ir proceder a uma espécie de ratificação do acordo celebrado pelas cúpulas em plenários nas escolas, a primeira reacção pública dos professores ao acordo foi negativa, conforme se pôde ver pelos blogues, caixas de comentários e fórum livres do controlo, directo e indirecto, governamental dos media.

Avisado por uma leitora, li a revelação do prof. Mário Lopes no blog Movimento Cívico em Defesa da Escola Pública e da Dignidade da Docência de que na prometida consulta aos professores após acordo com o Ministério as cúpulas sindicais, numa evidência de deslealdade política, não terem submetido o texto do próprio Memorando de Entendimento aos professores nos plenários - organizados e preparados pelos sindicatos -, mas uma Moção em que o acordo é referido de passagem. Fui confirmar e verifiquei que é verdade a tese do "Gato por lebre". O que foi dado a votar aos professores, nas escolas onde os sindicatos organizaram reuniões, foi uma moção reivindicativa face ao Governo, cujos resultados (até 17/04/2008, com 766 escolas: 669 - 87,3% - aprovaram a moção; e 97 - 12,7% rejeitaram a moção) são, paradoxalmente, usados para demonstrar adesão ao acordo dos sindicatos com o Ministério!...



A luta dos professores foi instrumentalizada pelos sindicatos controlados parapropósitos políticos que desonram as suas justas razões".




Só a Plataforma Sindical parece não ter entendido

"Tal como estava escrito nas estrelas e se escreveu aqui na semana passada, os sindicatos chegaram a um entendimento como o Ministério da Educação sobre as avaliações dos professores. A pressa com que correram a cantar vitória denuncia a urgência que tinham no acordo. É verdade que houve cedências dos dois lados. Mas, tanto quanto se percebe, a cedência da ministra resume-se a isto: a avaliação "simplificada", que vinha defendendo desde há muito, será igual para todos as escolas, em vez de caad escola definir o seu modelo. Só este ano, para os professores contratados, pois a partir do próximo ano lectivo, mantêm-se na íntegra as regras que constam do decreto. Já a cedência dos sindicatos consistiu na aceitação de um processo de avaliação que queriam ver suspenso. O líder da Fenprof explicou porquê ao "DN": "Não podíamos continuar a gritar suspenda-se a avaliação, suspenda-se, e, à nossa volta, todas as escolas estariam a aplicar o modelo de avaliação porque não teriam alternativa". Porque fala então de "vitória"?"


Fernando Madrinha

Expresso

sábado, abril 19, 2008

Entrevista de Mário Nogueira ao JN/Antena 1

Na manifestação dos 100 mil disse que não havia hipótese de diálogo com esta equipa ministerial mas afinal houve. Enganou-se?
Não. Quem dialogou connosco foi o Governo. O diálogo que tivemos resultou de um pedido de reunião dirigido ao primeiro-ministro .
O que aconteceu?
O primeiro-ministro delegou competências na senhora ministra. Aceitámos.
Foi a primeira vez?
Até Outubro de 2005 houve duas, três reuniões com a ministra, mas como considerava que os sindicatos deveriam concordar com as suas posições, deixou de estar. Delega sempre no secretário de Estado-adjunto. Obviamente que esteve em representação do Governo, seguramente se fossem reuniões com o ministério não estaria, como aconteceu durante três anos. Foi uma excepção provocada pela força dos 100 mil.
Recorreu ao primeiro-ministro, também houve mediação da presidência da República?
O presidente disse-nos que estava a acompanhar a situação e que esperava que pudesse existir diálogo.
Sentiu que tinha de haver resultados?
Sim, quando recebemos uma resposta urgente do primeiro-ministro, percebemos que havia preocupação em desbloquear a situação e quando a senhora ministra se veio sentar à mesa percebemos que era de facto excepcional.
Não podia ficar-se num impasse?
Há pessoas que acham que as lutas quando se fazem é o tudo ou nada ou se demite a equipa ministerial; ou se revoga um decreto como o Estatuto da Carreira Docente ou não vale a pena. Não penso assim. Para se continuar a lutar, tem de haver resultados. Não são os pretendidos? Pois não, mas o contexto político é muito complicado.
Falaram com o Governo sobre a continuidade dos protestos?
Não, nem tínhamos. Não sei se consegue fazer este exercício colocar-se no papel do ME que assina um entendimento com os sindicatos e continuam os protestos...Coloco-me. Aquilo que pretendíamos com esta negociação foi salvar o 3º período. Passava por duas coisas a não introdução da avaliação nas escolas neste período e a não realização de greves aos exames ou classificações. Era isso que íamos discutir no dia D.
Até final do ano lectivo não haverá interrupções?
O que decidimos no dia D foi consensual acordou-se o não recurso à greve, independentemente do que pensam do entendimento. Mas não há pactos de silêncio. Outra coisa que disse no dia 8 é que esta equipa ministerial não tinha condições para continuar mas pelos vistos tem. Não. Continuo a pensar que esta equipa não deve continuar.
O que representa o entendimento?
Evita a introdução da avaliação e salvaguarda os professores, contratados ou em mudança de escalão que, a mês e meio das férias, iam ser alvos de processos completamente absurdos.
O que o Governo deixou cair?
Se não fosse este entendimento os professores, este ano, perderiam contratos, iriam para o desemprego, perderiam tempo de serviço, os sindicatos estavam afastados e não estava prevista qualquer negociação para revisão do modelo.
Anunciou que 86% dos professores aprovaram o entendimento mas há muitas críticas.
A avaliação ia existir com ou sem entendimento. Podíamos ter virado as costas. Provavelmente algumas das pessoas que nos acusam agora - se não assinássemos - estariam a acusar-nos de defender estratégias partidárias em vez dos professores.
Receia que o movimento de professores extravase o sindical?
Os sindicatos não têm que controlar os professores.
Mas reconhece que os 100 mil não se deveram só à mobilização sindical.
Sim. Mas, já agora, que 106 mil dos 136 mil professores registados no ME são sindicalizados. A Fenprof tem cerca de 70 mil. O ME desvalorizou a elevadíssima taxa de sindicalização. Diria que os 100 mil não eram todos nossos sócios mas nem todos os nossos sócios lá estiveram. Penso que ME deve estar contentíssimo na primeira vez que a grande unidade consegue resultados está a desunir-se. Deve estar a bater palmas.
Como se controla uma manifestação por telemóvel ou pela Internet?
Nós também usamos, são as novas tecnologias de convocação.
O que o preocupa mais?
O futuro da escola pública.

sexta-feira, abril 18, 2008

As razões das professoras e professores

"O acordo celebrado entre a Plataforma Sindical e o governo dividiu o movimento de professores. Houve quem com ele embandeirasse em arco, houve quem achasse que foi uma derrota trágica. Ainda bem que todas as visões foram e estão a ser discutidas nas escolas. Depois da grande manifestação e ainda mais depois do acordo, é fundamental definir uma estratégia para a luta ao longo destes meses do fim do ano lectivo e sobretudo ao longo do próximo ano. É sobre isso que quero apresentar aqui alguns argumentos.

Primeiro argumento: o governo foi forçado a recuar. O governo recuou de facto, mas numa única matéria: foi vencido na chantagem contra os professores contratados, porque queria fazer deles cobaias para o processo de avaliação e foi forçado a aceitar um processo de classificação que tem em conta unicamente a auto-avaliação e a assiduidade ou presença em acções de formação, excluindo assim o arbítrio. Não se pode diminuir o significado deste recuo. Pelo contrário: tem faltado aos movimentos de professores a solidariedade com os contratados, e que seja agora aceite que eles e elas têm os mesmos direitos e deveres de todos os docentes, pelo menos na avaliação, é um passo importante. Para o Bloco de Esquerda, que tinha e tem como objectivo a integração dos contratados na carreira docente, este recuo do governo é importante.

Segundo argumento: o governo, mesmo com esse recuo, procura preservar o essencial, que é a posição da ministra e o processo de avaliação. E o processo de avaliação ficou previsto para o próximo ano lectivo, o que agrava ainda mais as duas outras batalhas em que os sindicatos recuaram: o novo modelo de gestão e o estatuto da carreira docente. O governo tem um plano e ele é implacável: gestão, carreira e avaliação são três momentos da mesma ofensiva. A ministra e o primeiro-ministro querem continuar esta ofensiva. Assim, o segundo objectivo do Bloco de Esquerda, contribuir para parar a avaliação persecutória e abrir espaço para um modelo de avaliação novo, não foi conseguido. Foi por isso que, à RTP e a propósito do acordo, lancei um alerta contra o governo manhoso e insisti na necessidade de continuar a construir um movimento por um modelo de avaliação que derrote o do governo. É na avaliação que está a fragilidade do governo e a força dos professores. É na avaliação que se travarão os confrontos que contam. É aí que o governo quer ser forte porque intransigente e os professores e professoras têm de ser fortes porque sensatos.

Terceiro argumento: é preciso um modelo de avaliação alternativo, que demonstre a incompetência do governo e que reforce a ligação dos movimentos dos professores aos pais, aos alunos e à opinião pública. A avaliação deve avaliar e avaliar o essencial: como é que a escola está a melhorar ou a piorar no combate ao insucesso e à exclusão escolar. A avaliação deve medir os desenvolvimentos dos planos de trabalho e dos seus resultados, por regiões, por escolas, por grupos de cadeiras, e deve envolver todos os professores nas metas e nos modos de trabalho definidos para essa construção da inclusão escolar. Onde o governo quer perseguição aos professores, estou certo que os professores querem respostas aos problemas dos alunos e das escolas.

Quarto argumento: os sindicatos são precisos e devem responder perante os professores, mas são precisos também movimentos mais profundos que disputem o conteúdo da educação, que pensem a educação, que proponham alternativas de estratégia para a educação. E só as professoras e professores podem criar esses movimentos, escola a escola. Esse é o desafio mais importante. É o que fica depois de cada confronto com cada ministro. E, se do governo nada há a esperar senão afrontas aos professores naquele estilo gelado e imperial da ministra e no apoio total do primeiro-ministro, então cabe aos professores criar a sua própria voz nas questões mais importantes, que são as das escolhas sobre uma educação moderna e inclusiva. Nesse campo, só os professores defendem a paixão pela educação e esse é o sentido democrático da movimentação pela escola pública".

Francisco Louçã
www.esquerda.net

Léo Ferré - La Solitude

quarta-feira, abril 16, 2008

Ana Drago: "O ministério chantageia os professores"

Esta senhora toca na ferida - a divisão da carreira -, algo que os sindicatos parecem ter esquecido.

Lembrem-se de Pirro

"Comecemos por uma questão semântica: entendimento e acordo são vocábulos sem diferenças, do ponto de vista da significação, que justifiquem o esforço da Plataforma Sindical para os distinguir. Vão a um bom dicionário. No contexto que “aproximou” sindicatos e ministério, são sinónimos. Mas se essa fosse a questão, então capitular dirimia o conflito. E não estou a ser irónico. Voltem a um bom dicionário.
Posto isto, passemos ao que importa. ministério e sindicatos acertaram, concertaram sob determinadas condições. No fim, os sindicatos cantaram vitória. Permitam-me que invoque alguns argumentos para desejar que os sindicatos não voltem a ter outra vitória como esta.
A actuação política deste Governo e desta ministra produziu diplomas (estatuto de carreira, avaliação do desempenho, gestão das escolas e estatuto do aluno) que envergonham aquisições civilizacionais mínimas da nossa sociedade. A rede propagandística que montaram procurou denegrir os professores por forma antes inimaginável. Cortar, vergar, fechar foram desígnios que os obcecaram. Reduziram salários e escravizaram com trabalho inútil. Burocratizaram criminosamente. Secaram o interior, fechando escolas aos milhares. Manipularam estatísticas. Abandalharam o ensino com a ânsia de diminuir o insucesso. Chamaram profissional a uma espécie de ensino cuja missão é reter na escola, a qualquer preço, os jovens que a abandonavam precocemente. Contrataram crianças para promover produtos inúteis. Aliciaram pais com a mistificação da escola a tempo inteiro ( que sociedade é esta em que os pais não têm tempo para estar com os filhos? Em que crianças passam 39 horas por semana encerradas numa escola e se aponta como progresso reproduzir o esquema no secundário, mas elevando a fasquia para as 50 horas?). Foram desumanos com professores nas vascas da morte e usaram e deitaram fora milhares de professores doentes (depois de garantir no Parlamento que não o fariam). Promoveram a maior iniquidade de que guardo recordação com o deplorável concurso de titulares. Enganaram miseravelmente os jovens candidatos a professores e avacalharam as instituições de ensino superior com a prova de acesso à profissão. Perseguiram. Chamaram a polícia. Incitaram e premiaram a bufaria. Desrespeitaram impunemente a lei que eles próprios produziram. Driblaram as leis fundamentais do país. Com grande despudor político, passaram sem mossa por sucessivas condenações em tribunais. Fizeram da imposição norma e desrespeitaram continuadamente a negociação sindical. Reduziram a metade os gastos com a Educação, por referência ao PIB. No que era essencial, no que aumentaria a qualidade do ensino, não tocaram, a não ser, uma vez mais, para cortar e diminuir a exigência e castrar o que faz pensar e questionar.
A questão que se põe é esta: por que razão esta gente, que tanto mal tem feito ao país e à Escola, que odeia os professores, que espezinhou qualquer discussão ou concertação séria, que sempre permaneceu irredutível na sua arrogância de quero, posso e mando, de repente, decidiu “aproximar-se” dos sindicatos? A resposta é evidente: porque os 100.000 professores na rua, a 8 de Março, provocaram danos. Porque a campanha eleitoral começou a reparar os estragos para garantir mais quatro anos.
O tempo e a oportunidade política da plataforma sindical aconselhava uma firmeza que claudicou. Porque quem estava em posição de impor contemporizou. Porque de um dia para o outro se esqueceram as exigências da véspera. Porque quem demandou a lei em tribunal pactuou com uma farsa legal. Porque quem acusou de chantagem acabou a negociar com o chantagista. Porque quem teve nos braços uma unidade de professores nunca vista pensou pouco sobre os riscos de a pôr em causa.
É verdade que os sindicatos ganharam uns trocos. Mas o lance não era para trocos. Era para devolução integral: da dignidade perdida.
Aqui chegados, permitam-me a achega: pior que isto é não serem capazes de superar isto. E lembrem-se de Pirro, quando agradeceu a felicitação pela vitória: ” Mais uma vitória como esta e estou perdido”.

Santana Castilho
Professor do ensino superior

A futura avaliação de professores

terça-feira, abril 15, 2008

Mentira

Ouvir Mário Nogueira dizer que a esmagadora maioria dos professores aprova a ratificação do entendimento com o Ministério relativo à avaliação do desempenho, choca-me profundamente. E choca-me, porque o sindicalista está a mentir quando faz tal declaração. A verdade do que aconteceu hoje nas escolas deste país, é que só uma pequena percentagem de professores esteve presente nos plenários, o que desde logo retira validade àquilo que foi decidido. Além disso, apesar da dificuldade em fazer um balanço do que foi aprovado nas escolas, fica a ideia de que houve uma divisão repartida entre aquelas que aprovaram e as que rejeitaram o entendimento. Ora perante estes números, Mário Nogueira não tem o direito de afirmar que a Plataforma Sindical tem legitimidade para assinar o acordo com o Ministério, pois estamos longe de saber se essa é efectivamente a vontade da maioria dos professores. Há quem diga que os sindicalistas têm particular interesse em que este acordo seja assinado por razões que se prendem com as regras especiais de acesso à categoria de professor titular para os professores que estão destacados nos sindicatos. Será? A dúvida não deixa de ser pertinente.

Enigma

Eu gostaria que me explicassem como é que um acordo elogiado pelo primeiro-ministro, pela ministra, pelo secretário de estado, pelo Conselho de Escolas e até pela CONFAP, pode ser considerado um bom acordo para os professores?

Até Ana Benavente percebeu

"Para a antiga secretária de Estado da Educação socialista Ana Benavente, os sindicatos cederam a uma chantagem do Governo sobre a avaliação dos professores.

Em declarações ao Rádio Clube Português, Ana Benavente afirmou que “quando escolas afirmam que não têm condições para fazer a avaliação este ano”, dizer aos professores contratados que “no próximo ano não serão colocados”, é “ameaçar com o desemprego”. “Isto é uma forma de chantagem”, sublinhou.

Ana Benavente, diz também que lhe dói mais por esta chantagem ter sido feita por um Governo do PS e que aparentemente ela surtiu efeito. “Acho que os sindicatos se assustaram”, afirma.

Considera que os sindicatos não ganharam o braço-de-ferro com o Governo e que não honraram os cem mil professores de todo o país que se manifestaram em Lisboa, porque “a avaliação a que chegaram é a que existe”.

Público

segunda-feira, abril 14, 2008

Imperdível



Pedro Ribeiro fala da situação dos professores, da educação, da evolução, da Ministra e dos psicólogos infantis.

domingo, abril 13, 2008

Vitória dos professores ou de Sócrates?

"Só quem não leu o saquinho de rebuçados que o ME tinha, ontem, para oferecer à plataforma de sindicatos é que podia pensar que desta reunião madrugada adentro não sairia um grande "acerto de opiniões". Algum dos rebuçados responde às reivindicações de fundo que distorceram a profissão e a escola pública, a essência da avaliação, a fractura da carreira entre titulares e professores, a guilhotina na progressão, o director? Não.
Então, podem todos clamar vitória? Cada um canta a sua, e é legítimo que, nesta dura batalha contra a prepotência e a ausência de senso, papo-secos tenham o sabor de searas ao vento.
A ministra mente quando diz que não há suspensão nem adiamento. Esta é uma das vitórias do 8 de Março: há adiamento. Mas há mais: manter a tranquilidade do final do ano, permitir que professores cumpram a sua obrigação, e consagrar a uniformidade de critérios mínimos são pedras no sapato desta espécie de feudalismo selvagem, que se instalou, e em que cada escola, consoante os poderes, fazia o que queria e lhe dava na real gana. Ganharam sindicatos (e professores, claro) por se sentarem na futura comissão paritária e pela introdução de uma fatia de bom senso no horário de trabalho.
Ganhámos, pois, dois meses e meio e temos uma equipa autocrática e completamente desacreditada a recuar, fingindo que não recua.
Ganhámos os próximos anos? Não. O novo modelo de gestão foi ontem promulgado. Daqui a dois anos este modelo de avaliação não vale nada e vale tudo. O director da escola reúne os seus apaniguados e diz: este ano vamos dar excelente ao Manuel e à Maria. Porquê? Porque ela teve tuberculose e veio trabalhar, porque ele teve o filho no hospital e veio trabalhar, porque têm umas fichas muito bonitas e fazem tudo o que lhes pedimos. E continuará: vamos é chamar o presidente da câmara e o presidente da junta, fazer o festim, distribuir as medalhinhas, a ver se eles nos fazem mais uns favorzinhos.
Se a avaliação de professores vingar intacta para 2008 é um ganho certo para Sócrates. Ele precisa desesperadamente de dizer em 2009 que, pela primeira vez na história, os professores foram avaliados e que isto lhe confere o grau "zen" da modernidade. Vale qualquer coisa, desde que se faça. É uma vitória, mesmo que desesperada e à custa da fantochização do que o Ministério queria para este ano.
Há quem, na entrevista à SIC, tenha procurado a "pessoa" Sócrates no Zangão, ou na irritação pela mulher de António Costa ter estado na rua a 8 de Março, mas pouco se comentou o seu amor aos dias cinzentos e ao nevoeiro.
Nevoeiro e talha dourada. O nevoeiro, segundo José Gil, é essa espécie de entorpecimento colectivo onde se instala a dificuldade de pensar, a impossibilidade de agir, uma certa "estupidez reinante", o burgessismo. Eles querem lá saber se o modelo de avaliação é burocraticamente infernal, se não contribui para a qualificação da escola pública, se a avaliação é feita por quem possa não saber fazer melhor nem tenha formação para isso, que não tenha uma componente externa e salvaguarde a independência, que não preserve e valorize o trabalho em equipa, das escolas aos conselhos de turma. Eles querem lá saber, se o único sinal que deram até hoje do que é um "bom professor" foi o de que o bom professor é aquele que ocupou cargos durante os últimos sete anos de uma carreira de vinte ou trinta, independentemente das circunstâncias e da qualidade com que os ocupou.
O modelo é barato, reforça as dependências e a cadeia de obediência e, sobretudo, poderão clamar que o aplicaram e que isso é que é muito moderno, "o passo mais importante na reforma da educação" como garantia hoje a Ministra. É o que lhes interessa.
O que interessa aos professores e professoras é outra coisa. É o que aprofunda a sua missão de servidores da causa pública, da escola pública, do futuro das crianças e jovens, contra o nevoeiro e os burgessos. A Ministra diz que "não há mais acertos". Ou ela mente ou ganhámos rebuçados, ou o primeiro-ministro e o presidente suspiram de alívio ou conseguimos manter a luta e a qualidade das exigências. A escolha é, como a 8 de Março, nossa".

Cecília Honório

Intolerável

Dos pontos que constam do memorando de entendimento entre o Ministério da Educação e a Plataforma Sindical dos Professores, há um que me choca profundamente: o que se refere à inclusão de mais um escalão na categoria de professor titular. Andaram os sindicatos a dizer cobras e lagartos do ECD, nomeadamente no que concerne à fractura da carreira e agora assinam um documento onde se propõe uma benesse que apenas irá favorecer uma minoria de professores, acentuando-se dessa forma a diferença salarial entre as duas categorias? Como é possível terem permitido semelhante coisa? Os senhores sindicalistas andam a brincar com a nossa dignidade. Só pode.

sábado, abril 12, 2008

Afinal de contas quem é que pode cantar vitória?

Vejo por aí muita gente empolgada com o aparente recuo da ministra relativamente à questão da avaliação docente. Confesso que não percebo o motivo de tanta satisfação. Aliás, gostava até que me explicassem em que medida é que isto resulta numa vitória dos professores, como Mário Nogueira se apressou a dizer. É que a avaliação manter-se-á e, em Setembro, regressará em força sobre as nossas cabeças. Mesmo que fôssemos obrigados a avançar com o processo ainda este ano lectivo, a verdade é que a maioria das escolas não o iria executar pela simples razão de que não estavam preparadas para isso. Muitas delas ainda mal o tinham iniciado o que dado o aproximar do terminus das aulas inviabilizaria qualquer tentativa de implementação do mesmo. Não vejo, por isso, razões para tanto entusiasmo.
Independentemente do que atrás foi escrito, é bom relembrar que esta questão da avaliação é uma questão menor na luta dos professores. Pelo menos eu quero pensar que assim seja. Aliás, não foi por ela, ou sobretudo por causa dela, que os cerca de 100.000 professores se manifestaram em protesto no dia 8 de Março. Na altura, valores mais altos se levantavam, e seria imprescindível que sindicatos e todos nós professores tivéssemos isso bem presente. Volto a repetir o que já escrevi em post anterior: as grandes questões da nossa luta são o ECD (nomeadamente, a divisão da carreira em duas categorias), o novo modelo de gestão escolar e o estatuto do aluno. E, neste particular, meus caros colegas, não houve quaisquer recuos, tudo se mantém na mesma. O que significa que não podemos afrouxar a luta, bem antes pelo contrário. Temo que estes “pequenos brindes” dados pelo Ministério da Educação nos retirem lucidez para aquilo que é realmente importante.

sexta-feira, abril 11, 2008

Para ver, ouvir e reflectir

Adolescentes que espancaram colegas vão ser julgadas como adultas e podem ser condenadas a prisão perpétua.

A tentativa de acordo entre ME e Sindicatos

Perante as propostas apresentadas pelo Ministério da Educação, a Plataforma Sindical de Professores só pode ter uma posição: rejeição pura e simples. Estas propostas têm apenas um objectivo que é o de criar a divisão entre professores, aliás, como se pode ver pelo oferecimento de situações de privilégio aos professores titulares. De forma alguma se pode aceitar que estes professores possam vir a usufruir de créditos horários, remunerações acrescidas ou a inclusão de um novo escalão remuneratório. Isto já para não falar no estabelecimento de regras especiais de acesso à categoria de professor titular para os professores em exercício de funções ou actividades de interesse público, no que pode ser entendido como uma manobra clara de aliciamento dos sindicalistas.
Assinar um acordo nestas condições significaria o descrédito total na credibilidade dos sindicatos. Convém relembrar para os mais esquecidos que há aspectos bem mais importantes e gravosos do que a avaliação docente, nomeadamente, a promulgação do ECD, a gestão escolar e o estatuto do aluno. Espero que quem nos representa tenha consciência disso e não se esqueça do compromisso que assumiu com os professores. A marcha de 8 de Março teve um significado que deve ser respeitado.

quarta-feira, abril 09, 2008

A montanha pariu um rato

"Quatro dezenas de presidentes de conselhos executivos que têm reivindicado a suspensão do novo modelo de avaliação de professores decidiram, ontem, ceder à "pressão" do Governo. Ainda que através do regime simplificado, esses dirigentes do distrito de Coimbra e do concelho da Mealhada vão proceder à avaliação de docentes contratados e dos que estão no último ano do módulo de contagem de tempo de serviço para progressão na carreira".

Significa isto que a montanha pariu um rato. Tanta propaganda, tanta verborreia jurando que não acatariam as exigências da tutela e eis que chega a hora da verdade e todos se acagaçam. Belo exemplo este. Com gente desta bem pode Maria de Lurdes dormir descansada.

Alguma coisa vai mal quando 3 pessoas (refiro-me à tríade ministerial) conseguem subjugar toda uma classe docente. É caso para perguntar se foi para tudo ficar na mesma que 100.000 professores se manifestaram pelas ruas de Lisboa, em protesto contra as políticas educativas do governo? Será que estamos à espera, mais uma vez, que os sindicatos resolvam os nossos problemas? Vamos permitir que os Conselhos Executivos, autênticos braços armados do Ministério nas escolas, se sobreponham à vontade da larga maioria dos professores? Vamos desperdiçar toda a luta que vimos fazendo nestes últimos meses, só porque aparentemente temos medo de tomar posições drásticas? Afinal de contas temos medo de quê? Que sejam movidos processos disciplinares a 150.000 professores?!!! Valha-nos Deus! Decididamente, somos uma classe de frouxos que chega a meter dó.

Transição para a nova estrutura da carreira docente

Pode encontrá-la aqui.

terça-feira, abril 08, 2008

Uma das fontes de inspiração de Maria de Lurdes

Mais um caso pontual

"Alice saiu disparada para o corredor da escola, deixando atrás de si um grupo de alunos estupefacto pelo que acabara de presenciar. Atrás de si seguia um pai furioso, que minutos antes lhe desferira um certeiro e violento estalo na cara. Alice fugiu para o corredor, em busca de auxílio. Encontrou uma mãe determinada a fazer-lhe frente, que a empurrou inesperadamente, entre um chorrilho de insultos e ameaças. A confusão instalou-se.
Alice, nome fictício, é professora há pouco mais de um ano na Escola Básica do 1.º ciclo Arquitecto Ribeiro Teles, no problemático bairro da Boavista, em Lisboa, e, sexta-feira, foi agredida pelos pais de um dos seus alunos, um jovem de 11 anos que frequenta o 3.º ano. "Ela saiu a correr da sala de aula para o corredor, já depois de ter sido agredida pelo pai do aluno, de etnia cigana, e surgiu nem sei de onde a mãe desse aluno, que a agrediu, empurrando-a, e insultou", contou ao DN uma funcionária da escola que presenciou o episódio, e que pediu o anonimato, "por receio". "Ela estava assustada." O DN tentou falar com a professora agredida, mas fonte próxima da docente disse que a mesma não quer dar explicações "porque o Ministério da Educação não os [professores] autoriza a falar".
Ainda no corredor da escola do bairro da Boavista, entre insultos, ameaças e empurrões, a professora Alice "gritava para chamarem a polícia". O barulho alertou a coordenadora do conselho de docentes e o coordenador do estabelecimento de ensino, que acorreram ao local. Agentes da PSP, do programa Escola Segura, chegaram "pouco depois" à escola e Alice, "ainda muito nervosa", apresentou "queixa-crime contra o pai" do aluno de 11 anos, um jovem "muito problemático, que já estava sinalizado" na escola e na PSP da Boavista. "Esta não foi a primeira vez que esta professora teve problemas com este aluno", contou a mesma funcionária ao DN.
Porque o incidente de sexta-feira começou precisamente com o aluno, que, nessa manhã, segundo apurou o DN, terá "mandado a professora à merda" depois de uma discussão sobre a actividade na sala de aula. Pela hora do almoço, o irmão desse jovem, também aluno na mesma escola, procurou a professora. Terá acusado a docente de "ter batido no irmão" e "chamou-a de vaca". Nervosa, Alice regressou para a sua sala e continuou a leccionar. Mas pouco mais de uma hora depois, professora e alunos são surpreendidos pela entrada abrupta do pai do aluno na sala de aula - depois de ter "passado por uma auxiliar" junto à entrada do estabelecimento - que se dirigiu à professora, exigindo explicações pelo sucedido. "Atirou-lhe livros para cima e deu-lhe um estalo", conta a mesma funcionária".

segunda-feira, abril 07, 2008

domingo, abril 06, 2008

Qual debate?



Daniel Ribeiro, Expresso

25 de Novembro no ensino, s.f.f.

Henrique Raposo
Expresso

sábado, abril 05, 2008

Missy Higgins - The Sound Of White

Chamem a polícia

"Particularmente pungente, o Fórum da TSF de hoje sobre a situação do ensino secundário público português. Um coro repetitivo e afinado de intervenções de professores das escolas públicas, todos a dizerem o mesmo: que não têm autoridade sobre os alunos e que estes fazem o que bem querem e lhes apetece na escola, sem sofrerem quaisquer consequências.

De todos os intervenientes, impressionou-me mais um professor de um liceu de Setúbal, que interpelou um aluno seu com catorze anos por estar a enrolar um «charro» durante uma aula. O aluno aconselhou o professor a não se meter no assunto, insultou-o perante os colegas, e continuou pacatamente a sua tarefa. O mesmo lhe disseram os seus colegas professores do Conselho Directivo a quem expôs o sucedido: que deixasse andar, porque não valia a pena fazer nada. Passado algum tempo, o carro do professor foi vandalizado no estacionamento da escola. O distinto aluno por lá continua, empenhado na sua educação à custa do contribuinte.

Décadas de facilitismo, de desresponsabilização dos sucessivos ministérios e governos, de abandalhamento nas regras, de igualitarismo entre professores e alunos, e de experimentalismo pedagógico saloio deram nisto. De há décadas para cá, a escola pública portuguesa tem sido destruída no que deviam ser os seus alicerces: autoridade, hierarquia, responsabilidade e definição clara do que é e para que serve uma escola. O cenário, agora, já não é apenas de falta de qualidade da escola e de alguma indisciplina. É de insegurança e medo. Não é, por isso, de espantar que os poderes públicos já não saibam o que fazer, senão chamar a polícia. Como estas declarações do Procurador-Geral da República deixam claro. A escola portuguesa passou, num ápice, de laboratório de educação experimental de «bons selvagens», para um simples antro de selvagens".

Eduquês, Competição e Filosofia de Educação

http://www.city-journal.org/2008/18_1_instructional_reform.html

"School Choice isn’t enough", por Sol Stern.

"O esplêndido artigo acima citado esclarece a importante diferença entre medidas administrativas para promover o melhoramento do ensino e as urgentes mudanças de filosofia necessárias para alterar métodos de instrução e o conteúdo do currículo.
Embora as senhas de ensino sejam de experimentar, a geografia muitas vezes não as permite (uma só escola situada num vasto território, por exemplo). Também não se elimina uma péssima filosofia de educação com senhas. A ideia da competição eventualmente acabar com as más escolas ou o mau ensino pode ser verdade ao longo prazo e em determinadas zonas. Só que durante esse longo prazo milhares de alunos podem ser sacrificados.
Mais importante, mais prático e mais fundamental é acabar com o ‘brainwashing’ que é o principal objectivo dos chamados ‘institutos superiores’ de educação. E nesses recintos que os magos da educação progressista dedicam os seus esforços no sentido de alterar o que chamam os ‘preconceitos burgueses’ dos jovens aspirantes a educadores. Até desaparecer essa mafia nada feito.
Sol Stern no seu artigo analisa os êxitos e os falhanços do sistema dos senhas e chama a nossa atenção para o principal problema".

http://oinsurgente.org

sexta-feira, abril 04, 2008

Sem palavras!

A ministra da Educação já conhecia os dados sobre violência nas escolas, revelados pelo Procurador-Geral da República (PGR) após uma audiência com o Presidente da República, nomeadamente, que há alunos que levam armas para os estabelecimentos de ensino.
A gente lê e fica sem perceber. Não era a ministra que, amiudadas vezes, veio a público dizer que a violência era pontual e circunscrita? Não foi esta senhora que sempre desvalorizou a questão ao assegurar que as escolas eram dos locais mais seguros da sociedade? E agora tem a distinta lata de confessar que o Ministério registou 140 casos em que houve violência praticada com armas nas escolas, no ano lectivo anterior, e que o problema está a ser atacado há muito tempo? Afinal em que é que ficamos? A ministra tem conhecimento do fenómeno e desvaloriza-o e, mais grave do que isso, oculta o problema? Haja vergonha! Se foi para isto que quebrou o silêncio a que se havia remetido após o célebre vídeo da aluna da Carolina Micaelis, mais valia ter ficado calada.

O futuro no YouTube

Alberto Gonçalves, sociólogo
Sábado

quarta-feira, abril 02, 2008

Avaliar a fingir?

"Todos sabemos que não há qualidade sem avaliação, mas nem todos percebemos como é difícil controlar interesses e critérios nem que tempo é preciso para definir objectivos, para desenvolver e testar meios de avaliação rigorosos.
Os professores e educadores são avaliadores experimentados, sensíveis às características de uma avaliação séria tempo, instrumentos seguros, avaliadores qualificados, imparcialidade.
Ora, essa experiência diz-lhes que a avaliação proposta pelo Ministério da Educação não oferece nenhuma destas garantias e que, portanto, deveria ser suspensa e substituída.
O seu calendário trapalhão diz tudo sobre a ignorância do tempo definir objectivos individuais agora, a pouco mais de um mês do final do ano avaliado? Vale tudo para salvar uma meta política?
Em segundo lugar, o Ministério propôs instrumentos nunca testados ou afinados e, ao usar a autonomia das escolas como escudo humano para este erro crasso, gerou uma anomalia ainda maior enorme diversidade e disparidade de instrumentos. Afinal de contas, quer uma avaliação ou quer muitas avaliações diferentes? E o mérito que quer avaliar será assim tão díspar?
A qualificação dos avaliadores também é a fingir só mais anos de serviço e mais cargos chegarão para avaliar bem quem possua maior qualificação científica, melhor formação pedagógica e didáctica ou maior experiência de tecnologias educativas que o avaliador?
O grande fingimento é, porém, o da imparcialidade. O n.º 4.º do artigo 22.º e o artigo 38.º do Decreto Regulamentar 2/2008 são claros o avaliador deve, sob pena de cessar funções e de procedimento disciplinar, ajustar a avaliação que fizer dos colegas aos valores que a Comissão de Coordenação da Avaliação da Escola considerar conformes à percentagem máxima ditada pelo divino olhar da tutela.
Veja-se o absurdo. Em Braga, por exemplo, há uma escola cujos alunos e professores obtiveram, no exame nacional de Matemática, mais notas entre os 18 e os 20 valores que o total de examinandos das melhores escolas privadas.
Pode ser imparcial a avaliação dos seus vários professores se a lei ordena à Comissão que force o avaliador a inventar falhas no desempenho deles para, em coro com o Ministério, proclamar que só um é muito bom ou excelente?
Bem lidos os factos, esta avaliação é mais que um mau acto de engenharia social, é um perverso exercício de darwinismo social prefere a magia do poder ao benefício da razão, desumaniza coercivamente a imparcialidade, reabre ao serviço público o caminho antigo e perverso do antes matar que ser morto, selecciona artificialmente a retaguarda vantajosa das elites.
Sedentos, os acólitos das figuras de autoridade aplaudem com prazer não é a conflitualidade o seu território natural? Os espíritos autónomos, esses estão de luto: há pelo menos quatro graves razões para gritar na rua e na escola que esta não é só uma avaliação de faz-de-conta, é uma avaliação perversa que não serve as pessoas, serve-se delas".

António Mendes
JN

terça-feira, abril 01, 2008

Puniu-se um herói

"O aluno que filmou com o telemóvel a cena do Liceu Carolina Michaelis, segundo os jornais vai ter um castigo muito superior ao da aluna que agrediu a professora. Por aqui se vê para onde caminha o nosso país. Para um Estado fascista ou… muito pior.
O aluno que filmou a cena e colocou as imagens no YouTube devia ser condecorado e louvado. Foi graças a ele que se conseguiu provar os tormentos que os professores passam nas escolas onde dão aulas. Ele revolucionou o sistema. Banalizou a ministra e conseguiu provar que a maioria dos Conselhos Executivos das escolas funciona de acordo com o que lhes é pedido pela DREN, cujas ordens são encapotar, encapotar e encapotar.
A denúncia do aluno foi um alerta e deveria ser considerado um acto heróico porque obrigou o Ministério Público e o Presidente da República a tomarem decisões para o combate à rebaldaria que se passa em alguns liceus.
Mas, os jornais, mais uma vez alinharam pelo discurso inverso. Ninguém defende o miúdo que teve a coragem de nos mostrar a verdade".

"Terror na Escola", 182ª sequela

"Entendo que todos nós devemos estar gratos ao cineasta amador que filmou, com uma pitada de Spielberg, com uma pitada de Woody Allen, o "take" 142 da 182.ª sequela do filme "Terror na escola", no "plateau" do Carolina Michaëlis, que já foi um liceu de meninas "bem" e agora anda bem mais por baixo. Embora a qualidade da imagem não fosse por aí além, não é de estranhar, porque às películas da série B não se pode exigir muito. Também o "script" poderia, já não direi subir ao estilo Actors Studio, mas também não descer à boçalidade de "A velha vai cair. Altamente!", "Ó gorda, sai da frente!" e "Que demais!". Mas, enfim, quando o orçamento é pequeno, não há volta a dar-lhe!
Ainda assim, repito, dou as minhas felicitações ao (para mim) anónimo cineasta que veio demonstrar a verdade daquele princípio jornalístico segundo o qual "uma imagem vale por mil palavras". Porque uma coisa é ler ou ouvir professores e auxiliares de educação queixarem-se de que são agredidos, injuriados, enxovalhados, ao ritmo de dia sim, dia não - e outra coisa, bem diferente, é ver uma sala de aula transformada numa espécie de circo romano, em que, pior do que os oponentes na arena (reconheça-se, não houve agressão, houve só forte quebra de disciplina), eram os urros, a galhofa, as exclamações e a agitação nas "bancadas". Só porque as imagens passaram da Internet para a TV é que o país teve de acordar de um longo letargo ou de um conveniente alheamento da realidade. Presidente da República, governantes, parlamentares, agentes do Ministério Público, conselhos directivos e associações de pais, forçados a abrir os olhos ou a tirar a cabeça de dentro da areia, convergiram, à uma, num ponto não podemos continuar a fingir que está tudo bem, agora há testemunhas a mais e é impossível calá-las a todas. É preciso agir, portanto!
Parece, todavia, que desse grande e importante núcleo se distanciam, ligeiramente embora, pelo menos duas pessoas o secretário de Estado e a ministra do sector. Porque disse o primeiro que "as escolas são os lugares mais seguros da comunidade", enquanto a segunda garantia (em artigo no JN, em 07/10/28) que "a escola é o espaço público mais seguro que o país tem".
Há poucos dias, na TV, ouvi Maria de Lurdes Rodrigues ser mais precisa, ao afirmar que "a escola é um espaço seguro para as nossas crianças". E para os nossos adultos, professores e auxiliares, senhora ministra?"

Sérgio de Andrade
JN