sábado, março 30, 2013

Sugestão do dia

"Que se adopte uma lei que estabeleça mínimos de QI exigíveis para o desempenho do cargo de primeiro-ministro a fim de impedir que um qualquer imbecil possa ser eleito para o cargo".

quarta-feira, março 27, 2013

Há quem nos diga que os porcos voarão - crónica de Santana Castilho

1. Quando, em dois de Janeiro passado, antecipei nesta coluna o descambar da situação do país, logo no fim do primeiro trimestre da execução do orçamento de 2013, não fui original. Tão-só acompanhava a voz dos que não acreditavam que algum dia os porcos voassem. Aumentou o desemprego. Cresceu o défice e a dívida. Galoparam a recessão e o sofrimento dos portugueses. E, enquanto a realidade evidencia que nenhum problema foi resolvido e todos se agravaram, há quem diga, de cara dura, que é uma questão de tempo, que sim, que os porcos voarão. 

2. Crato regressou da sua viagem à volta da Terra, em 14 dias, depois de a troika ter aviado a sétima avaliação. Fez bem. Assim, a troika decidiu por ele, sem lhe perguntar se concordava com a chuva. Nada do que se passa, aliás, depreende-se das declarações do ministro à chegada, tem a ver com ele, porque, disse, “… o mundo está a mudar muito depressa …”, “… a situação política é volátil …” e, além disso, “… não há nenhum ministro que decida tudo por si…”. Querem razão mais científica e tempo mais propício para um saltinho à China, Chile e Brasil? 

3. E que se passa, afinal? 

Em Março de 2010, sob a epígrafe “Europa 2020 – Estratégia para um Crescimento Inteligente, Sustentável e Inclusivo”, a Comissão Europeia desenhou um plano de revitalização da sua economia, que considerava indispensável diminuir a taxa de abandono escolar precoce para 10 por cento e elevar para 40 por cento a dos diplomados com o ensino superior, na faixa etária dos 30 aos 34 anos. 

Dados estatísticos, recentemente divulgados por David Justino, no âmbito de um trabalho que desenvolve no seio do Centro de Estudos de Sociologia da Universidade Nova de Lisboa, revelam que a Taxa de Abandono Escolar (percentagem de jovens dos 10 aos 15 anos, que nunca frequentaram o ensino básico ou que o abandonaram sem concluir o 3º ciclo) se cifra em 1,7 e que a Taxa de Abandono Precoce (percentagem da população com idade compreendida entre os 18 e os 24 anos, que não frequentou o ensino secundário ou o abandonou sem o ter concluído) se fixa em 27,1. Estes dois indicadores, expressos em números absolutos, significam, respectivamente, 11 mil 417 e 220 mil 472 indivíduos. 

Pois é neste contexto que o Governo anunciou a passagem ao regime de mobilidade especial, modo eufemístico de mascarar o despedimento posterior, de 10 mil professores, que se somam aos 15 mil já dispensados este ano, tudo a acrescer a uma perda de rendimento da classe (considerado o aumento da carga horária) da ordem dos 30 por cento e a um concurso, em preparação, a reger por regras próprias dos tempos feudais. É sem uma réstia de pensamento estratégico para a Educação nacional e políticas centradas na destruição acéfala do que se conseguiu, e foi muito, apesar dos erros, que procuramos o futuro? É com professores mal pagos (não me venham contradizer com dados da OCDE, inflacionados por níveis salariais do último escalão da grelha salarial congelada, onde não há um único professor, e referidos a tempos anteriores aos cortes brutais dos últimos anos), apavorados pela ameaça do desemprego, desnorteados pela legalidade em construção, que lhes pode fixar o local de trabalho a mais de 300 quilómetros da residência e os sujeita a mais ignominiosas iniquidades, sempre introduzidas por cada uma das sucessivas alterações aos diplomas de concurso, sem visão de conjunto, que ajudaremos a economia a endireitar-se? É lançando na selva do mercado de trabalho jovens sem as qualificações básicas exigidas pela Europa, que combatemos a sua taxa de desemprego, a rondar já os 50 por cento? É cruzando os braços ante mais de dois milhões de activos, que não concluíram o ensino secundário, que melhoraremos a competitividade da nossa economia? Resolveremos o défice e a dívida cortando, sem critério nem visão, no essencial, a educação e a formação de um povo? Obliterados pela pressão do urgente, continuaremos a regredir no importante? 

Num estudo recente promovido pela Comissão Europeia, Portugal e Roménia são os únicos estados que reduziram as despesas públicas com a educação, em percentagem do PIB. Consignando-lhe 3,8 por cento de um PIB que caiu para valores próximos dos 152 mil 156 milhões, quando, em 2010, gastávamos 5 por cento de um PIB que se cifrava em 167 mil e 500 milhões, Portugal reduziu, neste curtíssimo período, 2 mil 594 milhões de euros com a educação. No memorando assinado com a troika, em Maio de 2011, fixavam-se os cortes em 195 milhões, em 2012, e 175 milhões, em 2013. A resposta às perguntas que formulei acima foi dada pela comissária europeia para a Educação, quando apresentou o estudo: “Se os estados-membros não investirem suficientemente na modernização da educação e das competências, ficaremos aquém dos nossos concorrentes mundiais e será mais difícil combater o desemprego juvenil”. 
 
Santana Castilho

Governo para a rua!

"Mobilidade especial para quem governa mal" é palavra de ordem nas manifestações.
 Os portugueses já perceberam que o recurso a tal mobilidade tem um de dois objetivos (ou os dois): i) exercer pressão sobre os funcionários públicos para aceitarem medidas gravosas, tentando escapar à mobilidade especial; ii) empurrar esses funcionários para o desemprego.
Tendo o FMI defendido que milhares de docentes passassem para a mobilidade especial e, mais tarde, a troika reiterado a medida, logo os governantes portugueses ajoelharam, anunciando-a como sua. Sem pejo, Crato desmentiu o que dissera antes e esclareceu que as suas declarações valem apenas para o momento em que se proferem, não devendo ser levadas a sério para mais do que esse tempo. É preciso que os governantes percebam que, ao contrário dos professores que fazem muita falta nas escolas, eles não fazem qualquer falta ao país porque o prejudicam. Parece-me ser tempo de mudar a palavra de ordem e, para que fique mais clara, a exigência deverá ser "Despedimento coletivo para este executivo". Ou seja, pô-lo no olho da rua!"
 
Mário Nogueira
CM

terça-feira, março 26, 2013

Novas mexidas na carga horária

"O Ministério da Educação e Ciência (MEC) vai voltar a mexer nos currículos dos ensinos Básico e Secundário, alterando a carga horária de algumas disciplinas já no próximo ano letivo. A informação foi transmitida às delegações dos sindicatos de professores nas reuniões realizadas a semana passada e confirmada, ontem, ao Correio da Manhã pelo MEC.
De acordo com a tutela, está prevista "a continuidade da política do MEC nesta matéria", com a introdução "de pequenas mudanças para ajustar o sistema", tendo isso mesmo sido transmitido aos sindicatos. O MEC sublinha que esta revisão não terá a dimensão da que foi efetuada no ano passado. O CM questionou ainda a tutela sobre quais as disciplinas que sofrerão alterações ou se haverá algumas que serão extintas, mas não obteve resposta.
Os sindicatos temem, contudo, que novas reduções na carga horária façam aumentar o número de professores contratados no desemprego e de docentes do quadro com horário-zero (sem turmas para dar aulas), numa altura em que paira sobre os efetivos a ameaça de passagem à mobilidade especial.
"Penso que se estão a preparar algumas mexidas que vão atirar para a rua mais docentes contratados e criar mais horários-zero", disse ao CM Mário Nogueira, da Fenprof. Segundo o dirigente, foi o próprio ministro quem confirmou na reunião que "vão continuar a fazer ajustamentos curriculares". João Dias da Silva, da Federação Nacional de Educação (FNE), também se mostra preocupado. "A revisão de 2012 prejudicou a educação, não pode haver mais cortes. Os professores não podem viver na incerteza de ir para a mobilidade especial".
Albino Almeida, da Confederação Nacional de Associações de Pais, reagiu com dureza: "Nuno Crato tem de se explicar ou ficará para a história como o ‘manga-de-alpaca' que mexeu na Educação a pedido das Finanças".
 
CM

segunda-feira, março 25, 2013

Depressão arrasa professores e alguns (até) perdem a memória

Apesar de o Ministério da Educação não divulgar dados, são cada vez mais os professores de atestado devido a depressões e burnout (exaustão física e emocional). Dirigentes sindicais e directores de escolas mostram-se convictos de que a crise agravou esta situação que, acrescenta o Diário de Notícias (DN), não afecta apenas os docentes contratados mas também os com décadas de carreira.
O DN apresenta, na edição de hoje, alguns testemunhos na primeira pessoa de professores afastados da sala de aula porque a “alegria” de leccionar deu lugar ao vazio escuro da depressão.
“Sei que fiquei mais gordo, por causa dos medicamentos, mas sei porque vejo nas fotografias, não me lembro disso”, confessa ao jornal um professor com 28 anos de carreira mas que passou os últimos três em casa, de baixa. Neste caso, a mudança de escola foi dramática e foi “perdendo as forças para controlar a sala de aula”.
A psicóloga Lígia Costa, da direcção de um dos sindicatos da Federação Nacional de Educação, destaca, ao DN, que os estudos “apontam o stress como factor explicativo de 50% a 60% dos dias de trabalho perdidos e como o segundo problema de saúde relacionado com o trabalho mais frequente”.
Ainda segundo a psicóloga, muitos destes “processos acabam por assumir a forma de quadros clínicos de ansiedade e perturbações depressivas”.
A crise estava evidentemente associada a esta situação. O dirigente da Fenprof, Mário Nogueira, refere que “a sobrecarga horária”, as “responsabilidades que vão muito além do que seria o papel do professor”, a “crescente hierarquização e controle”, bem como “a criação de grandes agrupamentos”, em nada contribuem para o bem-estar e trabalho dos docentes.
Um estudo europeu da Sociedade Portuguesa de Inovação, citado pelo DN e que data de 2011, indicava que os professores portugueses foram os que revelaram índices mais elevados de stress e burnout (exaustão física e emocional), de entre nove países estudados.

sexta-feira, março 22, 2013

As promessas de Nuno Crato

Na reunião de hoje com os sindicatos de professores, Nuno Crato propôs que em vez das sete zonas  sejam dez (QZP). Por outro lado, garantiu que não será alterado o horário de 35 horas semanais previsto no actual Estatuto da Carreira Docente (ECD), nem as reduções da componente lectiva previstas no mesmo estatuto para os professores com 50 ou mais anos de idade.

quinta-feira, março 21, 2013

Professores sem componente lectiva vão ser enviados para a mobilidade especial

"O ministro Nuno Crato sempre afastou a hipótese de colocar docentes na bolsa de excedentários da Função Pública. Agora, anuncia que o mecanismo será aplicado a partir de Setembro.
Os docentes com ausência de componente lectiva, ou seja, sem turma atribuída, vão poder ser enviados para a mobilidade especial já no próximo ano lectivo. Antes disso, ser-lhes-á dada a possibilidade de transitarem para outros Ministérios.
 “A mobilidade especial tendo em conta os compromissos internacionais a que estamos obrigados será de aplicação a toda a Administração Pública”, anunciou esta tarde o secretário de Estado do Ensino e da Administração Escolar, Casanova de Almeida, depois de reunir com a Fenprof e a FNE.
 Porém, e previamente ao envio para esse quadro de excedentários, os docentes terão alternativas. O governante anunciou que estão a ser estudados instrumentos, com a secretaria de Estado da Administração Pública, de modo a permitir que os professores fiquem sem ausência de componente lectiva. Um desses instrumentos é a “intercomunicabilidade entre Ministérios”, ou seja, os professores poderão transitar para outros Ministérios.
 “Existem necessidades apuradas noutros ministérios de técnicos superiores e se o professor entender que é benéfico haver transferência para a carreira técnica superior” poderá fazê-lo. “São esses instrumentos que estão a ser preparados”, rematou.
 João Casanova de Almeida disse e repetiu que “temos de ter em conta que vivemos tempos excepcionais, que exigem medidas excepcionais, e exigem da nossa parte que se faça adequação dos recursos humanos”.
 E, assim, contrariou aquilo que vinha sendo dito pelo ministro Nuno Crato no Parlamento, de que este mecanismo não seria aplicado no sector. Neste momento, existem cerca de 700 professores sem turma atribuída.
Quanto a rescisões amigáveis, o secretário de Estado disse que “neste momento” essa questão “não está em cima da mesa”. “Julgamos que essa questão fica no condicional. Não temos de avançar com nenhuma preocupação pois os instrumentos que estamos a trabalhar, julgo que são, suficientes, motivadores e apelativos".
 
Jornal de Negócios

quarta-feira, março 20, 2013

Cambada de mentirosos

A perseguição aos professores não tem fim

"O Ministério da Educação e da Ciência (MEC) quer reduzir o número de quadros de zona pedagógica (QZP) de 23 para sete, indicou o líder da Federação Nacional de Educação (FNE), João Dias da Silva, esta quarta-feira, em Lisboa.
A proposta está a ser apresentada aos sindicatos por Casanova de Almeida, secretário de Estado do Ensino e da Administração Escolar.
Segundo Dias da Silva o MEC justifica esta proposta com a necessidade de reduzir o número de professores com horário zero. O líder da FNE acrescentou que o número proposto, de sete QZP, não é ainda definitivo. Foi essa a garantia dada pelo secretário de Estado. "Uma redução como a proposta parece-me que constitui um desrespeito muito grande por estes professores que estão há anos no sistema e que serão obrigados a mudanças de centenas de quilómetros", disse.
Esta mudança dos QZP é já para vigorar no próximo concurso para professores do quadro que deverá abrir no próximo mês. Actualmente os QZP correspondem grosso modo aos distritos existentes. A sua redução levará a que os 11.388 professores sejam obrigados a concorrer, já no concurso interno deste ano, a escolas situadas em áreas geográficas substancialmente maiores.
Esta proposta já tinha sido avançada pelo MEC durante as negociações com vista ao concurso extraordinário destinado a professores contratados. Os QZP foram criados com o Estatuto da Carreira Docente aprovado em 1990 e implementados três anos depois com vista a “garantir a satisfação de necessidades não permanentes dos estabelecimentos de ensino”. Os docentes nesta situação são obrigados a concorrer ao concurso interno para professores do quadro que se realiza de quatro em quatro anos. Se não obtiverem colocação têm de se apresentar ao concurso anual também destinado aos professores contratados.
Para além dos QZP, existem os quadros de agrupamento e de escola não agrupada que garantem uma maior estabilidade uma vez que os docentes nesta situação ficam adstritos a um só agrupamento ou escola. No último concurso nacional destinado a professores do quadro, realizado em 2009, foram integrados nesta modalidade cerca de 18 mil docentes dos QZP".
 
Público

terça-feira, março 19, 2013

Abolição das PPP

"Os contratos das parcerias público-privadas (PPP) com que o Estado se comprometeu transformaram os cidadãos em servos vitalícios de alguns grupos económicos, ou seja, em escravos.
As PPP representam um compromisso anual de vários milhares de milhões de euros, um verdadeiro cancro para as finanças públicas da atual e das próximas gerações. Em primeiro lugar, geram para os concessionários, em particular das PPP rodoviárias, rentabilidades anuais obscenas, da ordem dos 17%, ou até mais. O rendimento é garantido. Cada troço de autoestrada obriga o Estado a um pagamento diário… independentemente de lá passar um único carro. Por outro lado, o Estado ainda paga prémios pela diminuição da sinistralidade, que representam largos milhões para cada autoestrada. É certo que também há penalização pelo acréscimo de acidentes, mas as multas são incomparavelmente mais baixas do que os prémios, pelo que os privados ficam (como sempre) beneficiados. Favorecidos numa relação de um para cem ou até mais! Por último, os governos têm negociado, ao longo de anos, ruinosos acordos de "reposição de reequilíbrio financeiro". Já no início do século, na Ponte Vasco da Gama, a primeira das PPP, o Estado atribuía uma verba de 42 milhões de euros à Lusoponte, para a compensar por um aumento de taxas de juro, mas nunca a concessionária pagou quando as taxas diminuíam. Estas práticas reiteradas transferiram milhares de milhões para os concessionários. Em 2011, só nas PPP rodoviárias, para despesas correntes de cerca de oitocentos milhões de euros, os pedidos de reequilíbrio financeiro foram de… novecentos milhões. Só há agora uma forma de nos libertarmos deste jugo: abolir o negócio das PPP. Pela via da renegociação dos contratos, reconversão do modelo em concessão ou, pura e simplesmente, expropriação dos equipamentos e infraestruturas. E sem sequer consagrar direitos adquiridos aos concessionários. Em primeiro lugar, porque os contratos são leoninos, os direitos foram obtidos ilegitimamente. Mas sobretudo porque quando se libertam servos, como quando se procedeu à abolição da escravatura, não se podem, nem devem, manter intactos os direitos dos esclavagistas".
 
CM 

sábado, março 16, 2013

Insónia

"Pela primeira vez, ppc e a sua corja tiraram-me o sono.
Escrevo este texto às quatro da manhã, depois de ter acordado por volta das duas e não conseguir pregar olho. E por que é que isso acontece? Não, não é porque esteja a arder de desejo carnal pelo coelhito ou por algum dos seus hediondos assassinos a cobro. É porque, mais uma vez, mas hoje muito mais do que antes, me sinto soterrada.
Fui professora. Já nem posso dizer que o seja. Dou umas formações de vez em quando, pagas a recibos verdes. Sou mais uma das escravas do Estado. Trabalho para lá, mas nada recebo em troca.
A escola onde vou dando formação ainda me deve quase três mil euros relativos a honorários do ano passado. Não tenho direitos.
Se ficar doente, temos pena, não ficasse.
Se perder o pouco trabalho que tenho, e acabarei por perder porque os cursos de formação não duram indefinidamente, temos pena, soubesse escolher uma profissão de jeito.
Agora, há riscos grandes, enormes, assustadoramente assustadores, de o meu marido ser um dos no mínimo dez mil professores afectados com a passagem forçada para o quadro de mobilidade. A ganhar metade do salário.
Como vamos sustentar as nossas filhas e todos os dependentes que temos?
Pago a prestação da casa dos meus pais porque eles, com reformas cada vez mais esmagadas, nunca puderam sair da casita alugada e com muito poucas condições onde viviam. Fomos nós, juntamente com o meu irmão e cunhada, que conseguimos dar-lhes uma casa mais confortável e mais adequada à doença do meu pai e ao envelhecimento que pende sobre cada um de nós. Nem imagino como teriam sido os últimos anos de vida do meu pai se ainda vivesse na outra casa.
Tenho cães e gatos que dependem de mim. Sim, eu sei, para muita gente os animais são meros adereços, brinquedos que se deitam fora quando já não servem ou quando nos cansamos deles. Mas para mim, são meus dependentes. Fazem parte da família.
Ao longo dos últimos anos perdemos o meu salário. Acumulando o trabalho precário como formadora mais o trabalho precário como explicadora e o trabalho a prazo como professora, lá ia ganhando entre quinhentos e mil euros mensais, durante seis, sete ou oito meses, conforme o trabalho que tivesse.
Perdemos os subsídios de férias e Natal a que eu tinha direito.
Perdemos um dos subsídios do meu marido. O outro chega todos os meses sob a forma de duodécimos.
Perdemos uma parte do salário do meu marido.
E podemos agora perder metade do salário dele.
Enquanto tiver sanidade mental, não me suicidarei nem entregarei as minhas filhas a nenhuma instituição. Mas não sei se terei sempre sanidade mental.
Para a manter preciso de dormir. De ser forte na adversidade. E preciso, sobretudo, de lutar. Cada vez mais.
E, como já pouco me resta e quase nada tenho a perder, passo, a partir deste dia, a alinhar em todas as manifestações contra o governo, pacíficas ou violentas.
Até agora, lutei sempre de forma pacífica e sempre fui contra a violência. Só que até agora lutei também por mim, mas sobretudo pelos outros. Pelas pessoas que estiveram sempre e ainda estão em situação muito pior do que a minha. Sempre me disse uma privilegiada. Se todos tivessem o que eu tinha, era o suficiente.
Quase sempre tive que fazer contas à vida e não me importo de contar os cêntimos desde que as minhas filhas tenham comida no prato, um tecto, roupa quentinha para vestir e uma festinha de aniversário com os amigos.
Infelizmente, muitas crianças perderam o direito a tudo isso.
Não incitarei à violência, longe disso, sou mais uma pessoa de amor do que de guerra, mas se a violência for a única forma de correr com aquela pandilha, contem comigo. Aliás, neste momento, creio que só mesmo pela violência é que conseguiremos remover aquelas sanguessugas.
O presente das minhas filhas, já nem falo do futuro, está agora mais ameaçado do que nunca. Vou lutar por elas. Nem que seja com fogo".
 

quinta-feira, março 14, 2013

10.000 professores atirados para a mobilidade (2)

"Troika obrigou o Executivo a cortar nas remunerações dos docentes. Se forem para a mobilidade, estes 10 mil professores vão receber 50% do salário, poupando ao Estado 140 milhões de euros, noticia o "Correio da Manhã".
A notícia é avançada na edição de hoje do “Correio da Manhã”. De acordo com o jornal, a troika não facilita no corte da despesa pública, e isso deverá forçar o Governo a colocar cerca de dez mil professores, incluindo docentes com horário zero, na mobilidade especial. Na mobilidade, o salário dos professores cairá para metade do que agora auferem.
 Questionado pelo "CM", o Ministério da Educação não se pronunciou sobre esta medida. O relatório do FMI, noticiado em primeira mão pelo Negócios, já sugeria a colocação de professores excedentários na mobilidade especial. De acordo com os cálculos do Fundo, a colocação de 30 mil a 50 mil professores na mobilidade especial permitiria poupar entre 430 e 710 milhões de euros ao erário público.
 No início do corrente ano lectivo houve cerca 13 mil professores sem horário nas escolas. Com a colocação desses docentes em actividades de apoio, e também a dar formação no IEFP, esse número caiu para 700 em Janeiro.
 Quando o relatório do FMI foi conhecido, o ministro da Educação, Nuno Crato, rejeitou a sugestão de enviar 50 mil professores para a mobilidade especial. Com a intransigência da troika, Crato poderá ser obrigado a aceitar, parcialmente, a ideia".
 
Jornal de Negócios

10.000 professores atirados para a mobilidade

Titula o Correio da Manhã.

quarta-feira, março 13, 2013

Abandono escolar mudou do Norte para o Centro do país

"A taxa de abandono escolar no 3.o ciclo do ensino básico diminuiu significativamente entre 1991 e 2011, mas a sua distribuição geográfica também mudou. Há duas décadas era nos concelhos da Região Norte que se concentravam os piores resultados (com uma taxa superior a 30%). Actualmente esses valores não ultrapassam os 2,55%. Em contrapartida, o desempenho escolar, apesar de ter reduzido em todo o país, deslocou-se para o Centro e o Interior, atingindo variações máximas de 4,9%.
Os dados são de um estudo do ex-ministro da Educação e professor da Universidade Nova de Lisboa David Justino, intitulado “Atlas do Abandono e do Insucesso Escolar em Portugal” e que é hoje apresentado, na Fundação Calouste Gulbenkian, na terceira conferência da EPIS - Empresários para a Inclusão Social.
De acordo com os dados a que o i teve acesso, a média de alunos que, entre os 10 e os 15 anos, abandonou o ensino sem o 9.o ano completo, incluindo os que nunca o frequentaram, desceu de 12,6% para 1,7% em 20 anos. Em 1991 era no Norte que se registava o índice de abandono mais alto (entre os 18,9% e os 33%), sobretudo em concelhos dos distritos de Viana do Castelo, Braga, Vila Real, Porto, Aveiro e Viseu. Passados dez anos, o estudo revela uma diminuição drástica nestas regiões. Mesmo apresentando uma maior incidência a norte, a taxa de abandono mais alta em 2001 concentrava-se principalmente em concelhos dos distritos do Porto, Vila Real e no Norte do distrito de Viseu, oscilando entre os 5,6% e os 9,% (a média nacional neste ano situava-se nos 2,8%).
Já em 2011 assistiu-se a uma nova redução dos valores do abandono escolar no 3.o ciclo, mas também a uma deslocalização das bolsas mais críticas para concelhos do Centro e do Interior, junto à fronteira com Espanha, e ainda no Baixo Alentejo, onde a taxa se situava entre os 2,5% e os 4,9%. No mesmo período, também alguns concelhos da ilha da Madeira e do Algarve (Monchique, Tavira e Vila Real de Santo António) passam a figurar na lista dos que apresentam taxas de abandono mais elevadas, acima da média nacional desse ano (1,7%)".
 
Jornal i

quinta-feira, março 07, 2013

terça-feira, março 05, 2013

Marginais de sábado

"No último fim de semana o povo saiu à rua. Veio clamar por justiça e rejeitar as políticas seguidas por este regime moribundo.
Nas manifestações, em Lisboa, no Porto, e um pouco por todo o país, estava representada uma maioria sofredora, todo um povo que se sente num beco sem saída.
Um beco em que Cavaco, Guterres, Barroso e Sócrates nos encurralaram. Passos Coelho prometeu que nos iria resgatar deste atoleiro, mas apenas tem mantido o status quo, tornando-se assim co-responsável por uma das piores fases da vida da história do país. Esta é a geração mais espoliada nos seus rendimentos, que são transferidos pelo sistema político para os cofres dos verdadeiros donos do regime, bancos, construtores e promotores imobiliários. A política abastardou-se e transformou o orçamento de estado no instrumento que drena os recursos dos pobres para o bolso dos poderosos.
Nas manifestações de sábado marcou presença todo o tipo de portugueses, desesperados, revoltados ou deprimidos, injustiçados, letrados e analfabetos, velhos e novos.
Encontrei mães aflitas que já não têm comida para dar aos filhos, professores indignados porque os seus alunos chegam à escola sem pequeno-almoço, reformados deprimidos porque não têm dinheiro para passear, por via da redução das pensões, a par do aumento do preço dos transportes. Também lá estava a classe média, informada e culta, pois sente que a redução do seu poder de compra é em vão. Sabe que abdica de férias, passeios e almoços apenas para manter negócios criminosos como o das parcerias público-privadas.
Estavam jovens sem futuro, idosos sem presente. Pais e avós amargurados. Marcaram presença emigrantes, desde os que saíram para escapar à fome e à miséria, até jovens qualificados que tiveram de deixar o país porque não têm cá qualquer possibilidade de sucesso. Fartos de incompetência, rumaram a paragens onde a sua carreira depende do currículo e não do padrinho ou da filiação partidária.
Marginalizados da manifestação – os verdadeiros marginais no sábado – foram os partidos, a classe política, os sindicatos e todas as outras estruturas orgânicas do regime. Não havia caciques, todos eram pares. Sentia-se no ar o espírito de Grândola, "em cada esquina um amigo, em cada rosto igualdade".
 
Paulo Morais
CM