sexta-feira, julho 28, 2006

Ministra em baixa

De acordo com o Barómetro Marktest para a TSF e o DN, Maria de Lurdes é agora a ministra mais impopular do governo. Para quem chegou a ser apontada como a principal figura deste governo, não deixa de ser significativo este volte-face. Obviamente que esta baixa se deve à recente trapalhada com os exames que deixou a ministra muito mal colocada perante a opinião pública. Nada de preocupante. Basta que a ministra volte a apontar baterias contra os professores e, por certo, os seus índices de popularidade subirão de novo. Não tem nada que saber: a táctica tem-lhe dado excelentes frutos pelo que ela voltará à carga em breve. Os professores que se cuidem. Novas investidas se perfilam no horizonte.

terça-feira, julho 25, 2006

Um Verdadeiro Descalabro


"ZERO EM GEOMETRIA
42% dos alunos do 4.º ano e 55% dos do 6.º ano, que realizaram prova de aferição de Matemática em 2004, tiveram zero em Geometria.
ÁLGEBRA DE RASTOS
Em 2004 68 por cento dos alunos do 6.º ano que realizaram prova de aferição de Matemática tiveram zero em Álgebra.
COMPREENSÃO NULA
Zero em compreensão de leitura e expressão escrita foi o resultado de 44% das provas de Português do 6.º ano, em 2004.
LÍNGUA DESCONHECIDA
Um terço dos alunos do 6.º que fizeram a prova de aferição de Português tiveram zero em conhecimento explícito da língua."

Correio da Manhã

sábado, julho 22, 2006

A Educação e a Política

"As políticas de educação postas em prática ao longo das últimas décadas tiveram efeitos que só podem qualificar-se de desastrosos.
A eliminação, durante anos, dos exames nacionais no final de cada grau de ensino não democratizou a educação, mas eliminou a noção de mérito e de esforço e acabou por pôr o ensino básico, obrigatório, em concorrência com formas de entretenimento, numa luta desigual que só podia ditar a derrota da escola. Essa forma de ver o ensino depressa o transformou, para os estudantes, numa espécie de pena a cumprir de que nada se espera a não ser a libertação; para as famílias, numa forma de «arrumar» as crianças enquanto trabalham; para os professores, numa luta contra o desinteresse e a falta de estímulo quase generalizadas. É claro que nada é menos democrático do que este estado de coisas, que reserva a qualidade da educação a uma minoria mais consciente, ou que tem a sorte de deparar com uma escola que conseguiu escapar ao marasmo.
O sistema de ensino tem, de facto, que ser meritocrático, o que não equivale a antidemocrático. Pelo contrário, exige-se-lhe ser capaz de procurar e estimular o mérito onde ele existe, uma responsabilidade tanto maior quanto a educação é mesmo o único meio de o conseguir. Como lembrava Peter Drucker num texto memorável que escreveu para o Economist, «a sociedade do conhecimento é a primeira sociedade humana em que a ascensão social é potencialmente ilimitada. O conhecimento difere dos outros meios de produção pelo facto de não poder ser herdado nem doado. Tem de ser adquirido de novo por cada indivíduo e todos partem da mesma total ignorância». Contudo, para que esse potencial de ascensão se concretize, é necessário adquirir o conhecimento: não basta cumprir n anos de ensino obrigatório.
O sistema de ensino tem, além disso, que ser selectivo, o que não quer dizer exclusivo. Compete-lhe perceber as vocações e os talentos e encaminhar cada um para o ramo de actividade em que elas melhor possam desenvolver-se. O desenvolvimento das aptidões específicas compete ao ensino secundário e superior, mas a sua identificação tem de começar no básico. Ser selectivo não implica, porém, «chumbar» alunos (ou «retê-los», para usar a expressão politicamente correcta). Países há em que as retenções são simplesmente proibidas, mas que não deixam por isso de ter sistemas eficientes, meritocráticos e selectivos. Tal sucede porque, à ausência de retenção, equivale um trabalho diferenciado e rigoroso com os alunos em dificuldades que, à saída de cada grau de ensino e definindo a sua evolução futura, defrontam os mesmos exames nacionais exigentes e porque estes são parte da avaliação da própria escola e dos agentes de ensino.
É claro que, neste contexto, compete ao ensino básico uma outra tarefa essencial: como a própria designação o diz, ele é responsável por transmitir as bases de conhecimento essenciais para que os vários talentos possam desenvolver-se e para formar uma sociedade capaz de compreender o mundo em que vive, a um nível que vá para além das telenovelas e do futebol. Essas bases consistem nas três áreas fundamentais sobre que incidem a maior parte dos exames, das análises e do coro de lamentações que os acompanham: as capacidades linguísticas, a matemática e as ciências.
Os resultados que vemos alcançar, tanto no ensino básico como no secundário, mostram que o sistema de ensino em Portugal se perdeu durante demasiado tempo por meandros e que urge fazê-lo regressar ao rumo certo. A desculpa para os maus resultados que consiste em atribuí-los aos meios desfavorecidos de onde os alunos são oriundos é o pior sinal de uma escola que não reconhece que uma das suas responsabilidades fundamentais consiste precisamente em atenuar essas diferenças. Para isso é necessário que, além de exames nacionais exigentes, exista uma muito maior autonomia de gestão e diversidade de meios nas escolas, o que pressupõe, por seu turno, a avaliação dessa gestão.
Tudo isto exige um trabalho difícil e o esforço de todos. Do que seguramente não precisa é de recriminações e de passa-culpas. Os políticos, as famílias, os professores e os técnicos de educação são todos solidariamente responsáveis por remediar a situação. A perda de qualidade das bases do ensino que ocorreu ao longo das últimas décadas torna essa tarefa muito mais difícil. Por um lado, ela também afectou a formação de muitos professores: não são raros, por exemplo, os jovens que optam pelas escolas superiores de educação por não terem conseguido aproveitamento em matemática. Por outro lado, talvez ainda mais fundamental, ela agravou um vezo de séculos da sociedade portuguesa, que se traduz em consignar o espírito científico a uma minoria fechada, enquanto os outros se contentam com observações impressionistas e com a aceitação acrítica de «factos» que de factual só têm o ser assim apresentados por alguém a quem os fazedores de opinião atribuem «autoridade».
Quando uma sociedade se confronta com a transformação a que Portugal está a ser obrigado, fazem-lhe muita falta as capacidades linguísticas e matemáticas para poder adquirir novas competências que as tecnologias modernas não dispensam. Mas mais falta ainda lhe faz a capacidade de discernir entre factos, opiniões e desejos, o que supõe saber usar a informação e não se limitar à preguiça mental de aceitar qualquer dado porque ele confirma as suas impressões ou porque provém de uma «autoridade». Os princípios mais básicos do método científico previnem contra essa atitude, mas estão completamente ausentes do debate nacional. Em vez de lamentar a ausência de diferenciação ideológica no centro do espectro político, devíamos sim lamentar a falta de rigor do debate das questões em que todos estão de acordo quanto aos fins – crescimento económico, um bom sistema educativo, segurança do sistema de pensões – mas onde a análise dos meios exige um cada vez maior discernimento a que muitos continuam a preferir a cegueira ou o oportunismo político."

Teodora Cardoso
Jornal de Negócios

sexta-feira, julho 21, 2006

Maria de Lurdes na Assembleia da República

No mínimo desastrosa é o que se pode dizer da prestação da ministra da educação, ontem na Assembleia da República. Birrenta, arrogante, mal educada, atrapalhada, confusa, tudo adjectivos que lhe assentam como uma luva. O próprio ministro dos assuntos parlamentares sentiu necessidade de lhe dar uma mãozinha no sentido de minimizar os estragos. Ainda assim não o conseguiu. Para muito boa gente que via na ministra um modelo de competência e seriedade deve ter ficado absolutamente desiludida com os últimos acontecimentos. Debaixo de uma capa de excesso de autoritarismo e arrogância esconde-se uma mulher claramente incompetente que não tem condições para estar à frente da pasta da educação. Ela própria começa a denotar cansaço no exercício do cargo, pelo que, estou em crer, se dependesse da sua vontade, o pedido de demissão já estaria em cima da mesa de José Sócrates. Só que ainda há muito trabalho sujo para ser feito, nomeadamente a conclusão do ECD, e o 1ºministro necessitará do seu contributo durante mais algum tempo. Para mal dos nossos pecados e de todos aqueles que se preocupam com a educação neste país.

quinta-feira, julho 20, 2006

Regras na avaliação de professores: se o pai do puto dá nota positiva e a mãe dá nota negativa, o amante de um dos dois desempata

Eduardo Maracangalha, especialista em Ciências da Educação, discorda completamente da iniciativa de colocar os pais a avaliar professores: “implica a formação de mini-orgãos colegiais constituídos pelos pais de cada aluno. Ora um órgão colegial é sempre constituído por um número de membros ímpar porque uma votação não pode ficar empatada. Isso remete-nos para uma situação incómoda visto a nossa estrutura familiar moderna ser nuclear e biparental. Repare que está vedado o direito aos avós, tias, primas desse aluno para avaliar o professor. Esta concepção do Governo desrespeita totalmente o modelo da família tradicional porque não nomeia uma terceira pessoa da família para desempatar. Isto vai estimular ainda mais as relações extra-conjugais, promiscuidade e desigualdade porque um dos membros do casal terá direito a ter mais um amante que o outro porque a soma tem de ser ímpar”. O BISCOITO veio a saber, mais tarde, que este especialista era um professor mascarado.

João Miguel Henrique
www.biscoitointerrompido.blogspot.com

Quanto tempo faltará para a demissão?

Para os lados da 5 de Outubro, o castelo parece estar a desmoronar-se como um baralho de cartas. A contestação é mais do que muita e, desta vez, a ministra dá mostras de estar a perder o ar arrogante e confiante que lhe conhecemos. Enquanto foi dizendo mal dos professores a sua imagem esteve nos píncaros, porque isto de "bater" numa das maiores corporações do país, teve e terá sempre, o beneplácito da sociedade portuguesa que sempre adorou ver os "poderosos" a chafurdar na lama. Acontece que, esta trapalhada com os exames, ainda que de forma não premeditada, mexeu com os interesses de milhares de alunos e aí, Maria de Lurdes, comprou uma guerra com os pais destes. E tendo os pais contra - uma massa incomparavelmente maior do que a dos professores e bem mais poderosa - os problemas tornam-se muito mais difíceis de gerir. A coisa está preta para a ministra e, ou muito me engano, nem a mão amiga de Sócrates lhe vai valer. Quanto muito, valher-lhe-á um balão de oxigénio até ao próximo deslize, ou até o 1ºMinistro perceber que a sua manutenção à frente dos destinos do ME, terá um custo demasiado elevado nas urnas. Nessa altura, o pedido de demissão será o corolário lógico para a sua inegável incompetência.

quarta-feira, julho 19, 2006

A polémica dos exames

A ministra da educação está sob intenso fogo cruzado e dificilmente vai sair incólume desta trapalhada em que o seu ministério incorreu. Justificar a repetição dos exames de Química e Física pela fraca prestação dos alunos não lembra a ninguém. A ser assim, não se percebe porque os alunos não repetem também o exame de Matemática, já que nesta disciplina os resultados ainda foram mais desastrosos. Perante este panorama, aguardo com curiosidade a interpelação da próxima quinta-feira na Assembleia da República.

segunda-feira, julho 17, 2006

Injustiça (II)

Apesar da chuva de críticas a ministra da educação reafirma a excepção decidida para os alunos que fizeram exames dos novos programas de Física e Química do 12ºAno. Mais grave do que errar, é persistir no erro. Não tenho dúvidas que os serviços do ministério sabem que erraram, a própria ministra também terá consciência disso, só que não querem admitir o falhanço na organização dos exames. Desta forma irão ser altamente prejudicados todos aqueles alunos que vão fazer estas provas apenas na 2ªfase. Quando se sabe que no curso de Medicina as vagas são ocupadas por diferenças de décimas, facilmente se percebe a injustiça desta medida. Esta infeliz decisão, estou em crer, vai deixar marcas na imagem da ministra, em especial no universo dos encarregados de educação, que até aqui se têm constituído como um dos seus mais fortes aliados.

sábado, julho 15, 2006

Injustiça

A Fenprof acusou o Ministério da Educação de discriminar os alunos de outras disciplinas ao permitir a repetição dos exames de Química e de Física e exigiu conhecer o parecer que fundamentou esta decisão. E, acrescento eu, com toda a propriedade. Mas faz algum sentido que seja dada uma segunda oportunidade aos alunos da 1ª fase quando os seus colegas da 2ª fase não poderão repetir os seus exames? Independentemente da razão que possa assistir a esses alunos, e acreditamos que a tenham, o que é verdade é que os seus colegas da 2ª fase não podem de forma nenhuma ser prejudicados. Será profundamente lamentável que uma tal decisão venha a ser tomada nesse sentido. Mais uma vez, o Ministério da Educação pretende sacudir a água do capote numa questão em que as culpas lhe devem ser assacadas. E fico à espera de ver a Sra. Ministra assumir a responsabilidade política de toda esta embrulhada, embora saibamos que não o fará!

Inadmissível

Sempre tão lesta a anunciar medidas e a descredibilizar os professores, é no mínimo estranho que a ministra da educação ainda não tenha vindo a terreiro explicar a trapalhada que para aí vai relativamente aos exames do 12ºAno.

sexta-feira, julho 14, 2006

Os incapacitados para o ensino

"A Fenprof já nos explicou com abundantes argumentos que a profissão docente é de "desgaste rápido", o que justifica que possam reformar-se antes de todos os outros trabalhadores. Eu até acredito que seja, em muitos casos, incluindo os de falta de vocação. O problema é que se descobriu há tempos que existia quase centena e meia de actividades no sector público que, invocando o mesmíssimo argumento, beneficiavam também de um "regime especial" na matéria. Até mesmo (isto não é piada) os trabalhadores do matadouro municipal de Ponta Delgada estavam abrangidos.
Agora, e segundo números do Ministério da Educação, constata-se que o desgaste rápido dos professores se acentuou intensamente nos últimos tempos, de tal forma que, no último ano, aumentou em 50% o número de professores declarados permanentemente incapacitados para o ensino. São já alguns milhares, a quem o Ministério tem de pagar a troco de nada. Por isso, a ministra lembrou-sede fazer uma proposta aparentemente simples, lógica e de boa gestão: desviá-los para outras actividades e tarefas na função pública. Mas parece que os Sindicatos não aceitam. A razão é cristalina: quando não pode ou não quer dar aulas, a um professor só pode ser atribuída a tarefa de... não dar aulas."

Miguel Sousa Tavares

quinta-feira, julho 13, 2006

A saga continua

A verdade é dura e cruel: sejam quais forem as medidas que se tomem no combate ao insucesso na Matemática, o que é certo é que os resultados continuam um desastre. E a confirmar esta afirmação estão aí as classificações no exame do 9ºAno: 64% de níveis negativos é um número assustador que envergonha o País.
E se na Matemática é o que se vê, na Língua Portuguesa os resultados alcançados não são motivo para nos deixar orgulhosos. Longe disso! Se é verdade que 54% dos alunos conseguiram uma avaliação positiva, também não é menos verdade que esta percentagem decaiu 23% relativamente ao ano passado. E convenhamos que pouco mais de metade com classificação positiva é um número que está longe de satisfazer.
Mais uma vez voltamos a estar perante resultados que embora confrangedores não surpreendem ninguém. Muito menos os professores. Estes há muito que sabem onde reside o problema. Infelizmente o Ministério da Educação continua a assobiar para o lado com medidas inconsequentes e demagógicas. E assim, no próximo ano, os resultados repetir-se-ão. Vai uma aposta?!

terça-feira, julho 11, 2006

Da escola ao desemprego

"Há 30 ou 40 anos, a questão que se levantava a quem tinha acabado o liceu era "como é que eu vou conseguir entrar na universidade?". A pergunta que hoje se põe a quem termina o secundário é "o que é que eu vou fazer quando sair da universidade?".
Que a alteração é substantiva já todos se deram conta. Talvez valha a pena pensar é nas causas da mudança. E o que mudou? Tudo! Há 30 ou 40 anos, a oferta era pouca e, como tal, a selecção dos candidatos, muito rigorosa. Apenas uma minoria conseguia os seus objectivos - entrada na universidade - e o mais grave é que os critérios de selecção nem sempre eram os de mérito, do empenho e da competência; também se ponderavam critérios como o estrato social, a confissão política ou religiosa e sempre o critério financeiro. Hoje a oferta é muito superior à procura, logo a selecção deu lugar à angariação. Apregoam-se cursos como quem vende castanhas, publicitam-se universidades, politécnicos e institutos superiores ao melhor estilo de uma qualquer imobiliária. O critério de admissão que hoje se pratica em muitas instituições (sobretudo no ensino superior privado e cooperativo), é único: "critério financeiro". Por hoje, mais fácil do que entrar numa qualquer universidade, só me lembro de como se entrava para a tropa no tempo da Guerra Colonial: serviam todos!
Daqui decorre que se acusa o regime, de há 30 ou 40 anos, de ser elitista e injusto. Estou de acordo! Mas...e agora? Será que deixou de ser elitista, burguês, injusto e até antidemocrático? Penso que não! Mas que tem perdido qualidade e com isso credibilidade, disso não tenho dúvidas. lembram-se daqueles quatro anos em que os professores nos obrigaram a saber a tabuada, a não dar erros de ortográficos, a saber na ponta da língua todas as dinastias (incluindo os cognomes dos soberanos) e a conseguir redigir sobre um tema proposto? Não se fazia então (com crianças de 9 /10 anos)um exame da 4ª classe, um exame de admissão ao liceu e outro exame de admissão à escola técnica? Tudo no espaço de um mês? E alguém morreu por causa desses excessos hediondos? Penso que não.
Mas afinal o que é que se obtinha com todo esse esforço? Muita coisa, respondo eu. Sentido de responsabilidade e noção do dever; disciplina e perseverança; cultura geral e capacidade de raciocínio. Salvo raras e não muito honrosas excepções, passavam os bons, continuavam os estudos os melhores e mais aplicados, entravam na universidade os mais aptos. Em conclusão, hoje o que temos? Os adolescentes, sem bases académicas minimamente aceitáveis, fogem da Matemática, evitam o Português, recusam a Geografia e renegam a História. Não pensam desde logo num curso como uma ferramenta de futuro, mas sim como um reurso cómodo para prolongarem uma adolescência errante. Em muitos casos, a universidade e o ensino superior funcionam tão só como um paliativo que retarda a chegada ao desemprego, tantas e tantas vezes antecâmera do submundo.
Culpa desta geração que já muitos apelidaram de "rasca"? Sim, mas não só! Creio eu que mais do que uma geração "rasca" esta é uma geração "à rasca" e aí parte da responsabilidade é nossa. As sucessivas políticas de fuga para a frente e de facilitismo que os Governos nos têm impingido em nome de uma qualquer pseudo democratização do ensino degeneraram no descalabro que hoje claramente todos reconhecemos e poucos admitem.
E se é verdade que há 30 ou 40 anos o simples facto de ter um "canudo" era só por si um factor de diferenciação, que regra geral conduzia a uma vida estável, tal facto tem uma explicação: o mercado reconhecia nesses indivíduos aptidões e competências seguras, pelo que os absorvia sem grande dificuldade. Hoje, fruto dos interesses estatísticos que uma construção europeia alicerçada em enormes discrepâncias e assimetrias (culturais, sociais e económicas) ditam, assistimos a uma massificação não qualificada do ensino superior. e ao mercado não se mente já que ele se apercebe destes factos. E é aqui que esbarramoscom o problema que parece paradoxal: Portugal tem das maisbaixas taxas de licenciados da Europa (já nem falamos de graus académicos superiores) e ainda assim cresce assustadoramente o desemprego nas camadas dos jovens licenciados.
O que poderá então justificar este facto? Erros e mais erros, cometidos de forma aviltante por quem nunca teve a coragem de assumir que os problemas do ensino são de natureza conjuntural e estrutural profundas e que não se compadecem com reformas sectoriais, concebidas para apresentar resultados dentro de um qualquer ciclo político. O ensino, é antes de mais, um processo contínuo, alicerçado numa aprendizagem constante que nos deve acompanhar ao longo de uma vida. Alterar as regras a meio do jogo não ajuda, só confunde e prejudica.
Assuma-se com pragmatismo que será necessária uma geração para garantir uma mudança de qualidade, integrada e sustentada de todo o sistema de ensino em Portugal. Discuta-se o tema, chegue-se a uma conclusão (consensual ou simplesmente maioritária) e depois implementem-se as reformas necessárias. Criem-se as condições de base e depois sim, depois discuta-se a implementação de um qualquer tratado de Bolonha. mas só quando estivermos aptos. Não vale a pena continuarmos a enganar por mais tempo e a hipotecar ingloriamente o futuro de mais gerações."


Carlos Roda

Professor Universitário

domingo, julho 09, 2006

Leia Sra. ministra

A propósito do Campeonato do Mundo de Futebol, e da excelente participação da selecção portuguesa, Manuel Ferreira Leite, faz, no "Expresso", uma série de considerações que deviam merecer por parte da nossa ministra da educação uma leitura atenta. Vejamos alguns exemplos:

-"Um aspecto que salta logo à vista é que se a estratégia está bem definida e, além disso, bem compreendida por todos os jogadores, eles agem como um grupo coeso, os passos fazem sentido e os resultados começam logo a ver-se. Há excelentes defesas, há contra-ataques certeiros, há atitudes de grande controlo do jogo e das emoções. Os jogadores estão concentrados e sabem o que fazer. Ao contrário, se cada jogador não está seguro das tácticas a adoptar ou se não estão preparados para o modo de agir dos adversários, desorientam-se e só com sorte não sofrem golos".

-"Um outro factor importante é a disciplina e as consequências da falta dela. Um jogo que decorre sem agressões ou golpes e rasteiras e se acata as decisões do árbitro corre num clima muito mais propício ao sucesso do que outro em que andem com os nervos à flor da pele".

-"Por outro lado, a confiança no treinador, a empatia e a capacidade de liderança nos momentos mais críticos são talvez dos aspectos mais decisivos para o sucesso. Não é o medo que dá força às pessoas, não é a desconfiança ou a ameaça, não é o receio de perder. O que dá força para avançar é a certeza que o chefe deu as orientações certas, é conhecedor do assunto e é parte integrante da equipa, partilhando com eles alegrias e derrotas. É ter empatia com os grupos que orientam".

sábado, julho 08, 2006

A Educação da Ministra

"Declaração pessoal de interesses: dois filhos, a frequentar o ensino básico e secundário. Professores entre familiares e amigos. Professor no ensino superior desde 1988.

Posto isto, mantenho em relação à pessoa da Sra. Ministra da Educação a opinião que há uns meses aqui lavrei. Continuo convencido de se tratar de alguém que genuinamente procura desenvolver um trabalho corajoso e meritório. Num contexto muitíssimo difícil.
O que há muitos anos me vem incomodando é que a apreciação que faço da pessoa de Maria de Lurdes Rodrigues é, com ressalva de ténues nuances, a mesma que fiz de outros que a antecederam. Para refrescar memórias, cito José Augusto Seabra, Roberto Carneiro, Manuela Ferreira Leite, Marçal Grilo, Oliveira Martins, Augusto Santos Silva, Júlio Pedrosa ou David Justino. Entre outros.
A todos tomei - e tomo - por pessoas competentes, sérias e íntegras. Firmemente dedicadas, empenhadas no que acreditavam ser o melhor contributo que poderiam prestar ao País. Em relação a cada um deles, ficou-me quase sempre gravada a percepção de que desejariam ter ido mais longe.
Mas debalde. Ainda que vasculhemos o armário em busca de «casos de sucesso’, nenhum daqueles homens e mulheres deixou qualquer marca que a sociedade hoje reconheça como exemplo. Genuinamente, nenhum deles reformou o sistema - por convicção política, por acomodação ou porque a ousadia lhes foi cerceada.
A conclusão a que se chega é que o drama da Educação há muito que deixou de ser uma questão de ministro. O problema não está na Ministra da Educação. Está, isso sim, na Educação da Ministra. Está na Educação dos que, em longa procissão, a antecederam no lugar. Por outras palavras, está na concepção geral do sistema e no indevido papel que todos eles reconheceram ao Estado na Educação. Concepção essa de que Maria de Lurdes Rodrigues partilhará, o que é garantia quase certa de que muito pouco - ou quase nada - poderá vir a mudar para melhor. Uma certa vocação dos portugueses para polícias e juízes explica que a Ministra esteja de novo sob fogo. Mas só em parte. Muito mais importante é a constatação de que o «cadeirão’ sito à Avenida 5 de Outubro é um quase absoluto vazio de poder. Na verdade, embora responsável por tudo quanto se passa no sistema educativo, a Ministra não dispõe de qualquer poder de intervenção estruturante no dito sistema.
A razão primeira deste juízo decorre da óbvia ingovernabilidade da infernal máquina administrativa em que o Ministério da Educação se transformou. Um cancro multi-resistente, com metástases profundas e dispersas. Milhares de funcionários, centenas de milhar de professores, milhões de alunos e pais, largos milhares de estabelecimentos de ensino, do Minho ao Algarve. Tudo isto entre cantinas, manuais escolares, acção social, exames, concursos, estatutos de carreira, programas curriculares, aberturas de ano lectivo, avaliações externas, etc. etc.
Vai ainda Maria de Lurdes Rodrigues a tempo de marcar a diferença para melhor? Pelas suas características pessoais, valeria o benefício da dúvida. Mas seguramente que não marcará qualquer diferença se prosseguir pelo caminho que vem trilhando. Nada de estrutural se conseguirá mudar na Educação sem efectivo poder. Por paradoxal que isso pareça, a Ministra só tem uma via para tentar recuperar esse poder: diminuir drasticamente a dimensão do seu Ministério. Desmembrar essa monstruosa máquina administrativa que a tolhe. Para isso, terá que ousar pôr em causa todo um rol de mitos que enformam toda uma concepção anquilosada do papel do Estado na Educação.
O Estado não tem que produzir educação. Não tem que empregar professores. Muito menos tem que assumir a responsabilidade de colocá-los em escolas por via de um regime de roleta, deportando-os massivamente de região em região. Não tem que decidir sobre manuais escolares e seus conteúdos. Não tem que interferir na governação das escolas. Não tem, sequer, que ser proprietário de escolas.
Enquanto a Sra. Ministra não perfilhar e puser em acção uma ampla reforma visando a descentralização do ensino, do pré-escolar ao secundário avançado, não possuirá qualquer poder real de acção sobre o sistema. Uma descentralização efectiva e real, à escala municipal, ou em âmbito regional - eis um excelente desafio para todos quantos pugnam pela descentralização administrativa no país.
Acredito ser possível vencer o desafio da Educação num sistema descentralizado. Em que o Estado não pontue obstinadamente como (medíocre) produtor compulsivo, mas, ao invés, em que lhe caiba a missão de um regulador atentíssimo, com mão-de-ferro sobre prevaricadores. Só confio num sistema em que as escolas gozem de plena autonomia. Autonomia na contratação de professores, genuinamente motivados. Na admissão e na avaliação dos alunos. Na administração de poderes disciplinares. No planeamento de actividades lectivas e extra-lectivas.
Acredito em escolas - e em redes de escolas locais, públicas ou privadas, o que menos me importa é quem produz - submetidas a uma sã gestão confiada a gestores imputáveis nos sucessos e nas falhas. Acredito nos estímulos de uma saudável rivalidade e competição entre escolas. Acredito que só um sistema descentralizado poderá estimular a assunção de responsabilidades educativas pelo binómio escola-família. E acredito num sistema em que os pais gozem sempre da soberana prerrogativa de escolherem a quem confiam os seus filhos.
No quadro de um sistema educativo descentralizado, muito sobra ao Estado para assegurar. Garantir a equidade de acesso de todos ao sistema, a qualquer escola e a qualquer área de ensino, suportando encargos com a inerente acção social. Estabelecer referenciais exigentes em matéria de qualidade das escolas e orientações gerais sobre o ensino. Assegurar a administração de exames nacionais obrigatórios no termo de cada ciclo. Fiscalizar e inspeccionar activamente todo o sistema e agentes que nele intervêm. Parece pouco? É muito. É missão nobre e difícil. E devolveria ao Ministério o poder de actuação de que ele hoje não dispõe.
Rezam as más-línguas que, sentada no dito «cadeirão», Manuela Ferreira Leite terá um dia desabafado, batendo com o tacão no soalho do último andar do prédio: «Daqui para baixo, eu não mando nada.» Pode nem ser verdade. Mas ninguém estranharia que fosse. Inteligente como revela sê-lo, Maria de Lurdes Rodrigues já terá chegado à mesma conclusão.
E agora, Maria de Lurdes? "

Ricardo Cruz, professor do ensino superior

terça-feira, julho 04, 2006

Sociedade, indisciplina e violência na escola

"Toda a gente se apercebe que nesta sociedade extremamente competitiva, cruel, permissiva e violenta em que vivemos, as boas maneiras, a educação, o civismo, o respeito para com os mais velhos vai perdendo lugar enquanto entre os jovens cresce a deseducação, o desnorte e a intranquilidade, intranquilidade esta “abafada” no consumo do álcool e no vício das drogas mais pesadas que arrastam para a perdição e para “becos sem saída”. Introduzidos nestas vivências infernais, muitos jovens demandam a escola e os problemas não tardam a surgir: roubos, agressões, injúrias, insultos, ameaças, vandalismo, brigas, intimidações, chantagem, violência. É o “ pão nosso de cada dia”, mais acentuado em certas escolas inseridas em zonas de risco ( e não só) e bairros populacionais degradados. Não admira, pois, que a escola seja o espelho da sociedade permissiva e conflituosa em que vivemos. Como se constata os valores éticos e espirituais têm definhado— a generalidade dos nossos jovens nemsabe o que isso é ( e o que representam para o enriquecimento das suas vidas), embrenhados e aturdidos que estão no consumismo doentio e no gozo fácil e sem peias de espécie alguma. Paralelamente tem-se instalado a competição desenfreada e selvagem, a excessiva obsessão pelo lucro ( tudo quer ser rico!), o espírito tecnocrata e o (tal) milagroso “ choque tecnológico”, qual “ Deus ex machina”, modernidade salvífica apregoada pelo engº José Sócrates.No entretanto, a realidade revela-se medonha e preocupante.. A instituição familiar, esteio para que uma sociedade se possa organizar devidamente, tem vindo a desmoronar-se e a desagregar-se, contribuindo para a fragilização, para a vulnerabilidade e o vazio existencial dos jovens. Por consequência, cresce exponencialmente o número de separações e divórcios, enquanto, por outro lado, se assiste à pura macaqueação de tipos de vida familiar que dispensa a união de sexos opostos. Estes protagonistas de sexo igual “ acasalam” e insistem na espuriedade dos seus direitos(!?) que vão ao ponto, entre outras aberrações, de pretenderem adoptar crianças...( De lembrar que na Holanda já existe a pretensão de formar um partido político, defensor da pedofilia e de sexo com animais!— Vade retro, Satanas). E o que mais se verá de abjecto e repugnante! Com esta turva realidade, terá a escola de ser o receptáculo cloacal onde desaguam todos os miasmas fétidos exalados pelos problemas económicos e sociais que o poder político, o governo não quer ou não pode resolver? Terá de ser um armazém onde os pais deixam os alunos abdicando de os educar e de lhes ensinar boas maneiras?“O que a escola rejeita a prisão recebe”, afirmou, com alguma dose de verdade, uma luminária das sibilinas “ciências da educação”, com responsabilidades no departamento do ministério da educação .Na verdade, a escola “tem as costas largas”. Será que, doravante, o papel da escola é substituir-se aos pais, à polícia, aos psiquiatras e aos tribunais próprios? Um director regional-adjunto ,defendeu, há uns anos atrás, com uma ligeireza impressionante que ,“os funcionários e os docentes têm de estar preparados para lidar com situações de indisciplina e violência”. Bonito de dizer ! Mas como!? (não sei se, no seu profundo pensamento, não estaria a pensar em munir os professores de pistolas e armas brancas !... não sei!).Que medidas é que os funcionários devem tomar com alunos que os insultam constantemente, que os agridem e que diariamente perturbam o funcionamento da escola, vandalizando as instalações?Que medidas é que os professores podem tomar com jovens malcriados, com jovens meliantes, gozando de total impunidade, que provocam e insultam (quando não os agridem fisicamente), perturbando constantemente o desenrolar e o ambiente na sala de aula , não permitindo que os outros colegas aproveitem a explanação/interacção desenvolvida pelo professor?Que medidas estratégicas de integração se podem adoptar com miúdos useiros e vezeiros na má educação, na indisciplina e nos comportamentos violentos? Existem alunos para quem a escola nada lhes diz por bem que se insista nos currículos alternativos ou nas adaptações curriculares e por bem que os professores, ridiculamente, representem o papel de “entertainers”, de palhaços ou animadores culturais. Contudo, o ministério continua a impôr a escolaridade obrigatória para estes alunos (!?) quando deveriam, bem cedo, ser encaminhados para o mundo do trabalho, aprendendo, previamente, uma arte, um ofício, uma aptidão em escolas específicas e adequadas. A não ser assim os alunos problemáticos, dentro da escola, vão continuar a semear vícios, a alimentar a indisciplina e a gerar a violência. E os desgraçados dos professores terão de os aturar, sujeitos à grosseria, às ameaças veladas e directas, ao achincalhamento e à agressão.Desta forma, a escola ao não rejeitar torna-se, ela própria, um lugar indesejável, um verdadeiro suplício onde os professores não conseguem disfarçar um crescente desencanto e mal-estar, agravado com a falta de vigilância , a falta de auxiliares de educação interventivos e a falta de sensibilidade desta ministra da educação que se lançou numa verdadeira cruzada contra os “infiéis” (que serão os professores), esquecendo os “bárbaros” (que são os alunos). A juntar ao ramalhete refira-se a pusilanimidade na actuação dos conselhos executivos na (não) resolução dos problemas— a legislação também não ajuda. Enreda. Adia. Disfarça. Protege. Contemporiza. Dificulta. Alguém tem dúvidas?Por isso a escalada da violência vai, por certo, continuar, uma vez que a indisciplina e os comportamentos agressivos nas escolas não serão resolvidos( oxalá me engane).(Para desalento dos professores e para gáudio dos meliantes e dos “gangs” juvenis que continuarão, impunemente, a semear a perturbação e a intranquilidade).São os pedagogos iluminados— autênticos comissários educativos do ministério— que o dizem. Não será demais repetir a conclusão extraordinária de um desses pedagogos que passo a citar: “ a indisciplina e os demais comportamentos disruptivos e desviantes fazem parte integrante de uma escola que se quer universal, democrática e livre”. Fórmula eufemística de transmitir (e assegurar) que a turbulência, a bandalheira, a falta de educação, a insolência e os demais comportamentos desembestados dos jovens, potenciando a agressividade e a violência, deverão ser vistos e “apreciados” como “fazendo parte integrante de uma escola que se quer universal, democrática e livre”.Livre, porque a mentalidade é favorável ao “é proibido proibir” e ainda estará presente nas distintas análises dos pedagogos das ciências da educação que ainda continuam, qual nefelibatas, no “mundo das ideias” e na pedagogia romântica do bom selvagem, sem descerem à realidade do dia-a-dia de muitas e muitas escolas. Que não é aquela realidade melíflua que julgam."

António Cândido Miguéis
(Professor)
Vila Real
("O Primeiro de Janeiro")

segunda-feira, julho 03, 2006

A controversa ministra e o estado do ensino em Portugal

"Desde que Maria de Lurdes Reis Rodrigues assumiu o cargo de Ministra da Educação, o ensino, no nosso país, não tem dado mostras de ter saído do estado comatoso em que se encontra.. É evidente que a senhora ministra com as desfocadas políticas educativas introduzidas, não teve como escopo os alunos, mas, tão-só, preocupou-se mais com os professores considerados como o “bode expiatório” de políticas erráticas e desajustadas do Ministério. Estamos no final do 3º período e já se poderá verificar que a infeliz e peregrina ideia de tentar “prender” os professores na escola para além da componente lectiva, revelou falta de bom senso e falta de imaginação no atacar dos problemas que, verdadeiramente, afligem o ensino no nosso país. Para além da medida ressumbrar laivos de autoritarismo, ainda hoje a srª ministra insiste, de forma infeliz, em atribuir, exclusivamente, o insucesso escolar aos professores quando as causas desse insucesso são bem mais complexas. Na verdade, não é sobrecarregando os docentes para além do aceitável, que o ensino melhorará com medidas avulsas e bem intencionadas, mas de eficácia reduzida ou nula. Os alunos já dispõem do seu horário com as diversas disciplinas. A razão de os professores “existirem” está directamente relacionada com as disciplinas que, equilibradamente, leccionam. Por sua vez, os nossos alunos têm uma carga horária exagerada, como já reconhecia o ex-ministro da Educação, David Justino. De lembrar que o doutor David Justino era favorável a uma redução da componente lectiva nos horários dos alunos (fusão de algumas disciplinas, desaparecimento de outras, etc), mas ninguém teve a coragem política para implementar e/ou reformular os currículos, afim de se reduzir essa carga lectiva que, hoje, contribui ainda mais, para o insucesso escolar. Para além de, não nos esqueçamos, uma escola massificada proporcionar e gerar sempre bastante insucesso escolar. Que se poderá atenuar ligeiramente, aqui e ali, mas estará omnipresente. A excelência não se dá bem em escolas massificadas e superlotadas. Poder-se-á mesmo acrescentar que ”o facto de os alunos no nosso país apresentarem um desempenho pouco satisfatório em termos de comparações internacionais, para além das ineficiências intrínsecas do processo educativo nacional, parece estar fortemente correlacionado com o baixo nível médio de qualificação dos pais e também com a menor riqueza do país. Ou seja, factores que não poderão ser facilmente alterados no curto prazo “---- vide ,” Razões para o fraco desempenho dos alunos portugueses” de António Afonso e Miguel St. Aubyn, professores de Economia no ISEG / Universidade Técnica de Lisboa. Mesmo citando o estudo destes docentes, convirá não esquecer que a escola (irracional) pública apresenta horários que vão das 8.30 h às 17.30, perfazendo mais de 36 horas de aulas. Depois ainda se desejam aulas de apoio destinadas a alunos que não ligam nada e o que querem é brincadeira? Salas de estudo? Centros de explicação? Com que tipo de alunos e a que horas?Mas, serão todas as medidas que a srª ministra quer levar por diante, descabidas e desajustadas da realidade? Naturalmente que não. O reforço das aulas de Matemática e a introdução do Inglês nos primeiros anos de escolaridade serão, a priori, medidas ajustadas desde que salvaguardados determinados requisitos. Já as aulas de substituição nos actuais moldes não se justificam e têm sido um fiasco. Outra boa medida será a revisão da formação académica dos professores (é de lembrar que há formação para todos os gostos e feitios, em instituições e organismos diversificados quer a nível de exigência e rigor, quer a nível de formação pedagógica), a monitorização dos métodos utilizados na sala de aula e a aprovação do alargamento dos cursos tecnológicos e profissionais. Estas medidas se forem levadas a sério--- veja-se o flop e o logro que, de uma forma geral, têm constituído os designados cursos do PIEF (Programa Integrado de Educação e Formação) frequentados por alunos problemáticos e insubordinados e o PEETI (Plano para a Eliminação da Exploração Infantil) de ineficaz e reduzido proveito para os alunos---, serão bem vistas pelos professores e terão a aprovação dos mesmos. Como será de enaltecer a introdução de medidas urgentes que visem obstar a passagem de alunos, mormente aqueles que provêm das escolas primárias e ingressam no ciclo sem, praticamente, saberem ler e escrever e sem conseguirem efectuar operações de multiplicação e divisão! E depois transitam para o 3º ciclo com enormes dificuldades de aprendizagem. A gravidade acentua-se, qual efeito dominó, no ensino secundário onde, nos alunos, são visíveis e detectáveis enormes défices no conhecimento/formação ou nas competências/raciocínio lógico. Dificuldades que continuam a projectar-se no ensino superior e no ensino universitário. Ou seja, a formação dos nossos jovens é deficitária e não corresponde ao pretenso sucesso educativo que o Ministério apregoa e tenta fazer passar. E, depois, o paradoxal acontece. A mão-de-obra na construção civil, nos trabalhos mais pesados e sujos que ninguém quer e todos evitam é assegurada pelos ucranianos, por cidadãos vindos de Leste (muitos deles com formação universitária!), enquanto muitos portugueses sem formação específica ou com parcas habilitações literárias recebem subsídio de desemprego (para não trabalharem), dilatando a despesa do Estado. A juntar a esta realidade deparamos com a pretensa obrigatoriedade dos jovens frequentarem a escola até ao 18 anos, o que se afigura um erro, visto que muitos jovens andam iludidos, sem verdadeiro apego ao estudo, permeáveis à mandranice e ao vício, quando bem cedo deveriam ser orientados para a frequência dos cursos tecnológicos e profissionais, sabendo-se de antemão, que, neste aspecto, o Ministério da Educação também não tem capacidade de resposta para a formação de milhares de jovens que, desta forma, se vêem obrigados a depender economicamente dos pais, enquanto procuram um emprego ( que não existe ) ou, então, decidem emigrar para a Espanha, França, Holanda, Suiça, Inglaterra, Canadá... Enquanto isso os trabalhadores de Leste e das nossas ex-colónias ocupam os lugares que, em princípio, lhes estariam destinados. Não admira, pois, que Francisco Sarsfield Cabral, no “Diário de Notícias” do passado dia 16 de Novembro do pretérito ano, afirmasse que “ os portugueses rejeitam muitos postos de trabalho que lhes são oferecidos em Portugal. Estes têm, assim, de ser ocupados por imigrantes. Mas aceitam trabalhos desses no estrangeiro, onde são mais bem pagos “.Esta é um pouco a realidade laboral e social do país. E, como esta realidade não fosse preocupante, tem-se assistido, continuamente, a uma ofensiva da srª ministra da educação contra os professores (onde está a solidariedade da ministra para com os docentes quando estes são agredidos pelos alunos e pelos pais desses mesmos alunos?). Nas medidas que a srª ministra tem executado, “ esqueceu-se” de uma realidade: a indisciplina e a violência que grassa nas escolas -- numas mais, noutras menos---, e a desconcertante falta de autoridade dos professores. Neste aspecto, convirá lembrar à srª ministra que o governo inglês defende que os professores precisam de ter mais direitos para lidar com os estudantes indisciplinados para poder castigá-los adequadamente. E em Portugal, srª Ministra, o que está a ser feito? Nada, não é? Para a socióloga Maria de Lurdes Rodrigues o que é imprescindível e necessário é “ reter”, “aprisionar” os professores nas escolas para mostrar aos pais dos alunos--- esquece-se que os docentes também são pais---, que os professores até trabalham, essa privilegiada(?) e rica classe(?) que nada faz a não ser dar aulas ...E, não satisfeita, a srª Ministra vai sacrificando os professores que, por razões óbvias e naturais, foram, ao longo dos anos, obtendo redução no seu horário de trabalho, presenteando-os, agora, com- um- inimaginável- horário- igual- àquele -que -tinham -em –início- de -carreira! Que paciência, que motivação, que capacidade física e psíquica terão estes professores para suportarem a insolência, a má educação, a indisciplina e a violência da escola democrática massificada, escola onde o professor é sistematicamente desrespeitado, desautorizado, insultado e, por vezes, agredido! Para além das viaturas dos docentes, em muitos casos, serem vandalizadas nesta sanha juvenil ,com riscos, fortes amolgadelas, pneus furados, vidros partidos... Os pedagogos oficiais do ministério da educação e a equipe ministerial não se convencem de que a escola não pode colmatar todas as falhas da sociedade que o poder político não pode ou não sabe resolver. E insistem nas medidas desconexas e irrealistas.Por isso, enquanto se persistir na desconfiguração da profissão dos docentes, tentando reduzi-los à condição de tarefeiros, “palhaços” para entreter meninos e meninas, burocratas, auxiliares de educação ou tapa-furos; enquanto o Ministério ignorar que a violência, a indisciplina e o mau comportamento perturba sobremaneira o desenrolar das aulas; enquanto se persistir na falta de autoridade do professor e este estiver espartilhado e maniatado na sua acção ; enquanto este Ministério persistir, sob a tutela da socióloga Mª de Lurdes Reis Rodrigues, na ofensiva contra os docentes, amontoando-os nas escolas durante várias horas à espera de Godot, travestido no almejado (in)sucesso educativo, o mal-estar e a crispação nas escolas continuarão. Pretender sucesso educativo, lato sensu, no ensino democrático massificado será o mesmo que pretender que o novo Airbus A 380 tente atingir a Lua...à outrance.Compreensívelmente não é congelando as progressões nas carreiras, nem é aumentando a idade de reforma para os inaceitáveis 65 anos ou mais !?? (com os alunos delinquentes, insubordinados e insolentes que temos!?), nem é alterando, para pior, o Estatuto da Carreira Docente que se encontrarão, nas nossas escolas, professores motivados, satisfeitos e empenhados. A abulia, o desencanto e a revolta têm alastrado e os professores não deixam ( nem deixarão) de se sentir humilhados e ofendidos na sua dignidade profissional.Acresce que os nossos alunos, de uma maneira geral, continuam a não interiorizar hábitos de estudo, de trabalho sério, sacrifício, exigência, empenho e dedicação. E, como não interiorizam, a culpa gruda-se nas costas largas dos professores que não sabem lidar com os meninos, muitos deles provindos de famílias problemáticas e desestruturadas... Enquanto isso, os docentes desesperam e sentem-se desconsiderados porque a escola portuguesa tem sido um enorme armazém lúdico-recreativo onde os pais depositam os filhos (que podem fazer o que muito bem lhes aprouver) para mortificarem os professores. Entrementes, o aluno continua(rá) no “trono”, o professor no “inferno”, o ministério, em particular, continuará demencialmente a aplaudir, enquanto vai prosseguindo a sanha persecutória em relação aos professores, e os políticos, na generalidade, continuarão, bojudamente, a divertir-se com a “tourada” educativa. Tourada educativa que eles criaram e continuam a patrocionar."


*António Cândido Miguéis
Professor
Vila Real