domingo, janeiro 30, 2011

Tensão social aumenta agressividade na escola

"Pais e professores são unânimes: o agravamento das condições sócio-económicas das famílias está a contribuir para o aumento da agressividade nas crianças e jovens. Mas consideram que a punição por si só não é solução para acabar com a violência nas escolas.

A intenção do Governo de criminalizar a violência escolar não é consensualmente acolhida por pais e professores, mas num ponto estão de acordo: penalizar unicamente não é suficiente para um criar um clima de paz no espaço escolar.

Hoje, domingo, assinala-se o Dia da Não Violência na Escola.

Albino Almeida, presidente da Confap (Confederação Nacional das Associações de Pais) considera que criminalizar a violência escolar, mesmo que a lei seja aplicada apenas aos maiores de 16 anos, é "uma confissão de fraqueza inaceitável". Isto porque, segundo Maria José Viseu, da CNIPE(Confederação Nacional Independente de Pais e Encarregados de Educação), "quando se chega a uma situação de extrema violência, é porque tudo o resto falhou".

Embora os dados de 2010 ainda não tenham sido divulgados, a superintendente Paula Peneda, directora do Gabinete Coordenador da Segurança Escolar do Ministério da Educação, diz que "desde há três anos, os números têm vindo a diminuir". "Felizmente, não temos casos extremos de violência, como homicídios", sublinha.

Mas pais e professores dizem estar a assistir a um incremento da agressividade por parte das crianças e jovens, "mas também de algumas famílias", adianta Manuel Grilo, da Fenprof (Federação Nacional dos Professores).

"Actualmente, encontra-se com mais frequência violência dos pais contra os professores, que resulta muitas vezes do desespero das famílias e do agravamento da situação social", explica este dirigente sindical. "Os ritmos e os horários de trabalho desumanos e o medo de perder o emprego faz com que os pais não consigam acompanhar os seus filhos e as crianças e os jovens acabam por se sentirem desacompanhados".

João Grancho, presidente da ANP (Associação Nacional de Professores), concorda com a criminalização da violência escolar, quando se tratarem de situações de ameaça à integridade física grave, mas também um acompanhamento sistematico dos alunos. "Não basta punir os jovens, é preciso apontar-lhes um caminho, levá-los a reflectir sobre o seu comportamento", refere.

Todos apontam como uma das soluções a criação de equipas multidisciplinares nas escolas, que envolvam pais, alunos, doentes e pessoal não docente. Melanie Tavares, coordenadora dos Gabinetes de Apoio ao Aluno e à Família do Instituto de Apoio à Criança, disse, ao JN, que em escolas onde têm vindo a intervir "a indisciplina baixou 90%".

"Muitas vezes, as escolas não são espaços atractivos. São muito intelectuais, quando os jovens são muito físicos", acrescentou, defendendo a aposta em actividades extra-curriculares que sejam apelativas aos alunos".

JN

O sequestro das criancinhas

"Quando a dra. Isabel Alçada condenou que se manipulassem meninos e meninas para fins de propaganda e difusão de falsidades, julguei que a senhora ministra decidira trocar o cargo pela frontalidade e denunciar um estilo que, não sendo inédito, marcou os últimos tempos da Educação (digamos) em Portugal. Durante uns instantes, dei por mim a admirar intensamente a coragem da dra. Alçada e cheguei mesmo a esboçar uma ode em seu louvor. Depois li o resto da notícia e os versos foram para o lixo.

Afinal, a dra. Alçada apenas discorda do uso de alunos num protesto contra a redução das subvenções às escolas privadas ditas com contrato de associação. Não se opõe a que os mesmos alunos sejam, por exemplo, aparafusados diante do Magalhães e ensinados a jurar os méritos da geringonça na presença do primeiro-ministro e das câmaras televisivas. Quando o Governo se serve dos fedelhos, trata-se de divulgação de "boas práticas" (belíssima expressão). Quando são os pais a se servirem, trata-se de vil propaganda.

Embora suspeite que constituem uma alternativa, mais barata para o contribuinte, às limitações das escolas públicas "normais", não tenho opinião formada sobre as escolas de gestão privada com apoios públicos (ao que parece, os pais têm: preferem-nas). Mas a violenta diferença dos "cortes" que as segundas sofreram face às primeiras e a selectiva indignação da dra. Alçada traduzem algo mais decisivo: a verdadeira tutela das criancinhas.

Sempre empenhado em crescer, porque as clientelas o exigem e porque é esse o seu desígnio, o Estado decide as escolas em que as criancinhas devem "estudar", as manifestações em que as criancinhas devem participar, os alimentos que as criancinhas devem comer, as horas a que as criancinhas devem dormir e os modelos gerais de comportamento de acordo com os quais as criancinhas devem ser criadas. As criancinhas, em suma, pertencem ao Estado e não às famílias que, admita-se, ao longo de décadas assistiram indiferentes ou entusiasmadas ao sequestro e, em qualquer dos casos, pagaram-no. Eis a factura".

Alberto Gonçalves
DN

sábado, janeiro 29, 2011

As escolas privadas

"Sou suspeita de falar nestas coisas: fui criança no período revolucionário e frequentei sempre a escola pública. Talvez por isso não me repugnem nem os piolhos nem os lampiões no nariz e ache até ao interclassismo uma certa graça. Deve ser por essa razão que quando vejo as mãezinhas e os paizinhos empenhados na defesa do privilégio das suas crianças fico aborrecida.
Como um grupo de jornalistas se dedicou a fazer jornalismo, hoje podemos afirmar que é falso o argumento de que não há alternativa pública à maioria das escolas privadas: Só 18 escolas privadas, das 94 com contrato de associação com o Estado, ficam a mais de 15 quilómetros de uma pública com o mesmo grau de ensino. (...) Cerca de 20 estabelecimentos privados ficam até a menos de um quilómetro dos seus equivalentes no público.
Nada tenho contra as escolhas privadas pelo ensino privado. Cada um come do que gosta, mas há um prato, a sopinha, que tem de fazer parte de todas as refeições equilibradas. E a responsabilidade pelo provimento da sopinha é do Estado. Assim, se os papás e as mamãs não gostam da sopinha pública podem escolher a sopinha privada, não podem é pedir legumes subsidiados quando há sopinha pública à espera da sua prole.
O problema da sopinha é que ela não chega para todos os meninos e meninas. Sócrates prometeu uma rede pré-escolar com capacidade para acolher todas as crianças com 5 anos. Acontece que as criancinhas, pasme-se, precisam de sopinha desde que nascem. E creches e infantários públicos é coisa que, na esmagadora maioria das localidades, ou não existe ou não abunda. A pouca resposta pública que há não chega para a cova de um dente. Por isso, era bom acabar com a subsidiodependência das escolas privadas e investir a sério em creches e infantários. Acho que a isso se chama igualdade de oportunidades".

http://arrastao.org/2157473.html

quarta-feira, janeiro 26, 2011

Ensino privado, dinheiro público

"O Governo entende, e bem, que o Estado não deve financiar os colégios privados com contrato de associação (onde o ensino é, como nas escolas públicas, pago pelos contribuintes) com valores superiores àqueles com que financia as escolas públicas.

Mas os colégios querem mais, e, ontem, dirigentes de alguns deles, arrastando consigo pais e crianças (há notícia de casos em que as crianças que não foram a essa e a outras manifestações promovidas pelos colégios tiveram falta), depositaram caixões junto do ME, querendo com isso simbolizar a "morte" do ensino privado... por ter que viver com o mesmo com que vive o ensino público. É a "iniciativa privada" no seu melhor: sempre a clamar contra o Estado e, ao mesmo tempo, sempre a exigir subsídios e apoios.

Diz a ministra que o Estado não deve contribuir com dinheiro dos contribuintes para as piscinas, o golfe e a equitação de alguns colégios privados, e é difícil não lhe dar razão.

Mas talvez esta fosse boa altura para, finalmente, o ME ir mais fundo e apurar o destino que é dado em alguns desses colégios aos dinheiros públicos. Saber, por exemplo, se todas as verbas destinadas aos professores chegarão ao seu destino ou se, em certos casos, o Estado não andará a financiar, afrontando a Constituição, um ensino abusivamente selectivo e confessional, onde os professores têm, de novo só por exemplo, que "participar na oração da manhã na Capela".

Manuel António Pina
JN

terça-feira, janeiro 25, 2011

Quem é amigo?

"Os patrões queriam despedimentos baratos, indemnizações de 21 ou 15 dias por cada ano de trabalho em vez dos 30 actuais e, mesmo assim, com um limite de 12 anos, isto é, 12 salários.

Por outras palavras: o patronato foi aos saldos do Estado Social abertos em Portugal desde 2005 a ver se comprava dois despedimentos pelo preço de um.

Coube a uma ministra ex-sindicalista de um governo socialista a duvidosa honra de entregar numa bandeja o direito ao trabalho dos portugueses à voracidade patronal com o generoso pretexto de, assim, "aliviar" os encargos das empresas com os trabalhadores despedidos (passando esses encargos para os contribuintes através do subsídio de desemprego, quem é amigo?).

O patronato queria 21 dias de indemnização por cada ano de trabalho em vez de 30? O Governo deu-lhe 20. Queria um limite máximo de 12 salários, que lhe permitisse despedir os trabalhadores mais antigos e substitui-los por precários (se não despedi-los e contratá-los depois "a recibo verde" de modo a livrar-se dos descontos para a Segurança Social)? O Governo deu-lhe os 12 salários.

Explicou a ministra que em Espanha também é assim. Com admirável honestidade intelectual, "esqueceu-se" de dizer qual é o salário mínimo em Espanha e que, em Espanha, os 12 salários de indemnização são 'brutos", isto é, com todos os suplementos e em Portugal incluem só o salário-base. Mas não podia lembrar-se de tudo, não é?"
Manuel António Pina
JN

domingo, janeiro 23, 2011

Escola público-privadas

"As escolas públicas são financiadas pelo Estado e as privadas pelos alunos, ou por alguma entidade particualr que entenda fazê-lo. Verdade? Não. Em Portugal temos escolas públicas, privadas e público-privadas, isto é, as privadas que o Estado subsidia para que os alunos as frequentem sem pagar.
Toda a gente acha que isto faz sentido e até o Presidente da República abraçou a causa destas escolas, na maioria ligadas à Igreja, que agora protestam porque o Governo lhes reduziu os subsídios. Por isso houve manifestações na campanha. Contra Alegre porque é apoiado pelo partido do Governo, mas também contra Cavaco, que tentou melhorar a lei em vez de a vetar.
O argumento para a subsidiação destas escolas é o de que elas funcionam lá onde não chega a escola pública. tal argumento não colhe, ou não devia colher, porque há muitos lugares no país onde não existem escolas públicas e o que os alunos fazem é deslocar-se para frequentar a mais próxima. Com a generalização dos agrupamentos de escolas são, aliás, cada vez menos aqueles que não precisam de se deslocar.
Compreende-se que pais, alnos e professores destas escolas defendam com afinco o tratamento espeial que o Estado lhes tem concedido. Duvida-se é que esse tratamento seja o mais correcto, à luz da equidade a que o mesmo estado se deve obrigar".

Fernando Madrinha
Expresso

quinta-feira, janeiro 20, 2011

Querem que eu dê aulas?

Retrato fiel da tragicomédia em que se tornou o ensino nos dias de hoje:

"Faço projectos, planos, planificações;
Sou membro de assembleias, conselhos, reuniões;
Escrevo actas, relatórios e relações;
Faço inventários, requerimentos e requisições;
Escrevo actas, faço contactos e comunicações;
Consulto ordens de serviço, circulares, normativos e legislações;
Preencho impressos, grelhas, fichas e observações;
Faço regimentos, regulamentos, projectos, planos, planificações;
Faço cópias de tudo, dossiers, arquivos e encadernações;
Participo em actividades, eventos, festividades e acções;
Faço balanços, balancetes e tiro conclusões;
Apresento, relato, critico e envolvo-me em auto-avaliações;
Defino estratégias, critérios, objectivos e consecuções;
Leio, corrijo, aprovo, releio múltiplas redacções;
Informo-me, investigo, estudo, frequento formações;
Redijo ordens, participações e autorizações;
Lavro actas, escrevo, participo em reuniões;
E mais actas, planos, projectos e avaliações;
E reuniões e reuniões e mais reuniões!...
E depois ouço, alunos, pais, coordenadores, directores, inspectores, observadores, secretários de estado, a ministra e, como se não bastasse, outros professores, e a ministra!...
Elaboro, verifico, analiso, avalio, aprovo;
Assino, rubrico, sumario, sintetizo, informo;
Averiguo, estudo, consulto, concluo,
Coisas curriculares, disciplinares, departamentais,
Educativas, pedagógicas, comportamentais,
De comunidade, de grupo, de turma, individuais,
Particulares, sigilosas, públicas, gerais,
Internas, externas, locais, nacionais,
Anuais, mensais, semanais, diárias e ainda querem mais?
Que eu dê aulas!?..."


http://dererummundi.blogspot.com/2011/01/que-eu-de-aulas.html

quarta-feira, janeiro 19, 2011

O "mercado" é quem manda

"Se as universidades fizeram de doutoramentos, mestrados, pós-graduações e todo o tipo de licenciaturas, as mais delirantes, um negócio, porque não abrir esse negócio, o dos produtos finais e o dos componentes, ao "mercado"?

E se um diploma do 12.º ano se obtém hoje, nova-oportunisticamente, num mês ou dois e uma licenciatura à bolonhesa enquanto o diabo esfrega um olho, proporcionado às universidades a "oportunidade de negócio" (que o Conselho de Reitores já avidamente agarrou) de "mestrar" o milhão de licenciados pré-Bolonha cujo título deixou de valer um chavo, torna-se difícil levantar excessivas objecções morais à compra e venda de teses. Porque o "mercado" é quem manda e o cliente tem sempre razão.

Entretanto, o "Diário das Beiras" foi à net e descobriu o que toda a gente sabe (com excepção dos poucos e ingénuos que ainda acreditam na honestidade e de certos orientadores universitários): que se podem encomendar teses de doutoramento e mestrado sobre qualquer assunto, elaboradas por especialistas "de acordo com rígidos critérios de originalidade e qualidade" e a preços que variam entre os 1 200 e os 6 000 euros (vantagens da concorrência, pois há dois anos o DN informava que os preços andavam pelos 50 000 euros).

Talvez, quem sabe?, este venha a ser um nicho de mercado a explorar pelas próprias universidades, vender doutoramentos e mestrados prontos a vestir e já com tese incluída".

Manuel António Pina
JN

segunda-feira, janeiro 17, 2011

Falinhas mansas

"Passámos de uma ministra de voz grossa, detestada pelos sindicatos de professores e apreciada pelos portugueses, para uma ministra de falinhas mansas, detestada pelos sindicatos e que não é apreciada por ninguém.

Esteve em Portugal, por estes dias, Eric Hanushek, professor da Universidade de Stanford, fundador da Economia da Educação [Nova disciplina que usa os métodos da análise económica e as técnicas da estatística para estudar os problemas educativos, segundo a explicação do matemático Nuno Crato]. Hanushek veio dizer-nos, e tentar provar, que o factor mais importante para o crescimento económico é a educação. Ou seja, que cada euro investido na educação de um aluno transforma-se, uns anos depois, numa mão-cheia de euros de riqueza para o país. O professor fez, aliás, jus à nova disciplina e avançou alguns números: "Se, em 20 anos, todos os alunos portugueses chegassem ao nível dos alunos da Finlândia nos resultados do PISA [estudo promovido pela OCDE], o valor do PIB aumentaria 2,1 mil milhões de euros".

Em proveito dos mais cépticos, desconfio que nunca seremos capazes de confirmar as teses e as contas de Hanushek. Pela simples razão de que o nosso Governo decidiu, também por estes dias, que será outro o caminho. Anunciou a intenção de cortar no número de horas para actividades não lectivas nas escolas. O objectivo é, evidentemente, diminuir o número de professores, e com isso poupar uns milhões em salários. O problema é que essa (e já não seria pequena) não será a única consequência.

Por esse país fora, muitas escolas públicas, sobretudo as mais dinâmicas, as que perceberam que uma escola é muito mais do que um mínimo denominador comum, vão ter de acabar com o desporto escolar, com os clubes (sejam eles de matemática, de teatro, de espanhol, de leitura ou de ciências), com as aulas de substituição e mais uma série de tarefas invisíveis, mas fundamentais. A isto soma-se o anúncio anterior de que também terminam, no final deste ano lectivo, disciplinas como a Área Projecto ou o Estudo Acompanhado.

Para citar o director de uma dessas escolas públicas que não se conforma em fazer apenas o mínimo - no caso José Ramos, da Escola Gonçalves Zarco, em Matosinhos - as nossas melhores escolas vão "recuar dez anos". Nada que impressione quem manda no Governo. Como o dinheiro não chega para tudo, estabeleceu prioridades. Os alunos terão escolas piores, mas visitarão Madrid de TGV [dizem que é um projecto que puxa pelo nosso PIB] e verão os nossos mares convenientemente vigiados por dois submarinos [o que puxa pelo PIB dos alemães, que os construíram].

Nota final para falar da evolução do perfil da ministra da Educação. Continua a ser uma mulher, mas passámos de uma ministra de voz grossa, detestada pelos sindicatos de professores e apreciada pelos portugueses, para uma ministra de falinhas mansas, detestada pelos sindicatos dos professores, que não é apreciada por ninguém e cujo único objectivo parece ser desmantelar tudo o que de bom se construiu até aqui".

Rafael Barbosa
JN

sexta-feira, janeiro 14, 2011

Cortes nas escolas vão provocar revolução

"Se a proposta de despacho de organização do ano lectivo for aprovada sem alterações, as escolas serão obrigadas a mudar a sua estrutura: desporto escolar, clubes e apoios podem estar em risco, o que significa que os alunos podem ficar com horários reduzidos.

O Orçamento do Estado da Educação sofreu um corte este ano de 11,2 % em relação a 2010 - são menos 803,2 milhões de euros. O maior impacto da redução financeira vai ser sentido pelas escolas no próximo ano lectivo. Menos verbas para funcionamento, menos professores (Fenprof estima mais de 30 mil) e menos horas para actividades de enriquecimento curricular. Já os alunos podem passar a sair mais cedo, se todos os cortes se confirmarem.

Todos os projectos, incluindo o desporto escolar, os clubes de Matemática ou Ciência, plano de acção para a Matemática, apoios e até aulas de substituição podem estar em risco se a proposta de despacho de organização do ano escolar for aprovada sem alterações, garantem docentes e directores.

O Conselho de Escolas aprovou, por unanimidade, um parecer que considera "comprometidos o apoio educativo, a escola a tempo inteiro, as aulas de substituição, o desporto escolar, o de-senvolvimento de projectos educativos, o cumprimento das metas de aprendizagem, e os objectivos a atingir até 2015" se o Governo não mudar o diploma.

"Os alunos não são os culpados e não podem ser as vítimas", frisou, ao JN, o presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamento e Escolas Públicas (ANDAEP). Tanto Adalmiro Botelho da Fonseca, como o presidente do Conselho de Escolas (CE), Manuel Esperança, e o líder da Fenprof, Mário Nogueira, convergem: as cortes obrigam as escolas a uma nova organização a partir de Setembro. "Não vão fechar, naturalmente, mas só vão conseguir assegurar um ensino mínimo, vá lá, razoável", teme Nogueira. A Fenprof estima que a conjugação das medidas já aprovadas - como a eliminação da Área de Projecto e Estudo Acompanhado - com as agora planeadas possa conduzir ao despedimento de mais de 30 mil professores, que pode atingir não só os contratados como a redução dos horários (ou aumento de horários zero) entre os de quadro.

O JN confrontou o Ministério da Educação com as preocupações dos docentes e fonte do gabinete de Isabel Alçada sublinhou que a proposta "ainda não está fechada"; que o desporto escolar "será alvo de despacho específico" e que o "sistema educativo gera milhões de horas não lectivas", pelo que o Governo decidiu redistribuir o crédito concedido às escolas, "de forma mais equitativa".

JN

quarta-feira, janeiro 12, 2011

O que faz correr o ensino privado?

"A confusão instalou-se. Ou, pelo menos, fica essa a ideia. Fala-se em encerramento de escolas, ameaça de trabalhadores ficar sem o posto de trabalho. O pudico ensino privado ao rubro, na rua, a reivindicar que tudo permaneça como há 30 anos.

Que hecatombe desaba, afinal, sobre o ensino privado em Portugal? Dinheiro. É o vil dinheiro que está em causa. Este sector do ensino pretende viver e crescer, mas não abdica do subsídio do Estado. Pelo que se sabe, podem guardar as bandeiras e os protestos: o apoio ao privado e cooperativo não vai acabar. Por que o tempo é de vacas magras, o financiamento do Ministério da Educação aos privados seguirá os sinais do tempo. Ou sejá, em vez dos 114 mil euros anuais por turma, passa a transferir 80 mil. Nem mais.

Dinheiro público continua , portanto, a alimentar a escola privada. Algumas de qualidade, outros nem por isso. Como nas escolas públicas. A questão que se levanta é outra: haverá ainda necessidade desta comparticipação? Como é sabido, foi a necessidade de oferecer ensino para todos que conduziu a isto. Nos locais onde o Estado não tinha capacidade para garantir o acesso ao ensino, os privados substituiram-no e, para isso, eram subsidiados. Ora o cenário actual é outro, sendo raro o concelho onde os jovens não tenham acesso à escola público. Portugal, neste domínio, registou mudanças assinaláveis

Perante este quadro, será justo encaminhar verbas do Orçamento de Estado para subsidiar os colégios particulares? Não me parece. O argumento pode parecer básico e egoísta: mas ao financiar o privado, está a privar de recursos o público. Tão simples como isso.

Com eleições à porta, os agentes do ensino privado, em aliança com a Igreja Católica, conseguiram transpor o tema para a campanha. Cavaco Silva, candidato mas também presidente, juntou a sua voz aos protestos. Em Fátima, depois de ouvir pais de velas na mão, lamentou que os responsáveis políticos não vissem a luz. Não terá o Presidente visto a luz quando promulgou o diploma que estabelece as novas regras de apoio a este ensino? Parece que as trevas se apoderaram de chefe do Estado e o impediram de vetar o diploma - prerrogativa de que dispõe enquanto presidente, mas fica em Belém quando anda pelo País em campanha".

Paula Ferreira
JN

terça-feira, janeiro 11, 2011

Mais de 60 professores aposentados por semana

"Desde 2006, quadro do ME perdeu mais de 23 mil docentes. Saíram 3174 em 2010.

Entre Janeiro e Dezembro de 2010, 3174 professores dos quadros do Ministério da Educação (ME) passaram à reforma. Um número que equivale a cerca de 61 aposentações por semana, mas que ainda assim é inferior às aposentações em massa de anos anteriores - em 2008 foram mais de 5000. Desde 2006, os quadros perderam mais de 23 mil professores.

Os números do ano passado não são do ME - que desde Novembro de 2009 não actualiza a informação sobre o seu quadro, apesar dos pedidos do DN, reiterados ontem. Foram compilados, com base nos registos online da Caixa Geral de Aposentações (CGA), por José Marques, professor de Matemática na Escola Anselmo de Andrade, Almada, e autor do blogue Pé-ante-pé (http://japm-pe-ante-pe.blogspot.com).

"Todas as semanas temos notícia de colegas que se reformam. Havia indicações de que esta tendência estaria a abrandar, mas ainda assim tinha a sensação de que o número seria significativo, e isso confirma-se", explicou ao DN este professor.

"O número poderia ser ainda superior, mas sabemos que ultimamente a CGA está a demorar muito a dar resposta aos pedidos", acrescentou. "Sabemos que há pessoas que aguardam resposta desde Março. Mesmo assim, são muitos professores experientes a sair do sistema, boa parte deles aceitando penalizações até 30% nas reformas."

Curiosamente, a maioria das aposentações concedidas pela CGA em 2010 coincidiu com o início do actual ano lectivo, o que pode ajudar a explicar os problemas de falta de docentes em várias escolas que foram relatados na altura. Em Setembro passaram à reforma 407 docentes, em Outubro 445 e em Novembro 310".

DN

sexta-feira, janeiro 07, 2011

Andam os pais a pagar um curso para isto

Governo acaba com Área de Projecto e cria Formação Cívica no Secundário

"O Conselho de Ministros aprovou um projecto de decreto-lei que introduz o exame final nacional optativo de Filosofia, elimina a disciplina de Área de Projecto e cria a de Formação Cívica dos cursos científico-humanísticos.
O Governo explica que um dos objectivos da reorganização curricular do ensino secundário é diminuir a carga lectiva semanal dos alunos no último ano, para que estes se preparem para os exames nacionais.
O projecto vai contra as recomendações do Conselho Nacional de Educação que defendia a manutenção da Área de Projecto no 12º ano.
O diploma aprovou a disciplina de Formação Cívica para o 10º ano, como forma de reforçar a formação nas áreas da educação para a cidadania, para a saúde e para a sexualidade. O parecer do Conselho Nacional de Educação sugeria a criação da disciplina em todos os cursos e em todos os anos de escolaridade, contestando os 45 minutos atribuídos.
Esta é a quarta alteração aprovada do decreto-lei nº 74/2004 de 26 de Março que estabelece os princípios orientadores da reorganização curricular do ensino secundário e da avaliação das aprendizagens".

CM

quarta-feira, janeiro 05, 2011

Santana Castilho põe o dedo na ferida

Público

Interpretar um texto no tempo de Facebook

"Quem ainda ficou surpreendido com os resultados dos exames intermédios dos alunos portugueses, provavelmente não se relaciona com professores ou não tem filhos a frequentar o terceiro ciclo do ensino básico. Os outros, receberam os resultados com normalidade. Alunos que não sabem estruturar um texto, ler e raciocinar é a realidade das nossas escolas.

No meio da desgraça estudantil, uma coisa não se percebe. Como é que estes alunos, semi-analfabetos, transitam de ano? Chegar ao 10º ano do ramo de humanidades e deparar com jovens incapazes de intrepretar um texto, ou de dar uma resposta correcta, do ponto de vista gramatical e da sintaxe, é deveras preocupante.

E enganem-se os que pensam e actuam como se o drama de desconhecer a Língua materna fosse exclusivo dos chamados alunos de Letras. Os de Ciências, esses que consideram inútil o português na sua formação, estão redondamente equivocados. Como o relatório dos últimos exames intermédios, publicados pelo Gabinete de Avaliação Educacional do Ministério da Educação, deixa claro: os maus resultados a Matemática e a Biologia, decorrem, não em exclusivo, mas também, do facto de os meninos e meninas que sonham ser cientistas, não conseguirem perceber um enunciado. Nos casos em que o conseguem entender as perguntas, são incapazes de redigir uma resposta bem estruturada - clara e perceptível, portanto.

Não se iludam, portanto, os que vêem nos resultados do PISA 2009 a salvação do nosso sistema de ensino. Houve progressos inegáveis. Os esforços de Maria de Lurdes Rodrigues não foram em vão. Há, porém, ainda um longo caminho a percorrer. O PISA diz-nos somente que não estamos tão mal como antes. Estamos ainda mal, como agora se viu.

Espanta a ineficácia de tantas aulas semanais de presença na escola. Para quê? Não consegue a escola cativar os mais novos? Parece que não. Numa sociedade da instantaneidade, dos SMS, Youtube e Facebook, como pode um modelo com aulas de 90 minutos prender a atenção de mentes cada vez mais preguiçosas e voláteis? Esse é o grande desafio.

Maria de Lurdes Rodrigues mostrou seguir o bom caminho. Inverter ou parar a marcha, acomodando-se ao facilitismo, pode ser perigoso".

Paula Ferreira
JN

terça-feira, janeiro 04, 2011

João Dias da Silva, Presidente da FNE sobre o corte no financiamento às escolas com contrato de associação.

"Correio da Manhã – Que consequências pode ter a aplicação do decreto que baixa o financiamento do Estado às escolas privadas com contrato de associação?

João Dias da Silva – Há instituições que podem não ter sustentabilidade financeira para continuarem abertas e há professores que estão em risco de despedimento. Isto porque as escolas não tiveram tempo para reorganizar a sua vida e assumiram compromissos tendo em conta um determinado valor anual por turma e, agora, vêem esse valor diminuído de forma cega e abrupta.

– Porquê de forma cega?

– Porque penaliza as que apresentam melhores projectos. Se o Ministério da Educação considera que houve dinheiros mal empregues por algumas escolas particulares, então devia ter feito actuar a Inspecção-Geral, para averiguar esses alegados maus usos.

– Que solução pode ser encontrada?

– Defendemos um financiamento à medida de cada realidade sócio--educativa e de cada projecto. Não se pode financiar da mesma forma uma escola com vários projectos e actividades e outra escola com menos oferta.

– Quantos professores podem ter os contratos em risco?

– Ainda não temos uma estimativa, mas são números significativos, pois estamos a falar de um universo de cinco mil docentes nas escolas com contratos de associação".


– As famílias também são prejudicadas com estes cortes?

– Sim, claro. Por exemplo, no caso de uma família que tenha um filho no 7.º ano e outro no 6.º, significa que, enquanto o do 7.º vai ter apoio até ao 9.º ano, o do 6.º vai perder esse apoio. Além disso, as escolas com contrato de associação têm um nível de adaptação aos horários dos encarregados de educação que as escolas estatais ainda não conseguem oferecer".

João Dias da Silva
CM

domingo, janeiro 02, 2011

Avaliação docente

"Anda meia escola a avaliar outra meia escola". É assim que Manuel Pereira, director do agrupamento de escolas de Cinfães, sintetiza o que se está a passar com a avaliação de desempenho docente. Com o novo modelo, que foi aprovado após o acordo de 8 de Janeiro, a avaliação deixou de ser feita pelos coordenadores de departamento para passar a ser realizada "entre pares, o que poderá "criar uma maior competitividade, mas no mau sentido", alerta Isabel Le Gué, directora da Escola Secundária Rainha D. Amélia.

As classificações de mérito, que são as que permitem uma progressão mais rápida, estão sujeitas a quotas e os avaliadores e avaliados podem ser concorrentes neste processo. "Em vez de partilharem materiais e estratégias, como tem sucedido até agora, receio que os professores comecem a olhar para o seu vizinho do lado como um problema", admite aquela directora. Fátima Gomes, que pertence à direcção da Escola Secundária de Barcelos, corrobora: "As relações entre os professores, que não têm hierarquias entre si, ficarão feridas pela sombra do avaliador e do avaliado. A escola vai perder aquilo que tinha de melhor - a dimensão humana".

Depois de constatar que muitas escolas não tinham meios para responder aos critérios definidos para a escolha dos avaliadores, agora designados relatores, o Ministério da Educação alterou em Novembro um dos princípios de base negociados com os sindicatos: desde que o aceite, um professor poderá agora ser avaliado por outro que esteja num escalão inferior ou mesmo em princípio de carreira, e que também não pertença ao seu grupo disciplinar. Para além de apreciarem o relatório de auto-avaliação, obrigatório, os relatores também procedem à observação das aulas. Este procedimento é obrigatório para o acesso a três dos 10 escalões da carreira docente e também para os professores que se queiram candidatar às classificações de Muito Bom e de Excelente.

"Têm sido nomeados relatores com os mais desvairados critérios e quase toda a gente está à espera para ver quando as coisas explodem", comenta Paulo Guinote, autor do blogue A Educação do Meu Umbigo. "Está a criar muita instabilidade e ainda só estamos no princípio", frisa Manuel Pereira. O Ministério Educação, que não respondeu ao PÚBLICO, tem afirmado que o processo está a correr normalmente. "É o oposto da política de verdade que as pessoas merecem", acusa Dias da Silva, da Federação Nacional dos Sindicatos de Educação. A Fenprof já solicitou a interrupção da avaliação em curso",

Público

Os básicos

"Escrevi há tempos, em plena euforia com os resultados do PISA, que os nossos alunos estavam menos burros, mas continuavam burros.
O Gabinete de Avaliação Educacional (GAVE) do Ministério da Educação veio agora confirmá-lo: depois de uma análise exaustiva a 1700 escolas, parece que os alunos do 8º ao 12º ano não sabem raciocinar nem escrever. Segundo o GAVE, as nossas ‘crianças’ são incapazes de estruturar um texto; explicar um raciocínio com lógica; utilizar linguagem rigorosa; e, Deus meu, utilizar diferentes conceitos da mesma disciplina. Por outras palavras: as nossas ‘crianças’ são capazes de exercícios elementares, como acontece com alguns símios de laboratório; mas o passo final para o conhecimento humano está-lhes interdito.
Isto, ao contrário do que sucedeu com o PISA, não mereceu do governo um comentário. O que se compreende: os nossos governantes, a começar pelo líder da banda, são também um produto do analfabetismo e da lassidão que reinam no sistema de ensino. Confrontados com o relatório do GAVE, o mais certo é não saberem lê-lo ou interpretá-lo".

João Pereira Coutinho
CM