quarta-feira, agosto 31, 2011

Mais uma crónica de Santana Castilho

"Que temos, dois meses depois? Pensões e salários violentamente tributados, dividendos e transferências para os offshores isentadas. Dez por cento do PIB nas mãos dos 25 mais ricos, cujo património aumentou 17,8 por cento. Impostos e mais impostos, que juraram não subir e de que se serviram para correr com o outro. Aumentos brutais do que é básico, da saúde aos transportes, passando pela electricidade e gás. Venda em saldo do BPN, sem direito sequer a saber os critérios da escolha da proposta mais barata, depois de todos nós termos subsidiado com 2.400 milhões de euros, pelo menos, vigaristas, donos e falsos depositantes. Afã para vender a água que beberemos no futuro. Quinhentas nomeações para a máquina do Estado, cuja obesidade reprovavam. Abolição da gravata. Espionagem barata com muito, mesmo muito, por esclarecer. Descoberta de um caixote de facturas não contabilizadas no esconso de um instituto em vias de fusão. Início da recuperação do TGV, antes esconjurado. Promessa de bandeirinhas nacionais em tudo o que se exporte. Um presidente que se entretém no Facebook, cobardia colectiva e mais uma peregrinação reverencial à Europa, que o primeiro-ministro inicia hoje. A tesouraria do Estado necessitou da troika. Mas o país dispensava o repetido discurso de gratidão subserviente de Pedro Passos Coelho. Aquilo a que ele chama ajuda é um negócio atípico. Atípico pelos juros invulgarmente altíssimos e atípico por o prestamista se imiscuir violentamente na vida do devedor, a ponto de ter tornado o Governo de um país com mais de 800 anos de história, outrora independente, num grémio administrativo de aplicação do acordo com a troika.
A marca mais impressiva de um Governo que fala de mudança sem a saber operar está na Educação. Quem gere hoje o ensino só se distingue do Governo anterior no estilo. Na essência da política não diverge. O desejo de implodir o ministério sucumbiu à evidente falta de ideias reformistas e à ditadura das circunstâncias e da inércia de sempre. Dois meses volvidos, a oportunidade perdida é irreversível.
Sobre a avaliação do desempenho dos professores, está tudo dito, seja no plano técnico, seja no político. Os resultados de 4 anos de teimosia são evidentes e resumem-se à destruição da coesão docente e do espírito cooperativo, que marca a essência de uma Escola. Passos Coelho chamou-lhe monstruosa e kafkiana e jurou que a suspenderia de imediato, se fosse Governo. Mas, afinal, a liturgia voltou. Os resultados serão desastrosos. Certo teria sido suspender o processo, como prometido, e condicioná-lo ao que de seguida abordo. Não o ter feito foi uma oportunidade perdida.
A Educação não é uma actividade mercantil. Mas a tarefa de lhe medir os resultados começou a ser contaminada pelo mercantilismo a que econometristas de sucesso e organizações internacionais preponderantes a passaram a submeter, a partir da década de 80. Uns foram na onda, outros não. Uns reflectiram, outros engoliram. Nós tragámos sofregamente. Era altura de arrepiar caminho. Um Governo preparado teria tomado três medidas imediatas: alterar o modelo de gestão das escolas, responsabilizando todos, pela via eleitoral, pelas escolhas feitas; assumir que a avaliação do desempenho dos professores é parte da avaliação do desempenho das escolas, dela indissociável, e que estes processos não são compagináveis com modelos universais, outrossim instrumentos de gestão de cada escola; reformar drasticamente a Inspecção-Geral da Educação, reorganizando-a por áreas científicas e alocando equipas de inspecção a grupos fixos de escolas. Não ter feito isto, imediatamente, foi uma tremenda oportunidade perdida.
Um Governo preparado, com estudo produzido durante seis anos de oposição, saberia como limpar o lixo administrativo e legislativo, que transformou os professores em escravizados burocratas de serviço. Nada ter acontecido neste campo, nestes dois meses, foi outra oportunidade perdida.
Um Governo competente teria anunciado imediatamente um concurso nacional de professores, para ser lançado no próximo ano, visando a correcção possível das injustiças gritantes dos últimos tempos, e teria apresentado já uma revisão do estatuto da carreira docente, que devolvesse aos professores a autonomia, a dignidade profissional e a independência científica e intelectual perdidas. Não o ter feito foi uma grande oportunidade perdida.
Um Governo seguro e com contas feitas já teria proposto a extinção da Parque Escolar, Empresa Pública, já teria decretado a suspensão de todo e qualquer tipo de novas iniciativas do Programa Novas Oportunidades e já teria tornado público o plano de corte na Educação dos 370 milhões de euros previstos no acordo com a troika. Não o ter feito foi uma grave oportunidade perdida.
Um Governo com alternativas teria já divulgado um exigente estatuto do Aluno, um coerente plano de outorga de verdadeira autonomia às escolas, incluindo a gestão de um currículo local, e teria, naturalmente, suspendido o inadequado processo de junção forçada de escolas. Não o ter feito foi uma irrecuperável oportunidade perdida.
Um Governo corajoso, tanto mais que tem o ensino não superior e o superior sob tutela do mesmo ministro, teria já anunciado uma intervenção séria e exigente no processo de formação inicial dos professores. Não o ter feito foi, ainda, uma oportunidade perdida.
O que citei é apenas parte do que seria necessário fazer. Não salvaria o Governo. Mas já o condena pela oportunidade perdida".
 
Público

segunda-feira, agosto 29, 2011

FNE elogia atitude negocial mas diz que ainda estão longe de um acordo

"O secretário-geral da Federação Nacional de Educação (FNE) considera "muito positiva" a atitude negocial do Ministério da Educação mas, depois de uma reunião esta manhã, salienta que um acordo ainda está longe.
“O Ministério da Educação está com uma atitude negocial muito positiva, mas se pesarmos o que ainda nos separa do que nos aproxima, diria que ainda pende mais para o lado negativo”. Foi desta forma que o secretário-geral da Federação Nacional de Educação (FNE), João Dias da Silva, respondeu quando questionado pelo PÚBLICO sobre se estava mais perto ou mais longe de um acordo após a segunda ronda negocial para discutir o futuro modelo de avaliação de desempenho dos docentes.
À saída da reunião, João Dias da Silva revelou aos jornalistas que o Ministério apresentou uma nova versão do projecto, versão esta que acolhe algumas das propostas apresentadas pela FNE mas que “não houve acolhimento de outras mais significativas como a questão das quotas e das vagas”.
Questionado sobre se acredita num acordo até ao dia 9, o secretário-geral da FNE respondeu: “acredito que é possível trabalhar para encontrar novas soluções” para “valorizar os professores. Acordo está em aberto”.
João Dias da Silva salientou que houve aproximações de posições, nomeadamente em relação à “simplificação do processo” e “clarificou-se a questão dos avaliadores externos”. “Tem de ser um docente do mesmo grupo de recrutamento, do mesmo escalão ou superior e ter formação especializada”, explicou. Em relação aos professores contratados, o sindicalista referiu que “o texto ainda precisa de ser ajustado”.
A FNE ficou agora de apresentar o seu parecer sobre a nova versão do projecto e irá consultar os professores até ao dia 6 para ter uma posição final para a reunião de dia 9".

Público

sábado, agosto 27, 2011

Professores mais velhos ainda não estão livres de ser avaliados

"É cedo para os professores no topo da carreira respirarem de alívio por terem sido dispensados do processo de avaliação de desempenho. O ministro da educação não põe de parte a hipótese de recuar naquela que foi apresentada como uma das principais novidades do modelo que está a ser negociado com os sindicatos. "É um problema em aberto. Está a ser estudada uma maneira de os professores em topo de carreira terem uma avaliação", confirma Nuno Crato ao Expresso. "Nada está excluído" - nem sequer a possibilidade de os docentes dos escalões mais altos virem a ser avaliados mesmo que não o requeiram. "Pode vir a acontecer", reforça o ministro. As negociações com os sindicatos são retomadas na próxima segunda-feira".

Expresso

Memorando da FNE a propósito da proposta do MEC sobre a ADD

A ler aqui.

Música de encantar

Aqui.

segunda-feira, agosto 22, 2011

Exames: 66% sobem na reapreciação de provas

"Dois terços dos alunos que pediram reapreciação das provas da primeira fase dos exames nacionais do ensino secundário conseguiram subir a nota, segundo dados divulgados esta sexta-feira pelo Ministério da Educação e Ciência.
Segundo os dados oficiais, foi pedida a reapreciação de 6.303 provas, 2,38 por cento do total dos 264.747 exames realizados.  
Em 4.161 dos casos (66,02%), a nota subiu. Cerca de 1.300 provas (20,7%) mantiveram a classificação e 837 exames (13,28%) baixaram a nota depois da reapreciação.  
O Ministério não divulgou para já quais as disciplinas a que foram pedidas mais reapreciações.  
No caso das provas de Matemática, a taxa de reprovação disparou este ano, subindo de 13 por cento em 2010 para 20 por cento. Nas provas de Português, a taxa de reprovação este ano quase duplicou, subindo de seis para dez por cento, e a média dos 49.912 alunos internos que fizeram o exame baixou de 11 valores para 9,6".
CM 

terça-feira, agosto 16, 2011

Nuno Crato admite alterações à ADD


"É uma proposta aberta, que ainda está em discussão e pode ser sujeita a alterações", disse Nuno Crato durante uma visita a Gouveia.
O ministro reconheceu que existem entre 20 a 40 mil professores que não vão ser avaliados.
Questionado sobre porque é que os professores mais velhos vão ficar de fora do processo de avaliação, Nuno Crato disse que considera que é sobre os outros, que estão a iniciar ou no meio da carreira, que é necessário fazer a avaliação.
Sobre o apoio do MEC às escolas do ensino privado, o ministro disse que o corte nas ajudas ao ensino privado "satisfez os interlocuitores" que já assinaram protocolo, afirmando "que estão a decorrer negociações" com a outra associação que não concordou com as propostas do Governo.
O MEC já assinou um protocolo com o Movimento de Escolas Privadas com Ensino Contratualizado, mas de fora ficou ainda a Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular (AEEP)".
DN


 

domingo, agosto 14, 2011

Modelo de Avaliação. Tudo o que precisa de saber sobre a proposta de Nuno Crato

1 - Quem avalia quem?• Director avalia os avaliadores, os coordenadores e os membros dos órgãos de gestão
• No caso da avaliação interna, o coordenador avalia os colegas do seu departamento curricular ou então designa um professor
• No caso da avaliação externa (aulas assistidas), são os professores de outras escolas integrados numa bolsa com docentes de todos os grupos de recrutamento

2 - Que componentes vão ser avaliadas?• Científica e pedagógica
• Participação na escola e relação com a comunidade
• Formação contínua e desenvolvimento profissional

3 - Quais os instrumentos de avaliação?• O documento de registo e avaliação
• O projecto do docente, um documento com um máximo de duas páginas que tem como referência o projecto educativo da escola/agrupamento
• Relatório de auto-avaliação, um documento com máximo de três páginas que incide sobre aulas, actividades, análise dos resultados obtidos, formação, ou contributos para melhorar os objectivos e metas fixadas no projecto da escola
• Aulas observadas no último ano de cada ciclo de avaliação. É obrigatório durante o período probatório (estágio) e no segundo e quartos escalões da carreira. Os professores de todos os outros escalões podem igualmente requerer aulas assistidas no caso de se candidatarem à nota Excelente

4 - Quais os objectivos, os parâmetros e metas para a avaliação?• Metas e objectivos fixados no projecto educativo da escola ou agrupamento
• Parâmetros estabelecidos para as três dimensões aprovados pelo Conselho Pedagógico
• Parâmetros nacionais estabelecidos para a avaliação externa (aulas assistidas) definidos por órgão a designar

5 - Qual a duração do ciclo de avaliação?• Professores de quadro - O ciclo de avaliação coincide com os escalões da carreira docente. O processo de avaliação termina no final do ano escolar antes de o docente transitar para o escalão seguinte
• Professor contratados - o ciclo de avaliação corresponde à duração do contrato, tendo como limite mínimo 180 dias de serviço lectivo prestado
• Professores em início de carreira (período probatório) - o ciclo de avaliação corresponde a um ano escolar

6- Quais as dimensões da avaliação?• Avaliação interna - é feita pela escola onde o professor dá aulas e realizada em todos os escalões.
• Avaliação externa - está centrada na observação de aulas e é obrigatória durante o período probatório e no segundo e quartos escalões da carreira. Os professores de todos os outros escalões podem igualmente requerer aulas assistidas no caso de se candidatarem à nota Excelente. As aulas são assistidas por colegas de outras escolas. Ministério da Educação e Ciência vai criar uma bolsa de avaliadores formada por professores de todos os grupos de recrutamento

7 - Quem são os intervenientes no processo de avaliação?• Presidente do Conselho Geral
• Director
• Conselho Pedagógico
• Secção de Avaliação de desempenho docente do Conselho Pedagógico (CP), constituída pelo Director (que preside) e quatro docentes do CP
• Avaliadores
• Professores do quadro, contratados e em período probatório

8 - O que faz o Conselho Pedagógico?Elege os quatro professores para integrar a Secção de Avaliação, aprova o documento de registo e avaliação do desenvolvimento das actividades realizadas pelos avaliados.

9 - O que faz a Secção de Avaliação?É o órgão do conselho pedagógico de cada escola responsável por assegurar a aplicação do sistema avaliativo tendo, entre outras tarefas, de calendarizar todos os procedimentos da avaliação, acompanhar todo o processo, aprovar a classificação final, validar as notas de desempenho de Muito Bom, Excelente e Insuficiente.

10 - O que faz o director?É responsável por todo o processo de avaliação e é quem homologa a decisão final, avaliando ainda os recursos.

11 - Que efeito tem a avaliação?• Excelente – permite uma bonificação de um ano na progressão da carreira, que acontece no escalão seguinte
• Muito bom - bonificação seis meses na progressão na carreira docente, a usufruir no escalão seguinte
• Excelente ou de Muito Bom no 4.º e 6.º escalões - permite, respectivamente, a progressão ao 5.º e 7.º escalões sem estar dependente de vagas
• Bom ou mais – é considerado o período de tempo a que respeita para efeitos de progressão na carreira
• Insuficiente ou de Regular – determina a obrigatoriedade de um plano de formação do docente a realizar no ciclo avaliativo seguinte. As duas notas não permitem avançar na carreira, sendo que no caso dos professores de quadro que obtiverem insuficiente por duas vezes, será instaurado um processo de averiguações. Para os contratados, duas menções de insuficientes, determina a sua exclusão dos concursos

12 - Quem está isento da avaliação?• Os professores no oitavo escalão da carreira, desde que, em todas as avaliações, tenham obtido, no mínimo, a classificação de Bom
• Os que se encontram no nono e décimo escalões da carreira
• Os que reúnam condições de aposentação

Jornal

sábado, agosto 13, 2011

quinta-feira, agosto 11, 2011

Quotas travam negociações

"A manutenção de quotas para a atribuição de classificações aos professores, decorrentes do modelo de avaliação do desempenho docente, será o grande travão nas negociações entre sindicatos e Ministério da Educação e Ciência. Nuno Crato revela amanhã aos professores o novo modelo.
"É fundamental acabar com as quotas. O Ministério não consegue desburocratizar o modelo de avaliação se mantiver as quotas", afirmou ao CM Luís Lobo, membro do secretariado nacional da Fenprof, reiterando a "injustiça deste sistema". "Os professores que atinjam patamares de excelência, com classificações de excelente e muito bom, não podem ser penalizados por não haver vagas nessas classificações", acrescentou o sindicalista.
Além das quotas, há outros assuntos que mantêm sindicatos e MEC afastados. A avaliação de professores feita por docentes do mesmo grupo disciplinar, mas de outras escolas é um desses assuntos. "Mudam o conflito entre avaliador e avaliado de sítio. Agora o mal--estar será entre escolas", refere.
A FNE, por sua vez, está na expectativa. "Ambas as partes conhecem bem as matérias. Vamos receber a proposta e depois vamos discuti-la", frisou João Dias da Silva".
CM

segunda-feira, agosto 08, 2011

Dois mil professores vão "vigiar" aulas dos colegas

"No 1.º ciclo, docentes destacados para esta tarefa deixarão de leccionar. O próximo modelo de avaliação dos professores vai contar com cerca de dois mil professores destacados para observar aulas dos colegas, segundo apurou o DN. Destes, só os docentes do 1.º ciclo vão ser obrigados a deixar de dar aulas, por não ser possível cortar no número de horas de semanais.
Estes professores vão ter ainda que observar três aulas por avaliado, e não apenas duas como até agora. Além destas, que são de carácter avaliativo, podem ainda ter que assistir a mais lições, mas apenas numa vertente de formação".

DN

sábado, agosto 06, 2011

Fenprof contrapõe princípios a modelo de avaliação "kafkiano e monstruoso"

"A Federação Nacional dos Professores (Fenprof) apresentou hoje uma "contraproposta" de modelo de avaliação ao Ministério de Educação, que a estrutura sindical afirma estar "refém" do anterior modelo "monstruoso e kafkiano" do Governo socialista.

Embora o Governo só tenha apresentado até agora "princípios" para um novo modelo de avaliação, a Fenprof já acha que "não apontam no sentido claro de rutura com um modelo que foi considerano monstruoso e kafkiano".
Entre outros princípios, a Fenprof quer as quotas fora da avaliação, defendendo que o "mérito absoluto existente" é que deve ser reconhecido sem "quaisquer mecanismos administrativos, designadamente quotas ou vagas".
A Fenprof quer que existam apenas três classificações: "Muito Bom", "Bom" e "Não Satisfaz", uma solução que já foi adotada no ensino particular.
Os sindicalistas querem que o novo modelo seja construído sem "interesses sociais ou políticos externos à Educação" e que seja formativo, destinado não só a determinar a progressão na carreira mas também a detetar e corrigir "insuficiências de desempenho".
Quanto à intervenção de entidades externas à escola, a Fenprof defende que deve ser sempre "excecional", tal como a observação de aulas.
Os ciclos de avaliação devem ser sempre de "quatro anos, correspondendo, para cada docente, aos períodos de permanência nos escalões da carreira".
A avaliação deve ser sempre de "um processo" e não de "um produto", defende a Fenprof, para quem a avaliação nunca deve contar para "seleção, recrutamento, ingresso ou mobilidade".
Jornal i

quarta-feira, agosto 03, 2011

Nuno Crato versus Nuno Arrobas - crónica de Santana Castilho

"Ouvi o professor Nuno Crato, no domingo, no programa do professor Marcelo. Sujeito a perguntas indigentes, nada disse. Só falou! Uma excepção: Nuno Crato estabeleceu bem a diferença entre estar no Governo e estar de fora. Quando se está no Governo, disse, “tem de se saber fazer as coisas”; quando se está de fora, esclareceu, apresentam-se “críticas e sugestões, independentemente da oportunidade”. A feliz dicotomia trouxe a luz: arquivemos Nuno Crato, crítico, e ajudemos Nuno Arrobas, ministro, a saber fazer as coisas. Eis sugestões oportunas:
Desista de implodir o ministério, mas discipline-o. Se não sabe o que fazer, contenha-se enquanto aprende. Mas respeite quem trabalha para preparar o próximo ano lectivo. Desleixo, impreparação e descoordenação são qualificativos apropriados para referir a trapalhada dos últimos dias. Ora extinguiram turmas de cursos de Educação e Formação de Adultos, ora as recuperaram. Feito o trabalho com base nas informações de meio de Julho, veio a directora-geral da Inovação e Desenvolvimento Curricular dizer, a 29, que, afinal, a música era outra. E para partitura, puxou de um decreto-lei que respeitava à Saúde ou de outro que já não era. Não demore a explicar esta palhaçada. Se o Nuno, o Arrobas, não souber fazer as coisas, tente o outro, o Crato! Mas faça algo, rápido!
Da próxima vez que tenha uma folhinha A4 com 7 princípios para entreter, não convoque tantos sindicalistas e jornalistas. Para o efeito, o correio chega. Passemos à substância do seu papelinho sobre a avaliação do desempenho. Como o espaço não chega para tudo, aceito o seu número cabalístico e refiro 7 tópicos:.
1. A desonestidade política de um dos partidos que agora representa no Governo, o PSD, não o obrigava a si, Nuno Arrobas, ministro, a dar a pirueta final duma sucessão sem escrúpulos. O senhor tinha 10 princípios orientadores inscritos no programa eleitoral do PSD. Os mesmos assumidos na proposta de lei apresentada na Assembleia da República pelo respectivo grupo parlamentar. Aqueles que eu escrevi, a pedido de Passos Coelho, e que ele exibiu com orgulho quando interpelado por Clara de Sousa na SIC. Ao ignorá-los agora, olimpicamente, o senhor mostrou que não sabe nem quer aprender. Porque aqueles princípios eram um expediente certo, política e tecnicamente, para acabar com o monstro kafkiano. Os seus 7 são mais do mesmo, embora disfarçados com o laçarote sedutor da “burrocratização” dos professores. Estão para o passado como Isabel Alçada esteve para Maria de Lurdes Rodrigues. Lamento, mas, até aqui, o senhor é uma Alçada de calças. Concedo que a versão é melhorada.
2. A cultura organizacional vigente nas escolas é autocrática e centralista. Afastou os professores, como nunca tinha acontecido, das decisões com relevância educativa. Essa cultura gerou o clima de intranquilidade e conflito que o Nuno, o Crato, o crítico, evocou, mas o outro Nuno, o Arrobas, o ministro, empurra com a barriga. Isto só se resolve com uma intervenção simultânea nos modelos de gestão e de avaliação.
3. Não persista, Nuno Arrobas, num erro que o Nuno Crato veria num fósforo: não pode regulamentar a avaliação do desempenho sem mexer nos artigos 40 a 49 do Estatuto. Foi o que eu fiz, na proposta de lei que redigi a pedido de Passos Coelho, e o grupo parlamentar do PSD apresentou na outra legislatura. É elementar. Já leu o que esses artigos estipulam?
4. Não o incomoda a pobreza do argumento com que defende as quotas? Então mantém as quotas porque estão na lei geral? Mantém as quotas porque sem elas os professores eram todos excelentes? Desse estranho rigor resultaria a inacção total do Governo a que pertence. Nada mudaria desde que estivesse na lei? Não! Quando a lei está errada, não mudamos os argumentos para a manter. Mudamos a lei. E as quotas estão erradas. Os professores não são todos excelentes. Mas só os podemos distinguir se tivermos instrumentos de classificação capazes de lhes atribuir notações diferentes. E esse é o seu problema e o problema de todos que querem medir o desempenho dos professores como quem pesa batatas. Imagine, para ver se entende, que o júri das Olimpíadas de Matemática não conseguia distinguir um entre 33 candidatos finais e, apesar disso, atribuía a medalha de ouro ao que tivesse o cabelo mais louro. O Senhor não teria ido ao aeroporto receber o seu herói de Alcanena. Só por ele ser moreno!
5. Há mais 3 erros estratégicos, para além do que já referi, que ditarão o seu colossal falhanço, Nuno Arrobas, ministro: se persistir num modelo universal, igual para todas as escolas e para todos os professores; se não separar avaliação de classificação; se dissociar o desempenho do professor do desempenho da escola em que trabalha.
6. Exemplos de penúria na debilidade dos seus princípios: esqueceu o papel central dos departamentos; esqueceu os contratados; não tem a mínima noção da confusão e dos custos que resultam da envolvência de professores de outras escolas; não sabe o que significa uma avaliação hierarquizada; cede ao “eduquês” com a treta do Programa Educativo do Professor; mantém a lógica entre pares, com o desplante de dizer que a termina; demonstra um irrealismo grave, pensando que inicia uma negociação destas a 22 de Agosto para a terminar a 9 de Setembro, ao mesmo tempo que ridiculariza ainda mais Passos Coelho que, há duas semanas, dizia que 3 meses não chegavam.
7. Finalmente, pergunte ao Nuno, ao Crato, se ele acha que o que o Nuno, o Arrobas, propõe para avaliar o desempenho vai melhorar a qualidade do ensino. Se os bons profissionais virão a ser reconhecidos. Se os maus serão ajudados. Se as respostas forem negativas, recue até 12 de Agosto. Não se preocupe com a inconstância. Depois do que já se viu, ninguém achará grave. A resignação vigente é a do Tiririca: pior não fica!"

Vida de professores contratados cada vez mais complicada

"O ministro da Educação e Ciência revelou nesta terça-feira, no Parlamento, que o problema do número de professores sem contrato “pode ser agravado” neste ano lectivo.

Antes desta declaração à saída da primeira audição na comissão parlamentar de Educação, Nuno Crato já tinha avisado no decorrer da audição que “haverá bastantes professores não contratados e com horário zero”, devido às “restrições orçamentais”, recusando-se, porém, a avançar com qualquer número.

“Dentro de um mês, quando houver números rigorosos das escolas, saberemos em concreto quantos professores não serão contratados e quanto ficarão com horário zero”, disse.

A Federação Nacional dos Professores (Fenprof) já estimou em 20 mil o número de professores que podem ficar sem emprego com o arranque do próximo ano escolar.

Em resposta às perguntas dos deputados, o ministro assumiu aquilo que tem vindo a ser denunciado pelos sindicatos e é tema constante entre professores nas caixas de comentários dos blogues sobre Educação – o previsível aumento do número de professores contratados que não terão colocação e daqueles que, apesar de pertencerem aos quadros, ficarão com horários zero, ou seja, sem dar aulas, tendo de mudar de escola. “É uma situação humanamente preocupante, mas inevitável”, considerou".

Público

terça-feira, agosto 02, 2011

Ministério lança o “caos” na candidatura dos professores, diz FENPROF

"A FENPROF acusou hoje os serviços do Ministério da Educação de estarem a lançar o “caos” na candidatura dos docentes por falta de informação e ausência de componente lectiva, pondo em causa a colocação de alguns professores.
Em declarações à agência Lusa, Luís Lobo, do secretariado nacional da Federação Nacional de Professores (FENPROF), afirmou que as informações prestadas pelos serviços do ministério são “contraditórias”, estando a lançar a confusão junto dos docentes.
O sindicalista recorda que “faltam apenas três dias” para terminar o prazo dos concursos e que muitos professores “não sabem nem conseguem saber, porque os serviços não estão a funcionar, se devem concorrer”.
Luís Lobo criticou ainda a “inoperância” dos serviços ministeriais e a “incapacidade para produzir instruções claras e inequívocas”: “Há milhares de professores sem obter uma resposta da DGRHE [Direcção-Geral dos Recursos Humanos da Educação], porque os telefones e e-mails não encontram ninguém do outro lado”.
De acordo com a FENPROF, as instruções do Ministério da Educação e da Ciência (MEC) sobre procedimentos a adoptar nos concursos “não estão devidamente explicadas”.
A FENPROF alerta para o risco de “milhares de professores” ficarem este ano sem componente lectiva atribuída, resultado das decisões governamentais de encerrar escolas e de reduzir os créditos de horas atribuídas às escolas (destinadas às direcções escolares para poderem contratar professores ou distribuir horários pelos professores).
Hoje o ministro da Educação e Ciência, Nuno Crato, reconheceu no parlamento que este ano haverá mais professores com horário zero e muitos outros sem colocação. Para Luís Lobo, esta é apenas a confirmação do que a FENPROF vinha alertando já há alguns meses".

Público