quinta-feira, junho 29, 2006

A ascensão a professor-titular

Ao ler a entrevista da ministra na revista "Visão", da semana passada, fiquei preocupado. Disse a senhora que nem todos os professores dos últimos escalões passam à condição de titulares por razões que não apontou, mas que nós depreendemos: contenção de gastos. Segundo ela, caberá aos conselhos executivos decidir quem ascenderá a professor titular. A razão é simples: melhor que ninguém (!), a direcção da escola sabe quem são os professores mais capazes e por isso decidirá em conformidade com esse critério. A experiência diz-me que muito raramente os conselhos executivos fazem as suas escolhas seguindo critérios de competência. O que habitualmente vigora são critérios de outra natureza que não os que a ministra invoca. E isso deixa-me preocupado. Muito preocupado.

quarta-feira, junho 28, 2006

A Indisciplina Escolar

"Sobre a questão da indisciplina nas escolas publicou Fátima Bonifácio um veemente e indignado artigo no Público de sexta-feira passada. Escolas transformadas naquilo a que ela chama "depósitos de delinquentes", professores (e sobretudo professoras) insultados e agredidos, alunos normais aterrorizados, tudo isto, mais a ausência de elementares medidas de vigilância, polícia e sanção, está a criar uma situação explosiva no ensino.
É claro que essa saída existiria sem dificuldades no domínio do politicamente incorrecto. Se o professor, ou alguém por ele na escola, pudesse dar duas boas chapadas ao jovem agressor, insurrecto e malcriado, o problema resolvia-se em quinze dias. E, se as coisas continuarem assim, virá o tempo em que não haverá outra solução que não seja a restauração das palmatoadas e dos castigos corporais, quer se goste quer não se goste. Nunca fizeram mal a ninguém e, se sempre foram uma estupidez no que respeita ao mau aproveitamento, também sempre mostraram bastante eficácia no que toca às agressividades.
Num livro que já não é recente, A Pedagogia da Avestruz /Testemunho de Um Professor (2.ª ed., Gradiva, 2004), Gabriel Mithá Ribeiro analisa com argúcia, entre outras matérias de relevância para a vida escolar, o problema da indisciplina e reconhece que esteve à beira dessa atitude: "Cheguei a ter de jogar alunos e respectivo material pela porta fora, porque se recusavam a obedecer à ordem de expulsão da aula; cheguei a agarrar pelos colarinhos alunos que me invadiam a sala; cheguei a pôr o dedo em riste em algumas situações. Arrisquei a minha pele? Sim, mas ganhei o respeito dos outros e assim pude trabalhar (…)."
É muito pertinente a maneira como aborda a concepção da escola e rejeita a "incompreensível confusão entre os espaços simbólicos da família e da escola", afirmando a necessidade de um poder coercivo legítimo, com a possibilidade de sanções, "sempre legítimas e indispensáveis, no limite, da exclusão de quem não se compatibiliza com as normas".
É radical a sua crítica do pensamento e da prática dominantes na busca dos consensos que pretendem tornar os alunos "parceiros a tempo inteiro das decisões, no âmbito da vida escolar", o que é "uma falácia justificadora da fraqueza dos adultos". Por outro lado, as vicissitudes de natureza burocrática tendentes a efectivar a responsabilidade dos alunos são, como ele lhes chama, "meandros kafkianos".
É extraordinária a descrição que faz das hesitações dos professores e das delongas de preparação, instrução e apreciação dos processos: "Participei no mês de Junho em discussões sobre maus comportamentos que se arrastavam desde Outubro, para optarmos por penas simbólicas." E, enfim, a cereja no cimo do bolo: "Na maior parte das reuniões desta natureza em que participei, emerge de seguida o lado humano, cujos produtos finais, em bom rigor, dever-se-iam chamar impunidade, permissividade e irresponsabilidade."
Para Mithá Ribeiro, como para qualquer pessoa sensata, a "pieguice pedagógica" não tem pés nem cabeça, o bom selvagem de Rousseau não existe e a "questão dos aberrantes e politicamente correctos castigos pedagógicos é toda ela pensada partindo de uma visão demasiado optimista da condição humana e da vida social, como toda a actual filosofia do ensino".
A cultura profissional dos docentes é também uma das principais causas da indisciplina: "Quando tudo se centra no aluno, aos professores resta o sentimento de culpa, de auto-flagelação por todos os males que afectam o ensino." E "os próprios professores, a começar pelos conselhos executivos, têm discursos e práticas contra toda e qualquer forma de exercício de autoridade".
No sentido de inverter o rumo que as coisas levam, Mithá Ribeiro propõe a criação de comissões disciplinares nas escolas. A elas caberia a definição da estratégia disciplinar do estabelecimento, o recebimento das participações, a abertura e instrução dos processos, o poder de suspensão imediata dos alunos nos casos mais graves, o contacto com os pais, a presidência dos conselhos de turma de natureza disciplinar, a resolução de diferendos entre docentes e encarregados de educação, o calendário e a fiscalização do cumprimento das penas e uma vigilância constante ao longo do ano em matéria disciplinar.
Não sei se a ideia resulta. É possível. Mas, entretanto, talvez fosse preferível ir mandando regularmente a polícia para as escolas mais problemáticas. "

Vasco Graça Moura, escritor

sexta-feira, junho 23, 2006

Vamos aumentar o descalabro?

"O País ficou chocado com a reportagem exibida pela RTP1 a 30 de Maio sobre uma escola na periferia de Lisboa que mais se assemelhava a um depósito de delinquentes. Não vale a pena relembrar as imagens. Mas vale a pena sublinhar que o secretário de Estado presente no debate que se seguiu não teve uma palavra de apreço pelos professores que enfrentam diariamente aquele martírio. Ao contrário do que este governante tentou inculcar, a "escola" em questão não constitui caso único: constitui apenas um de demasiados casos extremos para que ninguém parece ter solução. E, no entanto, a responsabilidade do ministério é aqui límipda e irrefragável. O Estado tem, como qualquer empregador, a obrigação legal de garantir a segurança física dos que para ele trabalham. Manifestamente, não cumpre tal obrigação. Em 2005, os casos dos professores agredidos pelos alunos ultrapassaram largamente o milhar: mais de três por dia. Escolas como aquela que nos foi mostrada são casos de polícia, e só com um polícia ao lado é que os professores se deviam prestar a lá dar aulas.
Infelizmente, o problema da disciplina nas escolas não se cinge aos casos extremos em que ela assume a forma de pura violência. Em todas elas, independentemente da zona onde estão implantadas, se verifica mais ou menos a existência de uma indisciplina larvar, insidiosa, que subverte por completo o ambiente de ordem e tranquilidade absolutamente indispensável à aprendizagem. Em todas elas os professores são desrespeitados, insultados e vêem todos os dias a sua autoridade escarnecida por crianças e adolescentes totalmente falhos da mais elementar educação e totalmente desprovidos da mais básica noção do dever. Conheço professores que dão aulas no centro de Lisboa e nem assim se atrevem a estacionar o carro nas imediações da escola, por receio de que lhe furem os pneus ou vandalizem os automóveis. Para as gerações actuais, a escola é uma "seca" e, sendo assim, nada mais justo e natural. para a cabeça das angélicas criancinhas, do que fazerem dela um recreio permanente. Em suma: a indisciplina que grassa hoje em dia nas escolas torna radicalmente impossível ensinar lá o que quer que seja.
Anos e anos - décadas ! - de pedagogia romântica, assente no pressuposto de que as crianças são vítimas inocentes de uma sociedade repressiva e de que albergam na pureza dos seus espíritos imaculados tesouros de intuição e até de sabedoria ainda não contaminada pelo cinismo do mundo, mergulharam a escola numa anarquia. As pedagogias libertárias de finais da década de 60 - "é proibido proibir" - pegaram de estaca num país dominado por uma cultura cívica e política esquerdista, que prega a irresponsabilidade social. Ao longo dos anos e das décadas, o Ministério da Educação encarregou-se de esvaziar as escolas e os professores das suas competências disciplinares, na crença idiota de que os meninos e as meninas se poderiam corrigir com doçura, através de bons conselhos e benignas acções de recuperação. As punições foram praticamente abolidas. Alunos com 20 e mais participações disciplinares não são expulsos. Quando se abrem inquéritos, os alunos são ouvidos em pé de igualdade com os professores; ao cabo de vários meses redundam, na melhor das hipóteses, numa suspensão - que não conta para as faltas dadas: os prevaricadores são apresentados com alguns dias ou uma semana de férias. Em suma, a indisciplina na escola tem medrado a coberto da mais completa impunidade.
Muito me espanta que o actual Ministério da Educação, que tem sido justamente louvado pelo esforço sério e sem precedentes para identificar e atalhar os factores de insucesso em Portugal, não tenha até agora feito uma referência ao problema da indisciplina que mina e inutiliza a escola como lugar de transmissão de conhecimentos. Não basta denunciar a falta de orientação das escolas e dos professores para os resultados dos seus alunos. nem chega denunciar o espírito burocrático-administrativo que prevalece sobre um real empenhamento num trabalho colectivo tendente a minorar os problemas dos alunos co maiores dificuldades. E o diagnóstico do insucesso escolar também não se esgota na denúncia das pequenas e grandes corrupções em torno da distribuição de turmas e horários. Tudo isto exige e conta, sem dúvida, e não se vê como possa ser remediado, enquanto as escolas forem governadas por conselhos executivos obrigados a agradar a quem os elegeu. Mas o ministério devia inscrever o problema da indisciplina no topo das suas prioridades, pelo simples motivo de que sem ordem e tranquilidade não há concentração nem trabalho, e sem concentração e trabalho não haverá sucesso escolar.
Ora, nunca se restaurará a disciplina, se os professores não tiverem a sua autoridade protegida pelo ministério e as escolas continuarem de pés e mãos atadas para punir os alunos que perturbam a actividade escolar. Não há que fugir disto. Foi assim com espanto e consternação que tomei conhecimento de que o ministério se prepara para chamar os pais a participar na avaliação dos professores, prevista no Estatuto da Carreira Docente actualmente em discussão. Ninguém nega que a balda das avaliações como eram feitas até aqui tem de acabar. Como têm de acabar as pseudoformações que garantiam créditos para a progressão automática nas carreiras. Apenas negam isto os sindicatos, que com o seu reaccionarismo imobilista têm contribuído mais do que ninguém para a degradação da imagem dos professores na sociedade. Ma associar os pais á avaliação dos professores parece-nos a medida mais insensata e nefasta que poderia passar pelas cabeças da 5 de Outubro.
Aos paizinhos serão distribuídas "fichas de avaliação", em que se pronunciam sobre a "relação que os professores têm com as crianças". Extraordinária ideia, na verdade! Mas o que sabem eles dessa "relação" a não ser o que os filhinhos lhes contam lá em casa? E quem não sabe que os filhinhos acharão sempre que ela é péssima com os docentes mais exigentes? O secretário de Estado alega que as informações dos pais serão ponderadas com o parecer dos conselhos executivos. Fraco remédio! basta que um aluno saiba que o docente está sujeito à avaliação do paizinho e da mãezinha para que sinta as costas quentes e redobre de insolência. Se o ministério persistir na adopção de uma medida tão absurda, carregará com a responsabilidade de ser o primeiro contribuinte para a liquidação final da autoridade do professor e, por extensão, para o agravamento da indisciplina e do consequente insucesso escolar. E incorrerá na grave contradição de, por um lado, exigir mais trabalho e empenho aos professores - como pode e deve fazer -, retirando-lhes, por outro lado, um dos meios decisivos para cumprirem a sua missão com eficácia.
A ideia de pôr os pais a avaliaros professores daria vontade de rir, se não fosse grave. Para além do que fica dito, sobram outras considerações. Grande parte dos pais que têm actualmente os filhos na escola são analfabetos ou pouco mais do que isso. Não possuem um vestígio de idoneidade intelectual para se pronunciarem sobre a qualidade dos docentes: para não mencionar os muitos que não possuem idoneidade moral. depois, outra grande, grande parte pura e simplesmente despeja os filhos na escola e não quer saber do que lá se passa. Em Portugal, a maioria dos encarregados de educação, por incompetência ou desinteresse, ou ambas as coisas combinadas, vivem inteiramente divorciadas da vida escolar. Só vejo vantagens em manter pais destes à distãncia. E não me venham com o exemplo da América ou da Finlândia, onde os pais e as suas associações se envolvem intensamente na gestão escolar: convém não esquecer que, infelizmente, estamos em Portugal. "

Maria de Fátima Bonifácio, Historiadora

terça-feira, junho 20, 2006

A luta continua

No rescaldo da greve do dia 14, tivemos a habitual guerra dos números entre os sindicatos e o ministério da educação. Enquanto uns situavam a adesão nos 70% os outros ficavam-se nos 30%, valores bem mais modestos. Com a manifestação passou-se exactamente o mesmo: se os sindicatos afirmaram que estiveram presentes 10.000 professores já a polícia, que acompanhou a manifestação, refere que o número não ultrapassou os 7000. Independentemente de uns e outros poderem estarem errados na apreciação que fizeram, e com certeza que estarão, o que interessa aqui relevar, para nós professores, foi o número bastante significativo de professores que estiveram em Lisboa, num dia particularmente difícil tendo em conta as condições atmosféricas, mas que ainda assim não quiseram deixar de manifestar o seu veemente repúdio, a sua indignição face aos constantes ataques de que têm sido vítimas por parte da ministra. Não me ocorre de alguma vez os professores se terem manifestado de forma tão massiva como aconteceu no dia 14. Espero que esta tenha sido a primeira de outras lutas que se seguirão na defesa de um ECD digno da classe docente. É certo que dias difíceis nos esperam, pois a ministra ainda há poucos dias reafirmou que não admite rever as matérias essenciais do ECD que, segundo ela, não serão passíveis de negociação com os sindicatos. Quanto muito estará disponível para alterar algumas questões de pormenor que evidentemente não porão em causa o espírito do ECD. E quando já não bastava o apoio da opinião pública e dos media, eis que a ministra recebe a solidariedade do Presidente da República o que, como é óbvio, reforça a sua política e a levará a manter o rumo traçado. Perante isto só nos resta continuar a lutar. Não temos outra alternativa. E esta luta terá de ser feita junto da opinião pública: enquanto não conseguirmos alterar a imagem negativa que os professores vão tendo na sociedade portuguesa, todas as nossas reinvindicações estarão condenadas ao insucesso. Quanto a isto não tenho a menor dúvida.

quarta-feira, junho 14, 2006

Um grito de revolta

Este texto merece ser lido, especialmente num dia como o de hoje em que os professores vivem uma jornada de luta.

"(...) Perguntem a qualquer professor digno desse nome se ele quer ser avaliado. E a resposta é SIM! Claro que sim! Mas qual é o bom profissional que investe na carreira e que quer ter o mesmo Satisfaz automático num relatório para progressão na carreira que aquele que vê o ensino como uma forma de ganhar dinheiro "para os alfinetes"? Qual é o bom profissional que investe muito do seu tempo e da sua energia para querer depois ser "metido no mesmo saco" daquele que pouco ou nada faz??? Qual é o professor digno desse nome que gosta de ganhar o mesmo (ou ainda menos, se estiver num escalão inferior) do que aquele que é bem pior profissional do que ele?

Será este país tão estúpido e tão cegamente arrogante para achar que pode existir sem professores? Será este país tão estúpido para achar que a forma de limpar o ensino dos maus profissionais (que existem, claro que sim! E não contem comigo para ser corporativista...) é atacar todos os professores, atribuir-lhes as causas de todos os males da sociedade, desde os meninos que se drogam porque os professores faltam (ouvi isto da boca do senhor Albino, da Confederação de Pais) até aos de falta de produtividade do país? Será este país tão estúpido e tão arrogante que entenda poder não reconhecer as horas que os professores dedicam a preparar as aulas, a pensar em como “agarrar” aquele aluno que anda meio perdido, a telefonar vezes sem conta para os pais do outro miúdo que anda completamente desorientado, a gastar dinheiro do seu bolso em materiais de apoio, a levá-los em visitas de estudo a ver museus, teatros, exposições, conhecer coisas que muitos pais, confortáveis nos seus fins de semana de centro comercial, não estão para fazer? Já agora, para os que dizem que os professores só querem passear, pensem que o podemos fazer com os nossos filhos e amigos, sem ter que passar 12 horas fora de casa de um dia que, passado na escola, seria de muitas menos e sem a responsabilidade de tomar conta dos filhos dos outros. Será este país tão estúpido e tão arrogante que esqueça que são os professores, como é, obviamente, sua função e responsabilidade, a dar a todos os alunos o melhor das ferramentas de que dispõem, sejam elas científicas, intelectuais, sociais, de cidadania e de tudo o mais que possam imaginar e entender necessárias?

Será este país tão estúpido e tão cegamente arrogante que não perceba que sem os professores que tentam tirar os miúdos do miserabilismo intelectual em que muitos vivem (independentemente da classe social) teremos cada vez mais uma escola de pobrezinhos onde, para não haver insucesso, devo partir daquilo que "a criança" é e sabe, descer ao encontro dos seus interesses, por causa do insucesso, etc,etc,etc... (como isto dá jeito aos donos dos colégios...)? Assim, ajudamos os “pobrezinhos” a cumprirem o seu (pré)desígnio na vida... Será este país tão estúpido que não perceba que sem os professores que se estão a borrifar para estes determinismos sociais e que tanto trabalham, se for essa a vontade do aluno, para ser médico o filho do cozinheiro como o do deputado, teremos cada vez mais o país da elite, a quem tudo é possível, e o dos outros, fechados e condenados ao atraso e a perpetuarem o meio onde tiveram o azar de nascer?

Será este país de "professores de bancada" (pois, tal como no futebol, todos parecem saber mais do que é ser professor do que nós, pelos vistos os mais incompetentes de todos os profissionais deste país!) capaz de parar de gastar o tempo (tempo este em que muitos se poderiam dedicar, digamos, a educar os próprios filhos, a ir à escola saber deles, a dedicar-lhes uns minutos, sei lá...!) a fazer analogias entre as empresas privadas e os professores? Será este país tão estúpido e tão cego que não veja, nas empresas, as políticas de incentivo, os prémios de produtividade, os seminários de motivação, os telemóveis de serviço, os computadores da empresa para trabalhar em casa e, sem ir ao mais óbvio, os ordenados? Será este país tão estúpido que não entenda que os professores são profissionais qualificados, não têm o 9º ano nem tão só o 12º? Portanto, sejam pelos menos honestos (se não conseguirem ser inteligentes!) nas comparações.

Será este país tão estúpido e tão cegamente arrogante? Quantos de vós não devem muito do que são a professores que tiveram? Ou os vossos filhos?

Será o meu país tão cego e tão arrogante???

Assim, perguntem a qualquer professor digno desse nome se ele que ser avaliado... E ele responde-vos que SIM! O que não queremos mais é ser constantemente humilhados, culpabilizados, achincalhados, denegridos, tratados sem a consideração, o respeito e a inteligência que a minha profissão e o meu profissionalismo me concedem o direito de exigir!

E, citando Almada Negreiros:

UMA GERAÇÃO, QUE CONSENTE DEIXAR-SE REPRESENTAR POR UM DANTAS É UMA GERAÇÃO QUE NUNCA O FOI! É UM COIO D'INDIGENTES, D'INDIGNOS E DE CEGOS! É UMA RÊSMA DE CHARLATÃES E DE VENDIDOS, E SÓ PODE PARIR ABAIXO DE ZERO!

... cada geração tem o Dantas que merece! Mas também tem nas suas mãos o poder de o reduzir à sua insignificância... Até porque do Dantas, o verdadeiro, o Júlio, não fora o testemunho/desabafo do Almada Negreiros, e já se teria dissolvido na poeira dos tempos..."

5 de Junho de 2006

(Ana Cristina Mendes da Silva, professora do departamento de Língua Portuguesa do quadro de nomeação definitiva da Escola Secundária da Amadora)

Chegou a hora da verdade

Amanhã é o primeiro dia de uma luta que se prevê dura, e onde temos de demonstrar que estamos à altura do adversário. Veremos como vão os professores responder a este desafio.

P.S. Oxalá não deitemos a toalha ao tapete, logo no 1º round.

sábado, junho 10, 2006

Professores mais faltosos terão mais trabalho depois das aulas

Os professores que menos faltaram ao longo do ano lectivo serão beneficiados pelos conselhos executivos na distribuição do trabalho que tem de ser realizado nas escolas após terminarem as aulas, determinou o Ministério da Educação.
Numa carta enviada hoje aos conselhos executivos pelas Direcções Regionais de Educação, a tutela dá às escolas orientações a nível da distribuição de tarefas como a supervisão de exames e os trabalhos de preparação do próximo ano lectivo.
A ideia é que os conselhos executivos "tenham em consideração a assiduidade e a sobrecarga de trabalho que alguns docentes tiveram ao longo do ano lectivo", beneficiando-os em relação aos mais faltosos.
Estou para ver quantos Conselhos Executivos terão coragem de aplicar esta medida. Têm aqui uma boa oportunidade de provarem que não existe compadrio, preferências pessoais e as habituais discriminações, algo de que muitos orgãos de gestão são acusados, e com razão, como todos sabemos. Vou estar atento ao que acontecerá na minha escola.

"Analfabetolândia da Europa"

"O velho sonho de gerações e gerações de madraços pode finalmente realizar-se graças à ideia da senhora ministra da Educação - com a avaliação dos professores por parte de papás ultraliberais e educadores demissionários, que só têm olhos para os seus queridos e superdotados cabulazinhos, o ensino ficará entregue a quem reúne de facto condições para fazer de Portugal a Analfabetolândia da Europa.
Para nos irmos defendendo, o melhor é seguir os conselhos do médico Fernando Vale, por altura do seu centenário: andar informado e acompanhar a novidade. Querem acabar com o que resta de bom-senso e racionalidade? Façam favor, vocelências é que sabem. Depois, não será difícil adivinhá-lo, chegará a vez de pôr os maluquinhos a avaliar os psiquiatras, os arguidos a avaliar os juízes e outras patetices nascidas na cabeça de quem, querendo deixar uma marca, não hesitará em nos sujeitar às maiores barbaridades.
Os saloios do meu tempo, que tiveram de aprender - a bem ou à custa da avaliação de bofetões e palmatoadas - os rios, as serras, as linhas de comboio e outras fantásticas minudências, bem podem ir metendo os papéis para a reforma, mesmo que Sócrates os queira no activo até aos 70. É que já não podem mais aguentar-se à tona na torrente de facilidade com que se destrói tudo o que, tendo defeitos, vai funcionando em Portugal. Foi assim com as polícias, foi assim com os militares, só não foi assim com os juízes porque eles teimam em resistir, jamais será assim com os médicos porque há sempre um dia em que um ministro depende do bisturi - e chegou agora a vez dos professores. Já eram insultados e agredidos pelos alunos, se calhar os moços até têm razão, portanto vamos lá meter estes déspotas na ordem.
Seria preferível menos espalhafato e menos demagogia, e mais respeito por pessoas que, em não poucos casos com gritante falta de condições, tanto se dedicam à nobre função de ensinar. E mais atenção, por exemplo, à orientação pedagógica, não só aconselhando aos jovens as profissões para as quais mostrem mais aptidões, como apontando os cursos que permitam, no futuro, trabalho e motivação, remuneração digna e realização pessoal. É criminoso que, por carência de informação, desinteresse do Estado e incompetência dos avaliadores políticos, mlhares de famílias portuguesas gastam fortunas para obter um diploma cujo primeiro destino é a sua exibição no centro de (des)emprego.
Mas a ânsia é a de cortar supostos privilégios e banalizar tudo o que se reja por princípios e obedeça a regras, e agradar à mole imensa do funcionalismo indiferenciado, condenando às galés das tarefas mais duras e mais mal remuneradas, e àquela tropa fandanga que vive na subsidiodependência sem que dela efectivamente necessite. O esforço de progressão na carreira, o sacrifício pelo conhecimento ou o investimento na qualificação merecem o desprezo desta gente. Avaliámo-los mal, foi o que foi."

Alexandre Pais, Director do "Record", na revista Sábado.

quarta-feira, junho 07, 2006

Descrédito

Tendo em conta o que vou lendo na blogosfera e aquilo que vou observando na minha escola, ou muito me engano ou a greve do dia 14 vai ficar muito aquém das nossas - professores - expectativas. Os zunzuns que apareceram na comunicação social que dão conta de haver uma grande percentagem de professores que torce o nariz ao facto de a greve ter sido marcada junto a feriados, não augura nada de bom. A confirmar-se uma baixa adesão será uma machadada muito séria nas nossas pretensões. A ministra esfregará as mãos de contentamento e, por certo, aproveitará o facto para dizer que afinal a maioria dos professores até subscreve as suas propostas. Há muito que defendo que somos uma classe de gente acrítica e abúlica que cinge os seus protestos à sala de professores. Quando é preciso lutar pelos seus direitos, encolhe-se e fica à espera que outros resolvam os problemas que deviam merecer o contributo de todos. Se numa altura difícil como esta não estamos unidos quando é que vamos estar?

segunda-feira, junho 05, 2006

Pedido de esclarecimento

Porque é que sempre que os professores convocam uma greve se verifica uma condenação quase generalizada dos media e da opinião pública em geral, e quando o mesmo acontece com outras corporações não se observa idêntica manifestação de repúdio? Alguém me consegue explicar?

domingo, junho 04, 2006

A greve do dia 14 de Junho

A FENPROF convocou uma greve para o próximo dia 14. A FNE, à semelhança do que tem feito, volta a ficar de fora (esta falta de unidade entre os sindicatos é exasperante e só serve para nos desacreditar). Confesso que estas greves não me seduzem. Não só porque nos retiram legitimidade aos olhos da opinião pública - mais ainda, quando são encostadas a um feriado, o que dá sempre aquela ideia negativa de um fim-de-semana prolongado -, mas também porque elas são habitualmente marcadas pela guerra dos números entre os sindicatos e o Ministério da Educação, com os primeiros a sobrevalorizar os níveis de adesão e o ME a procurar desvalorizá-los.
Até aqui a ministra da educação tem tido o maior acolhimento dos media na sua tarefa de achincalhamento dos professores. Este apoio dos media tem sido fundamental na sua estratégia. Ultimamente começam a aparecer vozes discordantes, algumas com peso no panorama nacional, o que pode constituir um duro revés nesta linha de actuação. Vários analistas têm vindo a apontar alguns erros à sua política e a recente reportagem da RTP sobre a violência e a indisciplina nas escolas deu um precioso contributo nesse sentido. Considero até que a referida reportagem causou um grande impacto na opinião pública, e terá feito mais pelos professores do que os nossos sindicatos têm conseguido fazer nos últimos anos.
Temos de saber passar para a opinião pública a mensagem de que a ministra está errada quando diz que o principal factor que impossibilita o salto qualitativo no ensino em Portugal, reside nos professores, na sua incompetência e no seu mau profissionalismo. Nós que trabalhamos nas escolas todos os dias sabemos que isto não é verdade, mas à força de a ministra tantas vezes repetir esta ideia, a sociedade portuguesa convenceu-se de que é essa a leitura correcta. A nossa luta deve passar por convencer a opinião pública de que a desacreditação do nosso sistema de ensino reside fundamentalmente nas políticas educativas, nomeadamente nas sucessivas reformas que as várias equipas ministeriais não se têm cansado de implementar. Bem sei que nos falta a capacidade mediática de outras corporações, mas é por aqui que devemos centrar os nossos esforços.
Claro está que esta greve dever ter a adesão de todos, caso contrário daremos uma imagem de desunião que em nada nos favorece. Quero contudo acreditar que a nossa luta não se fique apenas pelo recurso à greve, porque se assim for dificilmente alcançaremos os nossos objectivos. Pode ser um 1º passo, mas não pode ser o único.