domingo, maio 31, 2009

Avaliações

Revista Expresso

sexta-feira, maio 29, 2009

Todos a Lisboa - unidos venceremos


Maria de Lurdes Rodrigues: uma ministra debaixo de fogo

"A ministra da Educação assistiu durante o seu mandato a oito greves e a sete manifestações de professores. Teve ainda a "companhia" dos docentes na Avenida 5 de Outubro, Lisboa, em três vigílias e dois cordões humanos e já terá recebido no seu gabinete mais de 320 mil assinaturas.

Se terminar oseu mandato vai bater o tempo de permanência no cargo de José Veiga Simão (15 de Janeiro de 1970 a 25 de Abril de 1974), tendo já ultrapassado por dois dias Roberto Carneiro (17 de Agosto de 1987 a 31 de Outubro de 1991), sendo estes os dois ministros que mais tempo permaneceram no cargo nos últimos 40 anos. No entanto, foi provavelmente a ministra da Educação mais criticada pelos sindicatos de professores e, seguramente, a que presenciou as maiores manifestações. Realizaram-se cinco grandes greves nacionais de docentes, uma das quais com uma adesão de 94%, segundo os sindicatos, e de 66,7%, segundo a tutela, e ainda outras três paralisações específicas.

Quanto a manifestações, Maria de Lurdes Rodrigues sobreviveu a sete protestos de rua, alguns dos maiores de sempre realizados pela classe. A 8 de Março de 2008 estiveram em Lisboa cerca de 100 mil docentes, números confirmados pela PSP, e oito meses depois cerca de 120 mil, segundo os sindicatos. Apesar de toda a contestação, a ministra recebeu sempre a confiança do primeiro-ministro, que já lhe agredeceu publicamente o trabalho desenvolvido. "Valeu a pena resistir, não desistir, enfrentar as dificuldades. Este é o caminho para o sucesso", afirmou José Sócrates em Janeiro".

JN

Teoria e prática

"Afinal, o PS moderou-se. Distribuição de preservativos nas escolas? Sim, mas cautela: a proposta aprovada na especialidade pelos socialistas não prevê distribuir preservativos como quem atira milho aos pombos.
Tudo depende das necessidades dos pombos: se, por hipótese, o Joãozinho aparece no ‘gabinete de apoio’ e declara, em doloroso pranto, que ele e a Teresinha já não aguentam mais os calores, é função do ‘técnico’ entregar-lhe a borracha e conceder-lhe a sua bênção. Mas o que fazer a todos os outros que, apesar dos calores, não têm forma de lhes dar andamento?
Em nome de uma escola verdadeiramente igualitária, o legislador devia acautelar situações de exclusão e carência, disponibilizando um bordel terapêutico em pleno recinto escolar. De nada servem aulas teóricas se os alunos não têm material para as práticas".

João Pereira Coutinho
Correio da Manhã

quinta-feira, maio 28, 2009

Um país de estúpidos burocratas

"Hoje, o meu mais velho (5ºano), entregou-nos um simpática carta da sua professora de ciências, informando que tendo ela solicitado a passagem à reforma em Dezembro passado, há dois dias tinha recebido comunicação diferindo positivamente o seu pedido, com efeitos a partir de 31 de Maio.
Como se está em final de ano, ela manifestou a sua disponibilidade, que foi aceite de bom grado pela Comissão Executiva, para assegurar as aulas das suas turmas por mais três semanas, ou seja até ao final do ano escolar, a 19 de Junho.
Contactada a Direcção Regional de Educação do Norte, foi-lhe no entanto indicado que se teria de retirar obrigatoriamente do serviço no final do mês de Maio, informando-nos a professora que, embora lamentando, não poderá ignorar tal directiva.
Não haverá substituição de professor, nem os alunos terão aulas, nem darão por inteiro o programa, nem terão o último teste, nem se sabe como serão lançadas ou por quem as notas da disciplina".

Gabriel Silva

quarta-feira, maio 27, 2009

Mário Nogueira explicando a baixa adesão dos professores à greve de ontem

"Mário Nogueira, Porta-voz da Plataforma Sindical de Professores
Correio da Manhã – A greve de professores teve baixa adesão. Que justificação encontra?
Mário Nogueira – Muitos professores estão a preparar-se para a manifestação de sábado. Este protesto tinha como principal objectivo recolocar a questão dos professores na agenda política, social e mediática. Ganhámos a aposta.
– Não é sinal de desmobilização dos docentes?
– Não, os professores continuam descontentes com as políticas deste Governo. Admito que haja algum cansaço e desgaste, é natural que assim seja. Mas pior do que uma iniciativa com baixa adesão seria não haver iniciativa. Queríamos uma pedrada no charco, para agitar as águas, que andavam demasiado paradas.
– O facto de o protesto ter sido agendado para uma semana no final do ano lectivo não pode dar uma imagem negativa?
– Nas escolas secundárias, por exemplo, houve muitos colegas que, mesmo concordando com a paralisação, não aderiram. Esta é a última semana útil antes do fim das aulas, com testes, e é natural que preferiram não prejudicar os alunos.
– Qual a expectativa para a manifestação de sábado?
– Esperamos dezenas de milhares de professores. De certeza".

Correio da Manhã

terça-feira, maio 26, 2009

A verdade nua e crua

Os número de adesão à greve de hoje foram baixíssimos o que representa um sinal claro da desmobilização dos professores na luta contra as políticas educativas deste governo. Era previsível e a manifestação de sábado irá confirmar isso mesmo. Os professores estão cansados e a maioria já não acredita que se possa vencer esta guerra contra o Ministério da Educação. A classe nunca teve um espírito guerreiro e verdade se diga que as formas de luta encontradas pelos sindicatos também pouco ajudaram. Só uma derrota do PS nas legislativas poderá devolver a esperança aos professores. Até lá, os professores vão aceitar passiva e pacificamente as deliberações do Ministério da Educação.

segunda-feira, maio 25, 2009

Estranho ou talvez não

Os PCE's e Directores reuniram este sábado em Guimarães. Das outras vezes, tivemos declarações e comunicados. Desta vez, nem um ai. A que se deve tanto secretismo? Será que também eles resolveram colocar-se ao lado do Ministério da Educação? Será que chegados ao cargo de Director decidiram que é preferível não fazer ondas, não vá o diabo tecê-las e serem afastados do lugar?

Telescola


Expresso

domingo, maio 24, 2009

Excelente artigo de António Barreto, hoje no Público

"A PUBLICAÇÃO, pelo Ministério da Educação, do “Manual de Aplicadores” não passou despercebida. Vários comentadores se referiram já a essa tão insigne peça de gestão escolar e de fino sentido pedagógico. Trata-se de um compêndio de regras que os professores devem aplicar nas salas onde se desenrolam as provas de aferição de Português e Matemática. Mais preciso e pormenorizado do que o manual de instruções de uma máquina de lavar a roupa. Mais rígidos do que o regimento de disciplina militar, estes manuais não são novidade. Podem consultar-se os dos últimos quatro anos. São essencialmente iguais e revelam a mesma paranóia controladora: a pretensão de regulamentar minuciosamente o que se diz e faz na sala durante as provas.

ALGUNS exemplos denotam a qualidade deste manual: “Não procure decorar as instruções ou interpretá-las, mas antes lê-las exactamente como lhe são apresentadas ao longo deste Manual”. “Continue a leitura em voz alta: Passo agora a ler os cuidados a terem ao longo da prova. (...) Estou a ser claro(a)? Querem fazer alguma pergunta?”. “Leia em voz alta: Agora vou distribuir as provas. Deixem as provas com as capas para baixo, até que eu diga que as voltem”. “Leia em voz alta: A primeira parte da prova termina quando encontrarem uma página a dizer PÁRA AQUI! Quando chegarem a esta página, não podem voltar a folha; durante a segunda parte, não podem responder a perguntas a que não responderam na primeira parte. Querem perguntar alguma coisa? Fui claro(a)?”. Além destas preciosas recomendações, há dezenas de observações repetidas sobre os apara-lápis, as canetas, o papel de rascunho, as janelas e as portas da sala. Tal como um GPS (“Saia na saída”), o Manual do Aplicador não esquece de recomendar ao professor que leia em voz alta: “Escrevam o vosso nome no espaço dedicado ao nome”. Finalmente: “Mande sair os alunos, lendo em voz alta: Podem sair. Obrigado(a) pela vossa colaboração”!

A LEITURA destes manuais não deixa espaço para muitas conclusões. Talvez só duas. A primeira: os professores são atrasados mentais e incompetentes. Por isso deve o esclarecido ministério prever todos os passos, escrever o guião do que se diz, reduzir a zero quaisquer iniciativas dos professores, normalizar os procedimentos e evitar que profissionais tão incapazes tenham ideias. A segunda: a linha geral do ministério, a sua política e a sua estratégia estão inteiras e explícitas nestes manuais. Trata os professores como se fossem imaturos e aldrabões. Pretende reduzi-los a agentes automáticos. Não admite a autonomia. Abomina a iniciativa e a responsabilidade. Cria um clima de suspeição. Obriga os professores a comportarem-se como “robots”.A ser verdadeira a primeira hipótese, não se percebe por que razão aquelas pessoas são professores. Deveriam exercer outras profissões. Mesmo com cinco, dez ou vinte anos de experiência, estes professores são pessoas de baixa moral, de reduzidas capacidades intelectuais e de nula aptidão profissional. O ministério, que os contratou, é responsável por uma selecção desastrada. Não tem desculpa.Se a segunda for verdade, o ministério revela a sua real natureza. Tem uma concepção centralizadora e dirigista da educação e da sociedade. Entende sem hesitação gerir directamente milhares de escolas. Considera os professores imbecis e simulados. Pretende que os professores sejam funcionários obedientes e destituídos de personalidade. Está disposto a tudo para estabelecer uma norma burocrática, mais ou menos “taylorista”, mais ou menos militarizada, que dite os comportamentos dos docentes.

O ANO lectivo chega ao fim. Ouvem gritos e suspiros. Do lado, do ministério, festeja-se a “vitória”. Parece que, segundo Walter Lemos, 75 por cento dos professores cumpriram as directivas sobre a avaliação. Outras fontes oficiais dizem que foram 57. Ainda pelas bandas da 5 de Outubro, comemora-se o grande “êxito”: as notas em Matemática e Português nunca foram tão boas. Do lado dos professores, celebra-se também a “vitória”. Nunca se viram manifestações tão grandes. Nunca a mobilização dos professores foi tão impressionante como este ano. Cá fora, na vida e na sociedade, perguntamo-nos: “vitória” de quem? Sobre quê? Contra quem? Esta ideia de que a educação está em guerra e há lugar para vitórias entristece e desmoraliza. Chegou-se a um ponto em que já quase não interessa saber quem tem razão. Todos têm uma parte e todos têm falta de alguma. A situação criada é a de um desastre ecológico. Serão precisos anos ou décadas para reparar os estragos. Só uma nova geração poderá sentir-se em paz consigo, com os outros e com as escolas.

OLHEMOS para as imagens na televisão e nos jornais. Visitemos algumas escolas. Ouçamos os professores. Conversemos com os pais. Falemos com os estudantes. Toda a gente está cansada. A ministra e os dirigentes do ministério também. Os responsáveis governamentais já só têm uma ideia em mente: persistir, mesmo que seja no erro, e esperar sofridamente pelas eleições. Os professores procuram soluções para a desmoralização. Uns pedem a reforma ou tentam mudar de profissão. Outros solicitam transferência para novas escolas, na esperança de que uma mudança qualquer engane a angústia. Há muitos professores para quem o início de um dia de aulas é um momento de pura ansiedade. Foram milhares de horas perdidas em reuniões. Quilómetros de caminho para as manifestações. Dias passados a preencher formulários absurdos. Foram semanas ocupadas a ler directivas e despachos redigidos por déspotas loucos. Pais inquietos, mas sem meios de intervenção, lêem todos os dias notícias sobre as escolas transformadas em terrenos de batalha. Há alunos que ameaçam ou agridem os professores. E há docentes que batem em alunos. Como existem estudantes que gravam ou fotografam as aulas para poderem denunciar o que lá se passa. O ministério fez tudo o que podia para virar a opinião pública contra os professores. Os administradores regionais de educação não distinguem as suas funções das dos informadores. As autarquias deixaram de se preocupar com as escolas dos seus munícipes porque são impotentes: não sabem e não têm meios. Todos estão exaustos. Todos sentem que o ano foi em grande parte perdido. Pior: todos sabem que a escola está, hoje, pior do que há um ano".

É escolinha, de facto

"Quem quer ouvir acerca da professora de História gravada em flagrante delito verbal e suspensa em consequência? Os alunos que a consideram "espectacular"? As crianças acham "espectacular" qualquer criatura que não as mace com instrução ortodoxa. Os alunos que colaboraram na cilada? Os petizes treinados na denúncia e os pais que os treinam não merecem grande apreço. Os legalistas que se concentram na ilicitude da gravação? Como se notou, ou devia ter-se notado, em trapalhada judicial recente, a invalidez da prova não anula, ou não devia anular, os indícios presentes na mesma. Os furiosos que querem linchar, figurativa ou literalmente, a senhora? A tal trapalhada judicial recente ensinou a todos a beleza da inocência presumida. Os castos que aproveitaram para invocar os perigos da educação sexual? A franqueza lúbrica da senhora não será norma. A senhora propriamente dita? É difícil levar a sério uma pessoa que agita um portentoso mestrado e ameaça os discentes com um "No que te metestes!" (sic). A directora regional de Educação? A sra. Margarida Moreira não comenta o caso, decerto por andar ocupada a enviar às escolas "e-mails" (repletos de erros) de louvor aos seus quatro anos de mandato na DREN. A sra. ministra? Para quê?
O melhor é esquecer o episódio, daqueles que excitam multidões durante uns dias e, no fim, não ensina nada a ninguém. No fundo, trata-se de uma perfeita metáfora do nosso ensino, tão perfeita que arrisca deixar de ser metáfora para se confundir com o ensino que temos, essa aberração que habita o fundo do poço e que, de longe a longe, uma gravação clandestina traz à superfície. Traz ou, diz o ministério do ramo no site dedicado à "e-escolinha", "trás".

Alberto Gonçalves
DN

O sexo dos anjinhos

"A educação sexual não me suscita nenhum sentimento particular, excepto incompreensão pelos seus mais vigorosos opositores, que olham o sexo descomprometido pelo lado pecaminoso, e compaixão pelos seus mais ardentes apoiantes, que terão sofrido imenso na juventude graças a lacunas informativas na matéria. No site do Bloco de Esquerda, por exemplo, um rapaz com idade para ter juízo (e experiência) ainda acha que o preservativo deve ser "uma parte excitante e divertida do jogo sexual". O rapaz excita-se (e diverte-se) com pouco, mas adiante.
Contas feitas, visto que os programas curriculares desistiram de ensinar matemática e português, arece-me inócuo que ex-pliquem às criancinhasas doenças sexualmente transmissíveis e o aparelho reprodutor, embora, na generalidade das situações, o que as criancinhas reproduzem são os ensinamentos que adquirem (ou não adquirem) em casa, na vizinhança, na televisão e na Internet.
O que me escapa é a necessidade urgente da distribuição de contraceptivos nos liceus. Para mim, espero que evidentemente, o problema é logístico e não moral, e prende-se com a seguinte questão: porquê? Além da vontade de irritar a Igreja e da eventual comissão da Durex, não faço ideia. Como lembram os próprios defensores da "causa", os preservativos estão disponíveis gratuitamente nos centros de saúde e, para os remediados, nas lojas de conveniência, farmácias, supermercados, etc.
Mesmo admitindo que são essenciais à vida sexual das crianças, em si uma questão polémica (se formos rigorosos, o único utensílio decisivo para a vida sexual de meninos e meninas é um parceiro do sexo oposto ou, consoante os gostos, de sexo idêntico - o resto é adereço), o facto é que os contraceptivos se encontram ao alcance de qualquer um. Dá-los na escola faz tanto sentido quanto doar no recreio cartões de telemóvel pré-pagos, para citar outro pechisbeque que a petizada apreciará.
Isto é, não faz sentido nenhum, especialmente se os estabelecimentos de ensino apelarem às relações seguras e não fornecerem os meios para as relações em geral. Uma proposta verdadeiramente "fracturante" não promoveria a contracepção sem promover, também no espaço escolar, a edificação de motéis suportados pelo erário público. Aí, sob espelhos no tecto e sobre camas de água no chão, a escola, que abdicou de instruir, cumpriria plenamente as funções que a contemporaneidade lhe exige: manter as crianças ocupadas, protegidas e, reza o jargão em voga, realizadas. Em princípio, o sexo ocupa e o preservativo, se não acabar vendido nas feiras à semelhança do Magalhães, protege. Já a realização depende de cada um".

Alberto Gonçalves, DN

sábado, maio 23, 2009

Antes tarde que nunca

"noto no caso da professora de espinho a vocalização, nomeadamente por parte de professores (mas também de muitos comentadores), de uma preocupação com a legitimidade e legalidade da gravação, assim como com a legitimidade e legalidade da difusão da mesma. preocupação que não foi visível, pelo contrário, no caso do vídeo do 'dá-me já o telemóvel'. interessante. na altura, escrevi um texto em que abordava essas questões e fui acusada, por mail e em múltiplos comentários, de 'censura', entre outros crimes de lesa democracia. folgo em constatar que houve evolução de opiniões. espero é que não tenha sucedido só porque desta vez a má da fita é uma professora e não uma aluna".

Fernanda Câncio
http://jugular.blogs.sapo.pt/

Gravações escondidas

Expresso

Incidente ocorrido em Espinho, revelador do estado a que chegou a escola pública


sexta-feira, maio 22, 2009

Vídeo da entrevista de Manuela Moura Guedes vs Marinho Pinto - Imperdível

Entrevista memorável

Acabei de assistir ao maior enxovalho que Manuela Moura Guedes sofreu enquanto jornalista. Habituada a enxovalhar os entrevistados, desta vez saiu-lhe o tiro pela culatra. Marinho Pinto, bastonário dos advogados, aplicou-lhe uma sova magistral que a jornalista não vai esquecer enquanto for viva. Disse-lhe aquilo que ela nunca pensou que alguém tivesse coragem de lhe dizer. Foi, sem qualquer dúvida, um dos melhores momentos televisivos dos últimos anos. Verdadeiramente épico. Só espero que a entrevista seja colocada no You Tube, pois este é um daqueles vídeos que merece ser colocado no baú das recordações.

Perigos do caso da professora de Espinho

"(...) A partir deste momento, com que segurança vai um professor para uma sala de aulas partilhar experiências, dizer uma piada ou outra, repreender um aluno faltoso ou desatento, impor a disciplina? Um docente condicionado pelo perigo de haver um gravador algures escondido numa mochila que depois vai parar à secretária de um jornalista não cumprirá bem a sua missão.
É certo que os professores têm de saber estar nas aulas, mas não podemos permitir a perversão de serem os alunos a dizer-lhes como. E este pode ser o principal ensinamento a tirar de uma aula de História do 7.º ano que devia ser uma coisa séria, mas foi exaltada como um espectáculo de entretenimento: a escola não pode sair dos muros da escola".

Pedro Ivo Carvalho, JN

Não se excitem

"Concordo com Ferreira Fernandes: professores malucos? Todos tivemos. E, com vergonha o digo, foram as criaturas que deixaram mais saudades: as conversas bizarras, os tiques de comportamento, os acessos de autoritarismo, inevitáveis quando se lida diariamente com seres humanos abaixo da idade da razão.
A única diferença é que, no meu tempo de liceu, não havia telemóveis para os filmar. Se houvesse, muitos teriam ido para o olho da rua. E tudo isto para dizer o quê? Sim, a professora de Espinho não devia ter dito o que disse. E, sim, os alunos não deviam ter filmado o que filmaram. Mas o problema não está propriamente na professora ou nos alunos. Está na forma histérica como reagimos a um caso particular e, no esquema geral do nosso ensino, absolutamente irrelevante".

João Pereira Coutinho
Correio da Manhã

quinta-feira, maio 21, 2009

O Manual do Aplicador para as provas de aferição

Alberto Gonçalves
Sábado

A farsa das provas de aferição

Editorial
Sábado

Nos países a sério é assim

"Notícias surpreendentes lá de fora: o primeiro-ministro belga, Yves Leterme, propôs hoje (19/12/08) a demissão de todo o Governo, na sequência de acusações de alegadas (alegadas, imagine-se!) pressões sobre a justiça. Leterme nega qualquer pressão sobre o poder judiciário e apenas admite ter feito "contactos"; Michael Martin, presidente da Câmara dos Comuns, anunciou hoje (19/05/09) a demissão, após acusações de alegadamente (alegadamente, pasme-se) ter consentido alegados (só alegados) abusos nas despesas de representação de alguns deputados; dois membros da Câmara dos Lordes foram hoje (20/05/09) suspensos (suspensos, a democracia inglesa está maluca!) por alegadamente (outra vez só alegadamente) terem aceitado dinheiro para votar projectos de lei.
Nenhum deles foi, pasme-se de novo, condenado por sentença transitada em julgado, e mesmo assim, pasme-se ainda mais, tiraram consequências políticas de alegações fundamentadas que os visavam. Então e aquela coisa da "presunção de inocência"? As democracias belga e inglesa têm que comer muita papa Maizena para chegarem aos calcanhares da nossa..."

Manuel António Pina
JN

quarta-feira, maio 20, 2009

Dois pesos e duas medidas

A professora de Espinho prevaricou e foi suspensa de funções até que se conclua o inquérito disciplinar. Lopes da Mota prevaricou e mantém-se em funções até que o processo disciplinar que lhe moveram esteja concluído. Ou seja, firmeza para os fracos e tolerância para os poderosos. Assim se faz justiça em Portugal.

A gravação e a professora

"A professora parece-me maluca. Isso, em si, não quer dizer grande coisa: alguns dos melhores professores que tive eram tidos como malucos. Admito, ainda, que pela conversa da professora ela seja do tipo em que seria aconselhável não frequentar garotos de 12 anos. Sobre ela, nada mais digo. Agora, esse escândalo levanta uma outra questão. No meu tempo, nós, os miúdos de 12 anos, comentávamos, entre nós, os professores malucos (as professoras malucas, também, mas, essas, era mais as pernas). Não se levavam as maluquices dos nossos professores aos pais e, muito menos, à rua e jornais. Nem estou a ver nenhum dos pais a pedir a um de nós: "Saquem- -lhe [ao professor maluco] uma maluquice que sirva de prova..." Foi bom ter vivido os meus 12 anos antes da popularização do gravador, fiquei sem memória de experiência de espião a soldo. Vão dizer-me que a gravação da professora de Espinho vai permitir que ela deixe de dar aulas e que isso é bom. Tudo bem. Mas eu digo-vos que é melhor ainda que, aos 12 anos, eu não tenha tido quem me fizesse espião a soldo".

Ferreira Fernandes
DN

Educação para a delinquência

"A notícia veio em tudo o que é jornal e TV: uma professora da Escola EB 2,3 Sá Couto, em Espinho - que dezenas de alunos seus consideram "a mais espectacular da escola" e uma "segunda mãe" - foi suspensa "após afirmações de cariz sexual". A suspensão foi ditada pelo Conselho Directivo depois de duas alunas terem gravado afirmações suas numa aula, alunas que, segundo vários colegas, "fizeram aquilo de propósito e provocaram a conversa toda porque sabiam que estavam a gravar".
A Associação de Pais e a DREN acharam muito bem. Ninguém, nem pais, nem Conselho Directivo, nem DREN "acharam mal" o facto de duas jovens de 12 anos terem cometido um crime (se calhar encomendado) para alcançarem os seus fins. O Código Penal pune com prisão até 1 ano "quem, sem consentimento, gravar palavras proferidas por outra pessoa e não destinadas ao público, mesmo que lhe sejam dirigidas", punição agravada de um terço "quando o facto for praticado para causar prejuízo a outra pessoa". Educadas desde jovens para a bufaria e a delinquência e sabendo que o crime compensa, que género de cidadãos vão ser aquelas miúdas?"

Manuel António Pina, JN

Educação modernaça

"A tecnologia tornou-se numa inimiga da escola pública. Ainda mal refeitos da cena do "dá cá o telemóvel", eis que surge uma gravação ainda mais aberrante – uma ‘s’tora’ de História (?), diante de efebos e meninas de 12/13 anos, urra teses insólitas acerca da sexualidade, ameaça alunos, difama pais e alardeia as suas vantagens curriculares (embora as desminta com o seu triste exemplo).
Já ouvi explicações variadas: as que acentuam o notório desequilíbrio da senhora, as que culpam as deficiências dos professores e os perigos da Educação Sexual nas escolas até às que acusam a balbúrdia ampliada pelas lutas sindicais. Julgo que será de tudo um pouco.
Só me resta uma dúvida – se os alunos do ensino privado não têm telemóveis ou se nada têm para gravar".

Carlos Abreu Amorim, CM

segunda-feira, maio 18, 2009

Diplomas estatísticos

"Um dos problemas estruturais de Portugal é o nível baixo de qualificação dos recursos humanos. E nos tempos que correm capital humano sem qualificação é capital muito desvalorizado. Por isso, o programa Novas Oportunidades é uma excelente ideia. A inteligência, a capacidade de trabalho e o saber-fazer são dos raros trunfos que temos para ultrapassar as dificuldades.
Os números dos diplomas do programa mostram o sucesso estatístico desta iniciativa, que ontem até levou o primeiro-ministro a fazer uma corrida de promoção. Mas há legítimas dúvidas sobre se todas as 143 mil pessoas que receberam certificados têm de facto mais qualificação. Há professores que contam que é fácil a um cozinheiro que tem apenas a quarta classe e que é competente na sua profissão ganhar automaticamente um diploma equivalente ao 9º ano só com a apresentação do currículo.
Há pessoas que de facto sabem mais da sua profissão do que outras com uma escolaridade formal mais elevada. E merecem ter uma certificação da sua qualidade, mas neste país de obsessão estatística há o perigo de o desejo oficial de mais qualificação se traduzir na entrega de diplomas sem qualquer valor acrescentado. É uma pena se a excelente ideia das Novas Oportunidades for estragada por um velho truque batoteiro".

Armando Esteves Pereira
Correio da Manhã

domingo, maio 17, 2009

O sexo oral

"Não passaria pela cabeça de ninguém a imposição de uma disciplina de educação religiosa nas escolas. Por mais neutral ou ‘científica’ que ela fosse. O acto seria sempre uma intromissão do Estado no reduto mais privado da existência. Mas este raciocínio não se aplica à vida sexual. Nestas matérias igualmente íntimas, o Estado entende que é seu dever educar os petizes nos misteriosos caminhos dos lençóis.
Tolero a bizarria. Mas não tolero que o Estado, nas suas prédicas sexuais, substitua ‘factos’ por ‘doutrina’; ou, pior ainda, que as famílias não tenham a liberdade para retirar os seus educandos da disciplina. Sobre os preservativos nas escolas, um aviso: a última vez que o governo distribuiu material pelos alunos, os Magalhães estavam cheios de erros. Espera-se que, desta vez, os preservativos não venham furados".

João Pereira Coutinho
Correio da Manhã

sábado, maio 16, 2009

Entrevista a um dos principais rostos do Sindicato dos Professores da Região Centro

"Francisco Almeida, 50 anos. Professor do Ensino Básico, com especialização em Administração Escolar, é o rosto mais visível, em Viseu, do Sindicato dos Professores da Região Centro. Militante do PCP, sempre que há uma manifestação aparece acompanhado de uma aparelhagem sonora de onde debita palavras de ordem e música apropriada a cada ocasião. É coordenador nacional da FENPROF para o 1º Ciclo do Ensino Básico, bem como na área da gestão das escolas e da rede escolar. A próxima manifestação de professores, marcada para 30 de Maio, deu o mote à conversa, onde se falou da carreira dentro e fora do sindicato, do encerramento das escolas e de um ano que fica para a história da Educação em Portugal.


O sindicato de professores, este ano, tem sofrido derrota atrás de derrota. Assume-as como tal?
Não é bem assim. Deixe-me dar-lhe a outra forma de ver. Avaliação de desempenho: este é o Governo que apareceu como campeão deste problema e até hoje ainda não avaliou um professor, a não ser os contratados no ano passado.


Mas, contrariando as indicações do sindicato, a maioria dos professores, entregou os objectivos da avaliação simplex.
Sessenta mil professores no país, não entregaram.


E quantos entregaram?
Entregaram os outros 80 mil. Mas não entregar os objectivos individuais com a pressão que estava a ser feita pelos conselhos executivos e pelo Governo, não é a mesma coisa que ir a uma manifestação, que fazer uma greve… exige mais coragem.


Qual é o problema da avaliação de desempenho?
O Governo tem no seu decreto regulamentar sobre a avaliação de desempenho um modelo que implica: os resultados escolares dos alunos pesam na avaliação de desempenho, o abandono escolar – coisa que ninguém compreende – pesa na avaliação de desempenho, há aulas assistidas… nada disto foi aplicado até hoje. Este ano, o modelo será aplicado de forma simplificada.


A FENPROF estava contra e perdeu.
Não é bem assim. Na divisão da carreira em categorias, a verdade é que já começam a haver alguns sinais do Governo a querer mexer na estrutura da carreira, nada que tenha ainda a ver com as propostas sindicais. Mas o Governo ainda não conseguiu aplicar plenamente nenhumas destas medidas, a não ser a questão da divisão da carreira em categorias, mas começa a dar alguns sinais e a pressão dos professores vai levar a que o Governo altere.


A luta é difícil?
Nunca dissemos aos professores que era uma luta fácil. Se os professores estiverem à espera que a solução destes problemas aconteça automaticamente depois das eleições legislativas, então desenganem-se. Os resultados podem ter uma influência decisiva na solução de muitos destes problemas, mas a luta persistente das pessoas é que vai ser determinante no curso destes acontecimentos. A luta dos professores vai acontecer mesmo depois das legislativas, ninguém tenha dúvidas.


O CDS-PP reunida nas Jornadas parlamentar em Aveiro (11 de Maio) anunciou que vai apresentar um novo Estatuto do Professor com carreira única.
Apoiamos.


É um exemplo de que os extremos se tocam?
O que temos é que a luta dos professores influenciou as opções de muitas forças políticas, é pena que não tenha influenciado as opções do Governo. Há mais partidos que são contra a divisão da carreira em categorias.


Perante isso, os professores também devem fazer as suas escolhas nas eleições legislativas?
Exactamente.


Sente os professores menos mobilizados?
Da semana de consulta aos professores resultou claro que, por unanimidade, os mais de 40 mil professores que participaram em mais de 300 reuniões em todo o país, afirmaram a importância da marcação de uma manifestação nacional de professores.


Na manifestação de 30 de Maio espera 120 mil professores, como no ano passado?
Não sei se são 120 mil.


E se ficar abaixo?
Não vamos fazer manifestações só quando houver 120 mil professores para irem para a rua.


Mas há esse dado comparativo?
Se tivermos 70 mil professores é uma grande manifestação de professores, mas o mais certo é que venhamos a ter mais. Já estão alugados autocarros [distrito de Viseu] em número igual a 8 de Março de 2008 e já há inscrições para metade deles [a 20 dias da data da manifestação].


Os professores dizem que o sindicato acordou tarde para a questão do fim do vínculo.
Perante essa afirmação, se estivéssemos numa reunião sindical, eu puxaria de um documento que tenho com uma lista de acções, que prova que esta é uma guerra que travamos desde 2006, houve foi professores que estiveram distraídos. Agora, houve muitos professores que tiveram dificuldade em acreditar que o Governo fosse capaz de fazer isto.


O que está em causa?
As pessoas, há muitos anos, assinaram com o Estado um contrato que os vincula ao Estado e, unilateralmente, violando o princípio da segurança jurídica, o Estado vem dizer: o que assinámos há tempos, agora não vamos cumprir.


Quais são os efeitos?
O Estado pode prescindir de professores, ou de outro qualquer trabalhador da administração pública, usando as regras que estão no código de trabalho.


Qual é a perspectiva da acção de luta que está aí?
Espero que a iniciativa dos deputados dê resultado. Eu creio que o Governo vai ter que engolir isto, se o Tribunal Constitucional vier a declarar inconstitucional a norma, e pode correr outro risco, que é, os professores ao contestarem podem ganhar em tribunal.


Outra batalha perdida foi a entrega da gestão das escolas à figura dos directores. Continua a dizer que "os directores das escolas podem ser os braços políticos dos autarcas nas escolas"?
Nós, professores estamos claramente em perda. O Governo impôs o seu modelo e o que temos hoje é um modelo autocrático de gestão, em que o director nomeia todas as estruturas intermédias de gestão.


Qual é o problema?
Estas pessoas das estruturas intermédias são as que compõem o conselho pedagógico da escola, onde pulsa a vida da escola e deixa de ser o espaço de representação dos saberes, do conhecimento, das várias áreas dos professores, dos pais e dos alunos (secundário], para ser a caixa de ressonância da opinião do director. Para além de passar de um órgão colegial para um órgão unipessoal, é o transportar para dentro da escola das pequenas guerras de política de paróquia e de concelho. Há câmaras a afirmarem: àquele presidente do conselho executivo que não gostamos, vamos-lhe "fazer a folha" se se candidatar a director. E fizeram em alguns casos.


Porque não faz essa denúncia pública?
A seu tempo a faremos.


Concorda que muitos professores que estão a concorrer possam alegadamente ficar na mão do poder discricionário dos directores, quando acabarem os concursos nacionais?
É mesmo assim.


É mais uma derrota?
É mais uma coisa que ainda não ultrapassámos plenamente, mas é preciso que se diga que essa questão faz parte da espinha dorsal da ideia que o Ministério da Educação tem para a profissão docente e para a escola. É a construção de uma outra profissão, de uma outra escola que não é a escola pública e democrática que conhecemos e que vai dar maus resultados. Nós, o que reconhecemos é a necessidade de prosseguir o combate contra isto e vamos consegui-lo. Se não acreditasse que era possível fazer recuar o Governo já não estava aqui.


"Eu não tenho nenhuma simpatia pela limitação de mandatos"
Já ultrapassou o incómodo que lhe causou o líder do PS de Viseu, José Junqueiro ao dizer que o podia ser considerado uma figura típica da região, conhecida como "a banda do Chico"?
Não foi propriamente um incómodo. Registei o disparate do dr. José Junqueiro. E registei que, este tipo de linguagem, normalmente, está associado a um certo desespero, de quem convive mal com o protesto e de quem está a ver que vai ter consequências eleitorais. Espero que tenha mesmo.


A linguagem utilizada por vós, aquando da passagem dos membros do Governo, a musica dos Xutos & Pontapés… não é de baixo nível?
Eu faço questão de usar os meus direitos de cidadão, de estar envolvido nos protestos dos cidadãos do meu distrito.


É um agitador profissional?
Não. Sou dirigente do Sindicato de Professores da Região Centro (SPRC) e da FENPROF, intervenho na acção sindical com todas as minhas forças, com o melhor que consigo, sei e posso. Não abdico de intervir em torno de outras causas e também não abdico de intervir partidariamente, assumindo publicamente a minha militância no Partido Comunista Português, desde 1983.


É justo os professores perguntarem se o pagamento de cotas serve para o Francisco Almeida utilizar os meios do SPRC em acções ligadas ao PCP?
Os meios e os recursos do Sindicato de Professores da Região Centro estão ao serviço da actividade sindical dos professores e estão ao serviço da central sindical a que nós pertencemos. Somos solidários com os trabalhadores portugueses de outros sectores de actividade. No sindicato de professores da Região Centro, até no distrito de Viseu, há professores que pertencem à direcção distrital do sindicato, que são eleitos locais do partido socialista.


Há quantos anos não dá aulas?
Há vinte e poucos anos.
Tem saudades da escola?


Não tenho saudades do tempo em que trabalhei em Lisboa, tenho saudades da Escola de Póvoa de Touro e da Cerdeira, em Vila Nova de Paiva.


Ainda conseguia dar aulas?
Há coisas que não se desaprendem.


Porque é que não há renovação sindical?
Há. Nas últimas eleições para o sindicato, 47 por cento da direcção distrital mudou e até as pessoas que estão a tempo inteiro não são as mesmas. Eu estou, quem sabe, há tempo a mais, mas essa é uma decisão que me vai caber a mim, à direcção do sindicato e aos professores sócios do sindicato, quando houver eleições.


A limitação de mandados é só para os políticos?
Eu não tenho nenhuma simpatia pela limitação de mandatos. A limitação de mandatos é feita por processos democráticos eleitorais.


"Há concelhos onde não pode haver só uma escola"
Durante muitos anos defendeu o encerramento de escolas com poucos alunos.
E continuo a defender.


Mas agora está contra os centros educativos.
Não. Fechar uma escola de três, quatro, cinco alunos é uma coisa, mas se decidirmos, como o Governo decidiu, fechar as escolas que têm menos de 10 alunos e, depois, mais tarde, as que têm menos de 20 alunos, significa fechar as escolas todas da Serra do Caramulo, da Serra da Nave, da Serra da Gralheira. Temos hoje crianças que são deslocadas, na Serra de Montemuro, 45 minutos para cada lado.


Qual é a solução?
O planeamento da rede escolar devia levar a concluir, por exemplo, que as crianças daquela região do Montemuro merecem ter uma escola na zona da serra, não tinham que ir todas para a vila. Podemos ter centros escolares de menor dimensão do que aqueles que estão a ser construídos. Podemos estar de acordo com o encerramento das escolas, o que nunca podemos é aceitar que se comece pelo telhado, ou seja, que primeiro se fechem as escolas, a seguir se vá à procura da solução para o problema e o resultado é meninos a ter aulas em contentores.


O problema está no planeamento e não na regra?
Nós defendemos que não deve haver uma regra administrativa – tem menos de 10 alunos, fecha – achamos que isso vale a pena observar, discutir com as pessoas e encontrar soluções caso a caso. A outra questão é do ponto de vista do planeamento da rede, há concelhos onde não pode haver só uma escola.


O Ministério da Educação discutiu isso com os autarcas.
Pergunte aos autarcas de Castro Daire, Vouzela e outros qual foi a discussão. Foi chegar lá e dar a solução. Foi chegar a Castro Daire e até mal tratar um vereador".

Jornal do Centro

A escola de Natividade

"A presidente do Conselho Executivo da Escola Básica do 2.º e 3.º ciclos de Pinhal Novo, Palmela, não gosta de ver as raparigas do "seu" estabelecimento de ensino com decotes exagerados e saias muito curtas e os rapazes com boxers fora das calças. Vai daí decidiu proibir tais indumentárias na "sua" escola. São gostos - e os gostos, como se sabe, não se discutem. O que se pode (e deve) discutir é a imposição do gosto. Porque, neste caso, é disso que se trata. Palavras de Natividade Azevedo, a presidente: "A sociedade em que vivemos perverte alguns valores. Enquanto cá estiver vou defender os meus valores".
Coisa extraordinária: a senhora presidente acha que a Escola de Pinhal Novo é uma espécie de coutada que lhe cumpre defender, mas defender de acordo com a sua intransigente escala de valores. Se, por exemplo, a senhora presidente entender que o dia será mais profícuo se os alunos e as alunas rezarem uma avé-maria e dois pais-nossos na primeira aula da manhã, não hesitará em impor a regra…
Posições - ou melhor: imposições - como esta não são novas. Lembro-me de, há uns tempos, o director-geral de Saúde ter decidido que, por estarmos num país modernaço, "todos os serviços dependentes do Ministério da Saúde" não poderiam servir em "coffee-breaks" porcarias daquelas que engordam. Só se aceitariam coisas limpinhas como "leite magro ou meio- gordo, iogurte e outros leites fermentados com um teor de hidratos de carbono nunca superior a 10 gramas por cada 100 gramas" (sic).
Estes novos vigilantes da(s) nossa(s) liberdade(s) são um paradoxal produto da (pós) modernidade: à medida que o indivíduo acrescenta autonomia à sua vida, pululam os agentes apostados em mostrar-lhe o caminho da felicidade asséptica, o caminho da virtude sem ponta de pecado. Gente aborrecida, esta.
O caso da escola merece uma reflexão acrescida. Aos poucos - e por variadíssimas razões, entre elas o desinteresse (propositado ou não) dos pais em relação ao que se passa nos estabelecimentos de ensino em que os seus filhos estudam -, a escola foi-se substituindo à família. Hoje cumpre-lhe não apenas ensinar e instruir, mas também educar, no sentido mais amplo do termo. O rápido crescimento dos jovens, a panóplia de instrumentos que, estando à sua disposição mais cedo, lhes aumentam os conhecimentos, a mudança do conceito de poder paternal, a perda (em muitos casos acentuada) de autoridade dos pais, tudo concorre para que se coloque hoje um conjunto de novos e sérios problemas à escola e aos pais.
O pior que pode acontecer é surgirem neste caminho muitas Natividade Azevedo. Pensar em soluções para estas delicadas matérias a partir de uma fechada escala de valores que vê nas saias curtas e decotes a porta para o pecado é triste, lamentável e perigoso".

Paulo Ferreira
JN

sexta-feira, maio 15, 2009

Os decotes, as mini-saias e as calças descaídas

"Uma escola do Pinhal Novo decidiu, em assembleia de escola, proibir o uso de "tops com decotes pronunciados, minissaias muito curtas e calças descaídas".
O caso não é novo; periodicamente, há escolas que impõem regulamentos sobre o vestuário a não usar dentro dos seus muros – o que suscita alguma risota entre gente cosmopolita e moderna para quem não há mal em as escolas serem uma extensão da ‘vida real’ e das passerelles. Ainda não há estudos fiáveis sobre as pandemias hormonais nas salas de aula, mas supõe-se que o estudo da Gramática ou de equações de segundo grau exija algum decoro. Matemática ilustrada com decotes e umbigos pode ser uma inovação, tal como boxers à mostra em aulas de Biologia e curtas minissaias nas bibliotecas. Os meninos e meninas até podem ir nus".

Francisco José Viegas
Correio da Manhã

quarta-feira, maio 13, 2009

terça-feira, maio 12, 2009

Uma nova Carreira Docente proposta pelo CDS/PP

O CDS/PP apresenta aqui a proposta de alteração do Estatuto da Carreira dos Educadores de Infância e dos Professores dos Ensinos Básico e Secundário.

Docentes enviam carta aberta a um primeiro-ministro “insensível e indiferente”

"Insensível, indiferente, inflexível e arrogante. Estes são quatro dos adjectivos que a Plataforma Sindical dos Professores dirige ao Governo numa carta aberta enviada hoje ao primeiro-ministro".

Público

Comentário - Srs. da Plataforma Sindical: façam o favor de me desculpar, mas esta carta aberta serve exactamente para quê? Para que Sócrates, altere a opinião que tem a respeito dos professores? Para que Sócrates altere a sua política educativa? Outra razão qualquer que eu não esteja a ver? Elucidem-me, por favor.

segunda-feira, maio 11, 2009

Foleiros & doutores

"Terminaram as chamadas "Queimas das Fitas" e, salvo raras excepções, o balanço foi o do costume: alarvidade+Quim Barreiros+garraiadas+comas alcoólicos. No antigo regime, os estudantes universitários eram pomposamente designados de "futuros dirigentes da Nação". Hoje, os futuros dirigentes da Nação formam-se nas "jotas" a colar cartazes e a aprender as artes florentinas da intriga e da bajulice aos poderes partidários, enquanto à Universidade cabe formar desempregados ou caixas de supermercado. A situação não é, pois, especialmente grave. Um engenheiro ou um doutor bêbedo a guiar uma carrinha de entregas com música pimba aos berros não causará decerto tantos prejuízos como se lhe calhasse conduzir o país. Acontece é que muitos dos que por aí hoje gozam como cafres besuntando os colegas com fezes, emborcando cerveja até cair para o lado, perseguindo bezerros e repetindo entusiasticamente "Quero cheirar teu bacalhau" andam na Universidade e são "jotas". E a esses, vê-los-emos em breve, engravatados, no Parlamento ou numa secretaria de Estado (Deus nos valha, se calhar até já lá estão!)".

Manuel António Pina, JN

CDS-PP quer professores com formação específica

"O CDS-PP quer alterar o Estatuto da Carreira Docente e vai submeter à opinião pública um projecto de resolução, onde defende uma carreira única e a existência de formação para aceder a patamares mais elevados da carreira. "A proposta vai ser colocada [hoje] no site do grupo parlamentar e estamos abertos a receber comentários durante vinte dias", explicou ao CM o deputado Diogo Feio.
A proposta dos centristas, a que o CM teve acesso, defende que todos os professores se podem candidatar a funções de coordenação, administração escolar ou supervisão pedagógica, estabelecendo que para aceder a estes patamares, os docentes terão de ter formação especializada na área. O projecto do CDS-PP defende ainda que todos os professores devem poder progredir até aos mais altos escalões".

Correio da Manhã

domingo, maio 10, 2009

Educação. Quem se interessa?

"Por muito que queiramos adornar o estado da Educação no País e na Região não há jeito a dar-lhe…colocamos uma rosa ali, um laço acolá, experimentamos alguma verdura, mas o resultado é sempre mau. É como se agarrássemos num caco de barro e o quiséssemos transformar na mais bela princesa do mundo; jamais o conseguiríamos!
É urgente repensar o ensino desde a base até ao topo. Pôr ao chão tudo o que tem sido feito nos últimos anos - e não estou a referir projectos Educativos saídos de Governos de quaisquer Partidos Políticos em particular -, juntar uma equipa formada pelos melhores daqueles que conhecem o terreno e avançar para a interessante e indispensável aventura em que o objecto a encontrar é o “ensino de excelência”. É possível consegui-lo nas escolas públicas, com critérios bem definidos e exigentes, para não continuarmos a ser confrontados com pessoas que vêm para a vida activa quase sem saber escrever nem ler, mas já com diplomas de anos avançados de escolaridade, e com um desinteresse completo pelo estudo e pelos saberes que tão necessários são para continuar a cultivar o “espírito” ao longo do tempo que lhes foi dado para cá estar (leia-se, na terra). Ao falarmos de Ensino temos sempre que referir-nos a saberes reais, assentes em bases sólidas de conhecimento reprodutivo, ou seja, em que cada ano de escolaridade deverá ser alicerce do ano seguinte já que ninguém consegue aprender a andar sem que os primeiros passos tenham sido bem dados. Não é isto que está a acontecer nas nossas escolas, nas nossas universidades…Numa ânsia desenfreada de contabilizar “êxitos” através da apresentação de um elevado número de alunos a transitarem ao ano seguinte, ao outro ano seguinte e por aí fora, com medidas de avaliação pouco exigentes e uma exagerada e exaustiva justificação para os casos considerados de insucesso, estamos a cair num fosso infestado de falta de saberes que já apresenta resultados nada benéficos para os indivíduos que pretendem entrar no circuito do trabalho que, mais do que nunca, necessita de pessoas técnica e intelectualmente bem preparadas.
Estamos todos a hipotecar o futuro das crianças e dos jovens, uns por produzirem más leis, outros por omissão. Uma Escola, como centro educativo que é, tem que ser espaço de preparação, nos mais diversos âmbitos do saber e do ser, das gerações que nos vão seguir nesta caminhada que é a vida a “mudar de donos” a cada volta irreversível que dá".

Maria da Conceição Brasil
DN

sábado, maio 09, 2009

Crimes de violência escolar aumentam

"A Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa registou 31 casos de violência em meio escolar nos primeiros três meses do ano (mais de dois por semana) e 2506 casos de violência doméstica, revela um documento divulgado hoje onde se faz a análise da actividade investigatória do Ministério Público neste distrito judicial.

Um balanço divulgado em Agosto do ano passado revelava que o Ministério Público tinha registado só nos primeiros seis meses de 2008 um total de 57 casos de violência escolar, à média de dois por semana. Este ano, com 31 casos contabilizados em apenas três meses, a média não melhorou. Pelo contrário".

Público

sexta-feira, maio 08, 2009

Parlamento manda para o Tribunal Constitucional a avaliação dos professores

"Mais de quatro dezenas de deputados de todos os partidos políticos, incluindo do PS, assinaram um requerimento pedindo ao Tribunal Constitucional (TC) que aprecie a legalidade de vários artigos do último diploma relativo à avaliação de desempenho dos professores e que estabeleceu para este ano regras simplificadas.
O requerimento seguiu hoje para o TC, depois do PCP se ter encarregue, a pedido de um grupo de professores, de recolher as 23 assinaturas necessárias. Foram conseguidas praticamente o dobro, naquela que é mais uma etapa da batalha jurídica que tem oposto professores e Ministério da Educação.
Os quatro deputados socialistas que mais críticas têm manifestado à forma como o novo processo de avaliação dos professores tem sido conduzido - Manuel Alegre, Maria Eugénia Alho, Maria Júlia Carré e Teresa Alegre Portugal - também se juntaram à iniciativa. A estes juntam-se deputados do PCP, Bloco de Esquerda, CDS-PP, Os Verdes, não inscritos e PSD, com o líder do grupo parlamentar social-democrata, Paulo Rangel, a colocar também a sua assinatura, numa convergência política pouco vulgar.
"Esta é uma questão que, politicamente, divide os partidos. O modelo de avaliação defendido pelo PCP é diferente do defendido por outros partidos. Mas a matéria invocada no requerimento de inconstitucionalidade é de carácter formal", explicou o deputado comunista Miguel Tiago.
Em causa está uma alegada violação da Constituição, já que o "simplex" da avaliação introduziu, através de um decreto regulamentar, alterações e revogou disposições que constam de leis de valor jurídico superior.
É o caso, por exemplo da abolição temporária dos resultados escolares dos alunos como factor de avaliação, princípio que está consagrado no Estatuto da Carreira".

Expresso

Novas Oportunidades - "qualificação" em série

"São já 18.136 os adultos que conseguiram um diploma de 12.º ano através do programa Novas Oportunidades. O número de inscritos duplicou desde finais de 2007. Já passaram pelo programa 713 mil pessoas desde 2006.
Segundo dados a que o JN teve acesso, desde o lançamento do programa em 2006, inscreveram-se 713 mil pessoas - mais do dobro dos inscritos até ao final de 2007 (323.467) -, das quais 209.240 já viram as suas competências validadas. Dessas, 191.104 obtiveram equivalência ao 9º ano e 18.136 ao 12º ano. O objectivo é chegar às 650 mil certificações em 2010.
A medida não deverá, por si só, gerar um volume de formados que permita retirar Portugal do último lugar entre os países da OCDE. Os dados mais recentes apontam 28% dos adultos portugueses dos 25 aos 64 anos com o secundário concluído, ao lado da Turquia e muito abaixo dos 68% da média dos países analisados. A taxa melhora (44%) entre os adultos dos 25 aos 34 anos, mas não o suficiente para fazer subir Portugal na tabela. Espera-se agora que, com a decisão de tornar obrigatórios doze anos de escolaridade [e não o 12.º ano, como tem sido veiculado nalguma comunicação social] ou a permanência no sistema até aos 18 anos, para todos os alunos que iniciem em Setembro o 7º ano de escolaridade, os índices nacionais comecem a melhorar.
A necessidade de melhorar a qualificação dos portugueses assenta nos cálculos da OCDE. Mais um ano de escolaridade contribui para aumentar a taxa de crescimento anual do PIB entre 0,3 e 0,5 pontos percentuais. Além de que a validação de competências pode ajudar a subir nas carreiras.
O programas de RVCC avaliam competências em áreas previamente definidas. Depois de delinear uma autobiografia, os candidatos têm que desenvolver vários temas, num trabalho escrito apoiado por sessões explicativas do processo. Em caso de necessidade, podem ser remetidos para acções de formação complementar de curta duração. No final, a validação de competências é feita perante um júri, que incluiu a equipa de formadores e um avaliador externo".

JN

terça-feira, maio 05, 2009

Assim não vamos lá

Quem fizer uma passagem pelos blogues de Educação mais significativos depara com um cenário desolador. A confusão está generalizada, todos barafustam e ninguém se entende. O motivo de toda esta "guerrilha", prende-se com o calendário e as formas de luta propostas pela Plataforma Sindical, até ao final do 3º Período. A querela já atingiu tal proporção que os bloguistas se insultam entre si. Um espectáculo deplorável que não se percebe a quem beneficia. Aos professores, não certamente. Aliás, toda esta situação só favorece os interesses da tutela que há muito percebeu que a melhor estratégia para derrotar os professores é apostar na divisão da classe. E a verdade é que a pouco e pouco o vai conseguindo, sem sequer precisar de "sujar os calções".

domingo, maio 03, 2009

Lá como cá - A ler com atenção

"Na casa simples de madeira e material na Vila Elza, periferia de Viamão, na Grande Porto Alegre (RS), o retrato de formatura da professora Glaucia Teresinha Souza da Silva, 25 anos, ocupa lugar de destaque. Da parede da sala, voltada para a porta da frente e os olhos dos visitantes, pende a imagem sorridente da jovem educadora de 1ª a 4ª séries. Mas a face de Glaucia, sentada no sofá abaixo da foto afixada com orgulho pelos pais, com quem mora, em nada lembra a felicidade eternizada no papel. Cabisbaixa, com crises ocasionais de choro, ela luta para se recuperar do traumatismo craniano provocado pela agressão de uma aluna na Escola Estadual Bahia, na capital gaúcha, no dia 23 de março. Além das dores de cabeça, arrasta-se apoiada em muletas e enfrenta um trauma psicológico que a inibe até de sair ao pátio da casa. A realização do sonho da filha de uma merendeira escolar de virar professora se transformou em pesadelo quando deparou com a crescente hostilidade dos alunos. Embora pretenda voltar a lecionar, precisa recuperar os movimentos e superar o medo. Confira trechos da entrevista concedida à Agência RBS em que a professora, também estudante de Direito com a matrícula trancada por falta de recursos, expõe um pouco do cotidiano vivido no interior das salas de aula do Brasil:
Diário Catarinense – Vale a pena lecionar?
Glaucia Teresinha Souza da Silva – É uma coisa que sempre gostei de fazer. Por mais que outras pessoas digam “tu ganha tão pouco”. Quando fazia Pedagogia, saía de casa de manhã cedo, ia para a faculdade, voltava para trabalhar em Porto Alegre, voltava para a faculdade de noite. Mas eu gostava. Me perguntavam se valia a pena tudo isso para ganhar uma miséria, e eu dizia “Não me importo, é o que eu gosto”.
DC – E gosta, ainda?
Glaucia – Eu gosto de dar aula. Claro, estão acontecendo coisas violentas, mas prefiro acreditar que isso é uma coisa à parte, que alguém vai tomar uma providência. Devemos pensar que, para cada aluno violento, tem 10, 15 outros que estão lá para aprender.
DC – Quando passou a perceber a mudança no ambiente escolar?
Glaucia – O que noto é cada vez mais os pais delegarem as responsabilidades para a escola. Antigamente, as crianças também não vinham prontas para a sala de aula, mas se esperava que chegassem com um mínimo de educação e respeito. Hoje, os pais acham que os professores devem ensinar tudo, até palavras mágicas, como “por favor” e “com licença”.
DC – Os pais dos alunos dizem isso abertamente?
Glaucia - Muitos pais dizem isso mesmo: “A obrigação é de vocês”. Os pais trabalham cada vez mais. A gente passa quatro horas com os alunos, mas o dia tem 24 horas. O resto do tempo eles passam onde, com quem, ouvindo o quê? Eles aprendem com a sociedade. Tem de ter alguém com eles dizendo isso pode, isso não pode. Os alunos estão muito largados. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) tem leis maravilhosas, mas está sendo mal-interpretado, porque ali tem direitos, mas tem deveres. Aprenderam a ler só os direitos.
DC – O professor se sente desamparado?
Glaucia – O adolescente percebeu que pode tudo. Pode desafiar, xingar, bater, jogar, fazer o que for, porque é menor de idade. Se o professor levantar um pouco o tom de voz, está errado. Se for um pouco mais ríspido, está errado. O professor não pode dizer não. Alguns pais dizem que o professor não pode xingar. Não é questão de xingar, mas de mostrar que não é assim que funcionam algumas coisas.
DC – O que leva a isso: o perfil do colégio, dos alunos, da direção?
Glaucia – Um pouco de tudo. A Bahia, escola onde sou docente, é bem localizada, mas atende um público que se considera excluído. O nível socioeconômico é muito baixo, então eles já vêm para a aula com a questão da diferença: “Vão me tratar de tal jeito porque eu sou assim”. E a gente não trabalha assim, não interessa a cor, a classe social. Tu estás ali para trocar conhecimento. Quando tive problema com um aluno, no ano passado, ele disse que já tinha mandado três professores embora. Eu disse para ele: “Eu não vou embora”.
DC – Em muitas escolas, a aula acaba virando uma queda de braço com alunos que querem tirar o professor?
Glaucia – Tem, tem disso. É a realidade.
DC – É uma experiência diária?
Glaucia – É um baque diário que se tem. É gritaria, xingamento, agressão verbal o tempo inteiro. É a disputa de dizer “não vou sair”, “não vou fazer”, “não estou nem aí”. No final do dia, o professor está arrasado. É cumulativo. Tu chegas ao final do ano e pensas: “O que vou fazer? Quero continuar aqui? Será que estou preparada? Vale a pena?”
DC – Se o ambiente escolar fosse menos estressante, teria sido mais fácil evitar o confronto que ocorreu?
Glaucia – Quando tu tens um ambiente que te ampara, coisas como a que aconteceu poderiam ser evitadas. Mas precisaria ser um amparo geral, ao professor e ao aluno. Eu sempre busquei soluções. Em momento nenhum fui para agredir a aluna. Acordo às 5h, às 6h estou saindo de casa, caminho um horror para chegar até a escola. O acesso para mim é superdifícil. Mesmo assim, levanto, faço o planejamento, vou para lá, dou aula. Para quê? Para ouvir falarem mal de mim? Para me xingarem? Os alunos já chegam com essa característica de se acharem excluídos. Qualquer palavra, qualquer coisa que tu fales, eles levam para o outro lado, porque estão preparados para brigar, para bater. É um clima pesado. Tudo o que tu falas pode ser mal interpretado.
DC – Os estudantes levam as avaliações para o lado pessoal?
Glaucia – Depende de como tu colocas isso para eles. No ano passado, tive três alunos que foram reprovados. Chamei para conversar na hora de dar a notícia. Falei direto para eles, porque os pais, por mais que a gente chame, não vão à escola.
DC – Em que ocasião a senhora consegue ter contato com pais de alunos?
Glaucia – Quando eu imploro. Aí, às vezes, algum se compadece. O pai do aluno que me desafiou no ano passado apareceu só dois meses depois. Havíamos solicitado que o pai ou a mãe comparecesse. A mãe nunca podia porque trabalhava. Passou-se um tempo, o pai apareceu com o menino e pediu desculpas. Assinamos um termo, por questão de segurança, que o menino não poderia me agredir de novo, e ele voltou a frequentar a escola. Ele frequentou mais um mês de aula, vinha um dia, faltava três, vinha dois, faltava quatro. Um dia não apareceu mais.
DC – A senhora vê muitos professores desesperados?
Glaucia – Muitos. É um estresse a que todos estão submetidos, do Jardim até a 8ª série, porque não é só uma situação de adolescentes, é desde os pequeninos, de fugirem da sala, de saírem correndo, de não respeitarem, de jogarem coisas no professor. É a situação rotineira. A maioria acaba chorando. Parece que a gente perde o chão em certos momentos, perde o controle no sentido de não saber o que fazer. É comum que alguém chore quando nos reunimos.
DC – Hoje a senhora teria condições de encarar uma aula?
Glaucia – (Chorando) Não, não teria. Vou ser bem sincera, ainda não saí da sala da minha casa para o pátio. Não vou nem ao pátio. Já estou começando a caminhar de muleta, caminhando mais firme. Mas não vou. Não sei explicar. Não quero que as pessoas me vejam. Não quero.
DC – A senhora acredita que é possível ter uma educação de qualidade?
Glaucia – Acredito. Estudei sempre em escola pública e acredito que foram escolas muitas boas.
DC – Qual seria a primeira medida para recuperar esses padrões?
Glaucia – Levar as famílias para dentro da escola, oferecer mais palestras, integração dos pais com os alunos, mostrar que a escola é uma ampliação da casa deles, que eles estão ali para ampliar o conhecimento, mas que não é só ali que vão aprender. No ano passado, fiz uma apresentação de final de ano com os alunos e me surpreendi. Ensaiamos dança e música. A apresentação foi linda, eles estavam muito felizes. Pais, tios, primos compareceram. No final, alguns vieram falar comigo: “Professora, prazer, sou a mãe do fulano. Parabéns, meu filho mudou.”

Diário Catarinense
Brasil

Medina Carreira a falar sobre Educação

"(...)LC – Mas o principal factor, os salários baixos, não era o ideal.
-
Mas o ideal do ponto de vista da mão-de-obra não é este que se prega aqui. Nós para termos uma mão-de-obra que ganhe bem temos de ter outra escola. Nós não podemos andar a formar analfabetos e depois dizermos para arranjarem empregos bons a esta gente. A gente tem de ir à escola.
ARF – Aumentar a escolaridade obrigatória nestas condições é uma ideia má?
- Teoricamente é uma boa medida. Como mexer na Justiça também seria uma boa medida.
LC – Mas é preciso que a escola seja boa.
- Agora mexer na escola e ficar tudo na mesma não interessa. Se os alunos estiverem lá e são tão bons os bons como são bons os maus, quer dizer, anda lá um número grande a atrapalhar o trânsito, em nome de uma coisa esquisitíssima e que eu não aceito que é a escola inclusiva. Ora, a escola é inclusiva se as pessoas estão lá para aprender. Se não estão para aprender têm de ir para outro sítio. Um estádio de futebol, põe-se lá toda a gente aos pontapés na bola. Agora, na escola só pode estar quem queira aprender. Mas isso tem de ser aferido. Nós temos todos os anos de verificar se eles aprenderam.
ARF – Têm de ter exames, não é?
- Fazer exames. Nós temos de ter programas decentes, feitos por intelectuais, por artistas, por técnicos. Nem sei quem é que os fez. São uns programas horríveis, os manuais são de fugir. E depois inverte-se tudo. Nós não podemos ter professores a ensinar bem se os alunos nem os ouvem. O senhor pode arranjar 200 mil catedráticos que não consegue ensinar esta gente. Porque eles não querem aprender. Oitenta por cento dos que estão lá não querem aprender. Bons são sempre bons. Quando nós éramos crianças também havia bons e havia maus. E havia uns médios e estes estudavam por causa dos exames.
LC – Seriam a maioria.
- Isso foi ontem, é hoje e será na próxima geração. Agora não. Temos os bons que eram bons e temos o resto. E como não há exames nunca chega a ocasião para estudar. Portanto isto é uma falsificação. O ensino em Portugal é uma intrujice. Uma intrujice cara. E depois inverte-se isto. Vamos avaliar os professores, nem sei quais são os critérios. No estado em que aquilo está parece-me uma tontice, mas não se avaliam os alunos. Isto tem pés e cabeça? Isto é de uma sociedade de gente com juízo?
ARF – Esta nossa escola é uma certa escola, que dura há anos e anos.
- É uma escolinha. Não é uma escola, é uma escolinha. É um grupo de gente que está a praticar um crime gravíssimo que vai liquidar uma geração. Se não mais. Mas a próxima geração maioritariamente está liquidada. As pessoas não aprendem a língua. Nós pensamos em português. Se a gente não sabe bem português não pensa bem. Nós não sabemos fazer contas, nós não sabemos geografia. Se perguntarem a um rapazito qualquer onde é que é Washington não faz ideia nenhuma, é capaz de dizer que é na Ásia.
LC – Acha que a geração que vai estar no mercado de trabalho daqui a dez , vinte anos vai ser pior?
- Vai ser cada vez pior. Porque está a enraizar-se esta decadência do ensino. O ensino está numa decadência profunda.
LC – E algum dia foi melhor? Nestes últimos 30 anos?
- Para os que podiam andar na escola foi muito melhor. Andavam eram poucos. Mas o problema não é esse.
LC – Estamos a falar de quando?
- Do tempo em que eu estudei. No século passado. E da minha filha, que andou na escola pública.
LC – Antes do 25 de Abril.
- Sim, muito antes.
LC – A escola era melhor antes do 25 de Abril do que é agora?
- Incomparavelmente. A diferença é que eram poucos. Eram para aí 30 por cento menos do que hoje.
LC – E preferia que fossem poucos?
- Não, não prefiro que sejam poucos. Eu prefiro é autenticidade, porque isto é uma vigarice. É que os pais dos que lá estão têm de ter a certeza de que estão a aprender. Não é serem poucos ou muitos. Não interessa nada produzir quantidade que é lixo. Nada.
LC – Mas a quantidade á partida diminui sempre a qualidade. A massificação do ensino diminui a qualidade, não acha?
- Mas não é diminuir até zero. Nós estamos a bater no chão. É diminuir um pouco. Agora isto não é nada. Um aluno sai dali e não sabe escrever. Eu ensinei muitos anos e acabei por me irritar com o ensino. Dava-lhes provas escritas e era dificílimo de entender o que escreviam. Cheias de erros, linha sim, linha não um erro, expunham pessimamente, tudo aquilo era um ver se te avias.
LC – Acha que no Ministério da Educação não sabem isso?
- O Ministério da Educação, como os outros Ministérios neste nosso regime, está ali para parecer, para apresentar uma estatísticas lá forjadas não sei como. Para vocês nas sondagens descobrirem que este Governo é um Governo muito próspero".

Correio da Manhã

sábado, maio 02, 2009

sexta-feira, maio 01, 2009

Pequena entrevista de João Grancho, presidente da Associação Nacional de Professores

Sábado

Ética mínima

"Face às críticas dos pais que acusam os inspectores do ME que inquiriram alunos da Secundária de Fafe acerca de uma manifestação contra a ministra de terem utilizado, nos interrogatórios dos jovens, métodos "absolutamente inconcebíveis depois do 25 de Abril" e os terem incitado a acusar e denunciar os seus professores, defende-se a Inspecção-Geral da Educação dizendo que tudo o que fez foi "legal". Juntamente com o "cumprimento de ordens", a "legalidade" sempre foi (foi-o em momentos sórdidos do século XX e continua a sê-lo) a explicação mais à mão para justificar o injustificável. Como se só o que é ilegal fosse condenável. Os inspectores do ME terão contudo lido Jellinek na Faculdade e saberão que o direito é apenas o "mínimo ético" (e conhecendo nós quem faz as leis, podemos ter uma ideia de quão eticamente mínimo é esse mínimo…). Ora talvez a um ministério da "Educação" seja exigível, nas relações com escolas e com jovens, um pouco mais - a não ser que no Ministério se esteja em greve à ética - que o cumprimento de serviços mínimos éticos. Mas, se calhar, sou eu que estou a ver mal a coisa".

Manuel António Pina, JN

O Ministério da propaganda e da estatística

"Uma das coisas que nos devia preocupar e deixar inquietos é a balbúrdia em que se transformou o Ministério da Educação – fábrica de estatísticas e instrumento de propaganda básica. Uma pena. Uma pena para a educação, para o ensino e para a decência.
Com tanto tempo ocupado a fazer política e propaganda, a promover inquéritos disciplinares e a conspirar, é natural que ao Ministério sobre pouco tempo para pensar em assuntos sérios que ultrapassem o tempo imediato e as necessidade do actual ciclo eleitoral. O episódio dos ‘Magalhães’ em Castelo de Vide é um triste acontecimento que o pedido de desculpas do primeiro--ministro não explica nem resume: a confusão entre o partido e o Estado, o Ministério como instrumento do partido. E uma amostra da miséria intelectual reinante".

Francisco José Viegas
Correio da Manhã