terça-feira, maio 31, 2011

Best of Sócrates

Hora extraordinária paga a 30 cêntimos

"A redução do montante a pagar aos professores por horas extraordinárias, introduzida no início do ano pelo Ministério da Educação, tem provocado situações caricatas, com docentes a receberem quantias irrisórias pelo trabalho extra.
O CM teve acesso ao recibo de ordenado de uma docente da área de Lisboa a quem foram creditadas duas horas extraordinárias, pelas quais auferiu de remuneração 44,60 euros. Sobre esse valor foram descontados 44 euros de IRS. "É ridículo, mas estamos a cumprir a lei", disse ao CM fonte da direcção da escola em causa.
Mário Nogueira, secretário-geral da Fenprof, afirma que situações destas se têm multiplicado e lembra que ainda está em vigor o pré-aviso de greve às horas extraordinárias. "A alteração da forma de cálculo representou uma redução de 30 por cento na remuneração de horas extra e a tutela junta o salário às horas , com o IRS a incidir sobre o total. Como essa professora deve estar na fronteira de um escalão de IRS, ao juntar o montante recebido em horas extraordinárias passou para o escalão seguinte e descontou mais", explica o dirigente sindical. Mário Nogueira já teve conhecimento de situações em que professores "chegam a ganhar menos por fazerem horas extra". Recorde-se que a Fenprof já expôs a situação junto da ministra da Educação, Provedoria de Justiça e Assembleia da República".

CM

sexta-feira, maio 27, 2011

O facilitismo nos testes intermédios

"Não concordo que se critique tanto as Novas Oportunidades. Principalmente poruqe depois não sobra tempo para criticar a escola normal. E "normal", claro, é força de expressão. Os correntes "testes intermédios" dos ensino básico e secundário, conjunto de provas facultativas e, na opinião do ministério, "uma importante ferramente na prevenção do insucesso", mostram, se preciso fosse, que o estado das coisas é absolutamente extraordinário.
Na minha remota juventude, um teste era composto por perguntas a que os alunos respondiam com base nas informações que tinham estudado ou que conseguiam copiar. A pedagogia moderna e a familiariddae das crianças com as novas tecnologias tornaram essa realidade obsoleta. Hoje, as perguntas incluem em si mesmas as respostas, que as crianças se limitam a retirar das primeiras (copy) e a colocar nas segundas (past). Em muito dos enunciados que consultei no site do Ministério da EDucação, o esquema é frequentemente o seguinte: P: Tó é sobrinho de Zé. Quem é tio de Tó? R: Zé.
A questão em causa é inventada. Mas só um bocadinho. Veja-se o seguinte exemplo, retirado do teste de Ciências Naturais do 9º ano: P: "Eric Flower, autor de um estudo sobre o lobo, refere que os números relativos a avistamentos diminuíram entre 1960 e 1969 (...). Indica, de acordo com o estudo de Eric Flower, em que década se inicia a diminuição dos avistamentos" R: (sugerida nos Critérios de Classificação): Década de 60.
Gralha? Não, senhor. No teste de História do 9ºano, pergunta-se: "Péricles (...) nasceu por volta de 495 a.C. e morreu em 429 a.C., datas que correspondem ao século?" Dá que pensar. No teste de Ciências Físico-Químicas, também do 9º ano, informa-se que "Actualmente, considera-se que os planetas que fazem parte do sistema solar são Mercúrio, Vénus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Neptuno (...)", para depois se interrogar sem piedade os pobres alunos: "Actualmente, considera-se que o sistema solar é constituído por quantos planetas?" daqui a uma geração, metade dos Nobel técnicos ficará em Portugal.
Não são necessários mais exemplos (que os há). Não li os testes dos escalões inferiores (para não entrar em depressão). Não comento a envangelização ideológica (no enunciado do teste de História, sob o título "Imagem de Propaganda nos Regimes Autoritários", exibem-se cartazes do salazarismo, do fascismo italiano e do nazismo alemão: a propaganda dos regimes socialistas foi suprimida devido à extrema docilidade destes). Não vou dissertar acerca da obsessão por vogas (dois terços do teste de Ciências Naturais parecem redigidos pela Quercus).
na analfabeta, e reveladora, ladaínha oficial, os "testes intermédios" pretendem" ajudar os alunos a uma melhor consciencialização da progressão da sua aprendizagem e, complementarmente, contribuir para a sua progressiva familiarização com instrumentos de avaliação externa". Tretas: a verdade é que já se acha notável que mocinhos de 14 ou 15 anos saibam ler. No resto, admite-se que sejam prodigiosamente ignorantes. Admite-se ou, desconfio, deseja-se. Há dias, o engº Sócrates acusou o PSD de querer "uma educação como havia antes do 25 de Abril". De que é que o engº acusou o PSD?"

Alberto Gonçalves
Sábado

quinta-feira, maio 26, 2011

Pacheco Pereira, Maria de Lurdes Rodrigues e as Novas Oportunidades - crónica de Santana Castilho

1. Em artigo intitulado “Notas de campanha (1)”, Pacheco Pereira classifica de “reprimenda mal-educada” a Passos Coelho aquilo que eu disse sobre o programa do PSD para a Educação. Pacheco Pereira foi atrevido. Falou do que não conhecia. Deturpou e distorceu. Porque não aceito lições de Pacheco Pereira, ignoraria a diatribe, não fora o respeito que me merecem os leitores do “Público”, que cumpre esclarecer. Passos Coelho prefaciou um livro meu e apresentou-o. O livro é um contributo para um programa de actuação política no domínio da Educação. Por iniciativa própria, Passos Coelho esclareceu aspectos de uma colaboração que me pediu. E entendeu, naquele acto público, referir o meu desapontamento (que lhe comuniquei em privado) com a versão final do programa eleitoral para a Educação do PSD e anunciar que o iria melhorar. Passos Coelho falou antes de eu ter falado e teve a hombridade de reconhecer (coisa pouco usual na prática política corrente) que o programa devia ser melhorado. Porque foi Passos Coelho a tomar a iniciativa de se referir ao que eu não abordaria na apresentação do livro, entendi escolher, para o referenciar, os aspectos que melhor poderiam servir a decisão, autónoma e prévia, (e sublinho o “prévia”) de Pedro Passos Coelho. Do espírito e da forma do que foi dito, quer por Passos Coelho quer por mim, ressaltou frontalidade e cordialidade. Só por ignorância ou má fé alguém pode falar de má-educação. A sala estava cheia. Duzentas pessoas podem testemunhar o que aqui fica, preto no branco. E Pacheco Pereira não estava lá. Ficar-lhe-á bem pedir desculpa.
2. No livro acima referido, defendo a necessidade de “auditar, do ponto de vista financeiro, pedagógico e científico, o programa Novas Oportunidades”. Passos Coelho, que tem, em boa hora, vindo a introduzir, em sede de pré-campanha, temas ausentes do programa eleitoral para a Educação, assumiu e comprometeu-se com a auditoria proposta. E afirmou, bem, que tem sido diplomada a ignorância. É natural que os responsáveis por aquilo que se denuncia reajam com as habituais tentativas de manipulação da opinião pública. Um artigo de Maria de Lurdes Rodrigues, dado à estampa no “Expresso”, é um belo paradigma de distorção da realidade. Socorro-me dele para desmontar os falsos argumentos com que se tentou (Marcelo Rebelo de Sousa incluso) atacar a legitimidade da denúncia protagonizada por Passos Coelho. Pedro Passos Coelho disse que se tem diplomado a ignorância. Não disse que todos os diplomados são ignorantes. Há centros de formação sérios e que funcionam bem. Mas não são, infelizmente, a regra. É simples demagogia, pois, o que escreve a ex-ministra da Educação, quando afirma que se chamou “ignorantes aos adultos que frequentam o programa”. Quando se fala de diplomar a ignorância, refere-se, por exemplo, a atribuição de um certificado de ensino secundário a alguém que, ao redigir uma das famosas dissertações autobiográficas da ordem, se expressa como ilustrado neste naco de prosa, transcrito de um documento que serviu para certificar:

“… Como já disse anteriormente tenho um filho e uma filha, em que ele è mais velho cinco anos … Ando sempre a fazer-lhe ver as coizas. até já lhe tenho dito se tiver a inflicidade de falecer nôvo paça a ser ele o homem da casa e tomar conta da mãe e mana, mas para eleé difícil de compreender as coisasezes mas tantas vezes lhe faço ver as coizas que acabo por compreender as situações e acaba por me dar razão e por vezes até me pede desculpa e que para a procima já não comete os mesmos erros. Ele tem o espaço dele com a mãe em que não me intrumeto, desde mimos e converças porque graças s Deus nem eu nem ele temos siumes um do outro com a mãe…”

Quando o designado “júri” certificou este candidato, a prosa transcrita estava certamente corrigida por um professor escravizado, com filhos para alimentar e renda de casa para pagar, contratado à jorna por um CNO (Centro de Novas Oportunidades), que só é financiado pela famigerada ANQ (Agência Nacional para a Qualificação) se “cumprir os objectivos”, isto é, se emitir x certificados de nível básico e y de nível secundário. O problema é que a um candidato que se expressa assim seja outorgado um certificado de ensino secundário. O problema entende-se vendo as dezenas de milhões de euros gastos em publicitar este logro e retrocedendo na lógica socialista: se não se certificam os candidatos, os centros não têm clientes; se os centros não têm clientes nem cumprem os objectivos, não recebem dinheiro; se não recebem dinheiro, não pagam aos professores contratados à jorna; e se estes não alinham no logro, a sua subsistência complica-se e a dos filhos também. É a vida a evidenciar a lógica da gestão por objectivos, sem ética. Mas não é destas oportunidades que os cidadãos e o país carecem.
Maria de Lurdes Rodrigues e seguidores chamam elitistas aos que não confundem a qualificação séria com a certificação da fraude pedagógica. Maria de Lurdes Rodrigues invoca a avaliação externa do programa, quando sabe que a respectiva qualidade nunca foi avaliada (como honestamente esclareceu o próprio responsável por tal avaliação). Maria de Lurdes Rodrigues pretende fazer passar histórias de vida redigidas em português deplorável por formação profissional digna. E foi disso que Pedro Passos Coelho falou, com razão".

Santana Castilho



terça-feira, maio 24, 2011

Nem 8 nem 80

"Tantas vezes injustamente acusado de promover o facilitismo, o GAVE parece ter levado a coisa a mal e, nos testes intermédios deste ano, desatou a exigir, não diria o impossível, mas o improvável: que os alunos saibam alguma coisa.

Mas no teste de Ciências Físico-Químicas do 9º ano terá ido longe de mais, exigindo a jovens de 15 anos que, entre outras coisas, saibam contar até 8. É certo que a prova permitia o uso de calculadora mas afigura-se um exagero supor que, ao final de 9 anos de escolaridade, os alunos já tenham aprendido a carregar 8 vezes na tecla 1 e, depois, na tecla "Total".

Se não, veja-se a pergunta de abertura do Caderno 2: "O sistema solar é constituído pelo Sol e pelos corpos celestes que orbitam à sua volta. Actualmente, considera-se que os planetas que fazem parte do sistema solar são Mercúrio, Vénus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Neptuno. Em 2006, Plutão deixou de ser classificado como um planeta, embora continue a fazer parte do sistema solar. [Pergunta:] Actualmente, considera-se que o sistema solar é constituído por quantos planetas?".

Já no Caderno 1 se exigia também que os alunos soubessem que, a 100º centígrados, a água entra em ebulição em vez de solidificar.

Com testes destes, visando aferir o desempenho dos alunos "por referência a padrões de âmbito nacional" lá se vão o "direito ao sucesso" desses alunos e a sua rápida entrada no mercado do desemprego".

Manuel António Pina

segunda-feira, maio 23, 2011

Culto do facilitismo

"Uma prova de Físico-Química do 9.º ano de escolaridade, elaborada este mês pelo Gabinete de Avaliação Educacional, do Ministério da Educação, volta a pôr a nu o mais um grave problema do sistema de ensino: uma crescente e aparentemente imparável, reforma atrás de reforma, degradação do nível de exigência colocado aos alunos. Neste caso, em muitas questões, para conseguir a resposta certa o aluno teria, apenas, de saber entender as perguntas escritas na prova, pois, em si próprias, elas continham a solução do problema.
Se esta fosse uma situação isolada, nem notícia mereceria ser, mas, na verdade, basta falar com qualquer especialista ou qualquer professor para perceber que, pelo contrário, desde há muitos anos que a pressão dos gabinetes ministeriais junto das escolas é feita no sentido de aligeirar os conteúdos programáticos, de diminuir as dificuldades para os educandos, de conseguir um bom resultado estatístico, de fugir aos problemas, independentemente do resultado qualitativo na formação dos estudantes.
Focalizar o problema do ensino básico em Portugal na questão da avaliação dos professores, como aconteceu nos últimos anos, serviu para desviar as atenções da opinião pública para este outro problema, obviamente bem mais grave: o ser política oculta do Estado para a educação a formação de alunos cultos em facilitismo".

Editorial
DN


Lágrimas

"O princípio da igualdade está na Constituição, não na vida. Alguns portugueses podem emitir delírios impunemente. Outros portugueses nem sequer podem constatar uma evidência. Alguns repetem de cinco em cinco minutos que a crise nasceu com a rejeição do PEC IV, ou que sem o TGV o país é cirurgicamente removido da Europa, ou que os porcos pedalam bicicletas. E ficam impunes. Outros correm sérios riscos mesmo quando dizem uma verdade.
Pedro Passos Coelho pertence ao segundo grupo. Um destes dias, o líder do PSD sugeriu que o programa Novas Oportunidades "certifica a ignorância" e foi trucidado. O eng. Sócrates, a voz embargada e a hipocrisia solta, acusou-o de "de insultar os 500 mil portugueses que obtiveram com o seu esforço e coragem uma melhoria das suas habilitações". O isento presidente de uma Agência Nacional para a Qualificação (ANQ), o penduricalho institucional que gere o programa, acusou-o de "desconhecimento" e "irresponsabilidade". A sra. ministra da Educação acusou-o de "desfasamento da realidade". A imprensa gritou "escândalo".
Removido o simulado chinfrim, um pedestre aproveitamento eleitoral, toda a gente sabe que as Novas Oportunidades constituem a maior fraude de um sistema educativo repleto de fraudes. Ninguém ensina nada, ninguém aprende nada, os formadores arranjam um emprego deprimente e os formandos contam "histórias de vida" e adquirem um papel cuja única utilidade é a de manter empregadores à distância.
Dadas as peculiaridades do seu próprio percurso académico, supõe-se que o eng. Sócrates seja sincero quando chama esforçados e corajosos aos frequentadores das Novas Oportunidades, os quais, na impossibilidade de enviar as "histórias de vida" por fax, têm de se arrastar até uma sala melancólica. Mas aí deveria terminar a tolerância e começar o autêntico escândalo.
Escandalosa é a simpatia, ou no mínimo a indiferença, dedicada a um logro que envolve centenas de milhares de criaturas. Escandalosa é a exploração das criaturas para embelezar as estatísticas e servir a propaganda. Escandalosas são as lágrimas (lágrimas, santo Deus) do eng. Sócrates quando evoca as criaturas. Escandaloso é o recurso a meios públicos para arregimentar criaturas a fim de testemunharem nos comícios do PS (aconteceu pelo menos em Vila Franca de Xira). Escandaloso é o país que admite isto, não as afirmações do dr. Passos Coelho, que por uma vez acertou em cheio. Se compararmos com a concorrência, acertar uma vez já não é mau. As dores da concorrência provam-no".

Alberto Gonçalves
DN


domingo, maio 22, 2011

O desespero em horário nobre

"Nunca achei que a destreza oratória constituísse um bom critério de avaliação dos políticos, que por mim podiam ser mudos sem grande prejuízo. A generalidade dos nossos comentadores discorda. Às vezes, os comentadores parecem julgar os candidatos eleitorais apenas pela lábia, opção a que têm direito mas à qual deviam conceder algum rigor.
Repare-se, a propósito, no mito erguido em volta de José Sócrates. De acordo com a maioria da opinião publicada nos últimos anos, o eng. Sócrates é insuperável em debates televisivos. Ninguém explica porquê: o homem é insuperável e pronto.
Curioso, na medida em que eu, que sou distraído, já vi o invencível eng. Sócrates perder debates. Na campanha em curso, então, vi-o perder dois dos primeiros três (Jerónimo, uma simpatia, não conta) e afundar-se embaraçosamente no quarto e último, por acaso o que lhe interessava. Após o enxovalho de sexta-feira, os estúdios dos diversos canais encheram-se de convidados que se confessavam surpreendidos pela prestação de Pedro Passos Coelho.
Se Passos Coelho surpreendeu foi por afirmar aquilo que o esquecimento ou uma desvairada estratégia o levaram a calar durante demasiado tempo: o eng. Sócrates, e não ele, governou o país nestes seis anos; o eng. Sócrates, e não ele, arrastou-nos para a presente miséria; o eng. Sócrates, e não ele, deu suficientes provas de incompetência; o eng. Sócrates, e não ele, recusa aceitar um mero esboço da realidade; etc. Afinal, bastava insistir nas evidências para demolir o mito.
Pela parte que lhe toca, o mito meteu dó. Ao longo de uma penosa hora, o eng. Sócrates revelou as costuras de um método que só funciona na cabeça dos devotos. Na forma, o recorreu a truques que envergonhariam uma criança: as frases feitas e repetidas à exaustão (género "Isto é gravíssimo!", "Isto é demasiado importante!" e "Jamais virei a cara às dificuldades!"), as expressões de choque simulado, os sorrisos estudados e, fruto de menos estudo, as típicas interjeições de desagrado e impaciência.
No conteúdo, a coisa infantilizou-se ainda mais. O universo do eng. Sócrates é habitado por recorrentes bichos papões, da crise internacional às agências de rating, passando pela oposição malvada que rejeita o prodigioso PEC IV. Nada do que acontece é culpa dele, uma alma cândida que desalmadamente se empenha em prol do bom comum e fecha os olhos à destruição que semelhante empenho provoca. Descontada a componente trágica, é engraçado ouvi-lo jurar que Portugal precisa de pessoas responsáveis, não de aventureiros. De qualquer modo, este não é um mestre da retórica e da "comunicação": é um sujeito desesperado.
E será a imagem desse desespero a sobreviver a um confronto a que, para descanso de ambos os participantes, faltaram questões vitais (a reforma autárquica, a Justiça), e onde, para conforto do eleitor médio, Passos Coelho realizou uma deprimente defesa do falecido Estado "social". No auge da agonia, o eng. Sócrates decidiu martelar na extraordinária ideia de que criticar o PS é criticar o país, instâncias que confunde há muito. No dia 5 verificaremos se a pretensão tem fundamento. Se depender do debate, não tem".

Alberto Goançalves
DN

sábado, maio 21, 2011

Razões suficientes para acreditarmos que Passos Coelho ganhou o debate a Sócrates

Emídio Rangel diz que o debate ficou empatado enquanto Miguel Sousa Tavares diz que Sócrates foi cilindrado. Se nos lembrarmos que o primeiro é um indefectível socratino e o segundo para lá caminha, é caso para se dizer que Sócrates não se saiu bem da contenda. Isto já para não falar da cara de enterro dos socialistas que apareceram a comentar o debate nos vários canais televisivos. Se isto terá repercussões no dia 5 de Junho não faço a mínima ideia. Mas lá que é maravilhoso ver Sócrates espalhar-se ao comprido, num debate em que todos esperavam que Passos Coelho claudicasse, isso é indesmentível.

sexta-feira, maio 20, 2011

quinta-feira, maio 19, 2011

A essência de Sócrates

"Um excerto do debate entre Paulo Portas e José Sócrates:

Paulo Portas: "O sr. disse que nunca seria primeiro-ministro com o FMI."

José Sócrates: "Não foi isso que eu disse. O que eu disse é que não estava disponível para ser primeiro-ministro com o FMI."

Judite de Sousa: "Não é a mesma coisa?"

José Sócrates: "Não. É diferente."

É preciso mais palavras para descrever este Primeiro-ministro?"





quarta-feira, maio 18, 2011

Novas Oportunidades - estudo não avalia rigor do ensino

"A equipa da Universidade Católica encarregue da avaliação externa da Iniciativa Novas Oportunidades (INO) não está a aferir qual a qualidade das aprendizagens, assumiu ontem Roberto Carneiro, líder da equipa. "O nosso objectivo não é avaliar o rigor e a qualidade da INO. Avaliámos foi a percepção das pessoas sobre a INO", disse o ex-ministro da Educação na apresentação das primeiras conclusões da avaliação efectuada.

O programa já certificou cerca de 250 mil adultos mas os partidos da oposição têm acusado o Governo de facilitismo e de formar para as estatísticas. Carneiro deixou mesmo no ar a ideia de que é impossível avaliar se háfacilitismo. "Mais fácil ou não em relação a quê? Quem tem de avaliar isso é o mercado", afirmou.

Uma das conclusões a que chegou a equipa da Católica foi de que as pessoas que aderiram à Iniciativa Novas Oportunidades avaliam o programa de forma muito positiva mas queixam-se do reduzido impacto que a melhoria de qualificações teve na sua vida profissional. "Há aqui um desafio de qualificar os empresários", disse Roberto Carneiro.

A avaliação externa da Católica – que será hoje debatida num seminário em Lisboa – vai durar 3,5 anos e custar 300 mil euros anuais".

CM

terça-feira, maio 17, 2011

Anedota

"Era uma vez uma menina que chegou à escola e disse à professora:
-A minha gata teve 4 gatinhos e são todos apoiantes do Sócrates.
A professora achou muita graça e no dia seguinte, quando passou por lá o inspector, pediu à aluna que contasse a história:
-A minha gata teve 4 gatinhos e 2 são apoiantes do Sócrates.
-Então mas ontem não eram todos apoiantes do Sócrates?
-Sim, mas 2 já abriram os olhos!"

domingo, maio 15, 2011

Combater o abandono escolar

"O abandono escolar precoce estava em franco decréscimo nos últimos anos, mas a crise ameaça inverter essa realidade, alertam os especialistas. E a verdade é que chegam das escolas portuguesas relatos de alunos que desistiram das aulas para poderem ajudar as suas famílias em dificuldades económicas. Por exemplo, Ana, de 16 anos, deixou de estudar porque a mãe não conseguia pagar o ATL do irmão. E se nesse caso o nome é fictício, já Diana, de 17 anos, teve a coragem de assumir sem rodeios que foi a falta de dinheiro na família que a levou a procurar trabalho e que só uma melhoria da situação a permitiu, entretanto, voltar a matricular-se.
Com 31% de taxa de abandono escolar precoce, Portugal tem números péssimos que duplicam a média da União Europeia. E por isso não é admissível qualquer recuo. Ora para tal é essencial que se tomem medidas de protecção social aos agregados mais frágeis do ponto de vista social, até porque, mesmo em tempo de crise, é prioritário continuar a apostar na formação dos jovens. Só assim se conseguirá uma força de trabalho mais produtiva, mais competitiva, capaz de dar futuro ao País.
Desde 2009 que o ensino obrigatório passou a ser até ao 12.º ano ou os 18 anos. Como afirma hoje, numa entrevista no DN, o ex-ministro da Economia Manuel Pinho, só um terço da população activa portuguesa possui actualmente o 12.º ano. Para melhorar essa percentagem, o abandono escolar tem de continuar a ser combatido e sem tréguas. É uma questão essencial".

DN

quinta-feira, maio 12, 2011

Sondagem Marktest - PSD aumenta vantagem sobre PS

Segundo o Barómetro, o PSD aumentou para mais de seis pontos a sua vantagem sobre os socialistas. Em termos de popularidade, Cavaco, Sócrates, Passos Coelho e Portas subiram.
A menos de um mês das eleições, o PSD aumentou a sua vantagem sobre o PS para mais de seis pontos percentuais e se se coligasse com o CDS-PP teria maioria absoluta, indica o Barómetro.
Segundo este estudo da Marktest feito para a TSF e o Económico, o PSD sobem 4,4 pontos para quase 40 por cento das intenções de voto e fica com 6,3 pontos de avanço sobre os socialistas, que tinham um ponto de avanço sobre os sociais-democratas há um mês.
Tal como o PSD, também o CDS-PP recupera 1,5 pontos, ao passo que o PS desce 2,7 pontos percentuais num estudo feito depois de serem conhecidas em detalhe as contrapartidas pelo resgate financeiro de Portugal.
Por seu lado, CDU e Bloco de Esquerda, que recusaram encontrar-se com os elementos da troika também descem, com a coligação liderada pelo PCP a cair 1,6 pontos e os bloquistas a perderem 1,2 pontos.
A menos de semana e meia do início da campanha eleitoral baixaram também o número de indecisos em três pontos, muito embora um terço dos 805 inquiridos ainda não sabe em quem vai votar ou então prefere não responder.



terça-feira, maio 10, 2011

A frase do dia

"Ponham os socialistas a governar o Sahara e, passado seis meses, estão a precisar de importar areia"

sábado, maio 07, 2011

José Sócrates num país que é só imaginário

"Concordemos ou não com a ligeireza ética dos métodos aplicados por José Sócrates, há um traço da sua personalidade que nos deve tocar: a capacidade de o homem se reiventar no discurso, de ficar sempre bem na televisão, mesmo quando, no espaço de poucos dias, proclama uma coisa e o seu inverso, como atesta a versão negra do FMI antes de ser conhecido o programa de austeridade e a versão cor-de-rosa do plano depois de o chefe do Governo ter alcançado um "bom acordo".

O primeiro-ministro de Portugal padece de uma "maleita" que poucos médicos acharão curável: chama-se, em linguagem corrente, singular perspectiva da realidade. E essa patologia tem-no alcandorado ao triunfo, tem feito dele um resistente, um caso de estudo.

José Sócrates só tem lucrado por viver, em grande medida, num país imaginário que não se chama Portugal. Atravessa, altivo, as tempestades, dono da razão. O FMI vergasta a classe média com mais impostos, mas ele, socorrendo-se da tal singular perspectiva da realidade, antecipa-se à chuva torrencial, interrompe um Barcelona-Real-Madrid e anuncia ao povo aquilo que o povo quer ouvir. E o povo que gostou do que ouviu foi muito povo. Provavelmente, terá ganho as eleições de 5 de Junho com tamanho golpe de asa. Porque o impacto da mensagem foi superior aos efeitos que o plano que verdadeiramente nos vai doer terá tido entre os eleitores.

Para aqueles que duvidavam da ferocidade do animal político (como ele próprio se intitulou), basta ler as páginas 6 e 7 desta edição: o primeiro-ministro demissionário, arrastado para o fundo por uma crise sem precedentes, já está à frente das intenções de voto, ultrapassando em dois pontos percentuais um Pedro Passos Coelho que, também ele, arrisca transformar-se, mas pela negativa, num caso de estudo internacional. Como é que um primeiro-ministro com uma imagem tão desgastada consegue continuar a cavalgar desta forma em direcção ao pôr-do-sol é, sem dúvida alguma, um mistério.

A campanha, por isso, promete: com um plano de contenção sufragado por PS e PSD, a discussão centrar-se-á em torno de quem gosta e fez mais por Portugal. Pelo país que existe e por aquele que Sócrates continuará a projectar no seu admirável mundo de ilusionismo".

Pedro Ivo Carvalho
JN

quinta-feira, maio 05, 2011

Coisa normal

"No intervalo do Barcelona-Real Madrid de terça-feira, o primeiro-ministro revelou ao país que várias medidas não constavam do acordo que o Governo demissionário nesse dia assinara com FMI, CE e BCE, desmentindo assim o que alguns jornais tinham abundantemente anunciado nos dias anteriores: fim dos subsídios de férias e Natal ou a sua substituição por títulos do Tesouro, despedimentos maciços na Função Pública, cortes nos salários, cortes nas pensões acima de 600 euros, redução do salário mínimo...

As cachas com que, nos últimos dias, alguns jornais encheram as primeiras páginas, alegadamente baseados em "fontes próximas das negociações entre o Governo e a troika", criaram tal clima de medo que muitos portugueses terão suspirado de alívio no final da comunicação do primeiro-ministro.

Resta saber quem forneceu a esses jornais (se não foram cozinhadas por eles próprios) as falsas e apocalípticas cachas, que arrefeceram de tal modo as expectativas dos portugueses quanto ao que aí vinha que, quando finalmente meteram mãos na realidade, esta - aumentos de impostos, congelamento do salário mínimo, subidas da electricidade, do gás e dos transportes, despedimentos fáceis e baratos, encerramento de hospitais e de urgências, etc., etc. - acabou por lhes parecer quente e acolhedora.

Facto é que certos jornais mentiram descaradamente aos seus leitores. E que estão calados, como se isso fosse coisa normal".

Manuel António Pina
JN

quarta-feira, maio 04, 2011

O controlo dos media

"Sim, há tiros no pé. Sim, há um grave problema de comunicação política no PSD, particularmente irritante no atual momento. Esta liderança do PSD, que nunca me convenceu, está a ser estranhamente amadora. Mas o meu ponto não era esse. O que eu acho inaceitável é a equivalência moral que se faz entre o amadorismo/ingenuidade/falta de jeito de Passos e os actos e consequências de Sócrates. Essa equivalência - que está em vigor nos média - não é aceitável. Um está lá há 15 anos. O outro nunca lá esteve. Um levou o país à bancarrota. O outro é líder da oposição há um ano. Aproveitar o ruído do PSD para esconder o fracasso absoluto da governação PS é uma coisa inaceitável. Moral e intelectualmente. Um exemplo: na segunda-feira, o hino novo (?) do PSD teve mais buzz do que a notícia das 600 mil crianças que perderam um subsídio de família. Isto não é justo. Uma vírgula mal colocada numa declaração de Passos causa mais eco na imprensa do que um acto de má governação de Sócrates (ex.: a factura de electricidade das escolas triplicou com a Parque Escolar). Isto não é normal. Se Passos dá um espirro, todos os jornais caem em cima; há um motim de Teixeira dos Santos contra Sócrates, mas isso não causa polémica nem discussão. Isto não está certo. Não é honesto. O amadorismo do PSD não desculpa o cinismo dos média e do mainstream opinadeiro, que está sempre disposto a fazer o jogo do spin socrático. Lemos e ouvimos coisas que dizem aos portugueses que a crise começou na semana passada..."

Henrique Raposo
http://clubedasrepublicasmortas.blogs.sapo.pt/780418.htm

domingo, maio 01, 2011

Entrevista a Jouni Välijärvi, investigador em Educação na Finlândia

"Defende que um dos segredos do sucesso finlandês é a qualidade do ensino primário. Por que é que os professores da primária têm tanta popularidade?

Tem muito a ver com a nossa história. A Finlândia só é independente há 100 anos e os professores primários eram colocados por todo o país para espalhar a identidade nacional. É umas razões que explicam uma popularidade tão alta. Ser professor primário é tão prestigiado como ser médico ou advogado: os pais querem que os filhos sejam professores primários e, quando perguntam aos miúdos que acabaram o secundário que carreira querem seguir, a profissão surge nos dois primeiros lugares.

E muitos dos que têm essa ambição não a conseguem alcançar, porque é muito difícil entrar para o curso.

A popularidade estende-se aos professores do secundário?

Depende das áreas. No secundário, muitas vezes ir para professor não é uma primeira escolha, é um recurso, e isso tem reflexos na motivação dos professores e na aprendizagem.

Por que é que ser professor primário é tão apelativo?

Uma das coisas mais importantes é a autonomia, em que cada professor organiza o trabalho como entende, por isso a questão da avaliação é muito sensível. As aulas estão muito fechadas sobre si mesmas, o que é uma força do sistema mas também uma fraqueza. Mas o facto é que os pais confiam nos professores e nas escolas.

Na Finlândia, o ensino primário prolonga-se por seis anos, as crianças ficam durante este período com o mesmo professor. Isso é importante?

Sim, é a base de tudo. Costuma ser um professor que trabalha com eles ao longo dos seis anos, mas há escolas que dividem os anos por dois professores e pode haver outros professores que ajudam nalgumas matérias, por exemplo, em Matemática ou Desporto. Fica ao critério da escola.

Os poucos chumbos que existem são na primária...

Analisando os alunos do 9.º ano, constata-se que só 2,6 por cento chumbaram e a grande maioria foi na primária. É mais eficaz reter um aluno um ano no início do que este ter que repetir um ano mais tarde, porque é uma altura em que estão a ser dadas as bases. Os professores finlandeses têm expectativas muito altas em termos académicos, incluindo os primários, mais até do que noutros países nórdicos. Por exemplo, na Dinamarca o ensino está mais centrado no bem-estar e felicidade das crianças do que nos resultados académicos. O modelo finlandês mistura os dois factores, preocupa-se com a felicidade e com a parte cognitiva, o que se traduz na aquisição de certos níveis na Escrita, Leitura e Matemática, algo que também já é importante na pré-primária.

O que faz com que um professor seja bom?

Perguntámos isso a alunos e concluímos que é quando sentem que percebe do tema que ensina e também, e este aspecto é interessante, quando sentem que se interessa por eles e está disposto a ter conversas que lhes dizem algo e que não têm necessariamente a ver com a cadeira que lecciona.

Questões como a sexualidade?

Sim, mas também quando o professor os ajuda a escolher o caminho que vão seguir, que está disposto a discutir com eles o porquê das suas escolhas.

As escolas finlandesas têm turmas pequenas. Este poderá ser outro factor de sucesso?

São pequenas e os professores defendem que devem ser ainda mais pequenas. Eu sou céptico em relação à utilidade de reduzir as turmas. Actualmente, na primária, em média, temos 21 alunos por turma, no secundário 19. Eu acho que não é possível chegar a um número óptimo, que a dimensão das turmas deve depender dos alunos, do que se ensina. Até porque ter turmas mais pequenas significa ter mais professores e isso implica aumentar gastos. Penso que o dinheiro pode ser usado para criar mais apoios de acordo com o contexto de cada escola: há escolas em que 15 por cento são imigrantes.

Uma das conclusões da OCDE é a de que pagar bem a professores resulta em melhores resultados, porque aumenta a sua motivação.Até certo nível. O importante são as condições de trabalho como um todo, o salário é um sinal. O mais importante é os professores sentirem que, quando têm dificuldades, não estão sozinhos, o que não é o caso em muitos países.

A Finlândia é um dos países onde se passa menos tempo na escola.

Quando se está na escola está-se concentrado na escola, quando se sai vai-se fazer outras coisas, são tempos perfeitamente separados. Na Coreia [outro país bem classificado no PISA], os alunos levantam-se às 6h00 e voltam a casa às 21h00, e ainda têm que fazer trabalhos de casa. Para estes jovens, a escola e a educação são tudo na vida. Os finlandeses, entre tempo na escola e trabalhos de casa, passam um total de 30 horas por semana, face a 50 horas da Coreia.

Moral da história?

A forma como os países conseguem bons resultados é completamente diferente. Esse é o reverso da medalha destes estudos internacionais que incentivam a imitação. Os países podem aprender uns com os outros, mas tem que se ter muito cuidado em transplantar modelos".

Público