sexta-feira, abril 18, 2008

As razões das professoras e professores

"O acordo celebrado entre a Plataforma Sindical e o governo dividiu o movimento de professores. Houve quem com ele embandeirasse em arco, houve quem achasse que foi uma derrota trágica. Ainda bem que todas as visões foram e estão a ser discutidas nas escolas. Depois da grande manifestação e ainda mais depois do acordo, é fundamental definir uma estratégia para a luta ao longo destes meses do fim do ano lectivo e sobretudo ao longo do próximo ano. É sobre isso que quero apresentar aqui alguns argumentos.

Primeiro argumento: o governo foi forçado a recuar. O governo recuou de facto, mas numa única matéria: foi vencido na chantagem contra os professores contratados, porque queria fazer deles cobaias para o processo de avaliação e foi forçado a aceitar um processo de classificação que tem em conta unicamente a auto-avaliação e a assiduidade ou presença em acções de formação, excluindo assim o arbítrio. Não se pode diminuir o significado deste recuo. Pelo contrário: tem faltado aos movimentos de professores a solidariedade com os contratados, e que seja agora aceite que eles e elas têm os mesmos direitos e deveres de todos os docentes, pelo menos na avaliação, é um passo importante. Para o Bloco de Esquerda, que tinha e tem como objectivo a integração dos contratados na carreira docente, este recuo do governo é importante.

Segundo argumento: o governo, mesmo com esse recuo, procura preservar o essencial, que é a posição da ministra e o processo de avaliação. E o processo de avaliação ficou previsto para o próximo ano lectivo, o que agrava ainda mais as duas outras batalhas em que os sindicatos recuaram: o novo modelo de gestão e o estatuto da carreira docente. O governo tem um plano e ele é implacável: gestão, carreira e avaliação são três momentos da mesma ofensiva. A ministra e o primeiro-ministro querem continuar esta ofensiva. Assim, o segundo objectivo do Bloco de Esquerda, contribuir para parar a avaliação persecutória e abrir espaço para um modelo de avaliação novo, não foi conseguido. Foi por isso que, à RTP e a propósito do acordo, lancei um alerta contra o governo manhoso e insisti na necessidade de continuar a construir um movimento por um modelo de avaliação que derrote o do governo. É na avaliação que está a fragilidade do governo e a força dos professores. É na avaliação que se travarão os confrontos que contam. É aí que o governo quer ser forte porque intransigente e os professores e professoras têm de ser fortes porque sensatos.

Terceiro argumento: é preciso um modelo de avaliação alternativo, que demonstre a incompetência do governo e que reforce a ligação dos movimentos dos professores aos pais, aos alunos e à opinião pública. A avaliação deve avaliar e avaliar o essencial: como é que a escola está a melhorar ou a piorar no combate ao insucesso e à exclusão escolar. A avaliação deve medir os desenvolvimentos dos planos de trabalho e dos seus resultados, por regiões, por escolas, por grupos de cadeiras, e deve envolver todos os professores nas metas e nos modos de trabalho definidos para essa construção da inclusão escolar. Onde o governo quer perseguição aos professores, estou certo que os professores querem respostas aos problemas dos alunos e das escolas.

Quarto argumento: os sindicatos são precisos e devem responder perante os professores, mas são precisos também movimentos mais profundos que disputem o conteúdo da educação, que pensem a educação, que proponham alternativas de estratégia para a educação. E só as professoras e professores podem criar esses movimentos, escola a escola. Esse é o desafio mais importante. É o que fica depois de cada confronto com cada ministro. E, se do governo nada há a esperar senão afrontas aos professores naquele estilo gelado e imperial da ministra e no apoio total do primeiro-ministro, então cabe aos professores criar a sua própria voz nas questões mais importantes, que são as das escolhas sobre uma educação moderna e inclusiva. Nesse campo, só os professores defendem a paixão pela educação e esse é o sentido democrático da movimentação pela escola pública".

Francisco Louçã
www.esquerda.net

2 comentários:

Anónimo disse...

As reprovações nas escolas públicas vão ser gradualmente banidas e a tendência será a de que ao fim de 12 anos de escola todos os alunos possam ter o 12.º ano de escolaridade, fazendo subir com isso os índices de escolarização dos portugueses. O nível de conhecimentos adquiridos será inevitavelmente muito baixo, mas o que importa são as ESTATÍSTICAS, e assim Portugal poderá figurar "orgulhosamente" na lista de países com maior número de anos de escolaridade.

O 12.º ano vai ser em breve a escolaridade mínima obrigatória. Embora os jovens passem a sair do sistema de ensino com poucos conhecimentos académicos, pelo menos, enquanto por lá andam também não figuram nas estatísticas dos desempregados, o que também é bom para as tais ESTATÍSTICAS.

Assim, o facto de virem a exibir o certificado de habilitações do 12.º ano deixará em breve de dar qualquer indicação às entidades empregadoras relativamente às reais qualificações dos jovens que então vão sair das escolas e, em consequência, terão que ser as entidades empregadoras a testar os conhecimentos dos candidatos aos empregos que oferecerem E não começaram já a fazê-lo há algum tempo?

Os alunos que frequentarem as escolas públicas poucas possibilidades terão de atingir os necessários conhecimentos para prosseguirem os estudos. Assim, os pais que desejem para os seus filhos um curso superior terão que começar a consciencializar-se desde já que a escola pública não será o caminho aconselhável para a preparação dos seus filhos, mesmo que sejam crianças inteligentes e interessadas. O ambiente não será o melhor para que tenham sucesso por vários motivos:

1.º) na mesma sala coexistirão muitos alunos com fracos conhecimentos, porque não havendo reprovações, não haverá necessidade de empenho, nem nos estudos, nem na assiduidade às aulas;
2.º) com o fim do ensino especial terão por colegas jovens com deficiências várias: auditivas, de comunicação e até psíquicas;
3.º) porque todos os jovens são obrigados a frequentar a escola enquanto menores, mesmo que por ela não revelem qualquer interesse, terão por colegas outros jovens que apenas por lá andam porque o sistema a isso os obriga. Alguns deles utilizam a escola, os colegas e até os professores para se divertirem, gozando-os e boicotando as aulas.

Enfim, o Ensino vai de mal a pior em Portugal. MAIS IMPORTANTE DO QUE O SUCESSO OU INSUCESSO ESCOLAR É A CREDIBILIDADE DO SISTEMA.

Zé da Burra o Alentejano

Anónimo disse...

Eis como alguns partidos de esquerda, ao defenderem cegamente o aumento do número de anos de escolaridade básica obrigatória acabam por não promover a valorização de quem frequenta a escola pública, desqualificando e descredibilizando-a.

Acabam por valorizar o ensino privado, que é um previlégio de uns poucos com poder económico para frequentar, e que será em breve o único caminho para o prosseguimento dos estudos.

Zé da Burra o Alentejano