"Aterrei em Lisboa no último sábado e fiquei pasmado com a manifestação dos professores. Não apenas pelos números (80 mil? 100 mil?) mas pela ironia do momento: durante anos, os professores assistiram, mudos e quedos, à destruição do seu próprio estatuto. Mas foi preciso tocar na avaliação dos docentes, e no fim da progressão automática da carreira, para que os senhores professores se lembrassem de protestar. Como dizia o outro, agora é tarde, Inês e marta. E estava tudo escrito desde o princípio com um Ministério da Educação dominado por selvagens nostálgicos, queleram Rousseau e resolveram aplicá-lo à descendência dos outros, o ensino português aposyou na ideia de que o educação nunca é um exercício que implica respeito pelo professor; trabalho solitário e às vezes difícil do aluno; e chumbo certo em casos de ignorância ou indolência. O Ministério da Educação subverteu este tripé ao desautorizar os professores, ao substituir o estudo por "competências" de natureza ridícula ("saber Fazer", "saber estar") e ao garantir o aproveitamento de alunos que, em condições normais, seriam chumbados ou expulsos do sistema. O resultado não acabou apenas por destruir o ensino português, no sentido pedagógico do termo. Acabou por corromper cada um dos seus parceiros, que cresceram à sombra deste circo. Corrompeu pais e alunos, que esperam da escola um prolongamento do jardim infantil - mas não de um jardim infantil capaz de punir quem não trabalha. Corrompeu fornadas sucessivas de ministros, que foram aterrando na 5 de Outubro e reproduzindo a doutrina criminosa do antecessor. E até corrompeu os professores, que foram assitindo ao assalto sem mexer uma palha - por comodismo, cansaço ou, como diria Henry James, falta de imaginação para o desastre. Acreditar que Maria Lurdes Rodrigues é a responsável pelo dilúvio é não entender a moral deste filme. este é um filme sem inocentes para salvar".
João Pereira Coutinho
Expresso
1 comentário:
Não, meu senhor, os professores não assistiram calados,os professores encheram, o que aconteceu foi a gota de água e devo dizer-lhe: Não há volta a dar-lhe, a força das nossas razões são sentidamente humanas e por isso, não há quem nos vá demover.
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