quarta-feira, outubro 10, 2007

A improdutiva Área de Projecto

"Costumo ler a secção "Pingue­-Pongue", onde escrevem, alternadamente, Rui Tavares e Helena Matos. Estando mais atento e manifestando mais interesse pela opinião da v/colaboradora, porque mais objectiva, mais pragmática e realista, não posso deixar de concordar, de uma maneira geral, com as análises que Helena Matos desenvolve, principalmente quando envereda por temas relacionados com a Educação. E, na minha opinião, sabe do que fala. Exemplo vivo disso foi a sua afirmação, no passado dia 11 de Setembro, de que a "Área de Projecto" é uma fraude". Sem dúvida.
Como professor - e leccionando, contrariado, esta abominável "disciplina" da área curricular não disciplinar -, verifico que a carga horária da mesma interfere com outras disciplinas, bem mais importantes, para a formação intelectual e científica dos jovens, coarctando-lhes a liberdade para o convívio, para a partilha, para o desporto. Em suma: sobrecarrega­-lhes os horários.
De resto é sabido que a designada Área de Projecto (AP), introduzida no ensino básico e secundário, pouco ou nada tem contribuído para a suposta autonomia, organização, capacidade de trabalho e espírito de inter·ajuda dos alunos. Esta cretina invenção dos "cientistas da educação" tem contribuído, ainda mais, para o descalabro e decadência do ensino no nosso país. Esta área curricular não disciplinar, a famosa A.P., acaba por degradar a qualidade da relação professor-aluno; promove e estimula a balbúrdia e a indisciplina; desvaloriza o verdadeiro conhecimento; sobrecarrega os curriculos e impede que outras áreas do conhecimento como as ciências, geografia, filosofia e história disponham de mais horas. Aliás, é patente a revolta dos professores das disciplinas que referi por verificarem que várias horas lectivas são desperdiçadas na vacuidade da AP, enquanto não lhes sobejam horas para desenvolverem, com proficiência, a consolidação dos conhecimentos e as matérias das disciplinas aludidas. Também tenho constatado, como professor, que os melhores alunos não gostam desta "disciplina" pois afirmam que é inútil, maçadora, vazia, "roubando-lhes" precioso tempo para estudarem as disciplinas fulcrais que os prepararão, verdadeiramente, para a vida profissional. Deixemo-nos, de uma vez por todas, de tretas, do "encher chouriços" e do "eduquês" que está subjacente à Área de Projecto! Não se inventem ocupações sem sentido algum, sobrecarregando os alunos! Já nos basta o supérfluo Estudo Acompanhado e a inoperante Educação Cívica que podem, muito bem, "substituir" a vacuidade da AP. Por estas e por outras é que a decadência da educação vai continuar. Convirá lembrar que, em grande parte, os factores do fracasso do sistema educativo português são os "cientistas da educação" que, com as suas teorias e o gosto pela papelada inútil, se instaIaram no sistema educativo e continuam, de forma perniciosa, a influenciar as determinações dos ministros. Mais: continuam estes "cientistas" enredados numa visão panglossiana a falar em sucesso educativo nesta escola democrática massificada, sucesso esse que - com esta política educativa de torniquete e sopeamento dos professores -, há-de vir numa manhã de nevoeiro envolvendo os ditos iluminados encabeçados pelos "três mosqueteiros" (uma e dois) que julgam, ilusoriamente, estar realizando um trabalho meritório e profícuo no Ministério da Educação ...
(...) Enquanto isso os alunos continuam com a indisciplina, a violência, os maus comportamentos dentro e fora da sala de aula e a isto o ministério nada diz. Ou melhor, descarta-se "dizendo": aturem-nos e aguentem. Se não conseguirem metam baixa e inundem os consultórios dos psiquiatras!".

António Cândido Miguéis
Vila Real

1 comentário:

Anónimo disse...

"três mosqueteiros" (uma e dois) que julgam, ilusoriamente, estar realizando um trabalho meritório e profícuo no Ministério da Educação ...

Permita-me discordar! Eles sabem, e muito bem, que não estão a realizar qualquer trabalho, muito menos, meritório. Pensa que eles desconhecem a forma mais eficaz de manipular e dominar um povo?