terça-feira, julho 01, 2008

Exames de Matemática: Um Caminho Trágico

"(...) É sabido que a Matemática é, para a maior parte da população portuguesa, incluindo os actuais estudantes, uma espécie de "bicho papão", uma "dor de cabeça" que (quase) todos bem dispensavam. E que se reflecte num preocupante nível de ileteracia que os resultados do Programa Internacional para a Avaliação de Alunos (PISA), publicado pela OCDE de três em três anos confirmam: na última edição, a de 2006, a média de conhecimentos a Matemática dos nossos alunos de 15 e 16 anos era de 466 pontos (média da OCDE: 498pontos), e Portugal ocupava o 26º lugar do ranking (em 30 países), deixando atrás de si apenas a Itália, a Grécia, a Turquia e o México. Pior: o valor de 2006 era o mesmo de 2003, provando não ter existido qualquer progresso nesta matéria desde então.
Ora, quando, à saída do referido exame nacional de Matemática, as opiniões mais ouvidas entre os estudantes sobre a prova que tinham acabado de realizar eram "fácil", "acessível", "sem problemas de maior", nem queria acreditar. Pior: os mesmos comentários eram semelhantes aos obtidos no fim de outras anteriormente realizadas - e a opinião dos alunos quanto à facilidade da prova era partilhada por professores e especialistas na matéria. Finalmente, a tendência dos resultados dos exames nacionais dos exames nacionais do 12º ano de Matemática nos últimos 3 anos é claramente ascendente: uma média de 6,9 valores em 2005; 7,3 em 2006; 9,6 em 2007...e, quase apostaria que será registada uma forte subida em 2008. Assim, o que parece é que os conhecimentos de Matemática dos nossos estudantes do 12º ano estão a melhorar ano após ano. O que, claro, se reflectirá nos rankings internacionais. Mas que, infelizmente, não corresponde à verdade - como mostra a coincidência entre a melhoria das classificações e a "facilidade" que alunos, professores e especialistas encontraram nos exames.
Em Portugal passou-se, pois, a trabalhar para os rankings - o que é inaceitável, porque revela uma tentação de mascarar a qualidade do nosso ensino, bem como a qualificação dos nossos estudantes. Resultados melhores com exames reconhecidos como mais fáceis por todos não indiciam qualquer melhoria na qualificação e na competência futura dos recursos humanos - ainda que os rankings possam (erroneamente, já se vê) apontar para isso. Ora, mesmo tendo um sistema fiscal mais atractivo e competitivo (área que considero fundamental para progredirmos economicamente), uma legislação laboral mais flexível, uma justiça mais rápida, e uma Administração Pública mais desburocratizada em todas as vertentes, nunca conseguiremos atingir um elevado nível de desenvolvimento sustentável se a qualificação dos nossos recursos humanos não melhorar... e muito. O que, a avaliar pelo caminho escolhido, de facilidade e de aparência, não irá suceder".
Queremos ter melhores resultados? Pois baixe-se o nível de exigência e torne-se os exames mais fáceis...e eis-nos a subir nos rankings! Mais exigência e rigor no ensino e nas provas? Não, isso nem pensar!
Desgraçado do país que tem um Governo que aposta nas aparências para mascarar a realidade!
Uma verdadeira tragédia".

Miguel Frasquilho
Sol

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