segunda-feira, janeiro 07, 2008

A mentira que representa o Programa Novas Oportunidades

Os portugueses receberam de braços abertos o Programa Novas Oportunidades. A julgar pela adesão e pelos resultados, este tem tido um enorme êxito. Registaram-se 250.000 inscrições só no primeiro trimestre de 2007, sendo que os números não param de crescer.
Carlos Pereira, 45 anos, tinha apenas o ensino primário. Em 3 meses já conseguiu elevar, e muito, o seu nível de escolaridade. Acabou de fazer o 9º ano e não pensa ficar por aqui. Inscreveu-se numa nova etapa e nos próximos 3 meses pensa concluir o 12º ano e depois, quem sabe, tirar Engenharia Informática que é o seu grande sonho.
Aquilo que a maioria de nós foi obrigado a fazer em 12 anos, é possível agora fazer-se em 6 meses. Parece mentira mas é verdade. Contrariamente ao que José Sócrates tem apregoado, assim é fácil voltar à escola. Seria excelente que estes portugueses voltassem à escola para aprenderem alguma coisa. Infelizmente, não é isso que acontece e, aliás, nem é isso que os motiva a lá voltarem. Eles voltam apenas porque sabem que não têm de se esforçar minimamente para alcançarem os seus objectivos. Fosse outra a exigência e veríamos quantos se inscreveriam no programa. Ora, com todo este facilitismo é óbvio que só os totós desaproveitariam uma oportunidade destas. Do mesmo modo se percebe porque é que os portugueses tanto valorizam a prestação da ministra da Educação. Pudera, com benesses destas como é que a maioria não há-de gostar da dita senhora. O governo, claro está, não olha a meios na implementação do Programa porque sabe que tudo isto representa muitos votos nas urnas.
E assim se combate de forma administrativa o analfabetismo em Portugal e se elevam as qualificações dos portugueses. Certificação sem qualificação é o que oferece tão badalado Programa. Isto é só mais um escândalo a juntar a tantos outros que com notável regularidade vão acontecendo em Portugal e que, curiosamente, não tem merecido da parte dos fazedores de opinião a crítica exigível. Não se percebe o silêncio desta gente, pois são medidas como esta que comprometem definitivamente o futuro de um país inteiro. Se considerarmos a Educação como o garante básico do progresso, se aceitarmos que a Educação representa o sustentáculo dessa esperança, e que a esperança é tudo aquilo que temos para o futuro, então teremos de reconhecer que esta lógica assente no facilitismo, esta ânsia de perversão cega da realidade estatística, irá fatalmente e a curto prazo custar muito caro a todos nós. E quando isso acontecer sempre quero ver quem é que vai assumir a responsabilidade deste completo desnorte.

5 comentários:

Anónimo disse...

O que importa é agradar ao povo. E o povo só vê o que está diante dos olhos, não vislumbra o futuro mesmo que tudo aponte para o desastre.

Anónimo disse...

parece-me que és professor pelas opiniões e tomadas de posição expressas sob 1 identidade fictíca.
Afinal onde está a tua coregem profissional? Assume quem és e a conversa passa a ser outra. Não é?
Fica sabendo q prestas um mau serviço ao País e, em particular, aos teus alunos/Escola com aquilo q vais passando p o mundo virtual da comunicação!
É por haver profs como tu, são mais que as moscas, q a educação deste País está como está! os políticos são apenas 1 desculpa para gajos como tu!

Unknown disse...

Também não assumiu quem é, nem deu a cara e tem coragem de falar em mau serviço ao país e coragem profissional???
Posso dizer-lhe que trabalho, entre muitas outras coisas, com asnovas oportunidades e que visto a camisola, no que diz respeito ao processo RVC, porque é essa a minha função e só por isso, mas não podia estar mais de acordo com o professor que escreveu sobre o processo RVC neste artigo de opinião. Anónimo ou não..... As Novas Oportunidades não são só isto mas como pessoa "bem informada" que é certamente não precisa da minha explicação...
Não posso terminar sem dizer que é por causa de pessoas do seu tipo e com a sua opinião que a educação está como está! Sabe porquê? Porque são pessoas do seu tipo que (des)educam algumas das crianças (felizmente não todas) que nos aparecem na sala de aula! E é só porque ainda há crianças fantásticas e famílias que valem a pena que muitos de nós continuam a dar tudo por tudo na nossa profissão.
Já agora pense um bocadinho e tente não passar essa raiva toda aos seus filhos, se é que os tens, e passe por um centro novas oportunidades que tem muita gente com esperança de uma vida melhor e de ter aquilo que a vida até agora não lhes deu e que acredita que ainda vale a pena, mas que também tem muitos mal formados que procuram a via do facilitismo! Via essa que me parece que lhe agrada! É que eu posso não acreditar no sistema, mas ainda acredito nas pessoas!

Rui Baptista disse...

Só hoje tomei conhecimento deste texto, com o qual concordo em absoluto.No passado dia 18 de Dezembro, foi publicado um post meu intitulado "PISA e Novas Oportunidades", no blogue "De Rerum Natura". Dele extraio:

"E se no sistema educativo regular dos jovens portugueses com a idade de 15 anos, pois é neste escalão etário que incide o PISA, há maus resultados impossíveis de esconder, no programa "Novas Oportunidades”, destinado a indivíduos maiores de 18 anos que deixaram de frequentar a escola por reprovações sucessivas, os resultados transformam-se em êxitos estatísticos oficiais de uma desastrada política educativa.

A réstia de esperança que pudesse haver sobre a bondade de uma segunda oportunidade, para quem desperdiçou uma primeira, foi abalada em seus frágeis alicerces pela leitura de uma extensa reportagem, sobre os Cursos de Educação e Formação, publicada no “Expresso” (8.Dez.2007), um semanário de referência não enfeudado ao poder político, quer antes quer depois de 25 de Abril. Por ela se ficou a saber que estes badalados cursos para aumentar as percentagens estatísticas de portugueses que terminam os 6.º, o 9.º e 12.º anos de escolaridade, não espelham uma situação minimamente verdadeira, credível ou séria.

Não querendo, de forma alguma, generalizar a todos estes cursos efeitos perversos, tenho razões para pensar que em sua grande maioria sirvam apenas de recreio buliçoso para passar o tempo de quem procura um diploma avalizado pelo Estado para cumprir o destino de um país europeu em que, segundo a Associação Comercial do Porto, 'se ensina pouco, se educa menos e se exige quase nada'.

A título de mero exemplo, extraio daquele semanário este elucidativo pedaço de prosa da autoria do professor que denunciou ao Presidente da República o verdadeiro escândalo que se acoberta por detrás destas actividades curriculares: 'Estes frequentadores da escola aparecem nas aulas sem trazer uma esferográfica ou uma folha de papel. Trazem o boné, o telemóvel, os ´’headphones’ e uma vontade incrível de não aprender e não deixar aprender.'

Tristemente propagandeados, estes cursos de ensino profissional, ministrados numa espécie de colónia de férias, não cumprem os requisitos de um ensino minimamente exigente que deve preparar para o mundo sério do trabalho. Numa sociedade tradicionalmente submissa a pergaminhos de diplomas universitários, a questão que se levanta é esta: não será preferível ser um eficiente operário especializado que trabalha por gosto a ser um licenciado no desemprego, desmotivado no desempenho das suas funções ou em tarefas para que o antigo diploma da 4.ª classe capacitava?

Seja como for, já é tempo de interiorizar na população portuguesa que a escola deve criar e desenvolver no aluno qualidades profissionais, humanas e cívicas que o tornem útil a uma sociedade que investiu dinheiros públicos na sua formação. Ora, isto não está ao alcance de uma escola permissiva que alberga em seus muros quem não quer estudar, em permanente cumplicidade com a cabulice, a violência, a indisciplina, a simples falta de boa educação.

Continuando a consentir 'que se estejam a fabricar ignorantes às pazadas' (Medina Carreira, 13.Dez.2007), o Ministério da Educação corre o risco de ruir ao peso das 'Novas Oportunidades' ressurgindo com o nome de Ministério da Ignorância, designação, aliás, bem mais apropriado às circunstâncias actuais!"

Caro Karadas: Todos somos poucos para denunciar a verdadeira campanha de desalfabetização em curso num país de faz de conta!

Nélson Oliveira disse...

Meu caro amigo que escreveu este comentário.
Gostaria de lhe dizer e garantir que essa situação que relata do "fazer o 12º em 3 meses" é completamente ridicula, ilegal e falsa. Digo isto porque sei e trabalho num centro novas oportunidades.
Garanto-lhe que em 3 meses não se faz o 6º ano, quanto mais o 12º.
Um bom periodo de tempo para fazer o 12º ano e para uma pessoa com bons conhecimentos e que já tenha pelo menos o 9º ano, é cerca de um ano e a correr bem!
Para quem não sabe é melhor estar calado, e convido-o a vir ao CNO onde trabalho para ver como é feito o processo e muda logo de opinião. Primeiro de tudo vê a triagem que é feita - por isso é que o programa está a léguas das metas estabelecidas, porque é feito com rigor e a maioria das pessoas não tem capacidades. Digo-lhe que apenas 30% das pessoas que conseguem entrar no processo RVCC Secundário é que o acaba. Por isso fale com conhecimento próprio. É natura que pode haver um ou outro caso pontual, como há em todos os lados (ou não éem portugal que por se ser filha do ministro se entra em medicina?).
Outra coisa, deixemos de colar a imagem do programa Novas Oportunidades ao Sócrates pq qd ele chegou este programa já existia mas com o nome de Centros RVCC. E isto não é uma invenção portuguesa. Este processo já existe há muitos anos em França, Noruega, Suécia e Reino Unido.