sábado, fevereiro 04, 2012

Professor e polícia

A maioria que nos governa, e bem, quer equiparar o estatuto de professor ao de polícia. Nada mais oportuno depois da tareia que um docente apanhou de familiares de uma aluna que perturbava aula de Matemática e foi expulsa.
A Matemática perturba. Esta aluna do 5º ano, dela não precisa para nada. Treinada em atrapalhar, tinha o direito de reforçar aqui as suas competências. E o professor não deixou. Esteve mal. Recebeu tratamento no hospital. Um hospital está sempre mal localizado. Devia estar junto a cada escola.
O estatuto de professor-polícia, ou de polícia-professor (no caso de se pretender reforçar a componente pedagógica do papel da autoridade policial na aquisição de conhecimento), poderá resolver a questão da violência parental sobre a filharada, a parentela próxima, e sobre a classe docente, a parentela afastada.
Esta mudança de estatuto do professor, há muito que se impunha. Em boa hora, a maioria vai pô-la em prática. O que é necessário é não descurar a componente da formação do polícia que passará a viver em cada professor que, esperamos, se venha a apresentar devidamente fardado na esquadra, perdão, na escola.
Em primeiro lugar, a componente da acção psicológica. O futuro agente da autoridade terá de compreender que se não é bruto, para bruto deve evoluir. Imbuir-se deste espírito de corpo de intervenção é fundamental.
Luta corpo a corpo, e toda a panóplia de artes marciais, devem entrar nessa formação específica. Mas exercícios de tiro também. A progressão na carreira deve a exigir, como pré-requisito essencial, a carreira de tiro e gestão de paióis. Aprender a acertar em alvo humano com cabecinha diminuta deve ser basilar. A cabecinha destes petizes, com o amor à matemática e às outras disciplinas, tem tendência a mirrar. E só com mira telescópica se pode acertar no alvo. É que os professores, não raro, têm dificuldade em mirar alunos indisciplinados. Muitos não só não os vêem, como não os ouvem. Os centros de novas oportunidades que vão ser extintos - e que não fazem falta porque já temos oportunistas habilitados que cheguem - poderão ser, depois de adapatados, lugares muito interessantes para aprender a manejar o cassetete, a despoletar uma granada de mão, a redigir um auto de polícia. De autos, como é notório, os professores só conhecem o Fiat Punto.
Depois é só chegar à sala de aula e despejar a pistola engatilhada em cima da secretária. Mandar escrever o sumário de rajada. Esvaziar o tambor dos conhecimentos. Quem não ouviu, ouvisse. Uma descarga tonitruante, em voz de cabo de esquadra, é audível até em casa. E, os pais dos meninos, assim poderão adquirir muitos conhecimentos. Sim, porque um progenitor bem formado, musculado, treinado em sopapo e biqueirada, faz sempre falta para animar as reuniões com encarregados de educação.
Ensinar um pai, também, a lidar com um professor não é fácil. Embora gente educada, e bons educadores dos filhos, alguns vão confundindo um docente com um saco de kickboxing. Mas o docente, que não enche completamente o saco, também deve estar preparado para reagir. Sim. Só os professores de Química conhecem reacções apropriadas. Outros deprimem à falta de pior reacção. Este estatuto de polícia, com que os professores vão ser agraciados, vai permitir, em tempo de crise severa, extinguir a "Escola Segura" e poupar muitos milhões de euros em passeios diletantes de escola em escola que polícias, que não apreciam andar a pé, fazem. Depois, é só mudar a nomenclatura da carreira docente. Na sala de aula o aluno terá de aprender a chamar ao professor "nosso praça"; o director de turma pode ter o honorífico cargo de "cabo de esquadra"; o director da escola, "senhor comissário". 
E, assim que surja qualquer dúvida, na matéria, chamem a polícia...

José Alberto Quaresma
Expresso

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