terça-feira, dezembro 04, 2012

O mundo tenebroso das escolas privadas do grupo GPS

"É muito difícil desligar da escola onde trabalhei no ano passado. Por muito mau que tivesse sido, ensinou-me muito e tive a oportunidade de conhecer pessoas (professores e alunos) que sei que partilharão comigo o resto da minha vida. É com agrado, mas, por outro lado, com alguma tristeza que ouço muitos alunos dizerem-me que eu nunca deveria ter saído de lá, que faço lá falta, que têm saudades minhas. É óbvio que fico orgulhosa por saber que os marquei, mas também me custa sentir que fui afastada daquela escola, sem motivo aparente, pois as minhas funções enquanto professora foram sempre cumpridas e, ainda para mais, com o apreço dos meus alunos.

A verdade é que por mais vontade que tivesse de lá continuar (apenas pelos alunos), jamais o conseguiria fazer, pois é um sítio onde os professores são explorados ao máximo, onde lhes são exigidas, para além da tarefa para a qual são realmente contratados, outras tarefas que, na maior parte das vezes, nada tem a ver com as suas competências.

Cheguei a ter semanas de 50h. Cheguei a ter que estar na escola às 6 da manhã para ir com alunos a uma actividade do Grupo GPS na Covilhã, actividade essa com a qual eu não tinha nada a ver, apenas fui destacada para tal. Estive na escola sem ter nada atribuído no horário, simplesmente porque era obrigada a estar. Fiz reuniões de Grupo Disciplinar de fachada apenas porque tinham de ser feitas. Organizei projectos, dei aulas em cima de aulas que nunca foram preparadas. Eu sabia, o director sabia, toda a gente sabia porque a toda a gente acontecia o mesmo. Fui obrigada a participar numa equipa de vólei, fui obrigada a jogar, em horário pós-laboral apenas porque sim. O Director fez o favor de me ligar quase a coagir-me para ir jogar. Houve almoços, jantares, lanches e festas. Tudo feito de falsidade e hipocrisia. Uma escola de aparências e não de qualidade, como tanto se fazia apregoar.

Cheguei a 31 de Agosto, data final do meu contrato, e não me foi pago nada do que me era devido, devido a essa caducidade do contrato. Após cartas registadas com avisos de recepção para a escola, para o grupo, telefonemas, foi-me dito que tudo seria regularizado até ao final deste mês. E eu sei que amanhã, final deste mês, nada vai ser regularizado.

E custa-me saber que, como eu, há dezenas ou centenas de professores por este país fora que trabalharam / trabalham no Grupo GPS, e estão na mesma situação. Que aguentam tudo isto porque, afinal de contas, no fim do mês há contas para pagar, há prestações que não se compadecem da exploração em que vive quem tem de as pagar. E as pessoas aguentam, pensando que mais vale isto que nada.

Agora sou professora no ensino público. Obviamente que as coisas não são perfeitas, mas em lado nenhum o são. Mas tenho um horário a cumprir, responsabilidades atribuídas, e mais não me é exigido. Durante os primeiros tempos nesta escola, senti que a Escola Técnica e Profissional de Mafra (ETPM) me fez uma lavagem cerebral brutal, e só percebi realmente isso, saindo de lá.

Não me arrependo nem por um segundo de ter saído de lá, porque sei que o mais importante, as pessoas boas que conheci, estarão sempre comigo, no matter what".

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