"Não vale a pena mergulhar em pessimismos. Portugal continua produtivo. De acordo com o Ministério da Educação, no ano lectivo de 2004-2005 registaram-se 1200 agressões no interior de das escolas nacionais. É muito? Talvez, se tivermos em conta que "violência" e "aprendizagem" não costumam andar de mão em mão: é muito difícil aprender Matemática enquanto se esmurra o professor de Matemática. Em contrapartida, é bom saber que a violência juvenil contribui para o funcionamento do sistema nacional de saúde: no mesmo período, 191 professores, funcionários e alunos receberam tratamento hospitalar. Esta semana, aliás, quando o Ministério relembrava estes números, uma professora dava entrada nas urgências, depois de confronto com "criança" de 15 anos. Como explicar esta tendência precoce para o crime?
A doutrina, como sempre, divide-se. Mas nas explicações correntes encontramos tese conhecida: famílias de miséria produzem crianças de miséria. Se me permitem, não cola. Esta espécie de determinismo social destrói a responsabilidade do agressor, explica o seu comportamento e justifica a natureza do acto. E, além disso, não são apenas famílias de miséria que produzem crianças de miséria. Hoje, talvez seja mais correcto afirmar que famílias de miséria produzem crianças de miséria que produzem famílias de miséria. Não são apenas os alunos a agredir os professores. os pais também gostam de molhar a sopa. Curioso avanço. Há duas ou três gerações, um filho com tendências criminosas era uma vergonha para a família. Hoje, é uma jóia de família. Comentários?
Apenas três. Primeiro, um sistema de ensino com 1200 agressões por ano não é um sistema de ensino; é uma escola de criminalidade para onde se entra vivo e de onde se sai com sorte. Segundo, o ensino português não precisa apenas de "inovação" ou "reformas"; precisa, antes de tudo, de autoridade e, em casos crescentes, de polícia. E, terceiro, a ideia simpática de que existe em todas as criaturas um desejo de aprendizagem não sobrevive à realidade: "crianças" de 15 anos que agridem professores não desejam, no fundo, coisa alguma."
Todos sabemos que estes números não espelham a realidade. Muitas agressões vão acontecendo que não são contabilizadas, porque os agredidos delas não fazem queixa, por vergonha ou por medo de retaliação dos agressores. O Ministério da Educação continua a não lhes dar a atenção devida, por entender, provavelmente, que ainda não há motivo para preocupação. Enquanto o Ministério não toma as medidas que há muito se impõem, os alunos vão "pintando a manta" a seu bel-prazer, porque sabem que não são devidamente penalizados pelos actos praticados. Aos professores, resta-lhes ir aguentando a situação como podem: com carradas de muita paciência e algum desespero à mistura. Quando o desespero atinge níveis insustentáveis, a solução é o recurso ao psiquiatra e, possivelmente, uma estadia em casa por tempo indeterminado.
Noutros países este problema é atacado de frente. O plano espanhol a aprovar esta semana obriga os pais dos indisciplinados a pagar aulas de reeducação e inclui nos castigos actividades ao serviço das escolas. Por cá, como sabemos, os pais nunca são responsabilizados pelos actos dos seus rebentos. Como dizia há pouco tempo na minha escola um pai de um aluno, quando confrontado com a indisciplina do filho: "Se pago os meus impostos a escola tem mais do que obrigação de aturar o meu filho. Era o que mais faltava se não o fizesse!".
2 comentários:
Mais uma vez, a Espanha está à nossa frente...
Não deveria começar muito antes?
Boa Páscoa
Enviar um comentário