segunda-feira, setembro 07, 2009

O ensino está demasiado fácil

"O ensino nas escolas está demasiado fácil e os últimos quatro anos acentuaram o problema. Para a maioria dos 45 pais ouvidos pelo i, os problemas pioraram com a crispação entre professores e Governo, que criou instabilidade nas escolas. E dão exemplos "O estatuto do aluno é um desastre e uma ofensa aos alunos cumpridores. Valores e atitudes como o trabalho, o mérito, a assiduidade, o comportamento, a aprendizagem, o conhecimento, foram postos em causa e de repente considerados antiquados e conservadores", diz Manuel Marques, economista nas Caldas da Rainha, pai de um aluno matriculado no 8º ano. "O estatuto do aluno privilegia o facilitismo e desresponsabiliza os alunos", acrescenta Maria José Viseu, presidente da Confederação Nacional Independente de Pais e Encarregados de Educação (CNIPE). "Esta norma de os alunos não poderem reprovar até ao 10º ano é um verdadeiro disparate. Desmotivador para alunos, pais e professores. O que sente um professor quando no 9º ano encontra um aluno que nem sabe conjugar os verbos?", questiona Maria Castelo Branco, 53 anos, mãe do Gonçalo, que vai frequentar o 10º ano. "A exigência académica é cada vez menor", remata Teresa dos Santos Paiva, mãe de um aluno do 10º ano e de duas filhas gémeas no 6º ano, que logo a seguir dispara contra um regime de faltas pouco rigoroso e que iliba os mais faltosos: "Os mais espertos olham para o regime de faltas como uma brincadeira. De que serve dizer-se que os alunos não podem faltar se sabem que estudam um pouco, fazem um teste de recuperação e já está, voltam a ficar sem faltas ou com elas todas justificadas?"
Mas há mais calcanhares de Aquiles nas reformas educativas do actual governo. Muitos pais acusam o governo de Sócrates de ter sido "autista" e "autocrático". De trabalhar números para as estatísticas. E citam a falta de diálogo entre ministério e os diversos agentes de ensino. Bem como o braço-de-ferro entre professores e ministério que se arrastou demasiado tempo e prejudicou o normal funcionamento das aulas. "Coube à professora da minha filha avaliar os outros professores da escola. Ela faltou três tardes inteiras. Se todos os professores tivessem de ser avaliados nos moldes em que se pretendia, teria de faltar 40 horas. Não é assim que uma avaliação deve ser feita", critica Paula Henriques.
"As reformas massacraram os professores e, por sua vez, massacraram os alunos", diz Olinda Marques, mãe residente em Rio Maior que aplaude algumas medidas mas critica os métodos: "Algumas medidas são inteligentes e vantajosas. É preciso pensar é: isso acontece à conta de quem?"
Apesar de concordarem que anos de guerra aberta entre ministério e professores se reflectem numa maior desmotivação dos professores nas aulas, a maioria concorda com a avaliação dos professores: "É bom que alguém tenha tido a coragem de avaliar o tempo útil que os professores davam à educação. Não têm de ser uma classe à parte", diz Cristina Sousa, desenhadora de moldes, mãe de uma filha no 6º ano.
O sistema de avaliação que lidera as críticas lidera também os elogios. "Era necessária", diz a maioria. Aulas de substituição, o ensino obrigatório do inglês no primeiro ciclo, a fixação dos professores no mesmo estabelecimento durante quatro anos, a aposta no ensino técnico-profissional são, para a maioria dos 40 pais, as medidas mais louváveis da educação dos últimos quatro anos. O Magalhães divide os ouvidos. "Não foi utilizado uma única vez na sala de aula da minha filha. Só posso deduzir que o magalhães serve para as mães dos meninos jogarem Tetris quando têm insónias", acusa Elsa Rocha, mãe de Portimão. Todos são unânimes: os resultados destas políticas só serão visíveis daqui a alguns anos. "Brinca-se demasiado à educação. Acho que ainda nenhum ministério da educação acertou. É preciso dar tempo à implementação das reformas. Não se vê os resultados de uma reforma em quatro anos", diz Adelaide Campos, mãe de dois filhos - um no 4º, outro no 8º ano".

Jornal "i"

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