sábado, julho 14, 2012

Avaliação de Crato

"Tenho a fundada convicção que Nuno Crato é o pior ministro da educação de Portugal, desde o 25 de abril, pois consegue juntar o pior de dois males para quem ocupa aquelas funções: a sua ação é condicionada pelo preconceito ideológico em relação ao passado recente da nossa escola pública e as medidas que emanam da sua equipa revelam um profundo desconhecimento da realidade do nosso sistema de educativo. Sublinho que esta minha apreciação não decorre de leituras partidárias, já que considero que outros ministros do PSD, como David Justino e até Roberto Carneiro, tiveram desempenhos competentes e inovadores. Crato deslumbra-se consigo mesmo, parecendo crer que a história começou há pouco mais de um ano e, como tal, pretende fazer tábua-rasa de tudo o que foi sendo feito pelos seus predecessores. As suas palavras brandas embrulhadas em retórica sedutora são contraditas pela sua própria prática como, por exemplo, quando anuncia que o próximo ano letivo será dedicado à ciência, mas simultaneamente, retira horas curriculares a Biologia e Química no 12º ano, dificulta a gestão horária do ensino experimental nos 2º e 3º ciclos ou sufoca financeiramente a Fundação de Ciência e Tecnologia que apoia a investigação científica. Assegura que pretende reforçar a disciplina nas escolas através de um novo e polémico estatuto do aluno, mas ao impor a formação de mega-agrupamentos e a redução de horas das equipas das direções escolares, induz maiores dificuldades de gestão de proximidade e de atuação pronta em eventuais casos de indisciplina. Anuncia com pompa e gaudio o reforço da autonomia das escolas, mas nunca se viu tanta regulamentação espartilhante, inútil ou e de difícil aplicação como a que, recentemente, tem sido publicada. Diz querer uma escola pública eficaz e relevante, mas coloca obstáculos à abertura dos cursos profissionais, desqualifica disciplinas consideradas “ menos académicas” e enreda-se na sua própria armadilha dos mil e um exames como certificação definitiva de qualidade. Faz aprovar a lei do alargamento da escolaridade obrigatória para os 12 anos, mas não dá os necessários passos no enquadramento estrutural, humano e material desse objetivo. Com Nuno Crato e a sua equipa de secretários de estado, a escola pública portuguesa corre, de facto, o perigo de se tornar uma “escola pobre para pobres”, minimalista nas condições de eficiência e maximalista no controlo de resultados, acentuando, pelo caminho, as diferenças entre escolas, sem olhar ao seu contexto.
O que é dramático é que a opinião pública, compreensivelmente mais preocupada com as dificuldades crescentes da vida, ainda não deu conta deste meticuloso e brutal ataque que o sistema educativo está a ser alvo. É preciso fazer passar a mensagem, com caráter de urgência!"

Pedro Biscaia

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