"Toda a gente se apercebe que nesta sociedade extremamente competitiva, cruel, permissiva e violenta em que vivemos, as boas maneiras, a educação, o civismo, o respeito para com os mais velhos vai perdendo lugar enquanto entre os jovens cresce a deseducação, o desnorte e a intranquilidade, intranquilidade esta “abafada” no consumo do álcool e no vício das drogas mais pesadas que arrastam para a perdição e para “becos sem saída”. Introduzidos nestas vivências infernais, muitos jovens demandam a escola e os problemas não tardam a surgir: roubos, agressões, injúrias, insultos, ameaças, vandalismo, brigas, intimidações, chantagem, violência. É o “ pão nosso de cada dia”, mais acentuado em certas escolas inseridas em zonas de risco ( e não só) e bairros populacionais degradados. Não admira, pois, que a escola seja o espelho da sociedade permissiva e conflituosa em que vivemos. Como se constata os valores éticos e espirituais têm definhado— a generalidade dos nossos jovens nemsabe o que isso é ( e o que representam para o enriquecimento das suas vidas), embrenhados e aturdidos que estão no consumismo doentio e no gozo fácil e sem peias de espécie alguma. Paralelamente tem-se instalado a competição desenfreada e selvagem, a excessiva obsessão pelo lucro ( tudo quer ser rico!), o espírito tecnocrata e o (tal) milagroso “ choque tecnológico”, qual “ Deus ex machina”, modernidade salvífica apregoada pelo engº José Sócrates.No entretanto, a realidade revela-se medonha e preocupante.. A instituição familiar, esteio para que uma sociedade se possa organizar devidamente, tem vindo a desmoronar-se e a desagregar-se, contribuindo para a fragilização, para a vulnerabilidade e o vazio existencial dos jovens. Por consequência, cresce exponencialmente o número de separações e divórcios, enquanto, por outro lado, se assiste à pura macaqueação de tipos de vida familiar que dispensa a união de sexos opostos. Estes protagonistas de sexo igual “ acasalam” e insistem na espuriedade dos seus direitos(!?) que vão ao ponto, entre outras aberrações, de pretenderem adoptar crianças...( De lembrar que na Holanda já existe a pretensão de formar um partido político, defensor da pedofilia e de sexo com animais!— Vade retro, Satanas). E o que mais se verá de abjecto e repugnante! Com esta turva realidade, terá a escola de ser o receptáculo cloacal onde desaguam todos os miasmas fétidos exalados pelos problemas económicos e sociais que o poder político, o governo não quer ou não pode resolver? Terá de ser um armazém onde os pais deixam os alunos abdicando de os educar e de lhes ensinar boas maneiras?“O que a escola rejeita a prisão recebe”, afirmou, com alguma dose de verdade, uma luminária das sibilinas “ciências da educação”, com responsabilidades no departamento do ministério da educação .Na verdade, a escola “tem as costas largas”. Será que, doravante, o papel da escola é substituir-se aos pais, à polícia, aos psiquiatras e aos tribunais próprios? Um director regional-adjunto ,defendeu, há uns anos atrás, com uma ligeireza impressionante que ,“os funcionários e os docentes têm de estar preparados para lidar com situações de indisciplina e violência”. Bonito de dizer ! Mas como!? (não sei se, no seu profundo pensamento, não estaria a pensar em munir os professores de pistolas e armas brancas !... não sei!).Que medidas é que os funcionários devem tomar com alunos que os insultam constantemente, que os agridem e que diariamente perturbam o funcionamento da escola, vandalizando as instalações?Que medidas é que os professores podem tomar com jovens malcriados, com jovens meliantes, gozando de total impunidade, que provocam e insultam (quando não os agridem fisicamente), perturbando constantemente o desenrolar e o ambiente na sala de aula , não permitindo que os outros colegas aproveitem a explanação/interacção desenvolvida pelo professor?Que medidas estratégicas de integração se podem adoptar com miúdos useiros e vezeiros na má educação, na indisciplina e nos comportamentos violentos? Existem alunos para quem a escola nada lhes diz por bem que se insista nos currículos alternativos ou nas adaptações curriculares e por bem que os professores, ridiculamente, representem o papel de “entertainers”, de palhaços ou animadores culturais. Contudo, o ministério continua a impôr a escolaridade obrigatória para estes alunos (!?) quando deveriam, bem cedo, ser encaminhados para o mundo do trabalho, aprendendo, previamente, uma arte, um ofício, uma aptidão em escolas específicas e adequadas. A não ser assim os alunos problemáticos, dentro da escola, vão continuar a semear vícios, a alimentar a indisciplina e a gerar a violência. E os desgraçados dos professores terão de os aturar, sujeitos à grosseria, às ameaças veladas e directas, ao achincalhamento e à agressão.Desta forma, a escola ao não rejeitar torna-se, ela própria, um lugar indesejável, um verdadeiro suplício onde os professores não conseguem disfarçar um crescente desencanto e mal-estar, agravado com a falta de vigilância , a falta de auxiliares de educação interventivos e a falta de sensibilidade desta ministra da educação que se lançou numa verdadeira cruzada contra os “infiéis” (que serão os professores), esquecendo os “bárbaros” (que são os alunos). A juntar ao ramalhete refira-se a pusilanimidade na actuação dos conselhos executivos na (não) resolução dos problemas— a legislação também não ajuda. Enreda. Adia. Disfarça. Protege. Contemporiza. Dificulta. Alguém tem dúvidas?Por isso a escalada da violência vai, por certo, continuar, uma vez que a indisciplina e os comportamentos agressivos nas escolas não serão resolvidos( oxalá me engane).(Para desalento dos professores e para gáudio dos meliantes e dos “gangs” juvenis que continuarão, impunemente, a semear a perturbação e a intranquilidade).São os pedagogos iluminados— autênticos comissários educativos do ministério— que o dizem. Não será demais repetir a conclusão extraordinária de um desses pedagogos que passo a citar: “ a indisciplina e os demais comportamentos disruptivos e desviantes fazem parte integrante de uma escola que se quer universal, democrática e livre”. Fórmula eufemística de transmitir (e assegurar) que a turbulência, a bandalheira, a falta de educação, a insolência e os demais comportamentos desembestados dos jovens, potenciando a agressividade e a violência, deverão ser vistos e “apreciados” como “fazendo parte integrante de uma escola que se quer universal, democrática e livre”.Livre, porque a mentalidade é favorável ao “é proibido proibir” e ainda estará presente nas distintas análises dos pedagogos das ciências da educação que ainda continuam, qual nefelibatas, no “mundo das ideias” e na pedagogia romântica do bom selvagem, sem descerem à realidade do dia-a-dia de muitas e muitas escolas. Que não é aquela realidade melíflua que julgam."
António Cândido Miguéis
(Professor)
Vila Real
("O Primeiro de Janeiro")
António Cândido Miguéis
(Professor)
Vila Real
("O Primeiro de Janeiro")
1 comentário:
Obrigada por colocares este artigo e o anterior. Não concordo com tudo, mas concordo no essencial e é bom ir sabendo que se vão publicando denúncias das situações que ocorrem perante um Ministério de Educação cego.
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