"Alla desistiu de ter o filho, de 12 anos, a estudar em Portugal. Ao fim de seis anos de escolaridade, fartou-se de o ouvir dizer que "ia descansar para a escola", que aqui se aprendia brincando e da "grande indisciplina" que marcava o dia-a-dia do ano lectivo nacional. O miúdo até ia bem - era um dos melhores da turma - mas voltou para a Ucrânia. Lá garante a mãe, é "tudo muito diferente. A professora não é uma amiga, é quem ensina. Os alunos estão lá para trabalhar e aprender. Não há brincadeira".
O embate foi duro para quase todos os imigrantes do Leste com filhos a estudar em Portugal. E começou logo nos primeiros dias da 1ª classe. Os meninos e meninas chegaram à primária a saber ler e escrever, a dominar as operações básicas de matemática e ainda com formação musical e física. Os seus colegas - todos portugueses - estavam ainda em branco.
Desde os 3 anos, na Ucrânia, que as crianças vão para a escola ter aulas de língua materna, matemática, música e educação física. "Como são pequenas, só têm 20 minutos de cada disciplina", explica Alla, garantindo que estão "sentados a trabalhar e isso é normal". Aos quatro, russos e ucranianos, aprendem a ler e a escrever. Se não o souberem, ficam para trás, ou "chumbam", uma vergonha nacional a que - pasmam-se os imigrantes - "ninguém liga nenhuma aqui!".
Explicar que só no final do 4º ano é exigido que os alunos portugueses saibam ler, escrever e contar, torna-se difícil de traduzir. Porque o fosso que divide a educação nacional e a das memórias dos imigrantes do Leste é, de tamanho "extra large". "Prefiro nem falar disso", diz Julia Gundarina, uma professora russa que apesar de estar cá há cinco anos e de "gostar tanto" que nem pensa em voltar para casa, assume que "a educação é o pior de tudo". Estranham, sobretudo, a maneira como se ensina, a falta de ordem, a "balda" generalizada. "Na Rússia os professores são mais exigentes", diz num português ainda mal arranhado, mas suficiente para perceber que importa não ferir as susceptibilidades.
Preferiram mudar de estratégia e criar alternativas. "A educação e a indisciplina nas escolas é um dos principais problemas da integração", diz Sérgio Treffaut, realizador brasileiro que produziu e dirigiu o documentário "Os Lisboetas". "Os imigrantes do Leste queixam-se muito destes aspectos. Acham que a escola, aqui, é demasiado banal", diz. Há quatro anos, abriu no Restelo uma escola russa que Julia dirige. Há cinco, Alla Lirkovest abriu uma escola ucraniana no Estoril. Mais de 120 estudantes estão no Restelo, desde ontem de manhã, em aulas que só fecham em finais de Junho. As turmas de ALLa não ultrapassam as 20 crianças e regressam hoje ao trabalho.
Começaram com o objectivo de ensinar a língua e cultura russa e ucraniana, mas alargaram a sua área de actividade. Ensinam os que acabaram de chegar a falar português e a aprofundar conhecimentos aos que frequentam a escola normal. Aos sábados, vindos de Setúbal, de Torres Vedras e de todos os arredores de Lisboa, as crianças passam nove horas seguidas na escola. Compensam num dia as falhas de uma semana de trabalho. "Ficam cansadas", garante Julia. Na segunda-feira voltam à escola portuguesa. Para descansar mais um pouco..."
Rosa Pedroso Lima no "Expresso"
O embate foi duro para quase todos os imigrantes do Leste com filhos a estudar em Portugal. E começou logo nos primeiros dias da 1ª classe. Os meninos e meninas chegaram à primária a saber ler e escrever, a dominar as operações básicas de matemática e ainda com formação musical e física. Os seus colegas - todos portugueses - estavam ainda em branco.
Desde os 3 anos, na Ucrânia, que as crianças vão para a escola ter aulas de língua materna, matemática, música e educação física. "Como são pequenas, só têm 20 minutos de cada disciplina", explica Alla, garantindo que estão "sentados a trabalhar e isso é normal". Aos quatro, russos e ucranianos, aprendem a ler e a escrever. Se não o souberem, ficam para trás, ou "chumbam", uma vergonha nacional a que - pasmam-se os imigrantes - "ninguém liga nenhuma aqui!".
Explicar que só no final do 4º ano é exigido que os alunos portugueses saibam ler, escrever e contar, torna-se difícil de traduzir. Porque o fosso que divide a educação nacional e a das memórias dos imigrantes do Leste é, de tamanho "extra large". "Prefiro nem falar disso", diz Julia Gundarina, uma professora russa que apesar de estar cá há cinco anos e de "gostar tanto" que nem pensa em voltar para casa, assume que "a educação é o pior de tudo". Estranham, sobretudo, a maneira como se ensina, a falta de ordem, a "balda" generalizada. "Na Rússia os professores são mais exigentes", diz num português ainda mal arranhado, mas suficiente para perceber que importa não ferir as susceptibilidades.
Preferiram mudar de estratégia e criar alternativas. "A educação e a indisciplina nas escolas é um dos principais problemas da integração", diz Sérgio Treffaut, realizador brasileiro que produziu e dirigiu o documentário "Os Lisboetas". "Os imigrantes do Leste queixam-se muito destes aspectos. Acham que a escola, aqui, é demasiado banal", diz. Há quatro anos, abriu no Restelo uma escola russa que Julia dirige. Há cinco, Alla Lirkovest abriu uma escola ucraniana no Estoril. Mais de 120 estudantes estão no Restelo, desde ontem de manhã, em aulas que só fecham em finais de Junho. As turmas de ALLa não ultrapassam as 20 crianças e regressam hoje ao trabalho.
Começaram com o objectivo de ensinar a língua e cultura russa e ucraniana, mas alargaram a sua área de actividade. Ensinam os que acabaram de chegar a falar português e a aprofundar conhecimentos aos que frequentam a escola normal. Aos sábados, vindos de Setúbal, de Torres Vedras e de todos os arredores de Lisboa, as crianças passam nove horas seguidas na escola. Compensam num dia as falhas de uma semana de trabalho. "Ficam cansadas", garante Julia. Na segunda-feira voltam à escola portuguesa. Para descansar mais um pouco..."
Rosa Pedroso Lima no "Expresso"
Estes imigrantes do Leste não precisam de muito tempo para conhecerem a realidade portuguesa. Na educação, conseguem fazer o diagnóstico correcto - até mesmo as crianças, pasme-se! - algo que nós portugueses nunca conseguimos. Disciplina, exigência e trabalho. É muito simples. Só nós é que teimamos em não ver, que a chave do problema para a melhoria do ensino neste país, passa pela implementação destes factores. Em vez disso, escudamo-nos em teorias pedagógicas de valor mais que duvidoso que há muito minam e fragilizam o sistema de ensino em Portugal.
2 comentários:
Como eu gostei de ler... Pena é que a nossa ME não leia este tipo de artigos, ou, se os lê, é apenas para culpar os professores portugueses do que se passa na educação. Como se não fosse ela mais a corja que a rodeia que implementam ano após ano medidas para proteger os meninos do cansaço (parece que agora até os TPC devem acabar para os meninos não se esforçarem muito e brincarem mais) e da disciplina. Tiram o poder aos professores, tiram a liberdade dos professores reprovarem os alunos que não se esforçam ou não querem saber ou até precisam de outro tipo de ensino para implementar ideias que são, tenho que usar a palavra, idiotas.
Há que haver uma disciplina e respeito. Se os alunos não nos temem não poderão ter disciplina e não poderão aprender.
caro Karadas
achei o texto muito interessante e dei por mim a pensar o que diriam alunos japoneses se viessem os pais para aqui trabalhar devido a um descalabro político-económico.
Só que penso que a sua receita "Disc"plina, exigência e trabalho" se fosse a receita ideal para nós, seria fácilmente implementável. Há aspectos culturais, sociais e políticos que não se podem comparar ou transplantar puramente.
Afinal apesar da Escola Toda e Boa que eles têm e que herdaram dum passado não muito distante e que porventura irão degradar proximamente, é em Portugal que se vive, ganha melhor. E é por isso que eles vêm para cá.
Mas lá que é interessante conhecer estas realidades confontá-las lá isso é.
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