"Durante a semana houve diversas notícias sobre agressões físicas a professores. Embora os casos referidos possam sugerir o contrário, o espancamento do docente não é “hóbi” exclusivo de escolas “básicas”, nem de portuenses, nem de familiares de alunos. Um destes dias, deixará até de ser notícia. No anterior ano lectivo, registaram-se, principalmente nos centros urbanos, 330 denúncias do género. Desde Setembro, 50, a maioria após violência exercida pelas próprias criancinhas.
Não se trata, portanto, de uma fase, mas de um sintoma do que está para chegar e uma consequência do que já chegou. Basta observar, com ocasionais reservas, o que sucede dos EUA à França, da Espanha à Austrália, ou seja, em todos os lugares onde a pedagogia “moderna” assentou praça e a escola desistiu de transmitir “meros” conhecimentos para desatar a atender aos “contextos específicos” de cada bairro, estabelecimento e aluno.
Em tradução livre, isto significa desobrigar os meninos e as meninas da maçadora aprendizagem de aritmética, línguas, etc., e submeter os professores à fascinante “expressividade” dos petizes. É a escola “centrada nas crianças”. E não em quaisquer crianças: preferencialmente nos casos perdidos, cujas “necessidades e anseios”, mesmo que se resumam a atacar tudo o que se mova, passaram a constituir padrão de referência.
Ao invés da instrução “impositiva” de outrora, malvada e anacrónica, a escola actual quis-se, e fez-se, “inclusiva”. Os textos canónicos do sector referem, explicitamente, a “discriminação positiva dos alunos mais carenciados aos vários níveis”. O objectivo? A igualdade de oportunidades, uma glória a caminho da realização: ao reger-se pelo mínimo denominador comum, o regabofe ameaça condenar todos os alunos a oportunidade nenhuma. Excepto, escusado dizer, os filhos de quem pode pagar um colégio decente.
Ler os despachos do Ministério da Educação e os “projectos curriculares” das nossas escolas públicas é, consoante a perspectiva, uma experiência cómica ou assustadora. Além de escritos num português atroz, o que diverte, essa verborreica produção reflecte e explica o estado das coisas: um auspicioso caldo que junta o relativismo ao mito da “auto-estima” infantil e à mais repugnante retórica “social”.
Na prática, estas maravilhas abateram a autoridade docente e o que restava de exigência. A avaliação, agora “estratégica, orientada e crítica”, assenta num “processo envolvente”. Os pais avaliam. Os fedelhos avaliam e, sem risco de sanções, exteriorizam a “criatividade”. E os professores limitam-se a velar para que a abençoada “criatividade” dos fedelhos se mantenha intacta. Quando não conseguem, sofrem os efeitos no moral e no corpo. E queixam-se.
Mas queixam-se de quê? Que se saiba, são eles, pelo menos os que acederam a postos de decisão, os responsáveis pelo caos. E que pedem, em nome da “participação” de todos os “agentes” do “acto educativo”, a ida dos pais à escola. Como é notório, os pais vão. Ainda que, boa parte das vezes, as encantadoras crianças dêem conta do recado".
Alberto Gonçalves, Sociólogo
Não se trata, portanto, de uma fase, mas de um sintoma do que está para chegar e uma consequência do que já chegou. Basta observar, com ocasionais reservas, o que sucede dos EUA à França, da Espanha à Austrália, ou seja, em todos os lugares onde a pedagogia “moderna” assentou praça e a escola desistiu de transmitir “meros” conhecimentos para desatar a atender aos “contextos específicos” de cada bairro, estabelecimento e aluno.
Em tradução livre, isto significa desobrigar os meninos e as meninas da maçadora aprendizagem de aritmética, línguas, etc., e submeter os professores à fascinante “expressividade” dos petizes. É a escola “centrada nas crianças”. E não em quaisquer crianças: preferencialmente nos casos perdidos, cujas “necessidades e anseios”, mesmo que se resumam a atacar tudo o que se mova, passaram a constituir padrão de referência.
Ao invés da instrução “impositiva” de outrora, malvada e anacrónica, a escola actual quis-se, e fez-se, “inclusiva”. Os textos canónicos do sector referem, explicitamente, a “discriminação positiva dos alunos mais carenciados aos vários níveis”. O objectivo? A igualdade de oportunidades, uma glória a caminho da realização: ao reger-se pelo mínimo denominador comum, o regabofe ameaça condenar todos os alunos a oportunidade nenhuma. Excepto, escusado dizer, os filhos de quem pode pagar um colégio decente.
Ler os despachos do Ministério da Educação e os “projectos curriculares” das nossas escolas públicas é, consoante a perspectiva, uma experiência cómica ou assustadora. Além de escritos num português atroz, o que diverte, essa verborreica produção reflecte e explica o estado das coisas: um auspicioso caldo que junta o relativismo ao mito da “auto-estima” infantil e à mais repugnante retórica “social”.
Na prática, estas maravilhas abateram a autoridade docente e o que restava de exigência. A avaliação, agora “estratégica, orientada e crítica”, assenta num “processo envolvente”. Os pais avaliam. Os fedelhos avaliam e, sem risco de sanções, exteriorizam a “criatividade”. E os professores limitam-se a velar para que a abençoada “criatividade” dos fedelhos se mantenha intacta. Quando não conseguem, sofrem os efeitos no moral e no corpo. E queixam-se.
Mas queixam-se de quê? Que se saiba, são eles, pelo menos os que acederam a postos de decisão, os responsáveis pelo caos. E que pedem, em nome da “participação” de todos os “agentes” do “acto educativo”, a ida dos pais à escola. Como é notório, os pais vão. Ainda que, boa parte das vezes, as encantadoras crianças dêem conta do recado".
Alberto Gonçalves, Sociólogo
Correio da Manhã
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