sexta-feira, maio 31, 2013

As escolas e o trabalho das nossas famílias

"Cada vez me dou mais conta, também a nível profissional, de uma realidade intrigante que se vai acentuando com o tempo.
Consiste essa realidade no crescendo de solicitações aos Pais e Famílias dos alunos das nossas escolas para comparecerem em iniciativas e atividades, para lá das reuniões, até 4 horas por trimestre, já previstas na legislação laboral [artº 249º, nº 2, al-f) do Código de Trabalho].
Numa Instituição de que sou o primeiro responsável, acontece com cada vez maior frequência chamar por alguém e ouvir a resposta de que a pessoa em causa não está porque teve de ir à Escola da Filha ou do Filho. Depois, quando, simpaticamente, me procuram dizer o motivo – mesmo sem eu querer saber –, lá vem a referência a uma festa, a uma representação, a uma excursão. Cada vez mais chego à conclusão de que em várias Escolas se entende que os Pais não trabalham ou que, pelo menos, estão à disposição dos professores.
Acredito que eu e muitos outros tenhamos sido educados por métodos errados, reacionários, ou o que quiserem chamar. Mas nunca vi os meus Pais terem de ir à Escola, sequer para serem informados em reuniões do que se passava com o Filho. Trabalhavam e, mesmo que os chamassem, não poderiam ir. Como se justifica esta correria com as pessoas afogueadas a atravessarem a cidade para chegarem a horas de um sarau, da declamação de um poema, de uma peça de teatro? É que não se pode esquecer que se a Mãe ou o Pai não estão presentes, as crianças ficam tristíssimas, olhando para as outras cujos Pais puderam comparecer.
Os meus Filhos já têm vinte anos ou mais. Mas quando os mais novos estavam na Escola esta moda acentuou-se. Tenho Filhos de Irmãs que estão nos primeiros anos da formação e bem vejo o que se passa. Chega-se ao ponto de se pretender que os Pais participem nas aulas.
A questão é simples: e o trabalho? Como podem as pessoas justificar as faltas? As chefias ficam sempre com "cara de tacho" quando o pedido é feito, porque ninguém é capaz de dizer não a Pais que têm um Filho à espera? Não é só em Portugal que a moda pegou. Mas será justificável?"

Santana Lopes
CM





















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