domingo, junho 22, 2008

Aferição aferida de morte

"Aferir não é abrir a ferida. Aferir é avaliar, comparar ou cotejar. As provas de aferição, do 4º e 6º ano (em Língua Portuguesa e Matemática), cujos resultados foram divulgados agora, não avaliam nada. Nem comparam. Limitam-se a apresentar resultados numa escala classificativa nova (A, B, C, D, E) para não aferir susceptibilidades.
Havia, e há, a antiquíssima escala de 0 a 20, a mais precisa, que se utiliza no ensino Secundário e no ensino Superior. Com o 25 de Abril inventou-se a escala de 1 a 5, para o 2º e 3º Ciclo, muito pouco rigorosa, para não traumatizar alunos e encarregados de educação. Haverá ainda a possibilidade de criar no futuro uma nova escala em que as notas negativas não existam. Será a escala perfeita.
As provas de aferição servem para aferir alguma coisa? Não. Servem para mostrar a competência do Ministério da Educação, a partir de dados não comparáveis, a mostrar que os alunos do Ensino Básico, em Língua Portuguesa e Matemática, continuam na senda do progresso vertiginoso para o sucesso absoluto. As provas, em 2007 e 2008, não são do mesmo tipo, não foram feitas com a mesma matriz, nem com os mesmos critérios. E, este ano, foram mais fáceis. Os resultados só poderão ser tendencialmente maravilhosos.
O Ministério da Educação gosta de ser exigente com os professores e indolente com os alunos. Em muitas escolas as provas de aferição, depois de afixados os resultados, foram enterradas. Nem para avaliação formativa serviram. Os alunos não ficaram a saber onde tinham errado. E não puderam corrigir seus erros. Coisa de somenos.
As provas tiveram, é certo, o mérito de proporcionar dois feriados oficiais aos alunos que as não realizaram. É pouco para provas de aferição nacionais. Não desejo que as provas de aferição fiquem feridas de morte. Mas por que não haverá coragem de as transformar em exames de fim de Ciclo? Feitos com critérios e técnicas fiáveis - como sugere Nuno Crato - que permitam comparar resultados, ano após ano, e intervir pedagogicamente para melhorá-los? Às vezes passa-me pela cabeça cada inconveniência! Falta de juízo aferido, provavelmente".

José Alberto Quaresma
Expresso

1 comentário:

Pedro disse...

Aferir não havendo co-responsabilidade por parte daqueles que são o alvo deste tipo de provas não serve de nada!!!
Uma vergonha...