"Não há registos, na memória da política da res publica portuguesa, de um Governo que tenha orquestrado uma tal campanha de propaganda baseada na tecnologização do ensino, que só tem paralelo no marketing da venda de produtos de multinacionais, a que o Governo retira os custos e lhes dá os benefícios. Computadores, o Magalhães - falsamente aclamado como o "primeiro portátil luso" -, quadros interactivos, ligações de banda larga, distribuição gratuita a alguns alunos - e nunca à maioria deles, mesmo que carenciados - promovidos por 23 ministros, secretários de Estado, directores-gerais, foram as notícias da educação, num mundo cor-de-rosa, em que o futuro em Portugal será, na perspectiva do primeiro-ministro, o da melhor educação.Só que o primeiro-ministro vive numa realidade virtual, convencido de que o faz-de-conta muda a realidade da educação. Até julgamos que a sua convicção é genuína, mas alguém terá de lhe dizer que, antes das tecnologias nas escolas, os alunos devem saber bem ler, escrever e contar, para depois as dominar, e que este desiderato deve ser validado por exames externos.Depois, a educação básica, obrigatória e gratuita, deveria, pois, possibilitar que todos tivessem, acessíveis e sem custos, os materiais de apoio às aprendizagens. Acrescentamos, ainda, que pouco ou nada resultará desta propaganda, se não se contemplar a formação de todos os docentes nas tecnologias da informação e comunicação (TIC), para rentabilizar as tecnologias, uma vez que a maioria dos jovens possui um domínio superior em relação a grande parte dos docentes.É necessário que os pais e encarregados de educação disponham de suficiente literacia e apetrechamento de competências nas tecnologias, para acompanhar os filhos. O Governo deveria disponibilizar aos pais mais carenciados, que hoje já abrange a classe média portuguesa - os novos pobres da Europa -, o acesso gratuito à Internet. Por último, todos estes itens devem estar garantidos à totalidade das escolas e dos alunos, pois só assim faz sentido o Estado democrático.Como nada disto corresponde à verdade da realidade portuguesa, a propaganda do Governo, na área da educação, pretende não só esconder a falência da sua pseudo-reforma, em que o insucesso está dissimulado pelo facilitismo, como também canalizar para áreas fictícias o descontentamento e desmotivação dos professores. Acena-se com tecnologia de ponta para a educação portuguesa, mas a iliteracia continua a alastrar, ameaçando a salubridade educacional do País.Nesta primeira etapa do ano escolar, o marketing do Governo venceu! Esperamos pelas etapas seguintes que, para já, não auguram nada de bom para a escola, pais e alunos que, deslumbrados pela propaganda do entretenimento tecnológico, se encontram pouco preocupados com a cultura do saber e desenvolvimento das capacidades dos jovens".
Carlos Alberto Chagas, Secretário-geral da FENEI/SINDEP
DN
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