"Depois das pequeníssimas polémicas em volta dos manuais de História, um caldo curioso de "politicamente correcto", estalinismo subtil e franco anti-semitismo, e dos testes de Matemática cujo grau de dificuldade se destina ao orangotango médio, recomendaram-me o texto assinado por um Boss AC, rapper de profissão, em diversos manuais de Filosofia do 10.º ano. Veja-se um exemplo, proposto à "interpretação" dos petizes: "Dizem que o mundo vai acabar, mas não acabou, vai-se acabando/O Homem vai-se matando fazendo a paz de vez em quando/Ninguém se respeita, a ganância corrompe os povos (...)".
O que é que este distúrbio intestinal tem a ver com a disciplina de Sócrates? Nada, excepto se falamos do José. De facto, o texto de Boss AC poderia integrar os currículos de Biologia, Português ou Físico-Química sem diferenças palpáveis de resultados ou de pertinência. Aliás, até é provável que já integre e eu não tenha reparado. No estado em que o Estado deixou o ensino público, a encantadora "interdisciplinaridade" segue em roda livre.
É por isso que não compreendo a reacção quase geral à proposta do Conselho Nacional de Educação (CNE), o qual, a fim de poupar traumas às criancinhas e rankings antipáticos ao Governo, sugeriu abolir as reprovações até aos 12 anos. Vozes normalmente sensatas subiram de tom em protesto contra uma hipótese que, no entender das vozes, aumentaria o "facilitismo".
A sério? Com a devida licença, acho que é impossível aumentar o que atingiu o limite máximo. As alucinações que vêm afectando o Ministério da Educação já eliminaram os últimos vestígios de exigência da escola, entretanto transformada em parque de estacionamento de "alunos" e fonte de depressão dos docentes que ainda se interessam. No contexto, a reprovação dos meninos serve para quê? Para que eles passem dois anos a não aprender o que conseguem perfeitamente não aprender em um?
Enquanto contribuinte, estou com o CNE. Só não percebo a restrição dos 12 anos. A menos que, embalado pelo "facilitismo", um adolescente de quinze seja incapaz de "interpretar" Boss AC à primeira".
Alberto Gonçalves
DN
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