segunda-feira, maio 12, 2008

Chumbar, é assim tão mau?

"Bem sei que o assunto está estafado, já estamos cansados de ouvir falar nele. O pior é se rapidamente não passamos a falar dele pelas boas razões, com orgulho e satisfação. O assunto é, mais uma vez, a educação.Ideologia do igualitarismo? Trabalhar para a estatística? Mas qual é afinal a razão porque a ministra da educação é contra os exames? Porque é que é contra o “chumbo”?Não creio que alguma coisa se resolva, se nada mais for feito pela qualidade do nosso ensino, com afirmações como esta recentemente proferida “Facilitismo é chumbar, rigor e exigência é fazer com que todos aprendam”. A ministra da educação considera que o chumbo é um “mecanismo retrógrado e antigo” e lembra que foi introduzido quando o sistema educativo se organizava para seleccionar e separar. Agora que o ensino é universal, que todos, embora desiguais, têm acesso à escola, todos têm que ser iguais lá dentro e à saída!?Quando olhamos para as taxas de insucesso registadas no País, quem o diz é a OCDE, não podemos deixar de concluir que a qualidade do ensino não é boa, que ao trabalho se sobrepõe o facilitismo, que aos hábitos de disciplina e exigência se sobrepõe o laxismo, que ao gosto de ensinar e aprender se sobrepõem a rotina e o entretimento e por aí fora!Segundo a OCDE (citado na imprensa “No More Failures”) a taxa de retenção/desistência no Básico foi de 10% – correspondente a 95.047 casos – enquanto que no Secundário a taxa ascendeu a 24,6%, ou seja, 53.587 estudantes. Números avassaladores, difíceis, é certo, de combater, mas que nos envergonham e que teimamos em não conseguir ultrapassar. Segundo o mesmo relatório, cada aluno (Básico e Secundário) custa 5.000 euros por ano. Feitas as contas a factura directa do insucesso escolar custa aos portugueses a módica quantia de 743 milhões de euros por ano. Se lhe juntarmos os "chumbos" que normalmente se sucedem à primeira experiência e os males associados – défice de qualificações, impreparação e ignorância, cidadãos com capacidade reduzida de gerar riqueza, incapacidade de recuperação e por aí fora - compreendemos que continuamos a comprometer o futuro. Os custos económicos e sociais são exponenciais!
Qualquer pessoa com um mínimo de inteligência e de bom senso compreende que os “chumbos” deveriam acabar porque prejudicam o presente e o futuro, mas que não devem esconder a falta de aproveitamento. Infelizmente há também muita gente que se habituou ao facilitismo e que fica muito contente quando houve os nossos responsáveis políticos fazerem a apologia de que o “chumbo” traumatiza os “meninos”, que prejudica a sua formação e desenvolvimento.Enfim, mais do que discursos, o importante mesmo são as políticas prosseguidas para elevar a qualidade do ensino, na qual se incluem os professores, os modelos de gestão e autonomia das escolas, os currículos, as técnicas de trabalho, de estudo e de provas de aproveitamento, os mecanismos de intervenção para ajuda e recuperação dos alunos que têm dificuldades, as alternativas de encaminhamento profissional, etc. "Chumbar" é um mal necessário e nas actuais circunstâncias, em que não é possível de um dia para o outro sermos a Finlândia, que os nossos governantes tanto gostam de citar, o melhor é mesmo fazer exames e só passa quem sabe!"

Margarida Corrêa de Aguiar

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