"Em estudo recente sobre a “Reforma institucional em Portugal, perspectiva das elites e das massas”, da autoria de André Freire, Manuel Meirinho e Diogo Moreira, dá conta que 71.5 % dos eleitores não “estão satisfeitos com a qualidade da democracia em Portugal”( esta era a pergunta) e somente 28.5% afirma “estar satisfeita com a democracia em Portugal”. Em 1999 o “grau de satisfação com o regime democrático” era de 35%, enquanto em 1985 atingiu 40%. Em traços gerais, e sem esgotar o estudo, que concluir deste trabalho de André Freire, Manuel Meirinho e Diogo Moreira? Que o descrédito tem vindo a acentuar-se e a insatisfação com o regime democrático é a mais alta dos últimos 23 anos… Logo, algo vai mal no “reino da democracia”.
Na realidade, a satisfação das pessoas relativamente ao regime democrático passa, entre outros aspectos, pela resposta que este regime consegue prestar a questões como a habitação, a saúde, o apoio digno à terceira idade, a qualidade de vida, o ambiente, a criação de postos de trabalho e a consequente empregabilidade, a inserção e o bem-estar dos cidadãos na sociedade, a eficácia e a funcionalidade dos serviços, o apoio estatal às pequenas e médias empresas no sentido de as revitalizar… Sem esquecer uma política educativa que prepare adequadamente os jovens - cidadãos futuros deste país - para as variadas funções nos diversos sectores. E quem tenta preparar esses jovens? Naturalmente que os professores, ministrando-lhes conhecimentos, saberes, competências. Educando-os para a cidadania no pleno uso de comportamentos cívicos civilizados que permitem o bom relacionamento e o respeito mútuo na sociedade em que estão inseridos.
Hoje que vemos? Professores a serem acossados e violentados pelo ministério da educação com a descabelada avaliação “sem pés nem cabeça”, onde impera a burocracia, a injustiça, a trapalhada e onde a cizânia e o mau relacionamento inter pares começa já a ser uma realidade tangível. No entanto, da parte do ministério, as medidas economicistas são o principal escopo. De resto a putativa avaliação surge mais como manobra de diversão que se destina a deitar poeira nos olhos para distrair os portugueses do problema fulcral que é, na generalidade, o depauperamento e os problemas graves com que se debate o país e, em particular, o problema do actual sistema educativo, incidindo, ou pretendendo incidir as atenções sobre a classe profissional. Culpando-a. Pretendendo atingi-la na sua honorabilidade e dando a entender que com a execrável avaliação o sistema educativo melhorará, o que é falso. Não se esqueça que muitos alunos com comportamentos derrancados, desembestados, indisciplinados, violentos, continuam impunemente a perturbar o desenrolar das actividades nas salas de aulas, colocando os professores num ambiente desagregador, numa tensão permanente. Junte-se a cultura relaxada, laxista, permissiva e o “faz de conta que o aluno tem proveito”, estimulado pelo próprio ministério da educação que “não quer que os alunos chumbem” pois ficam muito caros ao Estado… Os alunos, numa visão romântica, lírica e puramente na linha do eduquês, “têm todos a mesma capacidade” e ao professor compete, por artes de prestidigitação e magia, exercer o “modus faciendi” para o pleno sucesso educativo. Não esquecendo as turmas de poucos alunos interessados, amalgamados com alunos inteligentes, normais, portadores de deficiências com maior ou menor gravidade, oligofrénicos, hiperactivos, malcriados, perturbadores… Para que servem os professores de educação especial? Por que têm os professores do ensino normal, de trabalhar com alunos a necessitarem, urgentemente, de necessidades educativas especiais? Foi contra este estado de coisas, que a súcia medíocre que está aboletada no ministério não resolve e não se cansa de destruir, a que se juntou a astuciosa invencionice da disparatada e disfuncional avaliação - medida puramente economicista, não será demais repetir - que se insurgiram os docentes nas grandiosas manifestações de Março e Novembro, revelando a sua “indignação”. O tal “direito à indignação” de que fala o sr. doutor Mário Soares, a “reserva moral e ética” da Pátria. Pois este indefectível demófilo aburguesado do “socialismo de lagosta” não teve pejo, num comentário inserido na pág. 2 do “Diário de Notícias” do pretérito dia 11 de Dezembro, afirmar que a simpática ministra “ tem uma orientação e tem sentido de responsabilidade e até uma coragem invulgar. Eu aprecio as pessoas de coragem”. Soares dixit (possivelmente o doutor Soares estaria também a pensar na coragem de Salvador Allende que resistiu a Augusto Pinochet; ou na coragem de Hugo Chavez que resiste ao imperialismo do tio Sam; ou em Fidel Castro que resistiu aos americanos; ou, até, na coragem de António de O. Salazar que resistiu aos terroristas, quando, em 1961, massacraram colonos, mulheres e crianças brancas, enviando as nossas forças armadas para a chacina não continuar e para defender os portugueses, independentemente da cor da pele, que labutavam nas colónias).
Então para este demófilo, as duas grandiosas manifestações de milhares e milhares de professores não “ tiveram uma orientação e um sentido de responsabilidade e até uma coragem invulgar” ao manifestarem-se contra a Medusa da educação? Então para este demófilo das “grandes causas”, não terão sentido de responsabilidade as palavras do sr. doutor João Lobo Antunes, distinto e simpático neurocirurgião, verdadeiro gentlemen, que afirmou numa recente entrevista que (e passo a citar): “conheço bastantes professores e nestes últimos meses não vi nenhum feliz”. Então para este demófilo, o facto de a Conferência Episcopal reconhecer como justa a luta dos professores, “não tem sentido de responsabilidade e coragem”? Então para este demófilo, a tomada de posição da srª drª Maria do Rosário Gama - (detentora de cartão socialista!), presidente do Conselho Executivo da Escola Secundária Infanta Dª Maria de Coimbra (a melhor escola pública do país no ranking nacional)-, arrasando este injusto, desmedido, inexequível e desconchavado sistema avaliativo não” tem sentido de responsabilidade e coragem invulgar”?
O sr. dr. Mário Soares ignora e desconhece o que se passa nas escolas públicas, mas, no entanto, fala, fala e aprecia “pessoas de coragem”… Melhor seria que apreciasse a abnegação, a disponibilidade e o sacrifício dos professores portugueses que lidam, diariamente, com alunos desrespeitadores, desordeiros, malcriados, indisciplinados, insolentes, boçais e violentos. E a culpa é, em muitos casos, dos pais que não os educam, não lhes modelam valores e referências, nem estarão para aí virados! O tempora! O mores!
À guisa de conclusão não posso deixar de reproduzir parte de um artigo do Prof. Doutor Soares Martinez (que o dr. Soares por certo muito apreciará) escrito num semanário no pretérito dia 25 de Novembro. Em vez de “apreciar a coragem” de Lurdes Rodrigues (qual coragem? Sim teimosia, arrogância, desprezo), o Professor Martinez faz a justiça de compreender os professores, escalpelizando a verdadeira origem de todo este mal-estar difuso e demolidor. Vale a pena transcrever parte do seu texto intitulado,”Quando os professores estão inocentes”, máxime a parte 3,”O caos do ensino não é imputável aos professores”. Afirma o Professor(...)”no seu conjunto, trata-se de uma classe profissional e social que a nação deverá especialmente acarinhar em termos de prosseguir, paulatinamente, com compreensão por alguma via que possa ainda conduzir a soluções de equilíbrio, de razoabilidade. No plano do ensino, a tarefa mais delicada, mais morosa, respeita à cautelosa formação de docentes. E os erros que aí se cometem repercutem-se por longos períodos. EM QUALQUER CASO, O ACTUAL CAOS DO ENSINO NÃO PODE SER ATRIBUÍDO AOS PROFESSORES. Resulta de um ambiente geral de indisciplina, de inconformismo, de impaciência, que, naturalmente, mais perturba os jovens de idade escolar do que a gente madura. Mas nem um mínimo de aproveitamento do ensino é exigível quando o professores ficam forçados a subordinarem-se a programas e compêndios inteiramente desajustados ao meio nacional, quando não se acham em condições de impor alguma ordem e alguma compostura nas próprias aulas, quando têm de dar por aprovados examinandos, ou frequentadores das escolas, ou meros inscritos nelas, contra a sua própria consciência de docentes-examinadores. A condição de professor passou a ser deplorável, a vários títulos. E, pela degradação das escolas públicas, sobretudo, o ENSINO TORNOU-SE OSTENSIVAMENTE ANTI-DEMOCRÁTICO, como nunca o fora antes. Porque quase só conseguem realmente aprender os filhos de gente rica, orientados por explicadores de satisfatória preparação e assídua aplicação; assim como aqueles que dispõem de um ambiente familiar de bom nível cultural, acrescido de disponibilidades bastantes para encaminhamento dos mais jovens. Mas os professores, colectivamente, estão inocentes. São as vítimas, em primeiro escalão, do caos do ensino, que a todos agrava, que a todos ofende, porque afecta e corrói os mais diversos aspectos da vida nacional”.
Mais palavras para quê? Está tudo dito".
Na realidade, a satisfação das pessoas relativamente ao regime democrático passa, entre outros aspectos, pela resposta que este regime consegue prestar a questões como a habitação, a saúde, o apoio digno à terceira idade, a qualidade de vida, o ambiente, a criação de postos de trabalho e a consequente empregabilidade, a inserção e o bem-estar dos cidadãos na sociedade, a eficácia e a funcionalidade dos serviços, o apoio estatal às pequenas e médias empresas no sentido de as revitalizar… Sem esquecer uma política educativa que prepare adequadamente os jovens - cidadãos futuros deste país - para as variadas funções nos diversos sectores. E quem tenta preparar esses jovens? Naturalmente que os professores, ministrando-lhes conhecimentos, saberes, competências. Educando-os para a cidadania no pleno uso de comportamentos cívicos civilizados que permitem o bom relacionamento e o respeito mútuo na sociedade em que estão inseridos.
Hoje que vemos? Professores a serem acossados e violentados pelo ministério da educação com a descabelada avaliação “sem pés nem cabeça”, onde impera a burocracia, a injustiça, a trapalhada e onde a cizânia e o mau relacionamento inter pares começa já a ser uma realidade tangível. No entanto, da parte do ministério, as medidas economicistas são o principal escopo. De resto a putativa avaliação surge mais como manobra de diversão que se destina a deitar poeira nos olhos para distrair os portugueses do problema fulcral que é, na generalidade, o depauperamento e os problemas graves com que se debate o país e, em particular, o problema do actual sistema educativo, incidindo, ou pretendendo incidir as atenções sobre a classe profissional. Culpando-a. Pretendendo atingi-la na sua honorabilidade e dando a entender que com a execrável avaliação o sistema educativo melhorará, o que é falso. Não se esqueça que muitos alunos com comportamentos derrancados, desembestados, indisciplinados, violentos, continuam impunemente a perturbar o desenrolar das actividades nas salas de aulas, colocando os professores num ambiente desagregador, numa tensão permanente. Junte-se a cultura relaxada, laxista, permissiva e o “faz de conta que o aluno tem proveito”, estimulado pelo próprio ministério da educação que “não quer que os alunos chumbem” pois ficam muito caros ao Estado… Os alunos, numa visão romântica, lírica e puramente na linha do eduquês, “têm todos a mesma capacidade” e ao professor compete, por artes de prestidigitação e magia, exercer o “modus faciendi” para o pleno sucesso educativo. Não esquecendo as turmas de poucos alunos interessados, amalgamados com alunos inteligentes, normais, portadores de deficiências com maior ou menor gravidade, oligofrénicos, hiperactivos, malcriados, perturbadores… Para que servem os professores de educação especial? Por que têm os professores do ensino normal, de trabalhar com alunos a necessitarem, urgentemente, de necessidades educativas especiais? Foi contra este estado de coisas, que a súcia medíocre que está aboletada no ministério não resolve e não se cansa de destruir, a que se juntou a astuciosa invencionice da disparatada e disfuncional avaliação - medida puramente economicista, não será demais repetir - que se insurgiram os docentes nas grandiosas manifestações de Março e Novembro, revelando a sua “indignação”. O tal “direito à indignação” de que fala o sr. doutor Mário Soares, a “reserva moral e ética” da Pátria. Pois este indefectível demófilo aburguesado do “socialismo de lagosta” não teve pejo, num comentário inserido na pág. 2 do “Diário de Notícias” do pretérito dia 11 de Dezembro, afirmar que a simpática ministra “ tem uma orientação e tem sentido de responsabilidade e até uma coragem invulgar. Eu aprecio as pessoas de coragem”. Soares dixit (possivelmente o doutor Soares estaria também a pensar na coragem de Salvador Allende que resistiu a Augusto Pinochet; ou na coragem de Hugo Chavez que resiste ao imperialismo do tio Sam; ou em Fidel Castro que resistiu aos americanos; ou, até, na coragem de António de O. Salazar que resistiu aos terroristas, quando, em 1961, massacraram colonos, mulheres e crianças brancas, enviando as nossas forças armadas para a chacina não continuar e para defender os portugueses, independentemente da cor da pele, que labutavam nas colónias).
Então para este demófilo, as duas grandiosas manifestações de milhares e milhares de professores não “ tiveram uma orientação e um sentido de responsabilidade e até uma coragem invulgar” ao manifestarem-se contra a Medusa da educação? Então para este demófilo das “grandes causas”, não terão sentido de responsabilidade as palavras do sr. doutor João Lobo Antunes, distinto e simpático neurocirurgião, verdadeiro gentlemen, que afirmou numa recente entrevista que (e passo a citar): “conheço bastantes professores e nestes últimos meses não vi nenhum feliz”. Então para este demófilo, o facto de a Conferência Episcopal reconhecer como justa a luta dos professores, “não tem sentido de responsabilidade e coragem”? Então para este demófilo, a tomada de posição da srª drª Maria do Rosário Gama - (detentora de cartão socialista!), presidente do Conselho Executivo da Escola Secundária Infanta Dª Maria de Coimbra (a melhor escola pública do país no ranking nacional)-, arrasando este injusto, desmedido, inexequível e desconchavado sistema avaliativo não” tem sentido de responsabilidade e coragem invulgar”?
O sr. dr. Mário Soares ignora e desconhece o que se passa nas escolas públicas, mas, no entanto, fala, fala e aprecia “pessoas de coragem”… Melhor seria que apreciasse a abnegação, a disponibilidade e o sacrifício dos professores portugueses que lidam, diariamente, com alunos desrespeitadores, desordeiros, malcriados, indisciplinados, insolentes, boçais e violentos. E a culpa é, em muitos casos, dos pais que não os educam, não lhes modelam valores e referências, nem estarão para aí virados! O tempora! O mores!
À guisa de conclusão não posso deixar de reproduzir parte de um artigo do Prof. Doutor Soares Martinez (que o dr. Soares por certo muito apreciará) escrito num semanário no pretérito dia 25 de Novembro. Em vez de “apreciar a coragem” de Lurdes Rodrigues (qual coragem? Sim teimosia, arrogância, desprezo), o Professor Martinez faz a justiça de compreender os professores, escalpelizando a verdadeira origem de todo este mal-estar difuso e demolidor. Vale a pena transcrever parte do seu texto intitulado,”Quando os professores estão inocentes”, máxime a parte 3,”O caos do ensino não é imputável aos professores”. Afirma o Professor(...)”no seu conjunto, trata-se de uma classe profissional e social que a nação deverá especialmente acarinhar em termos de prosseguir, paulatinamente, com compreensão por alguma via que possa ainda conduzir a soluções de equilíbrio, de razoabilidade. No plano do ensino, a tarefa mais delicada, mais morosa, respeita à cautelosa formação de docentes. E os erros que aí se cometem repercutem-se por longos períodos. EM QUALQUER CASO, O ACTUAL CAOS DO ENSINO NÃO PODE SER ATRIBUÍDO AOS PROFESSORES. Resulta de um ambiente geral de indisciplina, de inconformismo, de impaciência, que, naturalmente, mais perturba os jovens de idade escolar do que a gente madura. Mas nem um mínimo de aproveitamento do ensino é exigível quando o professores ficam forçados a subordinarem-se a programas e compêndios inteiramente desajustados ao meio nacional, quando não se acham em condições de impor alguma ordem e alguma compostura nas próprias aulas, quando têm de dar por aprovados examinandos, ou frequentadores das escolas, ou meros inscritos nelas, contra a sua própria consciência de docentes-examinadores. A condição de professor passou a ser deplorável, a vários títulos. E, pela degradação das escolas públicas, sobretudo, o ENSINO TORNOU-SE OSTENSIVAMENTE ANTI-DEMOCRÁTICO, como nunca o fora antes. Porque quase só conseguem realmente aprender os filhos de gente rica, orientados por explicadores de satisfatória preparação e assídua aplicação; assim como aqueles que dispõem de um ambiente familiar de bom nível cultural, acrescido de disponibilidades bastantes para encaminhamento dos mais jovens. Mas os professores, colectivamente, estão inocentes. São as vítimas, em primeiro escalão, do caos do ensino, que a todos agrava, que a todos ofende, porque afecta e corrói os mais diversos aspectos da vida nacional”.
Mais palavras para quê? Está tudo dito".
António Cândido Gavaia
Semanário Transmontano
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