sábado, janeiro 03, 2009

Nogueira com sabor a eucalipto

"É triste o país que não consegue avaliar a qualidade dos profissionais que ensinam e avaliam os seus filhos. Agora já pouco interessa saber quem tem razão, os professores venceram. A maioria não queria ser avaliada e é isso que está acontecer.
Temos de reconhecer que alguma razão os professores hão-de ter. Parece que o processo de avaliação é muito complicado, a necessitar de um sistema informático que retire aos avaliadores a carga emotiva.
Duas manifestações, duas, com mais de 100 mil pessoas na rua, mostram que gente como eu ou a ministra da Educação não podem ter toda a razão contra toda a gente. Alguma coisa falhou no sistema proposto e aceite pelos sindicatos.
É nos sindicatos, aliás, que está o problema. Estão longe de aceitar o poder e muito longe de compreender a motivação desses professores que estão disponíveis a vir para a rua. Percebo que a maioria dos professores se mostre tão indignada com o Ministério como com os sindicatos.
É lamentável, indigno até, a forma como Mário Nogueira - líder da Fenprof - aproveita este movimento para fazer o seu caminho dentro do PCP, rumo à liderança da CGTP. Como custa aceitar, embora se perceba melhor, que a Oposição se 'cole' ao movimento, tentando capitalizar o descontentamento, sem cuidar de saber como pode o país sair a ganhar.
Mário Nogueira foi o dirigente sindical que assinou um acordo com o Governo, tentando aparecer como o vencedor da manifestação de Março. Rapidamente percebeu que tinha dado um tiro no pé e fez uma pirueta, dando o dito por não dito.
O senhor que me desculpe, mas parece um nogueira com características de eucalipto. Seca tudo à sua volta. Só ele existe, há muito que deixou de ser professor para ser, em exclusivo, sindicalista. Um sindicalista que pede para ele o que sabe não ser direito dos outros.
Convém que a memória não seja curta. Há sete anos, a Fenprof convocou uma paralisação em que os professores que aderiram ficaram sem o salário nesse dia, mas Nogueira foi até à última instância - onde perdeu - para receber o dia de salário que sabia não poder ser pago aos camaradas de profissão que paralisaram por sua proposta.
Nogueira faz a luta pela luta, para ele parece fazer pouco sentido o colectivo, por mais que essa seja a sua matriz ideológica. O país pouco importa, o sistema de ensino é secundário, ele cresceu no sindicalismo porque não desarma e sabe que importante é o fim, pouco importam os meios. Acontece que o fim é a promoção do PCP e a via sindicalista.
Por estes tempos, as coisas não lhe correm de feição tanto como parece. Os professores convencem cada vez mais gente sobre a justiça da sua luta e afastam-se na mesma distância de Maria de Lurdes Rodrigues e de Mário Nogueira. Uma e outro, convencidos da sua razão, dão passos em frente em direcção ao abismo.
Ao PSD, PCP e Bloco convém também deixar um aviso: O povo não é burro, não basta fazer uma declaração ou esperar na beira do passeio acenando para os manifestantes para ter razão. O povo que vota, quando está descontente com o rumo do país, quer alternativas viáveis. E, sobre a avaliação dos professores, que alternativas propõe a Oposição? Suspenda-se! Sabe a pouco e dá em nada".

Paulo Baldaia
JN

Sem comentários: